27.8.08

Desempenho Mínimo Nacional

Qual é o desempenho mínimo exigido aos organismos abaixo indicados, antes de lhes demitir a todos?
  • Serviço Nacional de Protecção Civil
  • Instituto das Estradas
  • Gabinete de Fiscalização de Obras do Ministérios das Infraestruturas e Transportes
  • Ordem dos Engenheiros (Civis)
Ou, fazendo a pergunta na positiva, ou na negativa, conforme a perspectiva: qual é o máximo de erros, falhas e omissões toleráveis a esses serviços, antes de lhes extinguir?

Consumição Civil


Caros concidadãos, compatriotas, minhas senhoras, meus senhores, após constatar que as chuvas podem causar avultados danos materiais e perdas humanas, pelo que aproveitamos para endereçar o nosso sentido pesar à família enlutada do jovem de 18 anos que perdeu a vida estupidamente nas cheias na ilha do Fogo, decidimos reunir em Conselho de Administração, para traçar as linhas mestras de um Plano de Acção de Combate às Chuvas, ou mais propriamente aos efeitos dela, excluindo obviamente os efeitos benéficos. Assim, como resultado da nossa magna reunião, apresentamos a versão zero do referido plano, para discussão pública.

A palavra de ordem é: agir! O plano ora apresentado, dotará todos os municípios do país de mecanismos regulamentares que lhes permitam uma melhor coordenação das suas acções no terreno na identificação de: paredes arrombadas, casas alagadas, encostas que vieram abaixo, perdas animais e humanas, carros a boiar, estradas cortadas, cabos partidos, fontes de água potável contaminados, potenciais focos de doenças causadas pela paragem e estagnação das águas.
A nossa visão é clara, o nosso âmbito é alargado, a nossa actuação é transversal, o nosso plano é ousado, pelo que pedimos e aguardamos a disponibilização de mais verbas, por parte do Governo, para o cabal desempenho das nossas funções.

Presidente do Serviço Nacional de Consumição Civil

26.8.08

Txuba!

Imagem: Miró

Hoje chove como há muito não chovia. Chove a potes. Chove sem parar, desde madrugada, e vai chuvar durante dia todo. Vai molhar!

Hoje o meu pensamento vai, em primeiro lugar, para a barragem do Poilão e os agricultores, que devem estar a transbordar de felicidade. A seguir, penso nos desgraçados que moram nas encostas e nas linhas d'água, que vão ter um dia de batalha, pelas casas, pelas coisas e pela vida. Depois penso nas enxurradas, que nos mostra como este povo é porco. No caudal vêm, literalmente, tudo: latas, garrafas, plástico, animais mortos, carcaças de carros e toda mais espécie de porcaria, que vai tudo descambar no mar, que também não terá uma vida fácil esses dias.

Penso também nesta cidade. Penso em minha casa moderna, que mesmo assim encharca-se todo. Penso nas estradas que se transformam em lagos, nas paredes mal consolidadas que desabam, nos curto-circuitos e demais problemas. Penso nas milhares de pessoas que não vão trabalhar, porque não conseguem atravessar a cheia(!!!)...Cá pra mim, devia haver uma escala para cidades: cidades, cidadinhas, cidadecas, etc. Penso no serviço de Protecção Civil, que fazem pompa o ano inteiro, mas quando é a valer, nem dão o ar da sua graça. Penso nos bombeiros, soldados para todas as lutas. Penso nos parvos dos dirigentes, no abrigo dos gabinetes.

Ouvi uma senhora na rua a dizer: "Ó Deus, chuva de problema!". Esta frase é bastante estranha na boca de um caboverdiano. Mas chuva é chuva, por mais que seja uma coisa rara em nuestro país, têm uma áurea, que toca a divinidade. Louvada ó chuva!

21.8.08

Falar a sério

Pois bem, o Monsieur Presidént de la CMP, corrigiu a má impressão que me causou, ao demolir casas, com um acto de nobreza: um fórum para discutir a problemática da construção clandestina. Palmas: clap, clap, clap, clap, clap, clap, clap, clap, clap.

É que se trata de um PROBLEMÃO. Diria que é O problema da cidade da Praia. Está tudo linkado aí: lei da terra, legalidade, corrupção, ordenamento do território, segurança, infraestruturas, organização económica, beleza da cidade, saúde...enfim. E abordar o problema com falas é bom; há que congregar os esforços. Agora, POR FAVOR, PLEASE, S'IL VOUS PLAIT, traduzam isso em ACÇÃO. Temos que encontrar uma plataforma duradoira e consistente para atacar o problema.

