31.7.09

Chuva em devaneios de vento veio intempestiva ejaculando sémen em avassalos d'água. Veluptosa a chuva penetrou o chão. Acoplados terra e céu. Coitos prolongados e prolongados beijos de lama. Sussuros de riachos fúteis em fendas e buracos. Amante paciente o chão. Guardou em vales escondidos e montanhas as sementes das plantas que germinam enfim.

Frases fantásticas

Furo de prospecção de águas do Fanado já foi recuperado
(Inforpress)
Quando chove o céu entra em espectáculo de sons, tambores e raios de solos de guitarra de rock. A água que bate no chão faz harmonias de flautas e oboés. A água que corre são longos sussuros de piano e vozes. E quando a chuva pára, entra em palco uma coreografia de luz e pomposas formas de nuvens,

Operação Stop Apreensão de Cartas

Da próxima vez que eu for parado pela polícia em operação stop, tomara que tenha absolutamente tudo em dia, desde o triângulo, até os faróis a funcionarem em condições, mas pode ser que não esteja absolutamente tudo em dia, pode falhar alguma coisinha. Se for o caso de me apreenderem a carta, vou pedir uma audiência ao Ministro da Administração Interna, que isso é uma afronta a um cidadão, seja ele quem for. Só quero saber se serei recebido pelo meu Ministro da Administração Interna, do meu Governo, do meu Estado, do meu País.

A atitude monárquica do PGR lembra-me o caso do governante (o Primeiro-Ministro?) que foi impedido de viajar de avião porque os guarda-costas estavam armados até aos dentes. Se há regras, protocolos de segurança, procedimentos que devem ser seguidos por todos, onde é que está o escândalo com esses funcionários do Estado? São muito mais funcionários do Estado que todos os outros? Não digo que o Primeiro-Ministro não deva andar com os gajos às costas cheios de armas, mas porquê não avisaram com antecedência?

Pois, Estado de Direito tem dessas. Não é lei de Deus, nem lei do Rei. É para todos e a questão é sempre se está na lei ou não. Se o caso do PGR é ilegal, que se abra um processo, que se processe quem que tem que ser processado e já agora que se informe a todos os cidadãos que podem fazer o mesmo e que o Estado lhes garante que vão ser atendidos. Esse climinha de mágoa e ofensa é que não!

30.7.09

Lata Geral da República

"O Procurador-Geral da República (PGR), nomeado pelo actual poder do PAICV, reuniu-se com emergência, na tarde de terça-feira, 28 de Julho, com o Ministro da Administração Interna, do Governo de José Maria Neves, a fim de discutir e receber os devidos esclarecimentos necessários acerca da actuação de um agente da Polícia Nacional, que agiu contra o Procurador–Geral da República, a quem prendeu a carta de condução."
In A Nação

Ganda lata! O Sr PGR considera-se acima da lei ou acha que é a lei em si? A polícia prendeu-lhe a carta? Porque será? O ilustre não estava em dia com a legalidade? Não é a polícia que prende cartas, mas sim a Direcção dos Transportes Rodoviários? Ah pois! E sabia o ilustre que sempre foi essa a actuação da polícia? Então o ilustre, antes de ser PGR, não é um cidadão? Nunca reparou que é assim que as coisas acontecem por cá? Nunca, em todos os seus aninhos de vida pensou em reclamar tal abuso de poder? Só agora lhe ocorre? Ou seja, se não tivesse acontecido a si, fingiria que não sabia que a polícia cá do burgo prende a carta por tudo e por nada.

O Sr. tem cá uma boa lata! Ai essas manias monárquicas!

Reinu di kanporta

Para os meus leitores estrangeiros, tradução do título: reinu di kanporta = reino da chuchadeira = rouyone de n'importe quoi = whatever kingdom=...etc.

À entrada da Cidade Velha, um cartaz de boas-vindas: "Cidade Velha, uma maravilha portuguesa no mundo" (!!!!!!!!!!!)"

Onde é que querem que fique a minha noção de pátria?? Ainda por cima um título que é decorrente de um concurso de televisão portuguesa, muito contestável para os povos vítimas dessas maravilhas. Um concurso que foi acusado de valorizar as maravilhas arquitectónicas, sem nunca mencionar um dos mais desastres da humidade que foi a escravatura.

As ruínas

Agora, de cada vez que alguém fala em Cidade Velha, parece que é motivado pelo seu recente estatuto. Confesso, fiquei a reparar mais nos detalhes. Dantes era aquele lugar para um final de tarde, para o almoço do Domingo, uma escapadela romântica ou outro motivo qualquer, na paz, no silêncio. Continua a sê-lo, mas o seu estatuto desperta-me curiosidades. A lista de crioulices é extensa:

A começar por uma tentativa de construção de uma asneira qualquer à entrada do Forte, que foi embargada, mas no entanto ninguém se lembrou de tirar de lá os restos de construção. Descendo a cidade, à entrada, as sensações exóticas começam: o cheirinho característico de criação de porcos; um mastodonte de betão a tapar a vista do mar; um cocktail de lixo num contentor, é a figura das boas vindas.

