30.6.09

Eco-blog

Tenho um blog mais ecológico, dizem. Porquê? Porque está de preto e ecrãs, quaisquer que sejam, de computadores, TV, cinema, etc, quanto mais pretos menos energia gastam, mais eco-friends portanto. E nisso acabei por descobrir uma parábola positiva do preto, para contrapor às negativas, do tipo: "a situação tá preta". Agora, de toda a vez que sentir piadinhas do preto, vou dizer: "man, preto é ecológico".

Entretanto ontem (dia 29) tinha aqui a minha zona de trabalho (Wall Street de Cabo Verde) uma poluição sonora, do mais irritante que há: não tivemos luz o dia todo; era só motores por todo o lado; uns maiores, no caso das empresas maiores, outros menorzinhos, mas danados de barulhentos, das empresas mais pequenas. Para além do cheiro a combustível e a cara amolgada das pessoas de frustração e irritação.

No coração da cidade da Praia (zona do Taiti) existe, quiça, o maior ferro-velho do país. É uma área como um campo de futebol, de tudo o que é sucata que se possa imaginar, de máquinas industriais desactivadas a frigorícos velhos. E para que não se esqueça: continua a desaguar no mar da Gamboa, um líquido viscosos e putrefante, que resulta da produção das fábricas que ficam ali junto de Lém-Ferreira, também no coração da cidade.

Sem contar com as porcarias de construção (que me desculpem, a palavra "porcaria" ocorre-me muitas vezes, para não dizer "merda") que vão ocupando a cidade de uma forma sufocante. Confessou-me um estrangeiro: "não gosto da Praia; é uma cidade de blocos de cimento e não de gente". Discordamos?

Mas no meio disso, o meu consolo é que o meu blog é ecológico...embora esteja a preto porque, puro e simplesmente, apetece-me.

29.6.09

El rei, bobos da corte e hermafroditas

Para quem não sabe, Cabo Verde é o país onde as coisas erradas são tão resistentes que, com tempo, passam a ser direitas. Aqui existe um tipo de tortura, fina, inodora, incolora, inaudível, tão persistente no entanto, que vence todas a resistências.

O Min.Cultura acha que as críticas são uma expressão de cobiça ao seu lugar, demonstrando que preza sobretudo o lugar, o trono, o prestígio do lugar. Os bobos fazem côro, mascarados.

Em outras partes, países civilizados, ao mínimo deslize dos gestores públicos, vem o povo pedir explicações. Lembro-me de quando a Igreja Universal do Reino de Deus, esta porcaria, quis comprar um teatro antigo e repleto de tradição, de como foi comovente ver artistas unidos, senhoras e senhores, de cabelo branco, provavelmente pais e avôs, sairam às ruas para protestar.

Aqui, país de hermafroditas, importantes agentes culturais acham que os críticos convictos e inamovíveis são enfants terribles (traduzido: moleques), que gostam de brincar com sangue de político!...Por isso armam-se em defensores del rei. Aqui, as tapinhas seguem-se beijinhos, mantendo el rei em sentido, mas não zangado.

Deitaste tudo a perder, mai dier frend. Cansaste. Com isto resta-me como solução tomar um anti-gastrite de cada vez que se realiza um culto de Igreja Maná, uma seita estúpida, em pleno centro cultural, ou de cada vez que um monumento vem abaixo para ceder lugar a uma outra insanidade qualquer. Calo-me e aguardo que se consiga tocar os porcos e as cabras do sítio Património da Humanidade. Talvez tenhas uma varinha de enxotar e queiras ajudar.

26.6.09

Início de uma nova Cidade Velha?

Grande vitória, sem dúvida!

Grande lobbying, grande título, grande voto de confiança. Agora muita coisa terá que mudar, para que toda a confiança depositada em nós não seja defraudada. Agora o sítio terá que merecer o seu título. É preciso corrigir umas tantas asneiras que já foram feitas, tais como as construções em pleno sítio arqueológico e o saque dos espólios. É preciso um organização conveniente do espaço, de modo a proporcionar aos visitantes uma boa experiência, que de momento não é o caso. Sem a componente humana a coisa não vai funcionar, ou seja, o prestígio que o local venha a ganhar tem que se reflectir na melhoria das condições de vida das pessoas.