Se o Monsieur tratar só disto (habitação) durante o seu mandato, estará fazendo 400% mais que o outro Monsieur cessante.

Nem toda a guerra é guerra

Abaixo a demolições das casas clandestinas!

Não gostei deste ataque do Monsieur le Presidént de la Câmara de Praia. Não que as casas clandestinas estejam correctas, mas sim porque é a pior forma de atacar o problema. É um golpe de campanha e todos sabemos disso. E pior do que tudo, temos provas, a demolição não resolve o problema: derrubam-se 2 e nascem 3 ou 4. Ora, vamos lá ver uma coisa: construir casas não é um acto negativo em si; muito pelo contrário: se as pessoas constroem, se têm dinheiro para fazer casas clandestinas de betão (!), se têm energia para o fazer, se conseguem mobilizar a comunidade à volta da construção de uma casa, se as pessoas precisam morar, as autoridades têm só que mobilizar toda esta dinâmica numa coisa muito simples: política de habitação: ordenamento de território, infra-estruturação, processos legais, financiamentos, blá, blá, blá.

Ora bem, se há sinergias para erguer Cidadelas, Golf Resorts, Pontas Bicudas e otras cosas mas, por parte de privados, as autoridades públicas têm que fazer o mesmo para o resto da população, nosotros pobrezitos. Dizem que a cidade da Praia é 60 a 80% de casas clandestinas! Porra! Vamos demolir isso tudo? OK, percebi o Monsieur: dar um sinal de autoridade. Mas olha ó Monsieur, dê um sinal lá para dentro da sua Câmara, que há muito boa gente a lucrar com isso. Vamos organizar o sistema, para depois ter autoridade (e legitimidade) para demolir casas. Vamos dar alternativas claras, corajosas. Vamos, pelo menos, reservar uma Achada, marcar o chão com giz e dizer as pessoas que têm urgência: construam aqui, mas por favor sigam a marca do giz, para depois podermos meter estradas, esgotos, electricidade, água, passeios, praças, etc. Mas, lá que está: digam-me quem tem power nesta Praia para fazer isso? Para reservar uma Achada? Se já está tudo comprado? Se já está tudo reservado? Ora, pois, pois.

Abaixo políticas de cosmética. A coisa tem que ser mexida nos ossos.

20.8.08

To be white

Bianda recebeu protestos, porque prometi que a presente versão do blog viria todo branquinho e não veio. Bom, pra já Bianda e a sua equipa (eu) fica toda basofa por merecer tal atenção. Agora explico:

É verdade que tencionava fazer Bianda ficar branquinho, mas, ao passar por um dos meus espaços espirituais na cidade da Praia, Quebra-Canela, deparei com uma situação que me acinzentou o espírito: vai ser erguido um centro comercial em cima do mar!!!! Deuses!!!! Que se passa com este povo? Que é feito do nosso bom-senso? E os doutos engenheiros, doutores, intelectuais? E a LEGALIDADE? Portanto fellows, a coisa não está branca.

Mas há outras razões. Razões técnicas. Quem lida com imagem sabe que, um dos maiores desafios de composição que existe é trabalhar com o branco. Branco é uma cor complicada. Aliás, é ausência total de côr. É vazio. É espaço total. É delicadeza. É ar. Sabem, Miró é, para mim, um dos maiores mestres da imagem, porque sabia (depois de trabalhar décadas!) como meter um ponto num espaço vazio, nada mais, e fazer um quadro inteiro com esse pontinho. Há uma montanha de teoria por trás disso: equilíbrio, balanço, volume, peso, etc. Ora, não estou em tempo de filosofia. A versão do branco ficará para uma outra altura.

Visitantes, aguentem esta minha fase cinzenta. E reclamem sempre!

Guerra é guerra!


Palmas para o Monsieur le Presidént de la Câmara de Praia, pela sua "Guerra ao lixo": clap, clap, clap, clap, clap, clap, clap, clap, clap, clap...!

De vez em quando é bom passar uma mãozinha na cabeça dos nossos servidores públicos (vejam que lindo nome esses seres são chamados no Brasil). Mas (há sempre um "mas"), para não estragar a minha fama de chato, vou ser chato:

