24.11.08

História da Cultura

Imagem: João Nelson, há 22 anos atrás

O pessoal do Ministério da Cultura abriu a boca, numa fiada de palavras decoradas. Andam a insultar a inteligência de cada qual. Mas isso é bom! Inflama os ânimos e dá vontade de mandar tudo pelos ares. Mas, invés disso, vamos a uma soft war; bofetadas com luvas de seda.

Em 1986, há 22 anos atrás (caraças!) nascia uma revista cultural, uma das maiores da história cultural do país, não pelo tamanho, mas por representar uma alta densidade de pensamento: SOPINHA DE ALFABETO. Vejam os nomes: Mito, Filínto Elísio, João Nelson, Eurico Barros, Arménio Vieira, Vadinho Velhinho, Oliveira Barros...e outros tantos.

Revistas culturais já não há. O Artiletra é qualquer coisa de...extemporâneo. O Pretextos publica, mas quem sabe sequer da sua existência? Os jornais da praça têm um minúsculo caderno, que não devem ser chamado de "caderno cultural" por respeito à Cultura. Mas, o desaparecimento das revistas culturais é sintomático de uma coisa maior: o desaparecimento de movimentos culturais. Ou, de uma forma mais consentânea, os movimentos que existem (se assim podem ser chamados) não colam com a dinâmica actual da sociedade cabovediana. Ou, de uma forma extrapolatória, toda a Cultura, enquanto actividade organizada, perdeu o passo da história. Está ULTRAPASSADA.

Antes de discutir o sexo dos anjos, convinha que olhássemos no espelho e perguntássemos: O QUE SE PASSA? O que significa afinal o fazer da Cultura, nos presentes dias? Antes que a Cultura tenha uma economia, ou que contribua para a economia, ela precisa se identificar.

4 comentários:

JB disse...

César, não concordo com essa visão apocalíptica da cultura. Estive lá e dei o melhor que tenho para participar, numa óptica de que se concordo que está (quase) tudo mal, então devo dar a minha contribuição para que isso melhore e não apenas cruzar os braços naquela atitude de superioridade "então, eu não vos dizia?".

Há movimentos sim. Tu próprio fazes parte de um, que tem o termo "mov" na designação. Há um movimento teatral ligado ao Mindelact. Há um movimento musical ligado ao legado de Orlando Pantera. O Artiletra que referes, só sai de quando em quando, mas comparando com outras publicações de índole cultural, tem muito maior regularidade, periodicidade e resistência. Aliás, é espantoso que continue a existir! Enfim, o quadro não é tão negro como o pintas.

Claro que continuamos mergulhados na mediocridade. E possivelmente, qualquer PM que recebesse aquele conjunto faraónico de recomendações da sua classe artística, teria que demitir o seu MC na mesma hora, porque aquelas recomendações demonstram, como já escrevi, que tudo está por fazer, a nível das prioridades, das competências e das medidas a implementar.

Este Fórum veio com 7 anos de atraso. Mas veio e aconteceu. Pelo menos agora, quando quiser entregar a minha cobrança ao actual MC, tenho mais conhecimento de causa e maior legitimidade para o fazer.

Abraço

Miguel Barbosa disse...

Por mim a politíca de cultura deveria ser resumida á Educação.
nas escolas, desdea mais tenra idade.
Cultura:
Civica
Musical
etc etc
Oresto é conversa para Boi durmir.

JB disse...

Cesar. Só mais uma coisa. Eu considero o conjunto dos blogues cabo-verdianos um movimento cultural. Que pensa, que age, que reage, que dialoga. Mas isso sou eu, o eterno ingénuo optimista!

geracao20j73.blogspot.com disse...

No que se refere a Cultura ou qualquer coisa que seja semelha ao conceito, subjectivamente pronunciável, tem que passar no meu ver em três aspectos essenciais: criatividade, movimento e reprodução. Ou seja, criação, influência e reprodução só a partir daqui é que podemos falar e analisar o estado das coisas ou da Cultura.
A criação é humana por tal surgimos instintivamente e quotidianamente, mas na reflexão sobre a Cultura devias pensar no valor do que se cria, se esta é consoante com as metamorfoses sociais (é que se pode criar arte de grande valor e colectivo não se aperceber do seu valor artísticos).
O movimento, plagiando a sua definição “Um movimento cultural é denominado como tal quando existem actividades intelectuais e produtivas capazes de influenciar a vida social.”
A reprodução é o processo de recriação de aperfeiçoamento, a compreensão, a sensibilidade e a acumulação artística (que por se só é uma acumulação de conhecimento.
Vertendo estas três essências num copo (artisticamente falando) dá-se a actividade, a animação, a circulação, a agitação e posteriormente o consumo e a avaliação. Tomando isto com uma fábrica de designação Cultura, nessa linha não posso de deixar de concordar contigo. Só aproveito para acrescentar o Ministério da Cultura assim como uma folha em branco, mete medo!