21.1.09

Babilónia

Revista Continuum
Muitos amiguinhos da minha filha (4 anos) se comunicam em...português. Mas os pais não! Melhor explicando: os pais se comunicam entre si na sua língua materna, caboverdiano; comunicam-se com os amigos e com todo o resto da população, naturalmente, em caboverdiano. Mas, chegada a hora de ter filhos, de os "educar", toca a falar português. O pior é que muitas vezes um péssimo português. Nada de confusões com as famílias que tem o português naturalmente, há várias gerações. Essas falam entre si com base nessa língua. O que falo aqui é de uma moda novo-riquismo de "elevar" a cultura da família, fundamentada na teoria: eu não tive, mas o meu filho terá.

Frequentemente uma das paródias lá em casa é contar como a minha filhota se desenrasca neste mundo luso, que ela, forçosamente, vai entrando. Sou também eu apanhado a contar piadas e a rir, estupidamente. É que troçar com quem fala mal o português está no nosso código genético: achamos automaticamente piada.

Constato que: é preciso começar a ter sessões de conversas em português com a minha filhota, porque o sistema assume que as crianças todas falam português como se fosse natural. Ela vai entrar já para a escola "formal"e daí pela vida fora o português há de ser uma tabela do seu nível de inteligência. Que ela sofra por tudo, menos por essa estupidez. Que seja então uma excelente luso-falante. Entretanto ela já conta até 20 em inglês e sabe umas tantas palavras: thank you, apples, carots, good morning, garden....my name is Naia.

Babilónia significa a diversidade linguística, mas é um termo usado também para denominar "confusão".

10 comentários:

Anonymous disse...

(...) Finalmente quando o assunto é Língua falada em CV muitas interrogações se levantam:
"Caboverdiano" pode ser designação da Língua Materna de Caboverdianos?Será que a nossa Língua Materna é o Caboverdiano?

Eu tenho cá por mim que somos caboverdianos, mas a nossa Língua Materna é ainda um Crioulo com alguma Babel.

Cesar Schofield Cardoso disse...

Seria como que fazer uma grande acrobacia, tentar demonstrar que o Caboverdiano não é a nossa língua materna.

Fonseca Soares disse...

A nossa língua materna é o 'caboverdiano=crioulo'. Com 'alguma Babel' creio que criada por muitos de nós. O crioulo/caboverdiano é a nossa língua materna desde sempre! Falta é 'organizar' científicamente (sem politiquices) a sua 'passagem para o papel'.

JB disse...

Conheço alguns defensores (acérrimos) da nossa cultura mais genuína que PROÍBEM os próprios filhos de falar crioulo em público. Pode? Lá na casa é só crioulo. Para o português tem a televisão e a escola. Ah, e quando falam com os avós paternos pelo telefone. Desenrascam-se sem qualquer problema! hehehe

Cesar Schofield Cardoso disse...

Pois João...

Mas, que me entendam bem, sempre tive a intenção de ensinar à minha filha a falar correctamente o português, porque é uma língua que usamos amplamente. Mas, primeiro, que ela aprenda a ser gente em caboverdiano; que ela aprenda a se exprimir bem, sem titubear, com o coração; aliás...mesmo que as obriguemos a falar em português, as suas amas são crioulas, a maior parte das pessoas são crioulos, a rua é crioula. Conheço estórias engraçadas de amigos meus que só se expressavam em português em casa e que os pais descobriram só agora na fase adulta que eles falam o crioulo como peixinho dentro d'água!

As nossas cabecinhas!...

JB disse...

Excelente comentário deste Anónimo, que não se entende porque foi feito no anonimato... Tem alguns casos, como este, que me apetece mesmo saber com quem estou a falar!

Cesar Schofield Cardoso disse...

O Anónimo analisa o seu caso isolado. Ele muda de uma língua para a outra automaticamente. Eu também. Aliás gosto do português; é uma língua cheia de possibilidades, daí ser difícil de aprender com maestria. Mas a questão é nacional. Temos de analisar para toda a população.

Anonymous disse...

AiM SorrY, César, mas aproveito o seu blog para partilhar com os leitores, em especial o Kiko para a seguinte constatação: tempo é tempo e não dá tempo ao tempo dja el bai e ka ta volta mas.
E bueda fix obi xines ta papia dialetus di kriolu di Kauverdi. Quero dizer que o chines em CV valoriza a nossa lingua, falando-a de acordo com as variantes. No Fogo os comerciantes chineses falam como só os de lá, na Praia falam como os de cá e na São Vicente como é que é? Não pode ser de outra maneira, ponto parágrafo.
A Língua cada povo tem a sua. Nós temos o nosso Crioulo. Eu estou contente. Aprenderei o Chines caso fosse preciso e necessário.

carlos ferreira santos disse...

Mestre Salim, quê isso...sou Kiko mesmo, sem cerimonia.
E vou aproveitar para subscrever tb mto daquilo q o Cesar disse. Crioulo precisa sim de proteção, desenvolvimento, português não, é de facto uma questão de identidade e não uma questão de quantidade, .... ou servia tb o chinês.

Abç

Kiko

Anonymous disse...

Sim, provavelmente por isso e