28.8.09

Proud to be...

"First there was Cesaria Evora, Then Lura, and now, the Portuguese/Cape Verdean singer/composer/guitarist Sara Tavares. The title of this CD (pronounced bal-on-SAY) refers to the equilibrium necessary for balancing her mixed, Crioulo culture that stretches from Africa, Europe, and the Americas. Blessed with an angelic voice, and a knack for writing accessible compositions that are global, yet ancestral, Tavares is closer to Les Nubians than to Evora, as the title track makes clear. She's more about adapting her homeland's musical conceptions to include Angolan sembe Afrobeats on "Poka Terra," with rapper Melo D, reggae, and Cape Verdean coladeira rhythms on "Planeta Sukri," co-starring vocalist Boy Ge Mendes. Fadista Ana Moura helps Tavares tell her soulful story on "De Nua." With this heartfelt, autobiographical work, Sara Tavares emerges as a new dark and lovely diva for this decade."
Eugene Holley, Jr., in www.amazon.com

E no mesmo prestigiado site, de 33 comentadores, 27 consideram o disco 5 estrelas! (nota máxima). Sara balançada!

Cacocracia

Seria capaz de encher esta página de nomes de pessoas brilhantes dos 25 aos 65 anos de todas as áreas de actividade e de todos os níveis possíveis. O nosso país é repleto de talentos e cabeças multidimensionais. O segredo do nosso relativo sucesso passará pela qualidade das pessoas e a sua entrega aos seus projectos na discrição dos gabinetes, técnicos anónimos, apaixonados, trabalhadores de todos os dias de ir ao emprego e voltar às famílias. Mas algo mudou. Em algum ponto da nossa trajectória, da Independência até hoje, houve uma reviravolta. O país passou a ser palco de estribadas lutas de interesses de valor muito questionável para o conjunto da sociedade e face a esta luta por vezes de contornos medonhos o conjunto das pessoas brilhantes desta terra continuam no mais sepulcral silêncio. Estamos ausentes, deixamos o país a alguns bichos, a que chamamos "jogo político" e fingimos que não estamos todos aterrorizados.

Tudo isso para dizer o quanto fico triste por ver como líderes de juventudes partidárias, numa brincadeira bem interessante do jornal "Expresso das Ilhas" que os questiona se fossem Primeiro-Ministro, são meras caixas de ressonância dos líderes absolutos dos seus partidos e como os seus partidos vão ter fatalmente nos próximos tempos líderes absolutos, absolutamente inquestionáveis. Estaremos a combinar autocracia e democracia em auto-democracia?

27.8.09

E nasce projecto...

ABRIASPAS é uma co-produção entre este blog e a Fundação Amílcar Cabral. É um espaço para confluência de linguagens artísticas, onde se destacam o audiovisual e a poesia, numa dinâmica de comunicação em rede entre pessoas, espaços virtuais e ideias.

Mensalmente serão propostos temas aqui no Bianda e serão convidados os visitantes a participar, para depois se concretizar em acções, todas as segundas-feiras na Fundação Amílcar Cabral, Cidade da Praia.

Fica ligado. Já mandamos o tema do mês de Setembro.

Estado maculado

A questão não é se está ou não está na lei. Tornou-se um hábito irritante nos dias que correm dirimir as questões unicamente pelo prisma legal sem que se questione a sua pertinência e muito menos a sua moralidade. As leis existem sim, mas estarão de acordo com os nossos ideias de sociedade, cultura e ambiente? Agir dentro da lei não pode significar automaticamente agir correctamente.

A questão da Murdeira. Um grupo de cientistas, após aturado estudo, definiu as bases técnicas e científicas do que viria a ser a nossa Lei Ambiental. Murdeira, pela sua natureza (zona protegida) ficou interditada a construções que não fossem de cariz científico e educacional. O Governo num passe mudou isso para permitir um empreendimento. Agiu dentro da lei? Sim, porque a lei lhe confere esse poder. Agiu correctamente? NÃO!

Um empreendimento chamado "Riu Lacacão" seguiu inteiramente sem nenhuma avaliação de impacto ambiental porque, pelas próprias palavras do Premier, em tal momento de crise não se poderia dar ao luxo (!!!) de esperar por tal avaliação e por isso autorizou-se a obra, até que se encontre formas de minimizar eventuais maus impactos (!!!)