Como sabe, Monsieur le Presidént, uma guerra faz-se de heroísmo, mas sobretudo de Estratégia. é preciso ter Estratégia de Ataque e Estratégia de Defesa. Fico contente de ver infantarias de varredores, munidos de vassouras, pás, enxadas, com a ajuda de retro-escavadoras e camiões, a limpar as praias e os pardieiros. Isto é um acto de heroísmo, que dá moral às tropas. Mas, Monsieur, você têm inimigos bem mais potentes, que demandam artilharia pesada e a tal Estratégia de Ataque: o que fazer com as grandes lixeiras a céu aberto? Para quando uma incineradora? Será a incineradora uma solução? Que fazer do grande ferro-velho, no coração da cidade, na zona do Taíti? Que dizer do lixo hospitalar, que inclui restos biológicos? E as fábricas? Ou seja, o lixo químico e tóxico? O mercado do Plateau foi uma das suas bandeiras de campanha; convenhamos que já era hora de agir. O Monsieur tem em mãos verdadeiros inimigos. E Estratégia de Defesa, tem? Como evitar que os lugares limpados sejam recorrentemente sujados? Para quando uma penalização às pessoas e empresas que sujam? Para quando uma Educação Ambiental a sério?

Como vê, Monsieur le Presidént de la Câmara, o Monsieur governa muita gente que não se importa, mas governa também gente que se importa muito!! Eu deposito grandes esperanças em si, que a sua cara séria inspira algum respeito, mas estou a seguir cada passo seu. Um tiro que seja em falso e lá estarei eu a ripostar.

Cumprimentos.

16.8.08

It's raining, aleluia

Txuba, txuba, txuba...aleluia!

Todo o caboverdiano, mas mais especialmente os das ilhas de S.Antão, S.Nicolau, Santiago e Fogo, estremecem de jubilo quando chove. Mesmo os que vivem na cidade da Praia têm esse frenesim inexplicável (aliás, explicável pela história) quando chove. Mesmo os que ficam sem electricidade, com o colchão molhado, com a lama até os joelhos e ficam com a casa pendurada num pedaço de terra que ainda a enxurrada não levou. Caboverdiano gosta que chova, mas caboverdiano não sabe lidar com a chuva. Mesmo os doutos engenheiros, encarregados de fazer as modernas estradas e ordenar a cidade. Não há estrutura para suportar a chuva. Nem mesmo os moderníssimos prédio de 9 andares, porque, quando se construiu, naquele dia não estava a chover, então o douto engenheiro esqueceu de tratar das infiltrações, dos empoçamentos, dos caminhos de água.

Quando chove é um jubilo. Mas quando chove é quando se apercebe como a cidade da Praia é uma cidade de m...

14.8.08

Betonização generalizada


Vamos betonizar esta porcaria toda. Vamos cobrir toda a terra, o mar e o céu de betão armado. Vamos estupidificar a cidade, vamos torná-la um desprezível amontoado de pedra, cimento e ferro. Quem quiser respirar que vá para o espaço!

Lá se foi o tempo em que passear na Quebra Canela, fazer um jogging, passear o cão, namorar ou fazer um filhinho na Quebra Canela, sabia a retirada espiritual. O espaço amplo; a vista alargada para o mar, o céu e o horizonte; o silêncio do rufar da maresia;...Isso tudo é para recordar em retratos do passado.

No local do antigo Clube 21, que pertenceu a (mais) um português que nos deu (mais) uma bibichada, vai ser erguido um centro comercial! Com direito a trânsito, lixo, esgoto, ruído, má-criação e todo o resto que já se sabe o que este povo é capaz.

Deus e Diabo

É o diabo quando já não se sabe quem é Deus e quem é Diabo.

Thugs são, ou pelo eram, os diabos dos repatriados. Depois passaram a ser os diabos dos não-repatriados, ou sejam os que ainda não foram a inferno nenhum, que os repatriados ensinaram a odiar, a usar uma arma e a não ter respeito, nem pela vida, nem pela morte. Agora, meu Deus, thugs são os anjinhos dos filhinhos de papá, os meninos bonitos, ricos e queridos. Agora é o Diabo mesmo, que escreve torto, mesmo em linhas direitas.


Pronto, temos problema. Agora vem a solução. Por enquanto, a solução passa por passar por cima da lei. Os pais dos queridos, bons cidadãos claro está, detentores da verdade e da lei, que metem thugs diabos na cadeia, vão à esquadra e, puro e simplesmente, tiram de lá os filhinhos, recém-entitulados thugs chiques.

Fica feita a distinção, entre thugs do Diabo e thugs de Deus. Esses últimos são bandidos também, infractores, assassinos em potencial, delinquentes, mas só que têm a bênção de Deus e da Justiça. Perceberam o tamanho do problema?

The state of the city

Well Mr.President of the Câmara of Praia

Passaram-se mais de 100 dias, muito mais, que é o período que a gente costuma dar de graça, a gente como o senhor. Foi um tempinho para a cadeira do poder arrefecer da bunda do outro lá, a outra versão, só que ao contrário, do senhor. Não sei se me faço entender?!

