9.1.09

Cidade baixa

Passou na CEB, ontem, dia 8. É assim: filme de porrada, ou pornô, ou de Steven Seagal, já sabemos que é porcaria anunciada. Mas certos filmes são lançados com a pretensão de cult e quando erram o alvo ficam mesmo mal. Desde "Cidade de Deus" que o (excelente) cinema brasileiro encontrou a fórmula para sensibizar o mundo para a sua miséria: escarram na sua cara toda a violência, a droga, a prostituição, de forma aberta. Bom, "Cidade de Deus" e "Tropa de Elite" fizeram isso com maestria, mas o resto do pessoal, realizadores novatos, precisam tomar cuidado com esta "estética da miséria".

No caso de "Cidade Baixa", uma novelinha disfarçada de drama social, ainda por cima com uma referência subjectiva ao "Cidade de Deus", comete um pecado que me irrita solenemente: usar a miséria de forma oportunista. Se tirassem aquela estorinha daquele cenário e pusessem em outro cenário qualquer, continuaria a ser uma novelinha básica; continuaria a não dizer nada sobre os problemas que, supostamente, suportam o filme.

Valeu no entanto a interpretação de Lázaro Ramos, que vi no incrível filme "Cafundó" , e Wagner Moura, o célebre "Capitão Nascimento".

O cinema brasileiro contemporâneo é INCRÍVEL. Está inscrevendo Brasil na história do cinema mundial, com filmes de antologia, tais como: "Central do Brasil", "Abril despadaçado", "Cidade de Deus", "Eu, tu, eles", "Cafundó", "O cheiro do ralo", etc., etc. Ao Centro de Estudos Brasileiros, que cuidem da qualidade dos seus filmes, porque opções não lhes faltam.

A propósito de cinema, uma frase de Ismail Xavier, crítico de cinema brasileiro: "...deve-se pensar o cinema além do espectáculo, como uma forma de pensamento, experiência de duração, profunda intuição vital, que traz de volta um elo fundamental com o mundo.". Para nos lembrar que o cinema deixou de ser um luxo, para passar a ser uma das principais formas que os países se realizam culturalmente. Custa muito? Custo menos que os benefícios. Podemos discutir isso.

9 comentários:

OG disse...

Eu, por acaso, gostei do cidade baixa, gostei de quase todos os filmes que já vi do Lázaro Ramos e do Wagner Moura. Eles já fizeram uns 5 ou mais filmes juntos.
Ultimamente tenho visto mais filme brasileiros (alguns europeus tb) do que americanos (hollywood).

Cesar Schofield Cardoso disse...

Realmente OG, a dupla Lázaro/Wagner é a das poucas coisas que achei o máximo no filme, mas actores por si não garantem os filmes, como bons músicos não garantem uma orquestra.

Cesar Schofield Cardoso disse...

Sim, o cinema floresceu no mundo como nunca tinha florescido. Viva a era digital, que tem permitido o acesso de jovens artistas a grandes produções.

Miguel Barbosa disse...

Prezacdo Schofield;
Ha história do cinema brasileiro é vasta e já antiga. Quando dizes que o cinema brasileiro contemporaneo está inscrevendo o Brasil na história do cinema é preciso cuidado.
Isto porque esqueces da épodca do cinema novo quando através de Glauber Rocha e outros o cinema brasileiro ganhou um estus que ainda não recuperou.
O que aconteceu foi que nos anos 70 com as pornochachadas e nos 80 inicio 90 quando quase que a produção foi zero, o cinema br viveu um ostracismo.
quanto a mim, não gosto nem do antigo nem das pornochachadas nem do cinema contemporaneo, salvo excepções.

Aquele abraço!

JB disse...

Cesar, faltou-te dizer algo que me parece fundamental e do teu interesse: o boom do cinema brasileiro deu-se por uma mudança RADICAL na política cultural do Estado, nomeadamente nas questões ligadas ao Mecenato Cultural. Vai investigar... Nada é por acaso, meu caro!

OG disse...

Já agora, vou deixar aqui alguns filmes, que eu já vi de um outro actor brasileiro, o Selton Mello, "O Auto da Compadecida", "Meu nome não é Johnny", "Lisbela e o Prisioneiro", "O Que É Isso, Companheiro?", "Garotas do ABC", alguns com, alguns com a participação do "Mestre" Matheus Nachtergaele.

Outros filmes, que eu gostei, com Matheus Nachtergaele: Tapete Vermelho, Cidade de Deus, Central do Brasil, A Concepção, e já ouvi boas crítica do "Crime Delicado", mas ainda não vi.

Estes são filmes com a participação destes dois actores que eu particularmente gosto muito e recomendo.

Cesar Schofield Cardoso disse...

Caro Miguel, não viste um post meu quando disse quem eram os meus heróis ABSOLUTOS do cinema mundial; é uma short list; são 5 ou 6: David Lynch, Lars Von Trier, Wong Kar-Wai...Glauber Rocha. Quando conheci o cinema de Glauber, repensei todos os meus conceitos de linguagem de cinema. Todo o estudante de cinema há de passar por Glauber.

O que disse aqui, que é um facto, que é agora, actualmente, que o cinema do Brasil se põe ao lado de qualquer cinema mundial, sem paternalismos e sem exotismos, disputando óscares, ursos de ouro, palmas de ouro, etc. Cuidado tu, para não confundir cinema-militante (Glauber) de cinema-arte (Fernando Meirelles).

E como disse o João Branco, também é "culpado" uma política cultural explícita e consistente.

Cesar Schofield Cardoso disse...

João, não disse isso porque preciso distrair-me de vez em quando desta questão, mas é CLARO que tudo o que está acontecer no Brasil é fruto de uma política concisa. O nosso MC foi convidado a conhecer esta política, mas não pescaram nada.

Aliás, Gilberto Gil fez mais bem para o Brasil que uma data de políticos juntos...só através da política cultural. Manuel Veiga que me desculpe, mas ele não consegue ver o filme. Não é que seja do filme; é dos olhos.

Cesar Schofield Cardoso disse...

OG passa aí esses filmes!! Vives na Praia? Há nos video-clubes? Quais?

Vou encontrando coisas boas nos video clubes, mas tenho sede de muito mais. Vou antropofagar o cinema brasileiro das últimas décadas.