31.10.09

Abriaspas Novembro

ABRIASPAS é um espaço para confluência de linguagens artísticas, onde se destacam o audiovisual e poesia, numa dinâmica de comunicação em rede entre pessoas, espaços virtuais e ideias.

Pretendemos proporcionar o intercâmbio e debate de ideias sobre temas propostos mensalmente aqui (bianda.blogspot.com)

Acontece todas as segundas-feiras na Fundação Amílcar Cabral, Cidade da Praia.

É uma co-produção entre a Bianda e a Fundação Amílcar Cabral.

O projecto é aberto a TODOS. Participem, actuando, criticando e sugerindo. Contactem-nos pelo e-mail abriaspas@gmail.com


Tema de Novembro: MISTURACÇÕES, Artes, Letras e Cia.
Dirigido por Flávia Ba

Existem textos literários onde outras artes se misturam e se cruzam, conferindo ao texto um sabor multiartístico. É esse mosaico que pretendemos descobrir e compreender. Ler um texto depois da audição de uma sonata, depois da análise de uma escultura ou das sensações provocadas pela visualização de uma pintura, podem auxiliar a leitura de uma obra, sobretudo se uma destas artes se entrecruzar nessa obra.

Flávia Ba nasceu em Lisboa, onde viveu até aos 24 anos. Aos 25 parte para a sua primeira jornada de trabalho no estrangeiro, Timor-Leste, onde exerceu funções de docente universitária na Universidade Nacional de Timor-Leste e de directora do Centro de Língua Portuguesa. Encontra-se actualmente a desempenhar as funções de Leitora do Instituto Camões na Universidade de Cabo Verde. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses, é Mestre em Literaturas Comparadas pela Universidade Nova de Lisboa. Gosta imenso da leitura e da escrita...sobretudo de ler e (re)ler os outros.

Todas as Segundas, das 18h30 às 20h30, Fundação Amílcar Cabral, Praia


30.10.09

Semana Capital

O dia de ontem, 29 de Outubro, vai ficar ecoando no meu ouvido por vários dias, o fabuloso piano de Mário Laginha. Ele esteve solo, mas houve temas que quase ouvi a voz de Maria João, temas que eles criaram junto, em dueto, entre marido e mulher. Simpático, humilde e de uma sensibilidade que nos transporta para Keith Jarret ou Chick Correa. Houve um momento de improviso, ele batendo no corpo e nas cordas do piano que me lembrou um fabuloso disco de Chick Correa, com Miroslav Vitous e Roy Haynes, chamado de Trio Music. São os momentos em que apercebemos que nem todos os artistas são iguais. Uns fazem arte; outros se casam com ela.

Os clubes

Álvaro Ludgero Andrade despertou-me este post.

Frequentemente vejo grupos de homens, em praças, pontas de esquina ou em bares, a discorrer sobre a época futebolística. É impressionante a quantidade de informação que determinados deles tem sobre toda a indústria futebolística. Sabem de todas as aquisições, as transferências, os valores, os salários. Têm uma opinião muito bem formada sobre o sector, onde no mundo há mais oportunidades de negócio, onde os jogadores são bons e baratos. Têm até opinião muito formada sobre a forma como os directores desportivos devem agir, o que a empresa deviam adquirir e o que não. O que mais me impressiona na discussão do futebol é a fluidez de argumentação, só possível quando as pessoas estão "por dentro" da coisa.

O nível de participação futebolística, o nível de leitura de "A Bola", deve ser esmagadoramente melhor que o nível de participação na cidadania, sobre a vida pública, curiosamente sobre questões que nos afecta directamente. Se calhar porque, como disse Álvaro, desde que nascemos nos ensinam a ser de clubes, mas não nos ensinam a ser cidadãos.

Pertinente a observação Álvaro. Obrigado.

29.10.09

Frases hortelã

"Mesmo que sincero não fosse e que o esforço fosse doloroso, qualquer esforço para uma possível isenção nas análises é muito louvável e de extrema importância"
Hermano Silva, comentando o post "Soldadinhos"

Existenz

Um dia vamos poder discutir ideias em vez de clubes?