Atenção à guerrilha de protagonismo entre o Governo Central e o Local, para não estragarem a festa. Atenção aos especuladores e demais burlões, nacionais e internacionais.

E, já agora, podíamos aproveitar para falar de um programa de ensino da História, que nos ensinasse, a TODOS, como tivemos/temos uma grande importância no mundo.

Hoje somos bazofos sem manha!

25.6.09

Vai rolar!

Fundação Amilcar Cabral
5 a 12 de Julho - 10h00 às 21h00


A utopia que foi, a utopia que é, sonhar a liberdade e lutar.

Mas conseguimos?
Continuamos a lutar ou continuamos a sonhar?
A utopia é. E é preciso ser sonhada todos os dias, em cada gesto, em cada actividade, em cada palavra.
Porque a liberdade é como o vento: voa
(Nota do autor)

"UTOPIA de César Schofield Cardoso é um projecto site specific no qual o autor propõe uma reflexão sobre "liberdade alcançada, pela luta, pelo sacrifício e pela determinação de uma geração".

Através de uma instalação áudio e visual composta por projecções de filmes 16mm, vídeo-slides e multimédia o autor respiga no passado imagens presentes. O resultado é uma abordagem intimista sobre a Independência de Cabo Verde enquanto o lugar-comum na construção da nossa identidade."
(Nota da Produção - Samira Pereira)


23.6.09

Premonições

O estado das coisas por cá é misto, entre calmaria e perturbações, mais ou menos graves. O céu está parcialmente nublado, ocorrendo trovoadas em forma de vozes abafadas, mas raios não acontecem. O vento sopra com a mesma intensidade da direita e da esquerda, causando turbilhões ao centro, o que desloca pessoas menos firmes de um lado para o outro. As ondas oscilam entre pequenas vagas de contestação e bajulações normais. O sol brilha para alguns e para outros não.

Mas tempestades espreitam. O céu promete enublar-se fortemente, causando fortes trovoadas e raios que arrancarão raízes do chão. Furacões baralharão tudo e as ondas vão aumentar. Aconselha -se aos fracos de espírito a ficarem em casa de portas trancadas.

22.6.09

Circular

Somos os tais brandos. Aqui ninguém está para maçar ninguém, visto que não há para onde ir e fuga possível. Aqui não se bate em ceguinho algum, mesmo o da pior espécie.

Somos os tais das ilhas. Aqui as leis, humanas ou não, são todas distorcidas pelo sol, que demora a andar de uma ponta à outra do dia. Aqui nada de excessivo acontece, excepto uma lenta corrosão.

Aqui pai e filho matam-se, irmão trai irmão, vizinho ataca vizinho, pessoas comem-se vorazmente, mas os dentes só mostram sorrisos tolos. Aqui é gente de simpatia e morna.

Aqui os caminhos são círculos porque a linha recta ultrapassa os limites do permitido.

19.6.09

País de passes de mágica

Pessoal, assim não dá!

Manuel Veiga em entrevista ao jornal "A Nação" faz um reconhecimento público de incapacidade de liderança; faz insinuações obscuras sobre os críticos ao seu reinado; tira o lixo da sua casa e deita na casa dos outros (ao atirar a responsabilidade política do falhanço do debate sobre o ALUPEC aos outros); continua a não ser MINIMAMENTE simpático para os artistas, agentes e personalidades que mais fazem mexer as coisas nesta de terra; não tem um ÚNICO programa que se possa orgulhar; reza para que Cidade Velha seja elevada a Património da Humanidade, senão, se fosse eu, daria um tiro na cabeça; enquanto isso inúmeros outros patrimónios são pilhados; o Palácio da Cultura cai aos pedaços; o Centro Cultural do Mindelo é cedido a seitas diabólicas; não tem uma palavra sequer em relação à arte; …enfim, o que se pode resumir como sendo uma entrevista do FRACASSO.

