22.12.08

À conversa com Mário Lúcio

Imagem de Abraão Vicente
Ir à casa de Mário é como sair para fora cá dentro. O sítio é inspirador num duplo sentido: em si, emana a alma do artista, com os seus muitos discos, livros, objectos, plantas, pedras, esculturas,...; o outro sentido tem a ver com o facto de, por não ser uma zona "chique", termos de atravessar zonas muito pobres da capital para lá chegar. Imagino que para um criador comprometido com a sua sociedade, deve ser um renovar permanente de um sentimento humanista.

Além do sítio, a conversa com esta personalidade é verdadeiramente desafiante. Talvez a maioria dos CVs conheçam o músico e alguns só conhecerão o intelectual. Ainda menos ainda conhecerão a forma com ele constrói o seu pensamento, a infraestrutura de ideias que ele tem sobre assuntos importantes. À conversa com ele, numa visita ao seu sítio, o assunto da língua caboverdiana ocupou a maior parte do tempo. No final fiquei muito mais convicto de uma coisa: o Ministério da Cultura podia ocupar-se SOMENTE deste dossier, que já teria trabalho para vários anos e podia EFECTIVAMENTE mudar alguma coisa de estrutural na nossa Cultura. E se precisassem de um concelheiro, Mário Lúcio tem um dos discursos mais inspiradores e conciliadores sobre o assunto.

Para quando um Ministério da Cultura capaz de motivar e aproveitar as ideias concisas sobre a Cultura CV de Mário Lúcio, Corsino Tolentino, António Correia e Silva, Manuel Brito Semedo ou Mário de Andrade? Para quando uma reflexão sobre as sucessivas tentativas de movimentos culturais? Para quando um resultado concreto e tranformador deste Ministério que consome 3% do nosso custoso dinheiro?

1 comentário:

JB disse...

Já o tinha referido, Cesar, numa das crónicas lá do Margoso sobre o crioulo. Vão ler o livro de peças do Mário Lúcio. A única peça escrita - e publicada - em crioulo (segundo a defesa do próprio escritor relativamente à escrita) é sintomática, porque ele fez questão de deixar notas de rodapé onde explica as suas opções. De resto, já tive por várias vezes o previlégio de estar com ele, ouvi-lo, fazendo o mesmo percurso, e concordo a 100% com o que dizes.

Abraço