30.4.09

Que tal um imposto sobre asneiras?

Vejamos: do abandono total, o campo de concentração do Tarrafal vai passar ao delírio total. De uma assentada, o Governo quer para o sítio: um Museu da Leberdade, em vez da denominação "Museu da Resistência Anti-Fascismo", não se explicando o que há/houve de errado com a resistência anti-fascista se de facto foi o que aconteceu; um pólo de História da UniCV, como se pólos de universidades se mudassem como se muda de apartamento; e ainda o Dr Honoris Non-Causa, Manuel Veiga, acha que seria interessante que as casinhas à volta do campo dariam óptimas residências turísticas, no sua já irritante fixação com o turismo e isso referindo-se às dependências exteriores ao campo como "casinhas".

Como disse João Domingos, Presidente da Câmara Municipal do Tarrafal: "Há aqui muitos dizeres"

Superlativo absoluto sintético e ridículo

O nosso Ministério de Cultura vai de mau a mauíssimo. Só não é mais pior, porque esta forma gramatical não existe. Vejam isto: "Centro Cultural do Mindelo utilizado para culto de seita", in Cafe Margoso

29.4.09

Estamos taxados!

Bianda declara-se ANTI OVERTAXING MILITANTE

Dêem um check aqui no ZQZIRA. Também já tinha recebido por e-mail.

Os dias que nos trespassam

Que dia é hoje? 27? Não, isso foi há 2 dias. Foi dia da mulher cabo-verdiana, não foi? Não, isso foi há 2 dias do mês passado. Há pois, daqui a 2 dias é dia do trabalhador, em que não se trabalha, não é? Sim. Hoje é dia da dança.

Não vivemos a tirania dos dias?...Bom, vá lá, é sempre um pretexto para fazer um encontro de reflexão, ou não, ou oferecer uma prenda. Servirá sempre para alguma coisa. Eu que não ligo para dia nenhum, útil ou inútil, sei o que é sofrer com a mágoa dos outros quando não me lembro dos seus dias. Desculpem, tá?! É que normalmente estou tão ligado ao dia, que me esqueço dele.

Somos feitos de quê?

Ao ler os comentários à entrevista da Isa Pereira, n'A Semana Online, fico numa grande confusão!! Somos feitos de quê? De estrume? Somos o quê? Contentores de frustrações? Sofremos de quê? De perturbações mentais congénitas incuráveis? Ou só somos criaturas armados em engraçadinhos?

E o que é o A Semana Online? A versão Internet do maior jornal do país? Um exercício desastrado de cidadania ? Ou um penico digital?

Porra, que indignação!!

27.4.09

A complexidade macha

Mulheres são criaturas tão complexas que nem as próprias se põem a perceber. Existe cientista algum que explique por que mistério o orgasmo feminino é tão injustamente mais criativo que o masculino? No entanto todo o homem sabe que o urinar feminino é um mero assobiar na sanita, ao passo que o masculino é tão complexo quanto o orgasmo feminino.

Durante anos aprimorei técnicas para acertar discretamente a sanita, num suave e silencioso desaguar, tal me irritava o borbulhar ruidoso do acto. Errado! O urinar masculino deve retumbar na água como um trovão. Um bom urinar tem atributos de potência, na velocidade, no caudal e no volume. Tem um som grosso e prolongado. Deve ressoar para fora do local onde é feito, para que pelo som se possa avaliar a força e a constituição da aparelhagem do dito cujo. Ao exercício da velocidade da urina estão implicados importantes estímulos à musculatura junto ao saco, que favorecem o seu desenvolvimento e da sua valiosa carga. Ao caudal relaciona-se o diâmetro e o comprimento do tubo, instrumento central na implantação de filhos no ventre de uma mulher. Ao volume do líquido deve-se à expansão da bexiga e, consequentemente, de toda a ossatura responsável por eficazes movimentos reprodutores, sendo por isso a ingestão generosa da cerveja um claro benefício.

Desconfiavam pois as mulheres que o urinar masculino fosse um tremendo acto de selecção natural? Por isso, é frequente ouvir-se perguntar a jovens rapazes, numa preocupação sexo-iniciática dos mais crescidos: então como vai a urina? A gotas ou a baldes? A pior coisa que pode acontecer a um macho é anunciar que vai mijar, anúncio que faz parte do processo, criar as expectativas e no final sair-lhe um ridículo fio de mijo. É como não alcançar o orgasmo.

25.4.09

25 Abril

Hoje é 25 de Abril, uma data revolucionária para portugueses, caboverdianos, guineenses, angolanos, moçambicanos e timorenses. É certo que até hoje, mentes portuguesas mais tacanhas não se permitirão admitir que, nós africanos, somos uma contribuição de peso para que pudessem comemorar a data. É certo igual que até hoje, mentes africanas encurtadas não se permitirão admitir que partilhemos as conquistas da liberdade junto com os portugueses. Reconciliação com a história é necessária, como foi necessária a reconciliação entre França e Inglaterra, cão e gato em outros tempos.

Este dia, 25 de Abril, não é dia de endereçar cumprimentos ao povo português, como se não tivessemos nada a ver com isso. É dia de reclamar um ensino da história comum, para que possamos aprender que, no mundo não existem uns países contra os outros; existem umas mentes contra outras. Este dia é de reclamar um ensino da história que nos faça respeitar sobretudo as grandes personalidades do idealismo africano e as grandes personalidades da resistência portuguesa.

