3.1.09

O(s) erro(s) de JMN (o pior)

O Premier encontrou a fórmula mágica para, finalmente, lançar o seu programa para a Cultura: Entretenimento Cultural. Ora, está aqui uma definição que devia pôr todos os intelectuais e “homens da Cultura (!?)” com os cabelos em pé.

O conceito, puro e simplesmente, não existe numa Política Cultural de Estado. Posso aceitar que tal faça parte do programa de um Ministério do Turismo (que já precisa existir), que significaria uma preocupação em ter entretenimento, ao qual se agrega valores culturais. Mas, um Ministério da Cultura com tal preocupação é uma ofensa à própria Cultura. O que vai acontecer, se esta maravilhosa ideia pegar, é que o Estado estará a incentivar uma Cultura feita depressa, dada a urgência do mercado. O que me dirão, eu que faço fotografia? Que pare de fotografar a desgraça das nossas cidades, porque é preciso um produto mais “atractivo”? Ou, posto a pergunta de uma outra forma: quem terá mais possibilidade de angariar mais incentivos: o gajo que faz postais bonitos ou os da minha gente, que tem procurado retratar o lixo que deitamos para debaixo do tapete? Qual é a mensagem implícita neste "Entretenimento"? Que é preciso fazer uma Cultura produtizada? Que devemos fazer um estudo de mercado para saber se usamos mais azul ou mais verde na pintura?

Recordo-o, Sr.Premier, a sua preocupação deve ser a Educação, o Património, a Legislação, a Investigação, o Financiamento de Cultura, mas sabendo que isso tudo terá efeito a longo prazo. Quando começar a sair fornadas de artistas formados em escolas; quando as cidades começarem a se organizar em torno do seu património arquitectónico; quando existirem galerias e museus para exposições de arte; quando festivais de música, dança, teatro, ganharem consistência e visibilidade; quando as pessoas com capacidade financeira começarem a se interessar pela arte; quando essas coisas começarem a ser realidade, teremos cidades com mais interesse de visita e aí a Cultura estará a prestar um serviço ao Turismo. O que é tremendamente errado é pôr o Turismo como meta da Cultura. É uma aberração.

Sr Premier, já ouviu falar em crise de valores? Pois, tenha cuidado em veicular maus valores. Ai da Cultura quando começar a se orientar por essas cenas que o Sr tem dito.

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