Nada de ilusões: trata-se de uma vila pobre e uma população pobre. É imediatamente sensível. Vê-se nas casas, no modo de vida, na indissociável desarrumação visual, no sentido estético, no sentido de higiene e nos meninos que assediam os visitantes. Mas talvez o que mais impressiona é a presença activa dos habitantes, que parece que está mais activa ultimamente, a querer mostrar que, antes de tudo, o lugar é deles. Justo. Só que esta reivindicação por vezes assume formas ruidosas e pouco elegantes.

Por outro lado, a "burguesia". Ou seja, toda a malta que tem dinheiro para investir e conseguiu terrenos na vila e permissões para construir coisas malucas em sítios malucos. Edificam-se palacetes de mau gosto; tapam-se os acessos e a vista ao mar; encavalitam-se construções; os padrões podem ir do barroco ao rococó.

De tudo isso, o que é Património são as ruínas que assistem a tudo sem reclamar e o tal coiso imaterial que ninguém vê. Que nem sequer está só ali; está dentro de nós, nos genes.

29.7.09

Cultura do moquifo

Espero museus, galerias e auditórios prometidos. Ainda não vi a primeira pedra e desconfio que não vou ver pedra nenhuma. Continuo a espera dos planos estratégicos, que já deviam ser apresentados. Por esta altura, em que o país vai se enchendo de gente cada vez com mais capacidade, informação e criatividade, fazia sentido concursos literários ou prémios para artes visuais. Ainda não percebi a lógica das nossas participações (?) em eventos internacionais. Na verdade, não entendo nada de nada. Deliro apenas.

O Palácio da Cultura continua um palácio dos tristes. A livraria vai acabar por morrer de desgosto. O bar, outrora centro vital daquela zona do Plateau, continua pilhado e fechado. Em cima funciona uma pseudo escola de música. Os equipamentos vão se estragando um por um: lâmpadas fundidas, peças estragadas, salas mofando, terraços desertos, varandas inabitadas, falta de manutenção.

Alguém sabe onde fica o Museu Etnográfico da Praia? Pois, esse é um fantasma. Sei que tem coisas depositadas, mas ninguém lhe conhece a alma. Ele não geme e não reclama. Tá aí, encravado algures no Plateau. Outra pergunta difícil: alguém sabe dizer quantos tesouros submarinos foram recolhidos do fundo do mar e desses, quantos foram pilhados, quantos estão em nossa posse e o que vão fazer com essa bodega toda? Quem responder tem um astrolábio de presente.

Sabiam que apareceu, num ápice, uma vivenda em pleno sítio arqueológico da Cidade Velha, bem nas barbas do convento S.Francisco? Olhem que os gajos da Unesco falam a sério! Entretanto os artesãos genuinamente caboverdianos vindos de outros países, as vendedoras de mangas e os donos de botecos, vão desfrutando do afluxo de curiosos ao sítio Património da Humanidade, Património esse que ainda ninguém percebeu. Garanto-vos, o sítio é um Património sim senhor, mas é dito imaterial, invisível, não tocável. A única forma de conhecê-lo é pelo ensino correctíssimo da história, pelas nossas próprias mãos e cabeças.

Este é só um snapshot do bravo trabalho dos tipos do MC. Por mais quantas décadas vão auferir esses senhores de todas as benesses do Estado, que pago mensalmente em impostos? E ainda outros acham que os tipos têm retumbantes vitórias? Porra, puxa-saco é pior que putaria. Putas ao menos são honestas: é por dinheiro mesmo.

27.7.09

Regurgitante

Algo maravilha aqui neste chão de pedra dura e plantas armadilhadas de espinhos. O sol seca tudo e no entanto uma seiva teima em manter-se viva. Algo maravilha aqui entre as escarpadas montanhas e o infindável mar. Será castigo ou laboratório de limites?

Aqui um povo foi deixado órfão e como cães procura o vão de escada onde é permitido dormir. Algo perturba. Há olhares fixos num ponto de indeterminação. Transitam corpos inanimados como fantasmas vivos e no entanto não pára o frenesim de potentes braços e pernas. As esquinas cheiram a sexo.

Algo regurgita permanentemente neste espaço exíguo que junta os corpos mais estranhos. Aqui pessoas têm cabelo fino e grosso, olhos pequenos e grandes, braços compridos e curtos, dedos redondos ou chatos e pele negra interpolada de vários tons até ao branco. Recombinam-se cérebros e corações.

Aqui ninguém ousaria habitar e no entanto é o lugar onde se reinventam seres humanos. Não dá para pular no mar nem se despenhar do cimo das montanhas. Sim, um laboratório de limites, um desígnio e não um castigo, vale a pena acreditar. A beleza alucinante desses meninos que nascem perfeitos tem que ter um significado supremo. Sim, maravilha sim.