Perante tudo isso o João Branco acha que deve cobrir o homem de “educado”, “simpático”, “humilde”, concordar com isto e mais aquilo. A minha frase preferida: “O seu discurso em defesa da língua cabo-verdiana é claro, directo e não deixa margem para muitas dúvidas.” …Pois, não deixa margens para dúvidas; cria oceanos de dúvidas. Se há debate que está confuso neste país é este do ALUPEC e da oficialização do LCV. Ele (MV) pode ser um ás da linguística, mas o facto é que, politicamente, e estamos a falar do MINISTRO DA CULTURA, ou seja com responsabilidade políticas nacionais que podem comprometer uma geração inteira, conseguiu...um retrocesso no debate da língua.

Continue assim João, que o homem vai se amar mais ainda e vamos ter que o aturar mais ainda. É preciso paciência!

18.6.09

Situação crísica

Reverendíssimo Primeiro-Ministro, em nome da associação "Pseudos da Construção", venho lhe dirigir um mui solícito pedido. Como sabe vem aí a crise, mas nós, na nossa insignificante opinião, achamos que, enquanto país livre, soberano e independente, não temos nada a ver com a crise global dos outros. O pior, Excelência, é que eles, os outros, tinham compromissos e como estão cheios de crise e nós não, num acto de puro revanchismo imperialista não estão cumprindo com a sua parte, deixando-nos em má situação. Estamos sem investidores, sem clientes, com as obras abandonadas aos cagadores e com contas por pagar.

Eu por exemplo Honorável, tenho uma modesta casa triplex, com a totalidade do recheio importado, para além do meu carro Ziun X25 V8 3000cc que bebe um bidon de gasolina só no arranque, uma outra casita de campo no Sal e outra ainda nos vales do Paúl. Ainda há os salários dos trabalhadores e demais encargos. E para piorar, temos que suportar os impostos, os juros e as taxas alfandegárias. Não dá!

Perante tão extremada situação, contando já com a sua sensibilidade para os negócios, prometendo-lhe que uma mão lava a outra, pedimos um subsídio do género desses que dão para barcos. Agradecíamos que o já garantido apoio financeiro fosse dinheiro fresco e não em forma de incentivos fiscais e outras formas. Dinheiro fresco e não com frescura. Ou pelo menos se pudesse dar um toque na Ministra das Finanças, que ela não seja tão rigorosamente chata a gerir as contas e colaborasse. Ou que proibisse toda a forma de sentimento anti-empresas que exista na Administração Pública.

17.6.09

(Im)presidencialíssima

Isaura Gomes se mostra disponível às presindenciais. "É a primeira mulher em CV a tomar tal atitude. Chapéu!", comentou alguém. "É uma senhora de armas", comentou outro. Vos digo uma coisa: raios de argumentos para justificar um candidato, atentem bem no peso desta figura, Presidente da República!

Isaura Gomes precisa limar as garras, aparar as palavras, medir os gestos, avaliar as atitudes, talvez praticar um pouco de yoga...minha gente, estamos a falar de Presidente da República!

Porque é que tenho a sensação que este cargo, de repente, ficou a parecer ao alcance de todos?!

(Im)presidenciáveis

"Carlos Veiga e Onésimo Silveira em defesa do autarca português Isaltino Morais (Visãonews)"

...Esses são os nossos (im)presidenciáveis. Oferecem terrenos a políticos corruptos e ainda tem a lata de, publicamente, os defender. Amigo de porco, porquinho é.

16.6.09

Grandes felinos com unhas de manicure

Quase vibrei com Corsino Tolentino em "Visão Global" no Domingo, dia 14. É que é tão raro ouvir os nossos grandes homens, como ele é, capacitado, experiente, andado e com - poças pá! - autoridade para dizer das boas.