24.4.09

Protesto

Um cidadão - como direi? mandjaku não, que é feio; africano não, porque também sou; vamos dizer, do continente - na ilha do Sal, um burlão, vulgo bandideco, evadiu-se pela segunda vez da cadeia, mas desta segunda vez foi se entregar, para ser remetido na cadeia, por livre e espontânea vontade. Razões: falta de desafio; é muito fácil evadir-se da cadeia do Sal. E como disse o primeiro comentador deste texto: de todo o modo tá-se bem lá dentro e ainda o tipo poderá sair quando lhe der na gana. Tipo turismo né?

Quero protestar contra esta falta de desafio das nossas cadeias!...Escandaloso!

23.4.09

Últimos episódios, telenovela longa

A telenovela Oposição ficou chocha, chocha, chocha! Arrasta-se. Já se antecipam os capítulos todos. Já se decorou as falas. Todo o menino já sabe a vírgula que vem a seguir. Os actores criaram barriga. As actrizes não renovam mais os penteados. A gente em casa desliga a televisão para não ter que ver a telenovela.

Aí, a Mídia, produtora da telenovela, reagiu. Deu uma renovada emocional. Anunciou que regressaria o galã mais amado de toda a Oposição: Tchaplan. Ai Jesus! A notícia deu um baque no coração das meninas. Anunciou que os capítulos a seguir trariam mais alegrias e que no final, um inédito, Tchaplan casaria com a mais fervorosa das telespectadoras. Ai Jesus! A temperatura aumentou na cidade.

A notícia desfez casamentos, anulou noivados, estragou namoros. Quem podia comprava roupa nova. Pais investiram nas filhas, financiaram vestidos de noiva, véu, grinalda, flores, coros, missas. A cada dia a Mídia fazia um novo capítulo e não revelava nada. Na verdade, ninguém sabia se Tchaplan regressaria mesmo. A cada dia, havia mais expectativa. As meninas agitavam-se de excitação, falavam para a televisão, choravam. Não podiam mais aguentar a emoção.

Finalmente, o grande dia. Foi manchete em toda a imprensa. Foi organizada na praça um telão. Montou-se uma brigada de prevenção de surtos de hipertensão. O capítulo final. Tchaplan apareceu e o delírio tapou todos os ruídos da cidade e as luzes ficaram mais incandescentes. Silêncio. Tchaplan falou. Não tinha a fala encantadora de antigamente. Tinha a cara mais velha e menos brilho no olhar. Sorria de esgar, mas ia se casar sim! A Mídia tinha escolhido a moça, a mais fervorosa das telespectadoras. O delírio! A moça parecia não ligar para as rugas do envelhecido Tchaplan. Casou. Afinal era o sonho dela.

Finalmente, o grande dia. Foi manchete em toda a imprensa. Foi organizada na praça um telão. Montou-se uma brigada de prevenção de surtos de hipertensão. O capítulo final. Tchaplan apareceu e o delírio tapou todos os ruídos da cidade e as luzes ficaram mais incandescentes. Silêncio. Tchaplan falou. Não tinha nenhuma piada na voz. Tinha a cara muito mais velha e nenhum brilho no olhar. Não iria haver casamento nenhum. Silêncio. Desapareceu qualquer suspiro do ar. Não tinha mais luz. Nos dias a seguir, havia relatos de tumultos. Famílias desfeitas. Pais, que investiram as economias, arruinados. Teriam acontecido até suicídios.

22.4.09

O mundo de novo

Este post vai para Macau, de onde escreveu João Francisco B. Santos. E vai para todos os leitores de todo o mundo. Vai para este exuberante mundo novo de encurtadas distâncias. Há físicos que se dedicam seriamente à teoria da viagem no tempo, dizendo que, quanto mais rápido deslocarmos, menor serão as distâncias e nessa progressão, teoricamente, podíamos ultrapassar o próprio tempo e viajar para o...futuro. Dificilmente a nossa pobre matéria aguentaria tal viagem, mas o nosso pensamento pode. A incrível revolução que a era da Internet está a operar no nosso tempo é essa redefinição de distância e espaço. É um mundo novo.

Internet está para a pós-modernidade (a nossa actualidade), como a electricidade esteve para a modernidade. Toda a civilização humana está se deslocando para a Internet, do económico, do social e do cultural. As redes sociais são muito maiores que relações de vizinhança físicas; os maiores grupos económicos de agora e do futuro são/serão os que operam na Internet; mesmo a arte busca uma linguagem nesse espaço, falando-se em "Internet art", assunto bastante longo para ser resumido aqui. Neste mundo novo, é triste verificar que África continua a ser miserável, Cabo Verde incluindo. O programa do governo "Mundu Novu" peca gravemente no conceito, agindo no visível, marca dos políticos, preconizando a distribuição de computadores, e olvida o invisível, o essencial, o verdadeiro atraso, que é a CONECTIVIDADE. Estamos literalmente desconectados da Internet, o mundo novo. Eu tenho sorte de ser os 13% com acesso a isto e aproveito e mando um cyber-abraço aos meus fiés leitores diários (mesmo que não comentem, sei que estão aí; é a tecnologia!)