Agora o chefe do Governo, um dos 3 pilares do Estado (Parlamento, Governo, Justiça) vê o seu nome embrulhado num muito cabeludo negócio de restaurante e orla marítima. Já é de si estranho que o Governo em primeira pessoa esteja envolvido dessa forma, num negócio que dispensou concurso público e tresanda a clientelismo. Mas a questão é a mesma: é legal? Pode até ser, mas algo está tremendamente mal nessa lógica toda.

Este país anda louco de valores...há tempo demais.

25.8.09

Kitsh requintado

Caminhar por um tapete de relva sintética à entrada é a primeira maravilha do lugar. De seguida vem uma floresta de pilares de cimento, uma cobertura de chapa metálica e diversas sombrinhas que tapam o sol onde a chapa de metal não tapou. Um desenho de um homem raquítico indica lavabos para senhores e um de uma desmesurada bunda indica os das senhoras. Um exército de arcas frigoríficas tapa o bar quase na totalidade. É arca para tudo. O bar é a caverna de Ali Baba repleto de estantes com garrafas e uma senhora apertada na saia com óculos grandes. Lâmpadas anémicas iluminam aqui e ali. Toca funaná em colunas de som de um metro de altura cada enquanto decorre o noticiário e futebol em dois televisores mudos.

Enquanto tentamos acertar em algo que existisse integralmente na ementa pedimos entradas de azeitonas e queijo. Não há. Cerveja só então. Repeti duas ou três vezes ao empregado que a minha omeleta fatalmente não podia conter nem atum nem fiambre nem frango nem chouriço nem linguiça; só cebola tomate e salsa. Diverti-me com as toalhas em xadrez das mesas em rectângulo, quadrados e redondas. O delicioso restaurante da Tátá fechou há tempos! Fechou também o do Mar Azul. Fechou o Hotel Tarrafal? Veio a minha omeleta numa travessa inox que lembra recipientes para esterilizar pinças em hospitais. Após dois golpes de garfo e faca apercebo-me da presença de atum na minha omeleta. Pronto, era demais! Reclamo cheio de fúria e indignação ante o impávido empregado que ouviu tudo até ao fim para depois se perder em desculpas suplicando: senhor, quis fazer um agrado; mandei acrescentar atum… Salvei-me o resto da refeição a ver para a magnífica vista sobre a praia do Tarrafal.

24.8.09

Caem árvores...

Hoje soube de duas senhoras, e mães de grandes homens, que se juntaram ao mundo etéreo: mãe de João Branco, o nome indissociável do teatro caboverdiano, e mãe de Hélio Varela, um líder nas TIC em Cabo Verde.

A dor é terrena, mas fiquem a saber caros amigos que almas distintas não morrem; mudam de envelope; vão beneficiar outras dimensões.

Fim de férias, Iª parte

Regresso à rotina diária: trabalho, almoço a horas, dormir a horas e as pequenas coisas diárias que já me faziam falta, como ter uma coisinha a dizer todos os dias aqui. Pelas estatísticas vi que mantenho a fidelidade dos leitores o que é espantoso visto não ter nenhuma novidade há dias. Isso é um dos segredos do blog: saber que tem gente do outro lado que de alguma forma está em contacto.

Regresso a leitura dos diários, dos jornais, de tomar um café discutindo política, de saber que fulano de tal fez isso e beltrano fez assado. Ainda ando a digerir a entrevista do Primeiro-Ministro à Nação. Acho que o homem devia começar a ter cuidado com o discurso e as suas contradições. Sou surpreendido com mais um político a anunciar que gostaria de passar a reforma na Presidência da República ou a auto-flagelação do PAICV. Do outro lado, MPD entenda-se, tenho uma vontade enorme de saber o que estarão a cozinhar na sua surdina característica. Não esperava muito de Jorge Santos, mas desistir como desistiu decepcionou-me definitivamente.