Julho cá

- Hoje há muitos casamentos!
- Há sempre muitos em Julho.
- Porquê?
- Porque em Agosto não se casa. Agosto é mês de desgosto.
- É verdade?!
- Dizem.
- E as pessoas acreditam nisso?
- Dizem que antigamente era uma crença, depois ficou uma tradição. Em Agosto não se casa, dá azar, assim como noivo não pode ver para o vestido da noiva.
- Oh, isso tudo é tão bobo.
- São fantasias, como em toda a parte, para todas as meninas do mundo. Meninas sonham casar.
- Eu não…
- Todas sonham. É das histórias de princesas e príncipes encantados. É da natureza romântica das mulheres. Pode ser até um instinto de preservação da espécie, não achas?
- Pode ser…Pode ser uma fantasia nossa…Nós lá, a minha geração, contestamos a legalização do amor pelo Estado ou pela Igreja. Aqui não sei…
- Aqui é como em todo o mundo. São só homens e mulheres.
- Não, aqui é tudo tão diferente…
- Lugares diferentes, pessoas diferentes?...
- Não. É difícil de explicar. Qualquer coisas não funciona bem aqui…Não sei explicar… Decepciona um pouco, sabes? É uma cidade sem saúde, sabes?
- É simplesmente uma cidade que nasce. É como a confusão de um estaleiro de construção: não é fácil adivinhar o resultado. É uma cidade que se busca e se define. Hoje, ao mesmo tempo, fui a uma feira de artesanato bem tradicional, mesmo que tenha novidades, fui a um concerto de rock e estamos aqui numa rave party. Aqui as coisas estão em formação. Acredito que um dia vamos ter um caldo bom, de sabores exóticos, porque aqui vive muita gente de muitas partes diferentes do mundo e onde há tanta gente diferente só pode resultar em coisa boa, não achas?
- Acho que não terei paciência para esperar que termine de cozinhar. Tenham paciência vocês.
- Claro! Fazer o quê?

25.7.09

Coisas importantes na vida

O compadre Baluka e a comadre Jandira casaram-se!

O cenário não podia ser mais pitoresco. A Conservatória de Registos da cidade da Praia, o local onde se celebra tão simbólico acto fica no coração do maior mercado a céu aberto do país, o mercado da Sucupira, sítio onde se vende de tudo, até a alma se for o caso. A Sala de Actos, é assim que se chama o sítio sagrado, está num beco. A montante inúmeras senhoras e as suas roupas espalhadas pelo chão. A jusante uma carrinha de caixa foi transformado em talho. Metade de uma vaca pendurada ensanguentada, uma balança sebosa, um facão, machado e um temeroso homem que vocifera a venda. Aplica umas valentes pancadas no animal, pesa um pedaço de carne e osso, vende. Continua a apregoar a sua venda, de forma quase que intimadora.

No beco que dá acesso à Sala de Actos, é outro frenesim, da linda e jovem noiva que estará prestes a concretizar vários contos de infância. E o noivo, o meu compadre, com ares de dominar a cena, impecável no seu fato. Cerimónia singela, um Conservador que tinha um tanto de solene e um tanto de despachar mais um acto, profere umas palavras moralizadoras: no casamento há duas chaves: a primeira é o amor, naturalmente; a segunda é o respeito. É sim. Sábias palavras e termina o acto. A comadre lava as emoções com lágrimas. Abraços. Fotografia. Saímos do sagrado lugar, por meio das rabidantes, os bidons, as barracas e os vendedores a fisgar todo o possível comprador, mesmo um que esteja a celebrar uma fantasia de todos os tempos: o casamento.

O jantar foi gostoso, de profundo amor e amizade. Gente nossa, que nos viu nascer, conta-nos como viveram, cresceram brincaram, casaram-se também. Gente que encontra sempre alguma réstia de parentesco ou recordação das esquinas da infância. Somos todos ramos e folhas de uma única árvore.

Que os anos a vir tragam mais momentos de comunhão da família, da amizade e do amor.

Cheiro de coisa boa

Cheiro a coisa de diazá. Soalhos de madeira, talvez. Moínhos de café, Mindelo d'outrora (?)... Manuel Brito-Semedo tem surpresa para nós. O meu querido amigo, um nadinha mais velho que eu, na verdade colega e amigo de infância do meu papá, começa a ter uma produção literária de respeito. O meu querido amigo, na verdade é um dos mais importantes intelectuais desta terra. Um antropólogo por paixão.

Lançamento dia 3 de Agosto (segunda-feira) às 18h15, na sala de conferências da Biblioteca Nacional

22.7.09

A moral

Não é suficiente para garantir uma cidade equilibrada, mas muitos problemas seriam resolvidos se, tivéssemos regras claras: códigos de conduta, planos municipais, leis: e se velássemos para o seu cumprimento estrito, sem flectir, sem excepções, duradoiramente.

O lamaçal

As chuvas anunciaram-se ontem. Será que as valas, por onde as águas devem ser guiadas, estão limpas e desimpedidas? É desta que a Protecção Civil vai dar um show de eficiência? Quantas desgraçadas famílias vão ter as casotas inundadas? Será que a grande ribeira que desagua na praia da Gamboa está limpa das suas toneladas de plástico, ferro-velho e toda a espécie de lixarada? Quantas linhas de electricidade vão ser cortadas, para nos deixar mais irritados ainda com o fornecimento de energia? Quantas estradas vão ficar intransitáveis. Desde que não morra ninguém!...

Depois do arranque em força da nova equipa camarária, vamos lá enfrentar os factos, a empresa é gigantesca. O problema da câmara da Praia, para além da eventual obtusidade dos seus elementos, sofre de problemas organizacionais graves. Ninguém precisa ser perito em gestão para sentir isso, bastando ter que se enfrentar os seus serviços. O mal tem que ser combatido por dentro. Para além de que é preciso reforçar o debate sobre o crescimento da cidade versus recursos para fazer face. Será o Estatuto Especial uma solução?