21.4.09

Globalização é...Cultura

World Digital Free Library é hoje aberta a todos de todo o mundo.

Em Cabo Verde serão só uns meros 13% da população a conseguir ter acesso a isso. Internet está para a pós-modernidade, como a electricidade esteve para a modernidade

Chapas Amarelas

“Chapas Amarelas” é uma reputada empresa de transportes. É bastante versátil. É multi-frota, com predominância para modelos de topo de gama, mas também tem carrinhas e camiões. Transporta meninos à escola, filho de e mais 3 ou 4 coleguinhas por viatura, vão fresquinhos e isolados dos percalços da estrada, garantindo que se concentrem exclusivamente nos estudos. Para além desta importante função educativa, “Chapas Amarelas” vai às compras, levam as esposas ociosas ao cabeleireiro, transportam materiais de construção, levam o electricista ou o canalizador lá em casa, fazem paródia, passeiam-se aos fins-de-semana, vão a todo o lado.

“Chapas Amarelas” tem a enorme vantagem de apresentar uma frota sempre novinha. Mas o melhor é que o combustível, o ar condicionado, os pneus, as peças, a manutenção, os seguros, os impostos, as reparações, é tudo de borla! O grande inconveniente é que, para se ter acesso a esta maravilhosa transportadora é preciso ganhar as eleições. Mas como de 8 em 8 anos, ou ganham uns, ou ganham outros, é só ter 8 anos de paciência.

20.4.09

Aves raras

Era uma vez um pássaro chamado Filú. Só podia ser avistado na floresta encantada de Cabo Verde. Na origem, nem passarinha exótica, nem imponente águia-real. Somente um pássaro de voo comum, simpático e divertido, integrado e querido da comunidade. Um dia o pássaro Filú ambicionou voar mais alto e entrou na política, a conhecida corrente de ar ascendente, que projecta passarinhos e passarões para cima, sem que necessitem bater muito as asas. Filú ganhou alturas e embriagou-se. Sofreu metamorfoses, ficando as asas maiores e a plumagem mais pomposa. Aprendeu a fazer umas piruetas e passou a gritar, convencido que cantava. Tornou-se arrogante, voando e cagando a cidade toda, convencido que a sua porcaria representava uma bênção que caia dos céus. Tornou-se predador, alimentando-se dos da sua espécie, sendo jovens pombos o seu pitéu preferido. Tornou-se ave rara, ambicionando voos ainda mais altos e foi então que a população, em eleições, resolveu cortar as asas do bicho, que levou um grande e inesperado tombo.

De um dia para o outro, o pássaro Filú deixou de se ver. Recomeçou a piar timidamente pouco tempo depois, um piar de lamento. Passou a deslocar-se aos pulinhos, em figura triste. Nisso, um outro não menos notável passarinho, conhecido por moranguinho, tendo enchido o coração de piedade, ofereceu ao pássaro Filú um par de asas, não tão potentes, mas suficientes para, em pouco tempo, resgatar a sua capacidade de voar e, em pouco tempo, já piava com mais força, ensaiava novos voos e sem muita modéstia voltava a querer descaradamente ganhar os ares, ainda a cidade a tentar desincrustar a acumulação de porcaria deixada por anos de cagada.

Frases fantásticas

"N'sta xinti gosi mas kapasitada na nha ária di kabélu"
Formanda, curso de capacitação cabeleireiras

18.4.09

Trapalhada clássica

Afinal, acabei por ir ao hiper propalado show do Tito Paris e devo isso à insistência de João Neves, director do CCP-Praia, a quem agradeço sentidamente, pelo empenho em “corrigir” uma certa antipatia do evento em relação a algumas pessoas. Muito mais do que eu, outras pessoas, músicos super interessados, ficaram frustrados.

Afinal, o hiper propalado evento foi uma autêntica bosta! Produção de última categoria. O primeiríssimo destaque pela triste negativa, foi a onda dos convites, que resultou em desastre. Muita, mas muita boa gente , inclusive figuras de destaque, assistiu o show em pé, com os seus lindos vestidos de noite, em cima do salto, as suas fatiotas, preparados para um espectáculo de salão. A sala abarrotou, o que começou a estragar a produção. Era gente a circular por todos os lados. Fotógrafos a subir ao palco…um ambiente instável. Se tivessem reservado parte dos lugares e vendido bilhetes, caros que fossem, o cuidado teria sido outro.

O show foi looongo e Tito portou-se de forma intolerável, dado o tipo de evento, o tipo de lugar e o tipo de plateia. Atropelou gravemente o protocolo, fazendo piadinhas parvas em relação aos membros do governo e ao presidente da assembleia. Falou demais e está definitivamente provado que Tito só devia cantar. Por fim, convidou pessoas demais a subir ao palco, que causaram alguma rebaldaria, exagerou na graxa a determinadas pessoas, mandava a orquestra parar (imaginem!) para conversar com o público e o público, este, embarcou no carnaval. As pessoas riam, aplaudiam e, nervosamente, apupavam as piadinhas insossas do Tito, esquecendo que estavam ali para ver uma, caramba, orquestra!

E no meio disso tudo, nos momentos em que a sala conseguia se comportar, o melhor da noite soava: a música! As lindas melodias de Tito, o lindo acompanhamento da orquestra, os talentosos músicos, a arte finalmente. E mesmo assim, fiquei por perceber a ideia do Tito em preparar um repertório mais “sensual” para a Praia(!?), segundo o próprio, em entrevista na rádio. Dá-me vontade de o mandar para o cara…! Tito, na Praia, há público também para um repertório menos “sensual” e aquilo não era para ser propriamente um baile.