O Ministro da Cultura continua o mesmo, enquanto isso vou ouvindo as barbaridades relativas ao Ambiente. Tive umas férias a andar pelo Santiago a aprender como, na verdade do terreno, estamos uma miséria de agricultura, pescas e indústria. Vim do Tarrafal, da paz das suas praias e da tristeza da sua economia.

Estou de volta à cidade. Li poesia e Osho. No conjunto fiquei com mais consciência que andamos a debitar uma conversa da treta, a confundir boa governação com bom governo, a achar que realmente somos o máximo, que Hillary nos ama e que vamos atingir o Nirvana, por obra e graça de um Deus.

Até IIª parte das férias, no Mindelact, Setembro.

15.8.09

As férias...

O pessoal já deve ter notado a toada morna do Bianda por esses dias. Pois, tamos de férias.

Carpem todos os diems
Abraços

13.8.09

Nestum

Umas discutiam as virtudes da papa nestum e outras ainda preferiam a papa cerelac. Os meninos quando crescem um pouco já passam a preferir chocapic que é bom tem chocolate e vem com carrinhos ou bonequinhos de brinde. Os botes tinham saído às quatro da madrugada. O sol era já um facão pronto a lascar peles mas no horizonte continuava sem sinal de regressos. Umas discutiam o preço do novo alisante de cabelo brasileiro e outras exibiam desenhos sofisticados de flores brancas em fundo de verniz marron nas unhas do dedão do pé. Uma delas enchia o areal de bunda. Batia com a mão forte na coxa para explicar como tinha vontade de meter a mão na cara da médica quando o filho nasceu no hospital da Praia. A atrevida a ralhava como se de um menino tratasse porque não dava de mamar ao filho preferindo um caldo caseiro levado por familiares. Ela mesma tinha tomado desse caldo da mãe que também tinha tomado desse caldo da mãe. A vida era mais simples antigamente e não havia tanta doença. Zita tinha roupinhas novas de criança vindas em bidons.

Não deu tempo de terminar algumas tranças. Três botes vieram. Calçaram as chinelas, ajeitaram os lenços, apertaram o pano em volta da cintura, recolheram os alguidares, conferiram o dinheiro e em seguida partiram para cima dos botes. Depois formou-se um monte de cheiro de peixe e cabelo de sovaco com facas no ar a acompanhar discussões e foi quando tirei a fotografia clássica de peixeiras.

11.8.09

Goulash

Não me lembro bem do nome mas era grande: restaurante de não sei quantas grande de Tarrafal. Mais ou menos isso. O proprietário espanhol atendeu-nos pessoalmente ele sim grande: os dedos podiam ser mandiocas arrumadas num balcão do mercado, os braços podiam ser troncos de árvores cortados, o resto do corpo podia ser todo um armazém cheio de sacos de milho. As roupas seriam XXL mas a voz era fina e esganiçada tipo as pequenas rádios de pilhas em espanhol falado rápido misturado com crioulo que parecia resultar em italiano.

O restaurante do nome grande tinha um extenso cardápio em três línguas e vários pratos que ninguém conhecia. Quisemos saber curiosos que prato era Goulash. É bom! Entusiasmou-se o espanhol enquanto explicava: é um prato hungaro feito de carnes de vaca e porco bem condimentado muito bom mas atenção que é forte e com este calor!…Já tínhamos andado um bocado ao sol pela vila de sítio em sítio a ouvir a mesma ladainha: terminou o peixe, não há búzio, faltava legumes, tal erva terminou, tal tempero acabou, a cerveja tá quente, etc. Este também não tinha nada mas tinha Goulash que soava a aventura. Este tinha mesas e cadeiras num jardim.

Talvez fantasiássemos uma tarde de prazer da comida e o amor de um café caseiro. Bebemos vinho e rimos. Esperámos como quem aguarda um beijo. Quando o Goulash enfim veio o sol apagou-se. O Goulash afinal não passava de duas medalhinhas de carne três fatias de batata e um tufo de arroz. A minha tortilla era uma bolacha. Não havia mais clientes na tasca nem empregados. Não houve mais beijos nem amor. Só sorrisos apagados.

7.8.09

Cidades mais agradáveis do mundo

"...os primeiros lugares são ocupados por Zurique (Suíça), Copenhaga (Dinamarca) e Tóquio (Japão)."