O homem contestou a forma como os portugueses falam das suas maravilhas pelo mundo, esquecendo-se que essas maravilhas, que hoje são belas peças de arquitectura, outrora tiveram uma gigantesca dimensão humana e não necessariamente no bom sentido. O forte da Cidade Velha, por exemplo. Pensemos na quantidade de mão-de-obra escrava que foi necessária para erigir tal maravilha; pensemos também em nome do quê que essa maravilha foi erigida; pensemos na sociedade humana dessa época; mas pensemos também que, essa maravilha é nossa, por direito de sangue e suor.

O homem fez uma suave e delicada crítica à ausência de planificação cultural, numa cidade como Praia. A tal agenda cultural. O tal alinhamento das programações entre os produtores. O tal marketing.

Engraçado é que homens como Corsino Tolentino moldaram a minha forma de ser "veemente". Hoje os vejo de unhas aparadas. Mas, tendo em conta a irritante abstinência dos nossos graúdos, esses pequenos rugidos caem-me francamente bem. Retemperam-me.

15.6.09

Blogjoint: A participação do cidadão na vida pública e o dever de votar

Somos cidadãos. Todo o homem moderno é cidadão, pelo simples facto de vivermos numa república, numa cidade, em democracia. É dignificante e é bem para todo o ser humano que tenha uma parcela de decisão sobre a gestão do "bem comum", ou a "coisa pública".

No entanto, este bom que é ser cidadão obriga ao sentido da responsabilidade que cada um deve ter um relação ao "bem comum". Esta parece ser uma ideia que nem todos tem, outros tem-no vagamente, outros sabem muito bem disso, mas não se estão para chatear e, finalmente, os que sabem disso e procuram exercer o direito e o dever de participar das decisões do bem comum, ainda é tido como um "agente perturbador do sistema", porque, parece-me, a "coisa pública" continua a ser gerida autocraticamente.

Para mim, duas ideias que precisam ser corrigidas/promovidas: ensinar efectivamente a todos o que é ser cidadão, com os direitos e deveres; exigir que cada um exerça a sua cidadania muito mais além do que no momento das eleições. Quanto ao último, quanto mais o cidadão recebe do "bem comum" (educação, emprego, regalias, prestígio, etc) mais tem o DEVER de exercer a cidadania.

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12.6.09

Festa-feira

Nem se passou um ano direito e já o Conselho de Administração dos TACV protagoniza mais uma novela, no que já vem sendo um hábito terrível de tornar esta empresa (pública) num palco de actuações individuais. Enquanto isso a companhia despenha-se dia após dia e nunca mais se espatifa de vez, que assim acabava-se a estória definitivamente! Caraças, pá!

*

O fenómeno ALUPEC, ou seja, as graves consequências do autismo do MinCultura estão a ser mais graves que alguma vez pensei. Surpreendente a capa do jornal "A Nação" desta semana, em que um indivíduo diz que "ALUPEC não entra na música de Barlavento" (!!!). Fazemos o quê nesta terra para suportar tanta estupidez? Induzimo-nos a um coma para não ter que sofrer? Tornamo-nos terroristas e explodimos alguma coisa? Ou separamos a cabeça do corpo, como todo o mundo parece ter feito?

*

Dança contemporânea no CCP, 19h, oferecido pelo CCF. A não perder!!!

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Há cerveja Becks num dos sítios fixes da capital. Suberba cerveja! Bebam e esqueçam o resto. Bom FDS (que pode significar Fim-De-Semana, ou Fod...)

Orgasmo colectivo

Imagem: Pedro Moita

É isso aí: orgasmo colectivo! Foi o que Sara Tavares provocou no show do dia 10.

Que mulher! Que artista! Como ela conduz na perfeição a sua audiência e a sua banda! Ela foi o centro do universo daquela noite, naquele lugar.

Esta mulher é grande, vai ficar ainda maior e as pessoas a amam, de coração.