É que a cidade que representa 1/4 da população nacional, para além de ter que enfrentar toda a imensidade de chatices quotidianas, tem ainda que satisfazer uma população exigente, que trabalha, que contribui para o desenvolvimento deste país, mas que exige praças, cinemas, actividades, trânsito ordenado, zonas de lazer, limpeza, ordenamento, alegria e visão de futuro. Estamos em férias: trabalhadores, estudantes, emigrantes, turistas: e o que temos é uma cidade sem a capacidade de transformar todo esse pessoal em dinâmica de actividades e geração de rendimentos.

Na Praia, a gestão camarária corresponde a um Governo.

21.7.09

Cuidados Intensivos

Morte política está para o político como perder as chaves está para S.Pedro. É a pior coisa que pode acontecer a um político. Demora tanto a recuperar-se que é provável que no fim não se tenha os dentes todos, necessários a um belo discurso. Morreu e pronto.

Em situação de crise outra opção menos penosa e de recuperação provável é o coma político. Uns gajos cá do burgo apanharam a técnica. Desmaiam imediatamente após um desaire. Deixam os outros cuidar de tudo, da limpeza, da alimentação e dos cuidados de recuperação. Deixam-se ficar na cama depois de acordar. Queixam-se muito, apontam culpados a toda hora. Acabam por criar fãs. As atenções desviam-se para os possíveis culpados e o doentinho, aos poucos, levanta-se e, sem se dar por isso, estará a exigir o lugar de volta.

Para outros casos ainda, a estupidez selectiva funciona bem. Quando acusado, o político torna-se um ignorante. Desconhece que devia respeitar uma contabilidade, que existem leis para isso e mais aquilo, que é crime fugir ao fisco e que não é possível transformar burros em cavalos de raça.

Em luta política, o segredo é escolher o mal que se quer padecer, antes que apareça. Nunca se deixem é matar.
Os poetas nascem uns dos outros. Do casulo de um sai a borboleta de outro.

O mundo internetizado

Já li algures: a Internet representará a 3ª grande revolução da humanidade. A primeira foi a revolução agrícola, que nos tornou bundões. A segunda foi a revolução industrial, que nos catapultou para níveis perigosos de agressivadade, auto-detruição, bombas atómicas, ciência de ponta, a terra em perigo. Segundo esses autores, a Internet, ou seja, a Sociedade da Informação, estará a representar a 3ª revolução humana.

Tudo está a passar para a Internet: o social, o económico, o cultural. Empresas baseadas na Internet já suplantam gigantes com a General Motors. Aliás, esses gigantes da rev.indutrial estão a tombar. As noções de território, fronteira, nacionalidade já começam a parecer construções arcaicas, em desfasamento com as incríveis relações pela Internet (blogs, redes sociais, micro-blogging). Eu conheço gente exclusivamente pela Internet, trocamos ideias e até falamos em projectos. Na Internet as classes sociais são invisíveis e as gerações se confundem. A noção de perigo também extendeu-se. É realmente um mundo novo.

Recebi um e-mail com sabor a café caseiro de Amaro Teixeira Ligeiro, um cotinha de 63 anos, como ele próprio se define, que resolveu entrar na rede, após a reforma. Quer descobrir os amigos que perdeu o rastro. O seu blog: http://nhagente-bissau.yolasite.com

20.7.09

O hábito de não reflectir

Da série No Limiar, Abraão Vicente

Nada causa espanto, consternação ou tão simplesmente uma reflexão. Nem a vitória do Filú, o reinado de José Maria Neves, o silêncio macabro de Jorge Santos, os laivos de Maquiavel de Carlos Veiga, o desemprego, a pobreza no mundo, se Manuel Veiga deve permanecer para sempre no Ministério de Cultura ou se isso não interessa a ninguém, se a terrível exposição de Abraão Vicente, chamada "No Limiar", é transgressora, libertadora, válida, se faz cócegas ou causa urticária. Se pelo menos gostamos ou não.

É verdade, Abraão Vicente não causa alívios a ninguém. Pelo contrário, causa-nos desconforto, jogando com a nossa própria concepção de conforto. Pois, conforto é fácil e desejável. Mas será tolerável em tal mundo de desassossego?

A nova exposição, "No Limiar", de Abraão Vicente, é destabilizadora dos conceitos de fronteiras e identidades. Fronteiras são fáceis: deixamos passar quem queremos e não deixamos passar quem não queremos. Identidades é que ninguém pode decretar. Passaportes são meros instrumentos de conforto. Por isso, Abraão Vicente rasgou-os, literalmente, para propor uma re-leitura desses objectos falsos de humanidade. As vivências são as únicas células da vida no mundo.

Aqui, dentro de casa, é hábito não reflectir sobre isso e mais uma data de coisas. Este trabalho já esteve cá exposto e ninguém ligou, como de resto só ligam as nossas expoisições o nosso querido círculo de amigos. Espero que Abraão, estando exilado temporariamente em outras partes, consiga olhos, ouvidos e bocas para essa sua proposta, No Limiar. Aqui há mais: http://www.traficolx.net/

Vitória?