Saí desgostado e desgastado, após o stress dos convites e as longas 3h (!) de…Que me desculpe o leitor o fel que me sai pelas ventas. Insisto: ou é arte, ou é entretenimento, ou é rebaldaria. Tudo junto é que não dá.

17.4.09

Quem nos socorre?

Segundo Manuel Veiga, os "ganhos conseguidos com a sua governação...a mudança cada vez mais positiva e actuante na atitude dos sujeitos culturais e actores políticos; o aumento crescente da credibilidade no sector, traduzido no aumento orçamental, as novas tarefas e algumas distinções feitas ao Ministério, tanto pelo Governo como também pela cidadania cultural; e ainda as acções de vulto empreendidas pelo Ministério, em vários domínios culturais, como a arte, a investigação, a legislação, o património e a salvaguarda da identidade

Como posso chamar a isso? Confusão? Trapalhada? Gozo? O que é isto, que saiu nesta notícia no A Semana Online? Que foi devidamente comentada no Cafe Margoso.

É assim: eu já nem me importo que o homem ande a gozar com a cara de cada qual, que não consiga dialogar com ninguém e que não tenha uma ponta de dignidade para pedir a sua demissão. O que me indigna é o imposto que pagamos para alimentar esta corja, as suas benesses e as suas regalias.

E espero bem que José Maria Neves perca bastante votos por causa da sua desastrada política cultural. Receio é que isso não tire votos a ninguém em CV.

Correcção

No post em que digo a frase "Se Deus tivesse feito um estudo de impacto ambiental...", a frase não é minha, muito menos da Cristina, muito menos do pai dela. Ao autor as desculpas. A brincadeira sobre o Min.Ambiente é da minha autoria e responsabilidade. Uma pequena confusão. As desculpas.

Novos piratas

Piratas estão em mó de cima. Hoje são outros tesouros, mas pirata é pirata, nos séculos passados e presente, embora os do passado tenham contribuído para a riqueza de algumas nações e tenham as cabeças em prateleiras douradas da história. Heróis quase.

Pirataria é igual em todo o tempo, embora a tecnologia esteja hoje umas tantas vezes mais mortal e a espécie humana seja progressivamente mais violenta, conduzindo-se à auto extinção, parece. Hoje, piratas deslocam-se em barcos velozes, as comunicações são uma maravilha e as armas são utensílios de matar de alta precisão e destruição.

Pirataria é tão nosso como de todo o mundo. Cada Estado, político ou empresário corrupto, em qualquer parte do mundo, é agente disso. Redes de tráficos de droga, armas e pessoas, são causa e consequência disso. Nossos portos e aeroportos são infra-estrutura de apoio disso. Guerras fratricidas dentro dos países, já de si depauperados, dependem disso. A indústria escandalosa e milionária de armas é a própria ossatura disso. Pirataria é mais do que um punhado de esfarrapados com poder de fogo. E as Nações Unidas a fingir que não tem nada a ver com isso.

Fofos

Que fofos o Primeiro-Ministro e o Presidente da CMP, em encontro oficial, que mais parecia uma alegre cavaqueira. Eram só sorrisos. Se sorrissem eram deixava até de ter piada.

É preciso complementaridade na questão do governo central/local, concordam na perfeição os dois fofinhos. Concordo. É preciso rever a questão do estatuto especial da cidade da Praia. Não concordo. Estatuto especial soa-me a meter lixo debaixo do tapete. É preciso sim rever a questão do poder local, das suas finanças, da questão dos terrenos, clarificar as águas. Estatuto especial soa-me a remendo.

Mas, vá lá, há que aproveitar este momento de amor entre os dois fofos, à partida inimigos de estimação, porque daqui para as eleições, sorrisos podem se transformar em cara feia e considerações menos simpáticas dum em relação ao outro.

15.4.09

Este tipo...

Este tipo não é do tipo assim, assado, de se conhecer de horóscopo, de se tentar adivinhar, de se aplicar fórmulas conhecidas, porque eventualmente nenhuma dessas estratégias vai servir para nos confortar a ponto de se reclinar num sofá e dizer: pronto, captei este tipo. Estejam sempre preparados para serem apanhados em contrapé por este tipo. Não se deixem tranquilar. Não façam disparates disfarçados de acções. Ou então façam disparates assumidamente disparates. Escolham uma das duas maneiras de estar ao pé deste tipo: estar ou não estar.

Este tipo não é tipo de estar com um blog para a eternidade. Nem de se conter num ponto, muito menos num traço, muito menos numa imagem. Precisa se explodir periodicamente e depois se catar. Por isso não há tristeza em Ala Marginal ficar por aqui. Ele, o tipo, vai para um outro sítio, esbofetar o conformismo que está em todo o lado. Ele o tipo não pára.

Habituaram-se à cocaína? Desabituem-se porra!