Soldadinhos

Os partidos têm soldadinhos. Do MPD é só vê-los por aí, frenéticos, repetindo discursos automáticos: o Governo está esgotado, o Governo está esgotado. É uma técnica bem conhecida: de tanto repetir uma frase, com fundamento ou sem fundamento, acaba por criar uma impressão. Tão aí: ora distribuindo convites para o lançamento do livro de Carlos Veiga, irritantemente publicitado na última edição do Expresso das Ilhas; ora travando uma batalha verbal com algum interlocutor; ora analisando entre eles os estragos que terá causado ao partido o último desaire radiofónico de João Dono. Eles são os soldadinhos. Têm blogs, publicam artigos nos jornais, vão à rádio e à televisão. Eles são jovens aspirantes a poder. Em princípio nada repugnável por aí, não fosse um determinado discurso desprovido de interesse real.

Mas, um momento, onde andam os soldadinhos do PAICV? Ah pois! Esses andam ocupados a ocupar os ramos do poder. Querem lá saber de sujar a figura embatendo-se com soldadinhos da Oposição. O chefe deles, o soldado Nuías Silva, mostra como se faz: é gestor da Casa do Cidadão (por si só um cargo do caraças!), é Administrador Não-Executivo (essa versão crioula de Job For The Boys) de 2 empresas públicas, é presidente da Assembleia Municipal de São Filipe, tem uma empresa própria e sabe lá mais o quê. Um pouco de moralização, por favor! A seguir a esse belo exemplo de serviços abnegados à pátria, há outros que estão distribuídos por aí, cada um numa teta estatal, e ainda há os que, estando os papás na mó de cima, dormem tranquilos.

Soldadinhos da mó de cima, vão dormindo na sombra do Palácio, que os da mó de baixo andam a urdir uma boa teia. Enquanto ustedes da Situação saem do gabinete climatizado, entram no carro climatizado e em seguida entram nas casas climatizadas, os da Oposição estão aí, na calçada da rua, que é onde bate o coração do povo.

28.10.09

Cinema Capital

Filmes excepcionais, fora do comum, não muito fácil de digerir, mas essenciais para a cultura de todos que se interessam pela arte cinematográfica. Com a presença do cineasta João Paradela, para um dedo de conversa depois dos visionamentos.

Notas políticas III

Uma forma de José Maria Neves acabar com esta sensação de "cansaço", "discurso repetitivo", "esgotamento de soluções", seria, digo eu, tomar determinadas medidas enérgicas, dando à sociedade um sinal firme e inequívoco de "novos tempos, novas respostas". Dessas medidas incluem, correr sumariamente com determinados ministros que gangrenaram os seus sectores. Como quer um Primeiro-Ministro convencer, quando os sectores da Cultura e da Comunicação Social tem os piores ministros desse Governo? Ou será que JMN despreza o poder desses sectores? Ou será que ele não se apercebe que a Cultura é uma indústria de inteligência e a Comunicação Social é a empresa distribuidora dessa inteligência?

Sem contar com uma infinidade de pequenos directores e outros tantos dirigentezinhos de m...que abundam por esse Estado fora, que esses sim, eivando a vida pública de uma lógica partidária virulenta. José Maria Neves sempre se posicionou como um pacificador das partes e poderá ser essa a sua derrota. Tendo em conta que (adivinho) a luta para 2011 será ombreada, o homem bem que podia aproveitar e mandar esses senhores para casa, tomar conta das clínicas ou escreverem os seus livros, porque dirigir a vida pública pede puro-sangue e elevação. Determinados homens, taxativamente, não servem.

Notas políticas II

De leitura pessoalíssima, aponto como um dos erros de José Maria Neves, não conseguir manter engajados os entusiasmos à volta da sua liderança, por parte de uma influente população. Dessa população que, mesmo não fazendo a militância partidária, participa activamente na política, comprando os jornais, ouvindo as notícias, acompanhando a Assembleia da República, conversando nas esquinas e bares, formados, inteligentes, com cargos de responsabilidades nos lugares que trabalham, pessoas essas capazes de influenciar outros tantos com menos articulação política. Aliás o próprio JMN reconhece essa lacuna, ao organizar encontros de emergência "com jovens quadros", como se pudesse inflectir determinadas opiniões em 2h de encontro e verborréia.