"...Paris ocupa o 8º lugar, Berlim o 10º, Madrid o 12º e Barcelona o 15º..."

"No texto que justifica a posição de cada cidade, Lisboa (25º) parece, à primeira vista, só ter pontos a seu favor. Por um lado, "aumentou as suas credenciais culturais inaugurando galerias de arte, dois festivais de cinema e 'think-tanks' como a Lx Factory". Além disso, os quiosques nos parques e praças da cidade "têm vindo a ser restaurados com bom gosto", o que "representa um nítido contraste com os centros comerciais com ar condicionado". Outro ponto positivo é o facto de haver mais gente disposta a percorrer a cidade de bicicleta e de, junto ao rio, estarem previstas ciclovias."
Fonte: http://ipsilon.publico.pt/flash/texto.aspx?id=237991

Lembrou as famosas faixas de 60cm de largura que Filu mandou pintar no asfalto, que chamou de "ciclovia", onde nem o diabo ousaria andar de bicicleta!...Para quando uma cidade da Praia para seres humanos?

Manias de ultrapassar

"A Baía da Murdeira apresentou o Estudo de Impacto Ambiental, houve algumas reservas da parte da Direcção Geral do Ambiente e, posteriormente, com a análise feita pelo Governo, decidiu-se pelo licenciamento das obras, condicionando essas mesmas obras a determinar especificações, para reduzir, ao mínimo, qualquer impacto negativo sobre o ambiente."
Primeiro-Ministro, A Nação 30/07/2009

Se isto não é uma ultrapassagem grosseira, então o que é? O Governo tem mais capacidade técnica de análise de estudos de impacte ambiental, do que a sua própria direcção especializada? Como se sentem todos os técnicos, biólogos, geólogos, etc., quando não são nem tidos nem havidos dessa forma?

Estabilidade institucional não é somente ter eleições sem machadas e sangue; é também o estrito respeito pelo trabalho de cada qual.


6.8.09

Manias de fintar

Ler [A Nação, 30/7/2009] e ouvir o primeiro-ministro Neves é sempre um perigo de se ser fintado, tipo bola por baixa das pernas, ou uma oportunidade de se aprender a defender de fintas espertas. A diferença está na concentração. A última do homem é que ele se pauta por ensinamentos de Amílcar Cabral, que diz que os governantes devem actuar com decência, honestidade e paciência. Resta saber se é decente o discurso da finta.

Rodopia sobre si próprio na questão da crise; vai tocando a bola para frente no embate com os empresários da imobiliária turística; dá umas cacadas desimuladas na Oposição; não sabe o que há de fazer entre a redução drástica das receitas fiscais e a forte contestação perante a ameaça de atacar com novos impostos e taxas; enfrenta a difícil questão do desemprego com uma data de fintas de criação de agências e programas; evita literalmente campos perigosos como a Cultura; está em posição vergonhosamente ilegal quando se trata do Ambiente; joga com as expectativas dos jovens, ora prometendo créditos, ora prometendo estágios profissionais; tem uma equipa de suplentes preparada, mas por enquanto mantêm todos os jogadores em campo; esconde o jogo das presidenciais. O homem corre todo campo, com aparente elegância, mas está óbvio que é preciso mudar de táctica.

Para mim, a melhor táctica, num espectro de crise, seria um discurso do realismo: a situação está difícil; os trabalhadores podem ter que baixar os salários para evitar que percam o emprego; o Estado deve reduzir brutalmente os seus gastos; quanto aos maus agentes económicos, não há nada a fazer, a crise os vai engolir. Principalmente, todos devem parar de chorar e ajudar na procurar das soluções mais criativas. Mas nunca esse discurso do tá tudo bem, porque tá é brabo! Sal que o diga.

5.8.09

Que merda pá!

Recebi a notícia que Biús morreu!!! Que notícia mais pesada! Gente devia ter uma idade mínima para morrer, para lá dos 80.

O nosso amigo gostava de um caco, como também Pantera gostava e acabou por cair no rio negro do alcoolismo. E lembremo-nos que em Cabo Verde o álcool causa mais perturbação que qualquer outra doença mental, mata, desaba famílias e é...LEGAL! Se for preciso aparece um governante a fazer publicidade de uma empresa de destilação que se disponha a criar empregos no país.