Povo com sede

Foi lindo, lindo, lindo, ver pela televisão milhares de pessoas na Rua de Lisboa, Mindelo, em pé, para ver Tito Paris e Orquestra Metropolitana de Lisboa. Mas sou obrigado a concordar com o João Branco que, pelo que me apercebi, a montagem do palco não podia favorecer a transmissão do som delicado de uma orquestra. O palco tinha que ser feito como uma grande caixa de ressonância, como uma vez vi feito na Alemanha, se não me engano, em que num anfiteatro desses medievais, foi construído como que uma concha à volta do palco e o som saia como um assobio de pássaros. De todo o modo foi lindo de ver.

Aqui na Praia, os glamurosos de serviço acharam que nem o povo, nem ninguém podia ver a orquestra, a não ser quem pertença ao círculo restricto de Santa Sociedade de Faz de Conta. Um show desses à porta fechada!!?

14.4.09

Pensamentos

Se Deus tivesse feito um estudo de impacto ambiental antes da criação do homem, jamais o teria criado

...Ou então fez como o Min.Ambiente: ignorou o estudo e fez-nos na mesma :)

Odontologia

Em tempo de preparação de campanhas políticas, os jornais se transformam em seres, com estômago, intestinos, arrotos, peidos, mudam de pele, de face, de tom, de humor.

Ficamos a saber afinal que, por trás dos jornais, que saem fininhos das imprensas, nos ecrãs, ou publicados na Internet, tem homens e mulheres, que tem cú e tem medo, tem amor e tem ódio.

- Esses tipos querem matar-me! - grita uma mulher.
- Chilique de velha sabida - respondem.
- Aguentaram-se desta vez, mas para a próxima os deitamos abaixo.
- O país nunca este tão bem senhores!

Publicam-se provas irrefutáveis de crime. Exibem-se quadros e gráficos ilegíveis, pretensas sondagens à vontade do povo. As colunas da fofoquice, as preferidas da maioria, tornam-se o próprio sistema central dos jornais e a deontologia, esta espécie de juramento secreto, dá ares de odontologia, ciência de reparação de dentes podres e mau hálito.

Em tempo de preparação de campanha política, afinal, homens, políticos, jornais e mulheres, são só seres com medo de morrer, ou vontade de acordar e ter o motorista à porta e o contabilista a cuidar que não dormimos a fazer contas à vida.

13.4.09

Tito Erudito

Tito Paris em Cabo Verde e Orquestra Metropolitana de Lisboa. Até o título é grande!

Este sonho já vem sendo sonhado por Tito há algum tempo. Lembram-se de uma história de Tito, Min.Cultura CV e 200 mil? Na altura, terão dado ao Tito um cheque de 200 mil ESCUDOS, quantia claramente ridícula para uma operação deste tipo. Se calhar foi uma pequena confusão de linguagem. Terá sido 200 mil EUROS a quantia pedida. Enfim, entre escudos e euros, azedaram-se a relação entre os dois ilustres, que chegaram mesmo a trocar umas farpas por escrito. Que seria de nós sem riola?

Desta vez o homem vem mesmo, por via de um Banco. Mas é mesmo assim, o dinheirinho tem de vir de quem a faz e não do Min.Cultura, que deve se preocupar com questões mais … eh … digamos … caras! 200 mil escudos se calhar é quanto o Ministro gasta de combustível ao ano.

Rua de Lisboa (foi escolhido pelo nome?), 13 Abril. Auditório Nacional (residência de aranhas em tempo normal), 17 Abril. Vamos desentupir os ouvidos.

11.4.09

No country for kiddos

Crianças, acabou a brincadeira! Jorge Santos e meninada que andou a brincar aos partidos e candidatos naturais, por favor dêem licença que é hora de pessoal da pesada. Vem aí um think tank, tanque que pensa, artilharia pesada, isto é, Carlos Veiga e a tropa (quase) toda. O general e os seus coronéis. Nomes de fazer medo.

As manobras estão desenhadas em papel milimétrico. Carlos "Think Tank" Veiga vai assumir os comandos do partido, irá à guerra das legislativas, ganhará a guerra, governará por um tempo, até o tempo das presindenciais, abandonará o governo, contando já com experiência em tal manobra, irá à guerra das presidenciais, ganhará a guerra, deixando o governo ao coronel Ulisses, que, obviamente, terá de abandonar a câmara ao deus dará. Tudo limpinho. Pelo menos é o plano. Ao menino Jorge, convém não espernear, fica quieto que ainda poderá ganhar a assembleia nacional de prenda de bom comportamento. Menino Freire barulhento, faz menos barulho agora e, quiça, uma secretaria de Estado. Menino Dico pode continuar a brincar de saltar paredes que ninguém o vai reprender pelas suas traquinices.

Ao outro lado, conselhos de estratégia. Não é tempo de amor à terra; é tempo de amor à vida! Preparem-se. Zema, tira o lastro de chumbo do governo, isto é, a Veigada, a Sidoniada e outras peças inúteis, arranja melhores homens de campo que Barbinha e Filú, faz exercício físico, põe-te leve, que a luta vai pedir corpo a corpo e derramamento de suor, sangue e lágrimas.

That's why a love this country: entertainment.

9.4.09

Jazz nasceu em Cuba

...também. Nasceu em Cuba também. Reza a história que, na mesma altura em que nascia e crescia rapidamente o jazz norte-americano, o de Cuba também se esboçava. Reza a história que negros de Cuba e de New Orleans tinham uma profícua relação de intercâmbio musical. Reza ainda a história que terão havido proveitosos jam sessions promovidos por Cachao em New York, entre jazzers dos dois locais, no início do séc.XX. Não é fabuloso?!