Que representa a vitória de Filú, por incrível maioria de 83% dos votos, em eleições internas?

É conhecida a teoria das alas dentro do PAICV, que Filú representa uma ala e que José Maria Neves representa outra. De acordo com um comentador num dos jornais online, Filú representa o povo e Maria Neves representa a cúpula. Estranha divisão, acho eu. Mas, ao que parece, se não existe na dimensão primária como está sendo colocado aqui, pelo menos há este sentimento. Também, segundo ainda outra comentador, a vitória de Filú não é mérito dele enquanto líder, mas sim representa um desagrado dos militantes em relação aos dirigentes. Se existe este sentimento dentro do próprio partido, como será para o povo em geral?

Sempre me irritou este síndrome do segundo mandato. Os dirigentes tornam-se arrogantes, donos da verdade e das soluções. Tornam-se paternalistas e autistas. Acomodam-se ao poder e perdem sentido de terreno. O poder, definitivamente, corrompe. É quase que uma necessidade terapêutica que o partido no poder, após dois mandatos, caia. Para o bem dos homens e mulheres dirigentes. Para que voltem a ser cidadãos normais.

E a Oposição, sem mérito nenhum, na minha opinião, vai colhendo os frutos desta auto-flagelação, certamente a rebolar no chão em gargalhadas de satisfação.

Esta vitória do Fílu é desconcertante. Um homem que perdeu o maior município do país, acusado de graves irregularidades, em poucos meses fica ainda mais bem posicionado dentro do partido. Qual será a consequência disso para o partido?

16.7.09

Por falar em calor...

Adoro começar uma noite de sexta-feira culturalmente. É que depois a cerveja cai sem nenhum sentimento de culpa, eheheheh. Ainda por cima com este calor e com uma peça que se chama "No Inferno" com base num texto de um diabo chamado Arménio Vieira e com os trabalhos dos diabos e das diabas de S.Vicente.

Vamos lá ver e ouvir esse Inferr.

O país em calor e férias

O calor e a humidade tornam o ar pesado. Difícil de mover-se. As noites tornam-se quentes e sensuais, apelativas, cheias de cervejas a serem servidas por todo o lado e os estudantes a encher os espaços de cor.

Tempo de entrar em férias. Mesmo que não se entre, o país entrará automaticamente. Reduzem-se as cargas horárias no trabalho, reduz-se as responsabilidades, as conversas começam a ser tolas nos gabinetes, os rapazes põem-se a inventariar as novas belezas: quem melhorou, quem piorou, quem revelou, quem casou, descasou, está disponível e as possibilidades. Por esta altura, bébés são gerados, bem como haverá estreias sexuais, no álcool e nas drogas. Por esta altura, a voltagem da cidade aumentará para níveis elevados.

De zero a dez, o país estará em três de produtividade e dez de prazer, nos próximos dois meses, no mínimo.

15.7.09

Praia com problemas de costas

A orla marítima da Praia torna-se especial por esta altura do ano. Desde manhãzinha que se vê muita gente na rua, a caminhar, a correr, na ginástica, no banho de mar, a passear o cão...a curtir a cidade (!?). E Praia tem uma bela encosta e uma bela baía, a da Gamboa. Mas Praia também tem os obtusos que vão decidindo os seus destinos e a sua figura.

Estamos a destruir a nossa orla marítima. Da estrada do Palamarejo à Quebra-Canela, que mais parece uma pista de morte, sem passeios e condições para peões. Quebra-Canela a ser invadida de betão, que brevemente vai trazer trânsito, lixo, barulheira e vai legitimar mais construções na zona. Os passeios ridículos em toda a orla, de 1m de largura. Toda a Gamboa, abandonada à sorte. Até a nova avenida marginal, onde os carros atingem facilmente os 100Km/h e já matou gente. Sem contar com a falta de estruturas de apoio, para venda, para se sentar, etc.

Mas como a vida triunfa sempre, mesmo nesta bosta de betão, vai fluindo e fazendo a circulação sanguínea da cidade.

14.7.09

As costas da Praia

Praia sofre gravemente de costas. Desvios irreparáveis. Problemas crónicos.

Praia da Gamboa. Linda e impraticável. Nenhum plano arquitectónico digno de uma baia a Gamboa.

Eu gosto muito da vaca

Publicidade em rádio é sobretudo texto. Aqui a rádio é um poderoso meio de comunicação e passa publicidade, naturalmente, a toda a hora. Tristinho mesmo são os textos, que são invariavelmente do género: "a vaca dá leite; eu gosto muito da vaca".

Questão de conteúdos

Só passado muito tempo descobri o que é uma "bolota". Durante toda a infância cantei a música das bolotas sem nunca saber o que era isso. Como cantei todas as musiquinhas infantis e não fazia a mínima ideia do que estava a cantar. Revejo a cena com a minha filha de 4 anos, passado tanto tempo de "desenvolvimento". Todo o conteúdo que podemos oferecer-lhe vêm do estrangeiro, incluindo os rios, os campos verdes, comboios e outras maravilhas. E esse mesmo conteúdo é ministrado para todos os meninos destas pobres terras crioulas, tendo elas ou não a possibilidade de um dia dar um pulo lá fora para ver com os próprios olhos e que andam para aí a cantar.

