28.9.09

Quando caem as árvores

É uma coisa inexplicável que sinto quando vejo uma árvore enorme caída como uma que vi há dias quando fez um pé de vento malcriado com chuva. Ver aquele pedação de ser vivo assim tombado na estrada, na horizontal que dá mais a dimensão do seu tamanho, e as suas ramagens e folhas desmaiadas pelo chão, tem configuração de cataclismo. Assim também sinto quando morrem grandes figuras como Mário Fonseca.

Conheci Mário Fonseca ainda tinha uma penugem no lugar de barba. Já me fazia cidadão nessa altura, com o fervor patriótico, político e cultural que nasceu comigo como parte da minha química, quando ouvi pela primeira vez Mário Fonseca intervindo numa palestra. O homem tinha uma grande postura física, voz firme, discurso fluído e ideias apaixonadas. Aquele homem naquele momento havia de marcar definitivamente o que sou hoje. Depois, nos últimos anos, comecei a vê-lo definhar e, embora mantivesse o mesmo espírito indomável, tremia-lhe o corpo e andava vacilante. Morreu. O que senti foi o estrondo de uma grande árvore tombando.

Morreu também Manuel de Novas. Quando as árvores caem é tempo de minutos de silêncio.

1 comentário:

Anonymous disse...

Um pedido sensato