Mais tarde, acabaram por criar um ramo inteirinho e próprio do jazz: o latin jazz. Cuba influenciou e influencia o jazz em toda a américa latina, américa do sul, incluindo Brasil, e em todo o mundo.

Para além disso, Cuba tem uma sólida formação em música clássica. Teve uma orquestra sinfónica desde os finais do séc.XIX. Cuba no mundo é uma superpotência na música. Este artigo aqui em Wikipedia é muito esclarecedor.

Jorge Reyes e banda foi, para mim, o topo de qualidade do festival. O maior agrupamento de estrelas a tocar ao mesmo tempo e todos em conjunto num som divinal.

8.4.09

Post KriolJazz II

O KriolJazz desenhou um eixo que vai das ilhas Reunião, oceano índico, até as Caraíbas, no extremo ocidente do oceano atlântico, percorrendo metade do globo, na longitudinal. E no entanto culturas com grandes semelhanças e subtis diferenças: as culturas crioulas.

É excitante a ideia de um festival, tendo a cidade da Praia como centro. Para além do espectáculo da arte universal que é o jazz, pode mobilizar estudiosos e intelectuais das mais diversas áreas das ciências humanas, em torno de um conceito que não se encontra fechado: a crioulidade. Pelo contrário, é um conceito que sofre do peso da herança das suas culturas de origem. A velha questão "mais africanos ou mais europeus"; e que tal, nem uma coisa, nem outra; crioulos. Mas o que é isso exactamente?

E mais uma vez, a cidade da Praia tem que aproveitar essas oportunidades para se constituir como uma cidade importante no mundo, do ponto de vista cultural, político e económico.

Um encanto!

Este disco é como um chá da nossa erva preferida. Deve ser tomada nas calmas. Essencialmente não se deve pôr gelo para esfriar, nem se deve lavar a louça enquanto se o ouve. Deve ser ouvido sentado, bebericando. Quanto melhor o sistema de som, melhor a escuta do trabalho rítmico e harmónico delicado de Hernâni, surpreendentemente ao baixo, e da percussão divinal de Ndu. Não se deve ouvir muito alto, que não é música de discoteca, nem muito baixo para se poder ouvir as notas ao acordeão de Zeca Couto e à guitarra de Voginha e Hernani. Uma música com a cara, o corpo e o espírito da sua intérprete. A tal interpretação autoral: não precisou imitar ninguém para interpretar o lindo batuque "konkista rabeladu", por exemplo.

E tal como acontece com o disco do Hernani "Afronamin" ou o do Djinho Barbosa "Tras di Son", este disco é um acto de rebeldia, pois que não traz o selo de nenhuma grande produtora, que terá permitido a liberdade artística total do seu director musical, Hernani, e da sua autora, mas que poderá prejudicar a sua distribuição aos quatro cantos do mundo, que merecem aceder a este maravilhoso début discográfico de Isa Pereira. Aliás, chegou a hora de abrir o debate sobre isso.

7.4.09

Actores fantásticos

Kate Winslet neste filme tem uma trabalho ARREPIANTE!!!...Pela fantástica nudez, pela entrega, pela coragem, pela interpretação minuciosa. Por ser, na primeira parte uma linda e sensualíssima mulher e na segunda parte uma deprimida e feia velha. Merece cada grama do Óscar que ganhou. Cinéfilos, quem ainda não viu o filme, procurem-no, que no entanto não é uma grande realização, mas Kate Winslet e Ralph Fiennes fazem-no valor muito a pena.

Post KriolJazz - adendun

Que fique claro: Gamboa é absolutamente necessário, até por uma razão muito simples: vai muito mais gente e é uma expressão muito mais íntima das pessoas. Eu vou à Gamboa e gosto de Gamboa, Baia, Santa Maria, S.Cruz e todos os demais festivais populares. O que não podemos é desenhar uma política cultural do Estado à volta disso. Temos que premiar o trabalho, o desenvolvimento, o sacrifício...o mérito. Temos que separar as coisas e não promover um e destruir o outro.

Post KriolJazz

A diferença fundamental entre um festival como o da Gamboa e um festival como o KriolJazz, é que o primeiro é entretenimento puro e não há nenhum capital cultural a ser gerado ali e o segundo é efectivamente um acto cultural, que pode ter resultados imensamente mais benéficos, para a intelectualidade, para o pensamento, para a técnica (musical neste caso), mas também para a economia. Um festival de Jazz é produto de alta qualidade: atrai uma clientela mais “generosa” (classe média, alta, empresários, diplomatas) e tem um efeito de estimulação na cidade que à vista parece ser maior. Animam-se as esplanadas, os restaurantes, bares e pubs. Se atrairmos estrangeiros, animar-se-ão os transportes, o alojamento, o artesanato, a venda de CDs e livros. Para além disso, socialmente cria um clima agradável (um valor económico também), oposto ao excesso, mais de contemplação e de valoração. Pois, por natureza, um festival de jazz, bem como uma bienal de belas-artes ou um festival de teatro, não é entretenimento; é fruição.

