30.7.09

As ruínas

Agora, de cada vez que alguém fala em Cidade Velha, parece que é motivado pelo seu recente estatuto. Confesso, fiquei a reparar mais nos detalhes. Dantes era aquele lugar para um final de tarde, para o almoço do Domingo, uma escapadela romântica ou outro motivo qualquer, na paz, no silêncio. Continua a sê-lo, mas o seu estatuto desperta-me curiosidades. A lista de crioulices é extensa:

A começar por uma tentativa de construção de uma asneira qualquer à entrada do Forte, que foi embargada, mas no entanto ninguém se lembrou de tirar de lá os restos de construção. Descendo a cidade, à entrada, as sensações exóticas começam: o cheirinho característico de criação de porcos; um mastodonte de betão a tapar a vista do mar; um cocktail de lixo num contentor, é a figura das boas vindas.

Nada de ilusões: trata-se de uma vila pobre e uma população pobre. É imediatamente sensível. Vê-se nas casas, no modo de vida, na indissociável desarrumação visual, no sentido estético, no sentido de higiene e nos meninos que assediam os visitantes. Mas talvez o que mais impressiona é a presença activa dos habitantes, que parece que está mais activa ultimamente, a querer mostrar que, antes de tudo, o lugar é deles. Justo. Só que esta reivindicação por vezes assume formas ruidosas e pouco elegantes.

Por outro lado, a "burguesia". Ou seja, toda a malta que tem dinheiro para investir e conseguiu terrenos na vila e permissões para construir coisas malucas em sítios malucos. Edificam-se palacetes de mau gosto; tapam-se os acessos e a vista ao mar; encavalitam-se construções; os padrões podem ir do barroco ao rococó.

De tudo isso, o que é Património são as ruínas que assistem a tudo sem reclamar e o tal coiso imaterial que ninguém vê. Que nem sequer está só ali; está dentro de nós, nos genes.

1 comentário:

Tchale Figueira disse...

Será agora que (sem Pau)Lino foi embora, a igreja irá pedir desculpas ao povo de Caboverde e aos africanos pela sua terrivel conivencia na escravatura na Cidade Velha?