É claro que a massa populacional é o factor decisivo no momento do voto e os partidos naturalmente tem a tendência em se preocupar para que lado se balança, no geral. Mas não é de desprezar o estado de alma dessa minoria, no meio da população em geral, até porque no momento da campanha é o entusiasmo desse pessoal, repito, não necessariamente a fazer militância, mas tão somente em conversas de café, que pode fazer toda a diferença, porque uma coisa é certa, o embate Veiga-Neves vai ser cerrado.

Notas políticas I

Um dia, um dos meus home boys disse-me uma coisa que ficou a tilintar-me no ouvido: com a candidatura de Carlos Veiga ao MPD, muita gente vai se posicionar. Ora, dito e feito. Mas o que está de errado nisso? Nada estaria errado - porque a militância política é algo de se louvar, como a própria política é de se louvar - se esse posicionar não pecasse por atraso e falta de carácter. Com a candidatura de Carlos Veiga, acaba o pessimismo pelos lados do MPD quanto à sua liderança e, com a chegada de um novo chefe, isso acontece nas empresas também, muita gente corre a se declarar de confiança, disponível, prestimoso, serviçal, porque há uma voz que diz que, com Carlos Veiga, a retoma do poder pelo MPD é uma possibilidade forte. E se for, já lá estão os serviçais, prontinhos a sentar o rabo numa dessas instituições leiteiras do Estado.

27.10.09

Notícias perturbadoras



Hoje em dia a ameaça de morte é um acto banal nas nossas cidades. Assassinar é igualmente banal. Tenho medo, tenho muito medo que, com o andar das coisas - as desigualdades, o crime e a corrupção a andarem soltos, a falta atroz de civismo, a violência verbal, a falta de firmeza do Estado e mais outras coisas - estejamos a construir um país de má fama. A paz e a estabilidade não são coisas eternas; nunca foram.

26.10.09

Dia Capital

Hoje foi um dia extraordinário, por isso aqui vai um post extraordinariamente (quebrando as minhas próprias regras) longo.

Há dias que são para esquecer, mas há outros que são para registar. Hoje foi daqueles. Tive ao longo do dia conversas que valem conferências. Comecei por fazer parte de uma corrente de e-mails que se entitula "cabo verde tem doutores a mais?". Não tive paciência para esmiuçar o rol de opiniões que estiveram por detrás de tão estranha pergunta, desde o seu emissor original até aos actuais, porque acho que realmente é uma pergunta estranha. Quem foi a pessoa que teve a ideia de chamar ao licenciado de "doutor"? Pois que causou um grande problema de egos e de confusões. Pois que licenciados, vão àquela parte, aprendam uma profissão primeiro e aprendam a ter o coração nessa profissão antes de estarem aqui com doutorices. Que os verdadeiros Doutores, a esses ninguém lhes dá o respeito devido. São pouquíssimos, digníssimos e discretíssimos. Aos doutorinhos, sinceramente!...Reponho a pergunta: "cabo verde tem doutorice a mais?"

À hora do almoço, com outras da pessoas que me ensinam coisas, decorreu uma outra conversa interessante, das perspectivas interessantes da nossa Política Cultural (que não existe). Uns são mais tradicionalistas e acreditam no lema "finkadu na rais" (as frases extemporâneas do nosso magnífico Ministério da Cultura); outros são mais cosmopolitas e são apologistas da "antropofagia" (no sentido cultural usado pelos modernistas brasileiros) e defendem que, aceitar tudo o que vem de fora e tentar estar lá fora, participando das correntes da arte contemporânea, que nos vai passando ao lado, seria uma forma de desencravar a nossa Cultura do profundo conservadorismo que insiste em ficar. Sou dessa corrente. Um povo com a unidade linguística que temos, que canta tanto a sua terra, que se ama tanto, não corre perigo de alienação. Chega de tradição! Vamos, sem medo e timidez, perceber o que está o mundo a fazer e vamos fazer!!!

