10.1.09

Um pé fora de casa

Imagem da revista "Crua"
Acontecem coisas incríveis, com o simples facto de se pôr um pé fora de casa. O mundo lá fora está sempre fervendo, cozinhando surpresas para o dia a seguir. Este Sábado, acordei com aquela boca seca, típica de ressaca, não importa agora o grau, mas tinha obrigações: compras, passar no trabalho, um programa para completar, e-mails para enviar: e tinha que me organizar. Lá pus o pé fora de casa.

Primeiro um café, onde acontece a primeira surpresa: um casal de amigos, agradáveis, que há muito que não os via, roubam-me deliciosamente uma parte do Sábado. Um assalto bom.

Segundo, ía a entrar para o carro quando aborda-me um jovem, tratando-me por Sr.César, meio sem jeito, desculpando-se pela abordagem, mas que há muito que procurava uma oportunidade de falar comigo, que segue o que faço e digo, que ele também tem ideias e que queria que eu o ajudasse de alguma forma a mostrar o seu trabalho. Confesso, fiquei baralhado na minha repentina posição de fama. Tratei, antes de tudo, de tirar o "senhor" e resolvi "perder" mais 20 minutos. No final, ele já sabia que eu era um simples mortal e eu já sabia que há mais gente atenta a pequenos detalhes. Que gratificante!

Tercerio, uma surpresa lunática. Quando já vinha no carro, aparece do meio do nada, correndo para a estrada em minha direcção, uma velha amiga, das mais belas nos seus remotos 16 anos, agora um pedaço de osso, restos de carne e pele a cair, gritando! Parei, ela entrou no carro, pediu-me que a levasse dali. Delirava. Um doido queria matá-la. Falava em torrentes desordenados. Estava possuidamente pedrada e cheirava mal, do hálito, dos sovacos, dela toda. O meu coração cortou-se de tristeza a ver a miséria humana a acontecer debaixo dos meus olhos, dentro de meu carro. Contive-me. Falei com ela da mesma forma que falo com a minha filha de 4 anos, calmamente, até que ela se acalmasse também. Pediu-me que a deixasse num lugar seguro. Fomos conversando, ela foi recuperando o tino e eu fui pensando que a única coisa que podia fazer por ela, era precisamente dar-lhe os 10mn de atenção que dei. Devolvi-lhe à estrada.

Finalmente entrei na minha vida, aquela que tinha planeado antes de pôr o pé fora de casa.

2 comentários:

velu disse...

BOM ANO AMIGO!
Pois é Cesar... tenho a certeza, que quando tornaste a colocar os pés em casa, levavas, concerteza, uma nova sensação: aquela de poderes ter aliviado a vida de alguém que nem imaginavas! Isso só por si, às vezes é ENORME!
Gostei deste post!

Cesar Schofield Cardoso disse...

Pois Vera

Principalmente quando se trata de gente nossa, que amamos, que conhecemos de longa data, que queremos por tudo que tornem a encontrar a felicidade, porque sofrem DEMAIS.

Bom Ano para ti, minha amiga.