Can face (cara-de-lata, segundo as enciclopédias)

Para o inglesinho, armado em mais chico-esperto que todos os chico-espertos, se posando de aventureiro-cineasta-explorador-charlatão-whatever, com um barco (se é que se pode chamar aquele meio de transporte de "barco") carregado de homens esfarrapados, visivelmente super entusiasmados com a aventura, para os medias que deram imenso espaço ao ditu cujo e a todos os aproveitadores desta terra e do mundo todo: FUCK OFF!

10.6.09

Hipócritas!

3 vivas à minho-kinha por esta potente e desbragada mostra de indignação. Se 1 em cada 1000 habitantes deste país mostrasse indignação para tudo o que os fere, haveria menos lata em tais actos e répteis não sairiam ao sol com tanta facilidade.

Barraca do MinCultura nº...

"Ferro-Gaita, grupo de dança Bibinha Cabral e Charles Akibodé são, para já, os nomes indicados para representar Cabo Verde no III Festival Mundial das Artes Negras"

"Para além dos nomes já citados, Cabo Verde deverá participar no III FESMAN com artistas senegaleses de origem cabo-verdiana ou através de artistas cabo-verdianos radicados no Senegal."

"Outra hipótese em carteira é a ida de um grupo de tocadores de cimboa. A ideia é do brasileiro Dinho Nascimento que quer levar ao FESMAN (...)"
Fonte: A Semana online

Deixa-me tentar adivinhar: o critério para a escolha desses elementos para o FESMAN será..que são todos negros? Plausível!

Embora reconheça que o tom escurecido da pele desses indivíduoso seja factor determinante e legitimante à sua participação em tão importante certame, não fazia mal nenhum, num momento em que o Min.Cultura acumula tantas barracas, que se abrisse a coisa a concurso público, que se socializasse a coisa, que se explicasse os critérios para que, um indivíduo que se dedica às artes e/ou é agente cultural, seja candidato a ser escolhido para tão importante evento.

Mais gostaria de saber, o que fazem os brasileiros e os senegaleses acima citados (sem desmerecer o seu trabalho), para merecerem mais atenção que os tantos que por esta terra labutam, dia após dia para separar a Cultura do Nepotismo. Será que Kwame Gamal, por exemplo, um dos indivíduos que mais tem insistido na "questão negra" em CV foi tido ou achado?

Mantenha-te louca Danae

Imagem: http://www.myspace.com/danaexdanae

As coisas baixaram de nível preocupantemente de "Condição de Louco" para este "Cafuca", avaliação de fã (eu).

Que aconteceu ao texto incrivelmente forte de sovacos, merda, porra, mamilo e tirar a cuequinha de Condição de Louco? Que aconteceu à tua poesia, extremamente pessoal e sentida? Que te deu para fazer agora essa poesia, repisadíssima de pescador e agricultor, de chuva e ondinhas do mar? Primeiro choque.

Que aconteceu à soberba orquestração de Condição de Louco? Ao rock, ao funky, ao groove? Que aconteceu com o óptimo baterista, que foi substituído pela irritante percussão de Cafuca? Os outros músicos demitiram-se todos ou foram demitidos? Cafuca traz 10% de música de Condição de Louco.

Danae, fala-te um fã, que não o vai deixar de ser pelo facto de ter comprado gato por lebre: Condição de Louco deu o tom, marcou triunfalmente o teu debut e, para mim, todas as subsequências da tua carreira deviam ter em atenção a isso, porque quem te procura agora (pelo menos eu) tem esta tua Condição como referência. Cafuca dói de tanta falta de imaginação.

9.6.09

Novos crioulos ou exactamente a mesma coisa?

São ou não são caboverdianos, Sara Tavares, José Luís Tavares, Carmen Souza e tantos outros, que nasceram cá, cedo sairam de cá, outros nem nasceram cá, mas todos teimam em chamar para si o apelo da caboverdianidade.