A conversa ia intensa, mas as horas são implacáveis. Depois do almoço, o cafezinho num dos recantos mais agradáveis desta cidade, a livraria Nhô Eugénio, e lá encontro outra cabeça inventora, de testa franzida e caderno na mão, pensativo, que me sai com esta frase: "a riqueza (a busca da) é um acto de empobrecimento". Depois ele lá construiu toda uma teoria à volta disso e ficou de apresentar uma tese mais conclusiva. Ainda conheci um escritor que vai lançar um livro na sexta, às 18h30, no CCP/IC, que tem um blog com um título curioso: Poesia Distribuída na Rua e dali saquei um poema de José Miguel Silva, entitulado "Morangos Silvestres - Ingmar Bergman" (título, precisamente, de um dos filmes de Ingmar Bergman), que tem tudo a ver com o post de hoje:

Um ser humano é um combinado de egoísmo,
sofrimento e necedade. Não comove ninguém.
Uma pedra não comove ninguém. A beleza
é um acidente banal e pressupõe a morte;
muitas vezes se rodeia de sandice, e se nos fala,
chega a ser assustador. A inteligência, refrescante
como um duche, sabe bem, no Estio; mas agora,
que é Inverno toda a vida, que lugar atribuir
à inteligência? O de criada de servir nos aposentos
da ganância. Não comove, é evidente, ninguém.
A bondade, sim, comove. Mas é tão débil
e tão rara que ninguém a ouve. Não é fácil,
assim, encontrar algo que possamos amar. Eu
tenho procurado, eu juro que não sei o que fazer:
tudo me parece, até a música, produto de uma falha.
Vou por essas ruas ao acaso e não acerto a conhecer
quem me convença que bem outra poderia ser
a vida. Tudo se mostra sob espelhos deformantes,
tudo arde numa estranha aceitação. Francamente,
não consigo perceber. E gostava tanto, mas tanto,
que alguém me demonstrasse que não tenho razão.

Depois do trabalho, na mesma livraria do meu coração, por duas horas ouvi um andado jornalista e um andado economista, discorrendo sobre literatura, sociedade, economia e política. Tive a oportunidade de meter a minha colher, estando a viver um momento em que, são os da minha geração que vão fazer os combates, vão estar em posições-chave e vão tomar as decisões deste país, para a nossa alegria e para a nossa tristeza. Toca-me profundamente a questão das juventudes partidárias, porque estão a perder a oportunidade de fazer uma política baseada em outros princípios que não são, nem os do velho Veiga, nem os do novo Neves, que não consegue dar combate às velhas lógicas deste país.

Enfim, hoje ouvi tanto e pus-me a pensar: o que nos falta não é dinheiro; o que nos falta é usar toda a força da nossa inteligência para transformar a nossa própria maneira de estar e viver. Nada é dado por concluído; concluímos a cada dia.

Concerto

O magnífico Mário Laginha, conhecido pela sua dupla com Maria João, na Praia, dia 29, 21h15 no auditório do CCP/IC. Desta vez a solo. Será certamente um grande prazer rever a arte deste virtuoso pianista.

Índice de Desigualdade

Ora pois. Cabo Verde cresceu. Temos ao longo da nossa brevíssima história, enquanto país soberano e independente, um ritmo de crescimento económico verdadeiramente surpreendente. O que é notado e elogiado a nível internacional, para gáudio de todos, pois claro. Mas também temos sentido que, à medida que crescemos economicamente, aumentamos o fosso social. Entre os países com língua portuguesa, os Luso-G8 (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, S.Tomé e Príncipe, Timor) partilhamos o pódio da desigualdade com Angola e Brasil, que todos sabem tratar-se de países altamente desiguais, em 3º lugar, com mais de 50 pontos do Índice de Desigualdade. Ou seja somos mais desiguais que iguais. Grande motivo de orgulho!

Em termos rascas, alguns andam a meter a mão no bolso de outros. Ou, alguns andam a distribuir a renda só pelas suas aldeias.

Fonte: A Semana online, aqui

25.10.09

Tarantinologia

Quentin Tarantino é definitivamente, como um crítico já o chamou, a Nouvelle Vague de hoje. Os seus filmes chegam a parecer um jogo de violência gratuita, mas na verdade são discursos muito próprios sobre a natureza humana, sobre o poder pela violência, a brutalidade e os amores em situações levadas ao extremo.