Na Fundação Amílcar Cabral, esta semana, todos os dias a partir das 19h, estará a passar o documentário "A Guerra", produzida pela RTP. Interessante, porque informação é informação. Mas, comentávamos: é chegado a hora de fazermos a informação, do nosso ponto de vista também.

Seremos eternos alienados, enquanto não aprendermos a produzir o nosso conhecimento, baseado no que sentimos e vivemos, na intimidade e nos detalhes do nosso espaço.

13.7.09

Descubram o passarinho que há em vós

Todos somos passarinhos cantadores em potencial. Quem o diz é Lúcia Cardoso. É só ousar e seguir umas aulas. Vejam os detalhes aqui

Responsabilização

Aqui, nesta terra de morabeza, os gestores públicos nunca são acusados de incompetência, que dirá então de responderam na justiça por actos de gestão danosa da coisa pública. Não se prestam contas e nem se as auditam. E quando as auditam, vem o gestor público acusar o outro de "perseguição política", tal como está a acontecer com o nosso querido ex-Presidente de Câmara da Praia, quando confrontado com o resultado do relatório de auditoria da PriceWaterHouse, empresa reputada internacionalmente.

Ouvi com atenção José Filomeno no programa de ontem na TCV (visão global) que é preciso positivar um pouco a imagem do político, que, por definição, é a pessoa que se consagra à coisa pública, ao bem-comum, sendo por isso de louvar. Pois digo ao ilustre que é preciso moralizar a Política, senão a qualquer um que resolva se dedicar a isso terá já o selo da sujeira. É preciso que ilustres como José Filomeno, da alto das antenas da Com.Social, denuncie os casos de baixa moralidade na Política. É preciso que cada um de nós, sem excepção, não aceitemos a sujeira na nossa sociedade.

Falou e disse

"A repressão pode manifestar-se de diversas formas e em demasiadas nações, mesmo aquelas que realizam eleições, são afligidas por problemas que condenam os seus povos à pobreza. Nenhum país cria riqueza se os seus líderes exploram a economia para se enriquecerem a si próprios ou se a polícia, se a sua polícia, é passível de ser comprada pelos narcotraficantes. Não há empresa que queira investir num local onde o governo, à partida, retém 20 por cento dos lucros, ou onde o director das Autoridades Portuárias é corrupto."
Barack Obama, discurso em Acra, Gana (qualquer semelhança com a nossa realidade será mera coincidência)

As palavras movem montanhas. Obama tem o dom da palavra, logo moverá montanhas...Com a ajuda de uns dolarzitos, talvez consiga mover cordilheiras. Resta colar as palavras com a prática, o tal bico d'obra.

Amilcar Tavares tem a versão completa do discurso aqui

Nova Cidade Velha

Viajava para a Cidade Velha. Pelo caminho, já de si misterioso, magicava o que teria mudado esses dias de Património da Humanidade. O caminho já o fiz milhentas vezes, mas desta vez tinha a sensação de estar a ir para uma dimensão diferente. Entretanto os Hiaces, essas carinhas frenéticas, ultrapassavam-me com a mesma violência de sempre. Cheguei. Constatação número um: o pelourinho, sítio que quinhentos anos atrás se maltratavam homens, estava apinhado de gente.

Nunca vi tanto turista na Cidade Velha. Nunca vi tantos vendedores de artesanato genuíno das ilhas. Nunca vi tantos carros e gente nervosa. No ápice que um turista apontou a câmera fotográfica para as mangas que se vendiam no chão, a mulher, a vendeira, saltou do seu lugar como galinha a proteger os pintos, fazendo um gesto com a mão que o fulano teria que pagar. O pobre, assustado, afastou a câmera. Depois a dona disse para as colegas, as mulheres, as outras vendedeiras: "Gosi nos e Patrimoniu, e pa paga!"

10.7.09

House, Lounge, Trip-Hop, Hip-Hop, Techno

Música electrónica, para ser mais sintético. Cultura urbana. O diabo da "Cultura erudita". Entretanto uma realidade invasiva nas cidades. A cultura popular invade sempre a cultura erudita, até porque a cultura erudita é vazia de conteúdo em si, dependendo sempre de manifestações concretas, da sociedade, do povo.

Em cidades "cultura popular" significa discotecas, bairros, ghetos, juventude marginalizada, injustiça social, violência, mensagens de amor e esperança. Em CV ainda temos outras especialidades como o zouk, o funaná, que depois de misturados com os outros dão origem a uma série de sonoridades: funaná-funk, zouk-love, etc. Nas cidades da Praia e Mindelo já existem movimentos semi-organizados de Hip-Hop. As rádios fazem broadcasting constante desses sons.

Tenho dito: a literatura e a música de futuro em CV estão nas ruas. É só pararmos de chamar a isso tudo de lixo e começarmos a pensar que, não tem a "qualidade de erudição", mas tem a enorme força da verdade e da realidade. Õ caminho da erudição é: aceitação, escuta, estudo, experimentação, reformulação e produção.