Caboverdianidade? Que é isso? Um estado de alma, uma condição, um passaporte ou uma bandeira? Qual é a fronteira em que se passa de caboverdiano a não-caboverdiano? E será que, em tal mundo de hoje faz sentido procurar as enseadas por onde traçar fronteiras? Não será suficiente, como me disse Tambla, só dizer: "meu nome é César e tenho uma coisa a dizer". Se nasci na Suécia ou na Malásia, interessa lá isso alguma coisa?

Cenário: concurso de vozes; vem a Sara Tavares e ganha. Imaginem só o coro de protestos: "Ela nem é caboverdiana!". Mas se não é, porque razão repetimos todos os dias: Cabo Verde são 11 ilhas: as 10 do arquipélago e mais 1 da diáspora? Porque razão, petulantemente, dizemos: a língua portuguesa é também a nossa pátria? Porque raio achamos: somos cidadãos do mundo?

8.6.09

(Ante)percurssões eleitorais

Sócrates teve as Europeias para o avisar. Neves já teve as Autárquicas para o avisar. A Oposição faz-se de morto, num misto de silêncio ensurdecedor e ausência irritante. 2011 promete!

Xintidu di Sara Tavares

Soa-me a som do céu e do sol juntos, o álbum "Xinti"de Sara Tavares. Xinti é música para ser ouvida num Domingo de manhã, ou qualquer outra hora que se pareça com uma manhã de Domingo, quando ainda a cidade não é tomada de ruídos de motores de carros e os seus condutores ainda dormem em vez de serem estúpidos em forma de buzinas.

Sara faz orações enquanto um casal de pardais são levianos na minha varanda. Domingo de manhã. Sara dessacraliza o intocável canto anti-bruxas-que-comem-bébés, reinterpretando "Ná ó mininu ná", ou o re-espiritualiza. Baralha as variantes de Praia e S.Vicente, ou as remistura. Fala inglês aqui e ali, como fazemos habitualmente. Dá conselhos espíritas em versos, a almas que estejam perdidas por aí, ou a si própria. Canta e enfeitiça todos os mestres músicos que a acompanham, que tocam na mesma toada da sua voz que procura o céu. Fervorosa crente.

Sara é portuguesa que fala caboverdiano, ou caboverdiana que sente portuguesa? E que pensarão os avôs desses novos netos?


Soa bem Xinti e para mim Sara é gente de hoje, que nasce aqui, cresce ali, floresce aqui e ali, espalha-se pelo mundo todo. Quem disse que crioulo acabou?

5.6.09

Festa-feira

Constatação: agora todos conhecem Arménio Vieira. Todos são amigos, conhecem-no há mais de quanto tempo, reconhecem-lhe o imenso valor, tiram fotos ao lado dele, pedem autógrafos, opinam e até já me enviaram um blog dedicado inteirinho ao homem, que nego a divulgar, porque duvido que AV tenha autorizado o uso do seu nome assim. Estou para ver a imensa lata das autoridades CV a rasgar os discursos que já conhecemos. Haja paciência!

*

Três vivas ao jornal "A Nação" por ter uma manchete tão justa e corajosa. Três abaixos para os jornais "Expresso das Ilhas" e "A Semana" por fazerem parecer o facto do ano [prémio Camões] uma coisinha banal. Vamos repetir Cesária? Vamos esperar pelas reacções do mundo para sabermos a importância que damos aos nossos?

*

Ouvi na rádio, logo de manhã, opiniões de estudantes universitários sobre o novo Acordo Ortográfico Português e sobre a Língua Caboverdiana…Fiquei sem saber o que pensar: se é grave a maneira como esses adultos se expressam; se é grave a falta de opinião formada sobre os assuntos; se é grave a sua linguagem; se é abominável a ideia de que vão ser os professores da minha filha num futuro próximo. Isto vai uma crise!

*

Sexta-feira. Sabem que peça de teatro, filmes, espectáculos de música ou exposições se passam na cidade? Apetece-me começar a noite com Cultura. De qualquer modo, boa paródia a todos, que isso é garantido.

