23.1.09

Arte em questão II

Eilert Janssen
Estamos afastados dos debates estéticos da arte que se faz hoje em dia pelo mundo fora: Brasil, Europa, Japão, Estados Unidos, China, Senegal, Moçambique...Sim, Moçambique, um país n vezes mais pobre que nós economicamente, mas que consegue ter um discurso artístico muito mais evoluído que nós; que consegue ter e manter festivais de arte contemporânea (cinema, dança, artes visuais), que nós não conseguimos nem sonhar. Conseguem ter museus, galerias, uma escola nacional de artes visuais, associações e movimentos artísticos reconhecidos internacionalmente. Tem artistas formidáveis que conseguem estar em bienais, festivais e galeriais pelo mundo.

Estamos a milhas do circuito das relações internacionais da arte. Não conseguimos perceber o mecanismo das galeriais, dos curadores, dos comissários, dos contactos que é preciso ter, dos lobbies que é preciso construir. Não conseguimos colocar os nossos artistas numa bienal que fica aqui ao pé de casa: o Dak'Art.

Nem conseguimos capitalizar os movimentos, fatalmente efémeros por falta de gaz, que acontecem dentro da nossa casa. Não vislumbramos a oportunidade internacional do Mindelact, um punhado de gente percebeu o discurso do Praia.Mov, a remota Sopinha de Alfabeto não consta em nenhuma retrospectiva de comerações de dias de liberdades e democracias.

Temos uma classa política artisticamente analfabeta e desinteressada. Salvo raríssimas excepções, vejo uma figura política em exposições ou em peças de teatro, ou em concertos, sem que sejam oficialmente (obrigatoriamente quase) convidados. Nem fingem que gostam; não vão, puro e simplesmente.

PDM então?

4 comentários:

da caps disse...

Hellou César,
Vou ressalvar 2 pontos da minha percepção do nosso estado de Arte.

(1) A postura do Meio Artístico.
Chamo Meio Artístico aos que se assumem como artistas.

Somos basofos demais.
Muitas vezes queremos ser artista e críticos ao mesmo tempo.
Ninguém mais do que quem faz arte tem opinião sobre a arte, mas as palavras "melhor", "pior", "ultrapassado" e tal não caem bem numa análise.

(2) Inexistência de oportunidades na horizontal.

Isto aplica-se a produtores e consumidores da arte ou seja a Artistas e ao Público.

Outrora, quado se produziu mais por estes lados (artistas) havia mais humildade e horizontalidade na oportunidade.
Agora a veia artística só pertence a um grupo/confraria - os tais que têm direito a espaços, promoções - ou seja são quase sempre os mesmos e, artistas num momento que é público noutro.
Há um elitismo na concepção da ideia de arte em CV, em especial na Praia.

Já somos poucos - meio milhão - e damos ao luxo de limitar potenciais recursos.
Quando começarem a haver exposições amplamente nas escola, bairros e etc, vão ver como a arte de e para o vai voltar a ter vitalidade de outrora em CV, e com requisitos de desenvolvimento médio.

Label?! nha opinion, obviamenti.

Hugs

Cesar Schofield Cardoso disse...

DaCaps

Discordo de ponto 1. Não temos um "meio artístico"; temos artistas que lutam pela sobrevivência (não material, artística mesmo) num meio vazio. Puro e simplemente não existe a noção de "sector" nas artes caboverdianas. É demasiadamente heterogéneo para ser considerado sector.

Concordo a 120% sobre a necessidade de horizontalidade de acesso à arte.

Outra coisa, arte é por natureza elitista em toda a parte do mundo. Não são os mesmos com acesso a promoções e espaços porque estes, puro e simplemente não existem. Nós fazemos a nossa própria promoção e criamos (dificilmente) o nosso próprio espaço.

Na Praia, o que existe é um grupo de pessoa a tentar definir um espaço de arte na cidade, com elevados sacrifícios pessoais. DaCaps, para além das minhas imensas responsabilidades profissionais, sou pai de um bébé de 4 anos e mesmo assim, frequentemente, não estou em casa, montando uma peça, preparando uma exposição, pela noite dentro.

Separemos obra de basofaria. Eu estou disposto a discutir, argumento a argumento, cada um dos meus trabalhos, como tive oportunidade recentemente de os defender perante um curador internacional.

Arte não é fantasia; é TRABALHO.

Hugs (Bianda notou a tua ausência)

Anonymous disse...

Essa é de Mestre! Excelente analise e sem rodeios o nosso artista passa certificados de incompetência a essa maralha toda que se arma em dôtôres mas ficam a pingar suores frente a um quadro de Rosa e nunca ouviram falar em Kandinski!

Pois é César, garganta para grogue temos!

Mas tas doido quando pensas que ainda podes fazer arte nesta terra de piquinhas!

33 aNos de independência e nao temos um unico museu de jeito, uma unica escola de artes de jeito, uma unica galeria; Meu deus, felizmente que ainda nao mandaram deitar abaixo, por ciumes regionalistas, esses dois Museus Naturais que sao o Monte Cara e o Monte Verde, em Soncente!

O Manel deve estar a pensar nisso! Tenho a certeza que o homem vai forçar o Monte Cara a falar badiu!

Al Binda

Anonymous disse...

O post não abona a capacidade de iniciativa dos nossos artistas... mas acredito que se trata de uma questão de amadurecimento. Arte e sacrifício sempre andaram de mãos dadas, ou não?