Penso nessas "malcriações" enquanto ouço um disco de um projecto chamado "Frikyiwa", uma espécie de Gotan Project para África, onde se junta a mais genuína música tradicional de alguns países africanos (é uma ofensa dizer "música tradicional africana", porque existem centenas diferentes) e house music. O resultado é coisa séria...e muito agradável.

9.7.09

Os meus Brazucas do momento


Revisitando esta maravilha de colaboração entre Lenine (voz, guitarras) e Marcos Suzano (percursão, especialista em pandeiro). Dois homens e um mar de som.


Arismar do Espírito Santo, minha mais recente descoberta no jazz brazuca. Multi-instrumentista. Som cheio, frenético, rock, funk e samba. Uma viagem.


Sou cada vez mais fã desse camarada aí. Velhos hits, roupa nova, mesmo feeling, mesmo beat, músicos da pesada. Na versão DVD vem o super, magnífico, incrível, grandioso e inimitável Gonzalo Rubalcaba, provalvelmente um dos top 5 pianistas de jazz do mundo.

E Brasil é provavelmente um dos top 3 países em termos de criatividade musical e produção, no mundo.

Fala sério!

Dizem que o Presidente, na sua comunicação no dia da Independência, tanto rasgou elogios como apontou um rol de males que padece o país, abertamente, para que todo o caboverdiano pudesse perceber, numa de, não pensemos que andamos às maravilhas...Como se consegue este discurso? Estará em algum site? Quem souber que indique, por favor.

De todo o modo, vou confiar no jornal (que é da Oposição, dizem as más-línguas) e repito os parabéns pela "fala a sério".

Mudança de velocidades

Carlos Veiga afirmou: "o país está a regredir". No entando todos os dias sou bombardeado com anúncios chinfrim do Governo, sobre as maravilhas conseguidas no país, as estradas espectaculares que atravessam desertos, que terminam com o slogan: "como é bom ver o país a avançar".

Bem, esses miúdos que gostam de nos tratar por parvos com esses slogans, tem que arranjar uma média para a velocidade do país. Digamos que não está a andar na 4ª ou 5ª, mas também não está em marcha-trás. Anda em 2ª ou 3ª, vá lá!

Video art, Internet art, Videogame art, VJing, etc.

Esses são meios contemporâneos de expressão da arte, que fazem todo o sentido em sociedades onde esses meio são naturais como a distribuição da electricidade e são tão presentes que os cidadãos dessas sociedades nem se imaginam a viver sem eles. Muitas vezes ouvimos falar em "linguagem conteporânea". Muitas vezes já ouvi curadores dizer que Cabo Verde está muito afastado das novas linguagens. Eu próprio o digo.

Mas também ponho-me a reflectir: numa sociedade como a nossa, meio urbana, meio rural, em que existe ainda criação de porcos em edifícios urbanos, em que se confundem hábitos de cidade e de campo, em que a electricidade é coisa incerta, em que o estado geral das discussões, do Parlamento, às esquinas e praças públicas, roça a cuscuvilhice, em que a Internet paga-se a preço de ouro, falar em determinadas linguagens não entra em contradição com a realidade? Mas eu próprio sou um fanático dessas novas linguagens! O facto é que tenho acesso à Internet, estou actualizado com cada nova inovação que vai aparecendo por este mundo fora, acompanho artistas quase que diariamente, tenho hardware e software e vou fazendo. Mas como passar isso à sociedade? Ou então, como ler isso e adaptar a linguagem?

Constato que: adoptando linguagens ou transformando-as, o facto é que a discussão precisa ser discutida (pleonasmo prepositado)

8.7.09

Heroínas

A luta de libertação foi coisa masculina. Sim! Guerra é coisa de macho. Será? Para já, "luta de libertação" não foi só a guerra, nas matas entenda-se; foi uma tremenda mobilização física, mental e emocional em várias partes do mundo onde haviam africanos das colónias portuguesas e demais pessoas apoiantes. Foi o grande despertar do espírito nacionalista, que por si só é resistência e luta. Mas mesmo na mata, as mulheres foram importantes, inferiores em número, mas igualmente importantes em acções estratégicas.

Lilica Boal, Amélia Araújo. São só dois exemplos de importância estratégica na luta. Faziam a Rádio Libertação e Lilica Boal dirigia a Escola Piloto, dois instrumentos fundamentais na "luta de consciências". Mas mulheres na Guiné pegaram em armas também. Foram enfermeiras, secretárias e uma série de outras funções. No entanto, ao pensarmos em luta de libertação, pensamos em homens.

Este post foi inspirado por uma conversa com Samira Pereira, que tem pinta de revolucionária, só que dos tempos de agora. Disse e concordo que, já é tempo das mulheres da luta começarem a dar a cara, em destaque, em protagonismo, primeiras páginas, grandes entrevistas, etc., nas comemorações do 5 de Julho.

Em relação à nossa maior utopia de sempre, o ousar ser povo independente, depois das armas, resta ainda uma tremenda luta a fazer. Essa é nossa, os de agora.

7.7.09

Ondas e redes

Em apenas alguns dias, conheci umas tantas pessoas: historiadoras da arte, arquitectos, artistas, activistas: que trabalham em uns tantos projectos, movimentos artísticos, espalhados por todos os continentes, das Américas, passando por Europa, África e Ásia. Num único workshop e numa exposição ouvi mais ideias que num ano de fofoca doméstica. Essa gente ía falando e eu ía me dando conta da sua dimensão e perguntavam-me os intestinos: "Como vieram cá parar e porquê?"