Saí do cinema após ver Inglorious Basterds atingido por um raio, da mesma maneira que saí quando vi Pulp Fiction. Uma pessoa entra com uma série de idéias pré-cozinhadas - 2ª guerra, Hitler, nazismo, etc. - e sai com um experiência completamente genial de narrativa, de imagens, de sons, de interpretações magníficas, de decórs, de pequenos detalhes e, sobretudo, de um ponto de vista inusitado, ousado, elaborado. Tarantino define-se como um escritor. Para mim, ele é vários artistas ao longo do processo: é um exímio escritor quando escreve (os diálogos continuam a ser a sua assinatura, como em todos os outros filmes); é um grande fotógrafo quando compõe os quadros; é o máximo a dirigir actores; é um músico culto e vasto quando escolhe a trilha sonora. Enfim, como David Lynch (outro dos meus monstros sagrados), não há nenhum aspecto da arte de fazer filmes que Tarantino não saiba fazer ele próprio e com uma maestria que constitui escola para qualquer aspirante a fazedor de filmes.

A colecção ganha corpo e peso: Cães Danados, Pulp Fiction, Kill Bill 1 e 2, Jackie Brown, Prova de Morte, Inglorious Basterds...um por um, objectos de culto.

23.10.09

Semana Capital

Hoje há teatro no CCP/IC, às 21h com a peça "Escuta Aqui Seu Ladrão", um texto bem divertido do brasileiro Paulo Sacaldassy e encenado pelo (meu) pessoal do projecto fActo da Praia.

Na terça vimos na FAC o filme "Stranger Than Fiction" de Marc Forster (o gajo que realizou o último 007, "Quantum of Solace"). "Stranger Than Fiction" é uma notável composição sobre a relação na literatura entre o narrador e o personagem. Bem escrito, embora tenha um finalzinho hollywoodiano que detesto. Mas recomendo. É no mínimo divertido.

Por falar em filmes, ATENÇÃO MALTA, Quentin Tarantino está na Praia, com o seu último trabalho, "Inglorious Basterds". É pena que o cinema da Praia transformou-se num ser moribundo, que nem falar já consegue. Não há divulgação, abre uns dias e fecha outros, não se sabe a seguir a este o que vêm...enfim, pelo menos vou ver um dos meus realizadores preferidos em 35mm, numa grande tela e com bom som.

Ainda preciso ir espreitar o Blue Note, o novo pub no Palmarejo, com um nome pretensioso (a invocar Blue Note Jazz Club New York e Blue Note Records, duas grandes marcas mundiais). Ao menos passa música ao vivo. Disseram-me que se fuma no interior, o que para mim é um desincentivo. Por falar em fumar, para quando uma lei a interdir o fumo em espaços fechados?

Becks, uma cerveja sab pa fronta, desapareceu dos bares da Praia. Protesto! Voz Di Povo continua a ser um bom sítio para a noite. Agora há mais espaços na Capital e o pessoal está bem segmentado entre eles: os Engomadinhos, os Teens, os Cults, os Cools e os Flutuantes.

Que o Melting Pot da cidade da Praia produza muita sopa, caldos, guisados e outras delícias.

Cidadãos Sacos de Porrada

Como explicar um povo que apanha todos os dias e não emite nem um som? Será algum trauma ligado aos nossos genes escravos? Será que a noção do protesto nos foi completamente apagada pelo fascismo? Será que os anos de partido único e os anos de abertura velada reforçaram a interdição de falar? Será que estamos a perpetuar um sentimento de que o protesto, ou melhor, o exigir ao Estado o que nos é de direito é um acto de perturbação?

Já vamos em anos seguidos com problemas sérios de electricidade e os dirigentes sentem-se ofendidos se dizemos que são incompetentes? Bato com o carro todo o santo dia num buraco na estrada e ainda sou multado por não pagar o imposto de circulação? Paga dezenas de contos todos os meses em impostos e isso não me dá o direito de exigir serviço? No restaurante somos mal servido, as lojas vendem produtos deteriorados, o serviços públicos funcionam como lhes dão na gana, não há serviços públicos de lazer, somos roubados, somos violentados, homens adultos tiram a pila de fora e fazem xixi na rua em frente à minha criança…

Que porra de cidadania é essa cidadãos? Desta vez não me dirijo aos políticos; desta vez dirijo-me a ti, cidadão.

