7.4.09

Post KriolJazz

A diferença fundamental entre um festival como o da Gamboa e um festival como o KriolJazz, é que o primeiro é entretenimento puro e não há nenhum capital cultural a ser gerado ali e o segundo é efectivamente um acto cultural, que pode ter resultados imensamente mais benéficos, para a intelectualidade, para o pensamento, para a técnica (musical neste caso), mas também para a economia. Um festival de Jazz é produto de alta qualidade: atrai uma clientela mais “generosa” (classe média, alta, empresários, diplomatas) e tem um efeito de estimulação na cidade que à vista parece ser maior. Animam-se as esplanadas, os restaurantes, bares e pubs. Se atrairmos estrangeiros, animar-se-ão os transportes, o alojamento, o artesanato, a venda de CDs e livros. Para além disso, socialmente cria um clima agradável (um valor económico também), oposto ao excesso, mais de contemplação e de valoração. Pois, por natureza, um festival de jazz, bem como uma bienal de belas-artes ou um festival de teatro, não é entretenimento; é fruição.

Façamos um benchmarking económico disso. Uma estratégia para a Economia da Cultura seria mostrar aos financiadores, que o sponsoring da cultural não é um acto filantrópico, mas sim um investimento. Estimulemos a economia pela cultura, mas tenhamos em conta que são duas actividades orientadas a valores diferentes. Necessitam uma da outra e podem até ser complementares, mas sem que nenhuma imponha a sua lógica à outra. O conceito “indústria de entretenimento cultural” é uma barbárie. Casinos, discotecas, hula-hula, que no nosso caso é o batuque de abanar o rabo para inglês ver, músicos a animar o jantar dos turistas, espectáculos de diversão e afins, não tem nada a ver com Cultura.

Não vou cansar de repetir isso. O Min.Cultura e o Primeiro-Ministro, no sector cultural, autistamente, estão a bater com a cabeça na parede errada. Vão fazer um buraco e não vão encontrar nada do outro lado.

3 comentários:

da caps disse...

"(...)Se atrairmos estrangeiros, animar-se-ão os transportes, o alojamento, o artesanato, a venda de CDs e livros.
(...)Casinos, discotecas, hula-hula, que no nosso caso é o batuque de abanar o rabo para inglês ver, músicos a animar o jantar dos turistas, espectáculos de diversão e afins, não tem nada a ver com Cultura."

Num cusa n' ta concorda, tipos de festival li, ta aposta na diversidadi ki sta mesteba num país ki ta distigui precisamenti pa cultura, mais concretamenti pa música.

Agó aposta num em detrimento di oto ê puxa calça pa riba pe "fica ta da fogo".
Graças a kel ki bu tchoma di "excesso" (festival di gamboa), tcheu mães ta alimenta ses família co ses barraca;
Tem monti turista interno (ta costuma bem criolos di diáspora e de outros ilhas);
Para além di ki povo, tem ki ta divirti. Batuque e vontade de abanar, rabo ou não, sta na nos sangui (pelo menos na maior parti di nôs).

Enton, kes kusa li (um tipo de certame e oto) debi ser ê medido ou seja, sima ta flado em inglês, o que é necessário ê "Balance"..

Cesar Schofield Cardoso disse...

Mais um detalhe: uma coisa é fazer o batuque, respeitando a sua mística e a sua riqueza interior; outra coisa é usá-la, exaustivamente, para: receber governantes estrangeiros, animar jantares, animar campanhas políticas, etc, etc, etc. Faz-me mal! Não, batuque não é abanar o rabo; é dançar.

Amílcar Tavares disse...

Eu vejo complementaridade. Um naipe alargado traz outra riqueza da oferta, sem dúvidas.