Se existe uma outra vida, que ela seja só para cantares Biús.

Entijolados

O meu país é uma parede. De longe parece sólida e lisa. De perto surgem fendas, lascas e uma textura mais áspera. Leves batidas em determinadas partes revelam concreto armado. Noutras as batidas fazem eco. Há porções que se arrombam só de apertar o dedo. Não se desloca com facilidade e empurrado não vai a lado nenhum, mas uma pancada forte em pontos específicos pode perigar a sua sustentação. A construção é mais ou menos consistente, mas a base é de barro. De longe parece vazia, mas por dentro vive uma população de bichos, bonitos em geral, endémicos, resultantes do cruzamento de espécies diferentes, migrantes de muitas partes, mais ou menos afáveis, mas capazes de dar valentes dentadas. Alimentam-se de riola, uma espécie de prato de intriga, que se juntam condimentos locais. Ocasionalmente podem se comer uns aos outros, quando a intriga não é suficiente. A maioria habita em buracos inferiores, sem condições de luz, água e sanita. Uma pequena proporção apodera-se dos lugares ao sol assim que surjam. Recentemente alguns descobriram que a cobertura da própria parede é boa e andam a comê-la, sem ter em conta a sua destruição ou preocupados se a podem arrombar ou não.

Jizas Kraist!

Existe uma zona da cidade que é chamada, no sentido de humor bem crioulo, de "Wall Street", porque tem muitos serviços, incluindo a Bolsa de Valores, que dizem que se trata de uma Bolsa sui generis; vários bancos e uma data de outros serviços. Só que tem um detalhe: nunca niguém disse que a zona seria destinada para tantos serviços. Resultado: overload. A circulação na zona é deficiente, vão faltar espaços para estacionar brevemente e a última é que é maior: um troço de cabo de electricidade da rede pública... queimou! Sim, esturricou, não aguentou a pressão, flipou.

Então uma parte da zona já vai com 24h sem electricidade, inclusive o Ministério que tutela as energias, enquanto uns gajos pretos, ups, queria dizer mandjakus, ups, não, mandjaku não que não fica bem dizer isso, digamos continentais, vão substituindo o cabo, na razão de 1m/h.

Jizas Kraist, que é definitivamente caboverdiano, nascido no bairro de Ponta Belém (o Belém do Médio-Oriente é uma tremenda confusão, o homem nasceu cá), nunca deixa é que esses casos se tornem em incêndios e expluda tudo. As explosões são mais na paciência de cada qual. Em nome do patriotismo, aguentemos.

4.8.09

Cabeças de prata

Ontem (3/8/2009) foi dia de lançamento do novo livro de Manuel Brito-Semedo, "Crónicas de Diazá". Poucas vezes vi a Biblioteca Nacional com tanta gente. Há tanta gente que não via há tanto tempo. Todos ali reunidos, as nossas pessoas mais crescidas, que vão ficando com a cabeça coberta de fios de prata e com tantas estórias para contar, na idade, como disse Fátima Bettencourt, de começar a fazer um resumo da vida, sem com isso significar que há uma noção de algum fim. É que, chega uma altura, depois de criados os filhos, conquistado uma carreira, lutado por ideais e vendo-se na interrogação do que fazer a seguir, uma pessoa precisa fazer esse resumo, seja em forma de livro, seja de que outra forma.

Quanto ao livro em si, de toda a vez que sai um livro, ponho-me a perguntar do que será da nossa indústria de livro? Pergunto-me de uma maneira mais ampla ainda, do que serão os livros no futuro dominado pela ausência de paciência para os ler e com uma forte penetração de conteúdos digitais? O livro precisa de uma reformulação. Mesmo que continuem em papel, os conteúdos precisam diversificar-se. Por exemplo, quantas colaborações há entre artistas visuais e escritores nacionais? Os livros precisam ser objectos tão bonitos, que dão vontade de tê-los só pelo objecto em si. Os nossos livros, em regra, são feios e só os compramos porque conhecemos os autores pessoalmente e conhecemos o conteúdo que tem para nos transmitir. Caso contrário, seriam poucos os livros nacionais que compraria, a julgar pelo objecto de arte, que deviam ser.