4.6.09

Nasce um blog...

...nasce uma estrela: Impresons Digital, de Edson Medina

"The world is going Web". Pertencer ao mundo actual significa perceber o que esta frase significa. A web vai ser a nossa forma de estar nos próximos tempos. Vamos estar.

Grande abraço a um homem que já precisava estar na blogosfera, pela dimensão que ele representa e pelas ideias que tem fervendo dentro da cabeça que podem agora encontrar uma grande cratera para irromper.

Greves graves, falsários e pedófilos

Greve de fome é coisa grave. É coisa séria. É coisa de se sensibilizar, quando se trata de grandes causas, a ponto de levar um ser humano a sacrificar o seu corpo, perigando a sua própria existência.

Um cidadão brasileiro, por sinal um grande charlatão, que se deu mal numa das suas falcatruas, resolveu entrar em greve de fome, porque a Justiça caboverdiana, julga ele, não lhe cuida dos direitos! O dito cujo lá foi levado à sua terra, que talvez cuidem melhor dos seus direitos.

Outro inominável (nem todos tem o direito ao título "cidadão"), acusado de PEDOFILIA, gozando da agradabilíssima Justiça caboverdiana, que lhe concede a suspensão da pena, chateado de estar sob termo de residência e identidade, que quer viajar para a sua terra (Senegal), resolveu imitar o gesto!...Este fulaninho tem é sorte de estar numa terra de brandos costumes, que se fosse em outro país já estaria sem os colhões e se calhar sem a vida.

Lata pura!

3.6.09

O meu poeta

(Não sabia a imagem era de quem. João Branco, desculpas)

Para mim já era. Agora é para o mundo: o maior poeta contemporâneo de CV.


Finalmente um grande e tremendo abanão na literatura CV. Finalmente um corte, a bisturi, de maneira na não ficar uma ponta de possibilidade de confundir Arménio Vieira com continuação de alguma coisa que seja. Já ouvi tantas coisas estapafúrdias, do tipo "continuação de Claridosos". Não! Este poeta não é continuação de nada. É, junto com João Vário, José Luís Tavares (curiosamente todos "desalinhados" da intelligentia vigente), uma derrocada nova.

Se calhar agora esses gajos da política, que andam por aí a se posar de poetas, passem a citar versos de AV, em vez dos velhíssimos hinos dos poetas velhos, nossos, consagrados, mas velhos. Duvido no entanto que estejam preparados a repetir o que diz AV. Duvido que estejam preparados para o ouvir. Mas vão seguir os grandes shows de felicitações, como é da praxe e da oportunidade, claro!

Depois de Cesária, é um dos maiores reconhecimentos que a Cultura CV podia receber, vinda do exterior, para não variar. Vales cada euro do prémio, caro caboverdiano, Arménio Vieira.

2.6.09

Blogjoint: Tráficos

Cabo Verde nasceu de tráficos. E continua. Cresce com os tráficos. Verdades duras, mas verdades.

O nosso historial de tráfico começou com o que terá sido um dos maiores crimes da humanidade: a escravatura, na altura um tráfico legal, do ponto de vista de quem o praticava, obviamente. Na actualidade, apesar do tráfico de droga ser vivamente condenado, mundialmente reprovado, de desencadear as mais diversas campanhas, da sensibilização à (algumas) acções concretas, parece é que de facto, nem é tão reprovado isso. Aqui, dentro de casa, sabemos com precisão que: carro x é produto de droga, bem como prédio y, que determinadas cidades tem uma boa parte da sua economia a circular à volta disso, que advogado tal prospera-se a custa disso e uma teia de outros "doutores" lavam essa sujeirada toda. Até mesmo o Estado funciona em prédios "suspeitos". Até o Estado tem deixado este rio de dinheiro entrar pela circulação normal das nossas vidas. Então, é mesmo o tráfico de droga ilegal?

Como diz o brasileiro, fala sério né?!

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