É atroz ver essa corrente, que nos traz pessoas, eventos e ideias de tão elevada importância, esvair-se no mar. Há sempre uma cara indisfarçável de desilusão: "ouve-se tanta coisa sobre Cabo Verde e no entanto, em termos culturais e artísticos, as coisas estão em tal estado de desorganização?". Juro que não sei porquê.

Mas, neste mar de oportunidades perdidas, algum cimento parece querer sedimentar-se. O vereador de Cultura da CMP é uma oportunidade, bem como o projecto CIDLOT da UniCV é uma outra oportunidade. Os centros culturais estrangeiros, de forma inexplicável, continuam a promover e a patrocinar a maioria das coisas de destaque. Mindelact é da cooperação portuguesa, cinema todas as semanas é graças ao Centro de Estudos Brasileiros, a maioria da promoção de novos talentos é feita pelo Centro Cultural Francês. Bem hajam, claro! Curadores conceituados estão de olho em Cabo Verde. Há intensos esforços para que Cabo Verde integre redes próximas, afins, como em Dacar, Moçambique, Portugal, Brasil. A cidade está fervendo. Vários artistas, de todas as formas, bem ou mal estão berrando sem que ninguém os ouça. O mundo tá aí. A Internet é a maior rede da civilização humana. A criatividade é mais rentável que qualquer recurso mineral. Ondas estão a formar-se. Falta é interligar tudo e o mundo renascerá.

Interessante notar que: parece que todo o mundo deseja-nos, menos nós próprios. Todo mundo faz por nós, certamente não sem interesses, menos nós próprios. O próprio dossier da Cidade Velha, foi preciso intenso lobbying internaciol para lá chegarmos, que de outro modo, garantem os entendidos, não teríamos hipóteses. Chegamos e a condição agora é que mudemos as coisas. Perguntado sobre como vai ser possível mudar as coisas, um Douto respondeu: "com a ajuda internacional".

Fico curioso sobre o tempo em que seremos nós a tomar conta de nós próprios.

6.7.09

UTOPIA vista pela fotografia de Tó Gomes aqui

Obrigado gente!

Se tem coisa que é especial em cada abertura de exposição é sentir a presença de amigos. E que bom é tê-los! Obrigado a todos pela presença, pelas palavras, pelos comentários, pelos reparos.

Obrigado Samira, por seres tão profissional, por não me largares um segundo. Obrigado Buddha pela paixão que te entregaste ao projecto. E a todos que meteram um dedinho para que a coisa funcionasse.

Marcou-me em especial a presença da Sra Maria Cândida da Luz. Notei a sua chegada, a incrível elegância, chamou-me, confessou-me as suas dificuldades em andar, mas esforçou-se, saiu de casa e foi ver o meu trabalho, porque não quer perder as minhas realizações...Minha senhora, só não chorei porque macho crioulo não chora. Tocou-me.

Por fim a minha família que aí esteve em peso. Ontem, no dia da abertura da minha UTOPIA, senti felicidade!

Obrigado gente!

2.7.09

Expo

UTOPIA
Instalação aúdio e visual

Fundação Amilcar Cabral, Plateau (frente Procuradoria Geral da República)
5 a 12 de Julho 2009 - Abertura Domingo, 5 de Julho, 18h


Ajudem a divulgar, please.

No site a seguir indicado estão mais detalhes sobre a expo: http://biandautopia.blogspot.com

Mais informações sobre a programação cultural da Fundação Amilcar Cabral aqui: http://blogfac.wordpress.com/

1.7.09

Cena fixe

NOTAS DO PRIMEIRO MÓDULO (relações arte, espaço e desenvolvimento local)
As cidades ditas do 3ºmundo desenvolveram fenómenos urbanos complexos de ocupação do território, para a habitação e para o comércio. Na cidade da Praia é bem típico os bairros clandestinos (a maioria da cidade, diga-se). Numa abordagem clássica estes fenómenos são vistos de forma negativa e a tendência é adopção de políticas de "correcção", ou seja destruição, invisibilização ou outra estratégia qualquer para "colmatar" esses "males". Os preconceitos em relação a tais fenómenos levam a que muitas vezes não se repare que, as pessoas, na busca desesperada de soluções de vida, acabam por criar soluções inovadoras até. Assim, uma outra visão seria perceber a lógica interna desses fenómenos, estudá-los, enquadrá-los e promover uma melhoria das cidades a partir disso.

Onde entra a arte? Quando feita com sentido de intervenção, a arte cumpre um papel que os políticos e os cientistas, por imposição de tempo, agenda e ditames metodológicos, não cumprem, que é o de ousar, polemizar e romper barreiras de abordagens. O artista ao jogar com os sistemas de valores estabelecidos, invertendo-se, pervertendo-os, questionando-os e muitas vezes de forma "chocante", destabiliza os status quo, causa reflexão e pode provocar mudanças de paradigmas quando a sua intervenção causar uma verdadeira "descoberta" de novos sentidos.

Alguma coisa lembrou-me Praia.Mov...pelo menos na intenção.