A par dessas minhas reflexões enquanto decorria o acto, fiquei a ver para as nossas cabeças de prata e a desejar que eles todos escrevam as suas estórias. Não resisti à passagem de Fátima Bettencourt quando disse que as mulheres que pedem ao cirurgião plástico ou ao esteticista que lhe retire 10 anos de vida, deviam ser processadas por destruição de património! Sim senhora, a idade é um património e não uma vergonha.

Doidera pegada

Juntar num mesmo palco, quase que todos ao mesmo tempo: 3 baterias, 1 percursão, 1 guitarrista, 3 baixos, 3 pianistas, 2 vocalistas é qualquer coisa que soa a cacofonia garantida. Mas quando falamos dos músicos de João Bosco (o fera da voz e da guitarra): Nelson Faria (guitarra), Nico Assunção (o virtuosíssimo baixo de 6 cordas), Marçal (percursão); Kiko Freitas (bateria); dos músicos de Ivan Lins (o doce compositor que ficou um pouco patinho feio na cena no entanto): Nelson Ayres (um piano divino), Teófilo Lima (bateria), Nehemias Antunes (baixo); os músicos de Gonzalo Rubalcaba (um dos top 5 pianistas de jazz do mundo!): Ignácio Berroa (um fera da bateria), Carlos Henriquez (que contrabaixo!)...uf! Estamos a falar de muitos e grandes músicos, que sabem se respeitar na perfeição. Um resultado surpreendente, num dos mais energéticos DVDs que já vi na vida.

Ao compadre Baluka e a sua linda esposa e comadre Jandira, aquele abraço.

País blindado

"O Tribunal de Sintra condenou Isaltino Morais a uma pena de prisão efectiva de 7 anos e à perda imediata do seu mandato. O autarca já anunciou que irá recorrer desta decisão do tribunal."
via www.sapo.cv

E os senhores que por cá que andaram a oferecer "presentes" a este condenado, não se lhes diz nada? Há tempos foi com o caso do SLN/BPN. Lá as coisas arrebentaram; cá, apesar de nítida conivência, os de cá continuam na boa.

Em Cabo Verde, parece que não existe corrupção, mas a verdade é que ela se confunde com a legalidade, ninguém está para se chatear e ninguém quer se responsabilizar ou cobrar responsabilidades. Então fica um clima de tudo calmo...como se aqui nada se passasse. E com direitos a cargos, títulos, benesses e louvores.

3.8.09

Blog joint: Estado e Nação

O Governo e a Oposição estão em permanente campanha eleitoral. O Governo sobrevaloriza os ganhos e desvaloriza as dificuldades e os erros. Diametralmente oposto, a Oposição arrasa o país e indica autistamente como única e válida opção a sua própria governação. É evidente que esse "diálogo" acaba por cair no ridículo e não contribui em nada para a construção de um espírito crítico nos cidadãos. O Estado da Nação, feito por Governo e Oposição não me dizem absolutamente nada, porque são instituições que não se respeitam a si próprios.

Resta-me fiar na palavra dos técnicos, economistas, sociólogos, arquitectos, engenheiros e demais especialistas, se esses, por acaso, não estivessem também tão embalados neste discurso oco de avaliar a nação, como quem discute uma partida de futebol. Poderia me fiar nos juristas e politólogos, se esses estivessem comprometidos, antes de tudo, com a crítica do Estado de Direito. Ficaria imensamente alegre se, apesar das dificuldades, linguistas, antropólogos e historiadores pudessem comentar sistematicamente e não somente em improvisados fóruns, as políticas da Cultura. Ficaria um pouco mais descansado se soubesse que os jornalistas estão aí para escavar, provocar, investigar e procurar informar, com a isenção possível, as várias verdades sobre um mesmo assunto.

Não tendo nenhuma dessas ajudas, resta-me SENTIR o Estado da minha Nação: enganamo-nos permanentemente. Há ganhos extraordinários, sim, mas se isso resultar em crescente injustiça social, alienação cultural e destruição do meio ambiente, então estarei preocupado e receoso pelo futuro.


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