11.8.09

Goulash

Não me lembro bem do nome mas era grande: restaurante de não sei quantas grande de Tarrafal. Mais ou menos isso. O proprietário espanhol atendeu-nos pessoalmente ele sim grande: os dedos podiam ser mandiocas arrumadas num balcão do mercado, os braços podiam ser troncos de árvores cortados, o resto do corpo podia ser todo um armazém cheio de sacos de milho. As roupas seriam XXL mas a voz era fina e esganiçada tipo as pequenas rádios de pilhas em espanhol falado rápido misturado com crioulo que parecia resultar em italiano.

O restaurante do nome grande tinha um extenso cardápio em três línguas e vários pratos que ninguém conhecia. Quisemos saber curiosos que prato era Goulash. É bom! Entusiasmou-se o espanhol enquanto explicava: é um prato hungaro feito de carnes de vaca e porco bem condimentado muito bom mas atenção que é forte e com este calor!…Já tínhamos andado um bocado ao sol pela vila de sítio em sítio a ouvir a mesma ladainha: terminou o peixe, não há búzio, faltava legumes, tal erva terminou, tal tempero acabou, a cerveja tá quente, etc. Este também não tinha nada mas tinha Goulash que soava a aventura. Este tinha mesas e cadeiras num jardim.

Talvez fantasiássemos uma tarde de prazer da comida e o amor de um café caseiro. Bebemos vinho e rimos. Esperámos como quem aguarda um beijo. Quando o Goulash enfim veio o sol apagou-se. O Goulash afinal não passava de duas medalhinhas de carne três fatias de batata e um tufo de arroz. A minha tortilla era uma bolacha. Não havia mais clientes na tasca nem empregados. Não houve mais beijos nem amor. Só sorrisos apagados.

3 comentários:

Tey Alexandre disse...

Então César... desististe de ser vegetariano?

Rosi disse...

Regra de Ouro - nunca comer num restaurante vazio!!!

Eileen disse...

Este texto está sabinho, sabinho!