Façamos um benchmarking económico disso. Uma estratégia para a Economia da Cultura seria mostrar aos financiadores, que o sponsoring da cultural não é um acto filantrópico, mas sim um investimento. Estimulemos a economia pela cultura, mas tenhamos em conta que são duas actividades orientadas a valores diferentes. Necessitam uma da outra e podem até ser complementares, mas sem que nenhuma imponha a sua lógica à outra. O conceito “indústria de entretenimento cultural” é uma barbárie. Casinos, discotecas, hula-hula, que no nosso caso é o batuque de abanar o rabo para inglês ver, músicos a animar o jantar dos turistas, espectáculos de diversão e afins, não tem nada a ver com Cultura.

Não vou cansar de repetir isso. O Min.Cultura e o Primeiro-Ministro, no sector cultural, autistamente, estão a bater com a cabeça na parede errada. Vão fazer um buraco e não vão encontrar nada do outro lado.

6.4.09

Blog joint: Licenciados desempregados?

Este tipo de desemprego em CV só pode ser uma falta descarada de asserto político, visto que só 3% da população tem formação superior, 1% tem formação média e 52% tem formação básica!! (Dados do QUIBB 2007). Ou seja, não basta dizer que CV tem escolas por todos os concelhos e que a taxa de analfabetismo é de uns mero 5%; é preciso dizer que a população tem escola, mas ainda uma má escola.

Num quadro desses, então que tipo de recursos humanos tem a administração pública e as empresas? Num quadro desses, que tipo de desenvolvimento andamos a desenhar? Que tipo de empregos andamos a gerar? Que tipo de economia é a nossa?

Desemprego de licenciados em CV, se existe e se é expressivo, não pode ser decorrente da saturação do mercado para estes qualificados; é um desalinhamento no processo de desenvolvimento. Falta fazer a famosa reforma de Adm.Pública, perdendo o peso de chumbo e ganhando mais competência. Falta empreendodorismo. Falta uma economia a base de serviços de alto valor. Mas sobretudo falta formar ainda muito mais licenciados, que é o contrário de uma perspectiva de crise de emprego para licenciados.

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KriolJazz: Mário Lúcio e banda

Começou assim o segundo dia do festival: Mário Lúcio com um agrupamento surpreendente. Malandragem velha e malandragem nova, fazendo um som, no mínimo, de busca.



Uma nota especial nota para Dani (baixo) e Sori (guitarra) pelo talento que esbanjam. Sori é para mim um dos maiores artistas CV da sua geração.



KriolJazz: Lenine

Ainda belisco-me para ter a certeza que vi mesmo este show acontecer na cidade da Praia! Lenine mandou rock da pesada + ritmos da sua terra + funky + jazz + coisa-própria-de-Lenine


Foi das baterias mais lindas do festival. Pudera, com aqueles ritmos complicados que Lenine cria!




Jorge Reyes e Banda (e que banda!)

Se já era um admirador absoluto da música cubana, depois de viver esta noite fiquei um religioso da música cubana. São simplesmente dos maiores músicos do MUNDO. Uma das características que marcam as suas bandas é a a orquestração de elevedíssima qualidade. Os elementos da banda são todos mestres, professores e exímios executantes, mas o que caracteriza a banda é o show de colectivo: cada coisa no seu lugar; resultado: música divinal. Foi o meu top do festival.







4.4.09

KriolJazz: Tcheka

O festival começou em poesia. O sentido de melodia de Tcheka é contangiante. Poesia mesmo!

E o pessoal mandou som da pesada também

Este camarada fez um trabalho lindo. Simplicidade e uma textura rítmica que combinou bem com Tcheka.

Grande baixista; mandou um som bom!

KrioJazz: Meddy Gerville

O momento alto da noite. Este homem é um jazzman puro. Aliás, foi o grupo mais jazzy

Este baixista fez estragos! Lembrou-me o percursionista da Mayra, que solta uma energia impressionante em cena.

O trabalho rítmico também foi notável

Talento, técnica e espectáculo!

KrioJazz: Ba Cissoko

Esses camaradas fazem uma coisas inédita: metem efeitos, concebidos para guitarras eléctricas, nos seus koras (o instrumento da imagem). Esses camaradas fazem um som denso e energético, mistura de tradicional + rock + funky. Espectáculo puro!


Este camarada aqui (Sékou Kouyaté) é um tornado! Vê-lo tocar e dançar no palco, mexeu até com as pessoas mais conservadores que estavam ali


É de pedir por mais!

Isto é chocante!

"César, não é a banana que está de quarentena. São TODOS os produtos agrícolas da ilha.

Nos finais da década de 70 apareceram os malditos milpés em Santo Antão. A praga depressa se alastrou pela zona norte da ilha, que é a a região mais húmida de Santo Antão, com um clima propício para o desenvolvimentos desses bichinhos. A praga transformou-se num pesadelo para os agricultores dessa região. Devoram sobretudo mandioca, batata doce, e hortaliças.

Tendo tornado incontrolavel, nos inícios dos anos 80, a solução encontrada pelas autoridades de então foi isolar a ilha, de forma a que a praga não se alastrasse pelo resto do arquipélago.
Já passaram mais de 20 anos e a situação continua a mesma. Não se arranjou outra solução e a ilha, o segundo celeiro de Cabo Verde, ficou sem mercado para fazer escoar seus produtos. (Mindelo não consegue absorver toda a produção que vem da ilha.)

