27.7.09

Regurgitante

Algo maravilha aqui neste chão de pedra dura e plantas armadilhadas de espinhos. O sol seca tudo e no entanto uma seiva teima em manter-se viva. Algo maravilha aqui entre as escarpadas montanhas e o infindável mar. Será castigo ou laboratório de limites?

Aqui um povo foi deixado órfão e como cães procura o vão de escada onde é permitido dormir. Algo perturba. Há olhares fixos num ponto de indeterminação. Transitam corpos inanimados como fantasmas vivos e no entanto não pára o frenesim de potentes braços e pernas. As esquinas cheiram a sexo.

Algo regurgita permanentemente neste espaço exíguo que junta os corpos mais estranhos. Aqui pessoas têm cabelo fino e grosso, olhos pequenos e grandes, braços compridos e curtos, dedos redondos ou chatos e pele negra interpolada de vários tons até ao branco. Recombinam-se cérebros e corações.

Aqui ninguém ousaria habitar e no entanto é o lugar onde se reinventam seres humanos. Não dá para pular no mar nem se despenhar do cimo das montanhas. Sim, um laboratório de limites, um desígnio e não um castigo, vale a pena acreditar. A beleza alucinante desses meninos que nascem perfeitos tem que ter um significado supremo. Sim, maravilha sim.

2 comentários:

Ariane Morais-Abreu disse...

Texto interessante...

Cesar Schofield Cardoso disse...

Uma vez ou outra...para não estar sempre a ser um chato ;)