Vou voltar às críticas à cidade, porque, pelos (maus) sinais que continuam por aí, a sua versão de (des)mandar não vai ser diferente do outro lá. Eu, um descrente praticante, vou torcer para que, pelo menos, estrague menos que o outro.

Como diz o meu amigo, malvadinho que se farta, Abraão Vicente, 'tou de olho. E olha que sei olhar para além dos cartazes e das frases de campanha. A partir de hoje sou o seu mais recente inimigo, até prova em contrário.

7.8.08

A coisa vai ficar branca

Imagem: Tchalé Figueira

Bianda vai ficar branquinho na sua próxima versão. Porque tá calor, todo o mundo tá de férias, as menininhas pululam nas praias, minha mãe é branca, sou café com leite, chega de preto no meu blog, faz bem ir a Lisboa de vez em quando, ou Madrid, ou Paris, ou Barcelona, porque o "Ocidente" fez maravilhas nos últimos 200 anos, apesar de cagarem nos pretos, porque deu-me vontade, gosto de (pouca) música clássica, a cultura greco-romana é inspiradora, adoro a filosofia que nasceu aí, voltada para o intelecto, adoro falar e escrever português, porque...a civilização humana, mesmo sendo uma bosta de vez em quando, é uma maravilha em todo o lado. E porque também fico com pena dos afro-alérgicos.

Hasta luego.

6.8.08

Black inside

Imagem: Tchalé Figueira

Os suecos já foram vikings. Hoje são europeus “normais”, mas o que terá ficado incrustado de viking no código genético (cultural) dos suecos? This is the point: heritage.

Nós temos de herança negra:

  • O Carnaval, de forma indirecta, claro, porque partiu do continente, foi parar ao Brasil e outros tantos países (Colômbia, Caraíbas, etc.) e refluiu para Cabo Verde. Isso na variante de SV. Porque desconfio que a Tabanka de Santiago terá influências do Carnaval original, carregado de simbologia sócio-cultural.
  • A Tabanka. Não conheço ritual mais rico em CV. Que outra manifestação se organiza como a Tabanka? Com as suas temporadas, as suas hierarquias, as suas funções, os seus reis e as outras personagens? Que outra manifestação tem mais sincretismo que a Tabanka em CV?
  • O Sanjon. Embora do ponto de vista religioso esteja enquadrado no ciclo das festas juninas cristãs (S.João, S.António, S.Pedro), o negro meteu aí o pé (ou a bunda, neste caso), com o Kolá. Não me parece muito de cristão aquele bater de coisa-na-coisa.
  • A música. Batuque, Finanson, Funaná…Morna. Morna não? Há controvérsias.
  • A Língua. O nosso lexical é maioritariamente português, mas a estrutura do Caboverdiano é da matriz das línguas africanas que a compõem.
  • A ginga, a dança, o sorriso, a malandragem e outras coisas mais.

Sei que já começo a soar a racista. Mas, é assim: a nossa componente europeia está aí e é “oficial”; a componente africana precisa de trabalho de reabilitação, por isso sou africanista, por militância, porque na verdade acredito na Cultural Universal. Ora vejam lá: há europeu mais africano que português? Ou seja, latu sensu, as Culturas se interpenetram, se cruzam e se fortificam. Mas conhecer a história e a génese é fundamental.

4.8.08

To be African or not to be

Imagem: Paramount Photographers

Um dos preconceitos básicos, que é preciso combater é que, quando falamos de África, falamos de preto e branco. Muitos dizem que este assunto tem pendor racial, que também é outro preconceito a abater. São preconceitos de ligeireza de abordagem. A questão de África e Africanidade tem a ver (sempre na minha modesta opinião) com a valorização das Culturas Africanas e com o sentimento de ser, ou não, “Africano”. O que observo, e do que sei de investigar o tema, é que somos africanos, e gostamos, mas quando se trata de assumir esta “condição”, a coisa muda de figura; entramos num rol de justificativas e alternativas.

Mas ser africano é comer com as mãos e vestir-se com bubus? O senegalês que não tem esses comportamentos deixa de ser africano? Não, definitivamente. No nosso caso, assumir a Africanidade é assumir uma grande herança, maioritária. Não passa nunca por esquecer que temos tanta coisa europeia…americana, asiática…

A questão é que, enquanto não resolvermos esta questão, não vamos explorar este stock cultural magnífico (vejam o que aconteceu ao batuque quando saiu à rua, ou seja, Pantera, Tcheka, Princisito…) e vamos ter sempre este bloqueio em nos relacionar com outros países (e seus nativos) de África; sejam ele miseráveis ou não. Felizmente que o tempo cura tudo.