Lembro-me de há uns anos atrás ter visto na televisão as autoridades a queimarem centenas de quilos de mandioca que apreenderam no Porto da Praia, vindo de Santo Antão. Até parecia droga."

Benvindo Neves, a propósito do post "Secura"

3.4.09

Cultura de Supermercado

Quando desapareceram os botecos e as tascas é que damos conta de como eram essenciais aos encontros mais pessoais, às tocatinas e às estórias da paródia. Na mesma medida, desapareceram as lojas de discos, as livrarias, as lojas de artesanato, as adegas e todo o tipo de comércio especializado. Na europa já se faz um movimento contrário aos supermercados e ao estilo de vida fast. Já se fala em "slow-food" e em "slow-down". Aqui, agora começamos a adorar esta Cultura do Supermercado.

Ao falar de Música de Supermercado, referia-me precisamente a esta maneira de fazer música em que, como dizem os meus comentadores em "Eclipsada", desaparece a alma dos artistas. Junta-se uns tantos talentos, faz-se um alinhamento de temas de sucesso garantido, encomenda-se uns sopros de Cuba, uns violinos de França, umas guitarras de Portugal, uns batuques de Cabo Verde, embala-se bonitinho e pronto, temos produto. E é assim que a música se descola da vida social, enquanto reprodutor desta vida, para passar a ser um produto de entretenimento. E na maior parte das vezes com qualidade razoável. São produtos fáceis de se consumir e não pensar muito. É cómodo.

Já não temos paciência para escolher um vinho, atentando bem nas castas de que é feita, do ano que é feito, do terreno que produziu as uvas e para o tipo de comida a que o vamos combinar. É fácil escolher o vinho do supermercado, que todos dizem que é bom. Rejeitamos Danae, porque é desalinhada, nos manda à merda, é suja, sofre com a vida, tem angústias como todos nós e a decarrega sonoramente, com muita classe. É fácil ouvir essa música que nos entra pelo ouvidos e nos embala. É uma questão de escolha. Eu não quero Cultura Fácil.

2.4.09

Falar a música

Workshop, ontem, UniCV, com os músicos Jorge Reyes, Changuito, e El Panga.

Antes disso estive na bela praça defronte à reitoria da UniCV, ao convívio, e Jorge Reyes estava mesmo ao meu lado e eu não o reconheci. Confesso, até ignorei essa figura, que tem um ar desanimado e não se encaixa em nenhuma imagem que temos de "estrela". Mas é uma estrela, em Cuba e no mundo. É um maestro, que é como eles, os 3, tratam uns ao outros. E são maestros mesmo. Falam da música, com propriedade, com conhecimento de história, antropologia, musicologia e vão fazendo demonstrações duma pequena parte dos seus enormes talentos, enquanto executantes exímios que são. Cuba é uma escola para nós em muitos aspectos, tirando o aspecto político. Na música então, é de sentarmos, ouvirmos com atenção cada palavra desses senhores e tentar retransmitir para a nossa realidade.

Lembremos que a música CV, para além do sucesso comercial na categoria "World Music", é ainda básica, em termos rítmicos e harmónicos. Em termos rítmicos há ainda muito por explorar; para além da morna, coladeira, funana, batuque, tabanka, há os ritmos inexplorados (em termos progressivos) do Fogo, S.Antão e S.Nicolau. Para além disso [sempre na minha estrita opinião, a partir de conversas com outros] é possível combinar esses ritmos todos e extrair mais uns tantos. Em termos harmónicos, os acordes podem ser extendidos ad infinitum, que o diga os cubanos ou os brasileiros. Mas isso tudo é trabalho de ESCOLA, que não temos. Não temos um jazz nacional; não temos uma orquestra nacional. Indicadores de falta de erudição.

Ah, e o senhor aí ao lado (Min.Cultura) se mantêm de fora de toda essa dinâmica cultural da cidade. Pergunto mais uma vez: para quê o pagamos e caro?

1.4.09

Eclipsada

Guy N'Sangue, Thierry Fanfan, Regis Gizavo (vai estar presente no KriolJazz), são alguns dos nomes gigantes que actuam neste album, para além dos talentosos caboverdianos Toy Vieira, Miroca, Cau Paris e outros. Para além de músicos de outras tantas nacionalidades. De referir que nas press releases, todos esses senhores são completamente eclipsados, facto que me indigna, porque são meros fornecedores de serviço de tocar instrumentos, na visão da produtora. Um disco que leva violino, violoncelo, piano, pelo menos 3 baixistas diferentes, pelo menos 2 bateristas diferentes, uns tantos guitarristas, coros, etc. Composições de Mário Lúcio, Pantera, o rookie Michel Montrond, Teófilo Chantre, a própria Lura, B.Leza. Morna, batuque, funaná, funky...Gravado em Paris, Lisboa e Praia.

O problema não é a quantidade espectacular de músicos bons e compositores; o problema é o modelo de música de supermercado. Tanto pode ser ouvido num restaurante, como ser dançado numa discoteca. Disco de variedades. Dinheiro em caixa garantido. Não é que seja um problema em si, porque música de supermercado é preciso, como é preciso vinho de supermercado. O problema é ser vendido como sendo uma colheita fina da música caboverdiana. Não é! O problema não estará na vozão da Lura, um autêntico diamante. O problema está na concepção artística, ou seja, na direcção musical.