21.10.09

Estado de Testa de Ferro

Como estará a testa de ferro do presidente da Electra num dia como hoje em que não tenho electricidade, nem em casa (Palmarejo) e nem no trabalho (Achada S.António)? Frio ou quente? Eu acordei quente. Fiquei a ferver logo a seguir quando percebi que não havia luz, que não ia poder terminar a meu texto e enviar alguns e-mails, logo de manhã. Se tivesse sonhado com uma torrada estaria ainda mais irritado. Ouvir as notícias ou uma musiquinha também impossível. Acordei no meio do silêncio. Nenhum aparelho em casa funcionava. Assim nada funcionará. O país, digo.

Mas a testinha do testa de ferro, suponho, deve estar tranquilamente fria. Afinal, a culpa é das Câmaras Municipais que não pagam as dívidas, do Governo que não faz os investimentos, dos larápios que roubam a energia, da chuva, do vento, de Deus! Ele, finável humano, só está ali aguentando as pontas e oferecendo a testa para se bater, como estou batendo agora.

20.10.09

Criar, Crescer

Terminou as nossas 20 horas de workshop de escrita criativa. Vou sentir saudades do grupo de trabalho mais interessante que já participei nos últimos tempos. Ana fala como que a cantar canções de embalar e dá-nos a mão como quem ajuda os bebés a andar e diz: muito bem, muito bem! Mamãs e filhotes participaram do mesmo evento e escreveram textos terrivelmente ousados, tipo “viagem de cocaína”. Lemos textos de inocente candura, mas também de “putas e bardamerdas”. Mamãs e filhotes, a princípio naturalmente encabulados, no final faziam parte de uma mesma irmandade em que, as palavras não são nossas, são da vida.

Sim, quem escreve dá voz à vida, a nossa própria incluída. Vidas são belas e imperfeitas, tem estórias bonitas e outras nem tanto, mas essencialmente a vida é repleta de estórias. Saber contá-las pede técnica e, sobretudo, pede ousadia para infringir leis, despir-se de moralidades banais e deixar brotar, descaradamente, a emoção criativa. No final, mamãs e filhotes, brotavam juntos essa mesma emoção, alegres e cúmplices, como numa roda de dança. Quando uma dezena de pessoas partilha as suas tantas experiências, o resultado são centenas ou milhares de outras novas experiências.

No final, a família estendeu-se.

19.10.09

ABRIASPAS HOJE

Acção performativa sob o tema genérico “o Campo do Chão Bom”, com performers músicos e todos que queiram participar, apoiado no conceito “manta energética caótica orientada”.

Fundação Amílcar Cabral, 18h30. Apareçam!!

17.10.09

Consciência Ambiental

Cabo Verde é um país tropical seco e a cidade da Praia está povoada de aparelhos de ar condicionado que gotejam água pelos passeios.

No próximo dia 24 vamos fazer um ECO-RALI como uma manifestação pública de sensibilização para a problemática ambiental global.

Todos estão convidados a participar!
  • Às 10h00 do dia 24 de Outubro haverá uma concentração na Fundação Amílcar Cabral, Plateau, Cidade da Praia, Cabo Verde.
  • Serão distribuídas plantas cheias de sede à procura de uma gota de água.
  • Os participantes terão que encontrar uma goteira-de-ar-condicionado na cidade para colocar a planta sedenta.

Este evento enquadra-se numa acção global em 155 países. Visitem este sítio: http://www.350.org para conhecer a iniciativa

NU DJUDA PROTEJI NATUREZA! NU POI KABU VERDI NA MAPA DI KONSIENSIA AMBIENTAL!!

Este evento é dirigido a TODOS, de TODAS AS IDADES! APAREÇAM!

* se possíveis venham a pé, de bicicleta, autocarro, skate, patins ou, se tiver MESMO que ser, traga o carro cheio

Agora mãos à obra!!!!

Precisamos da vossa contribuição para que este evento seja um sucesso e para isso contamos com todos para:

  • mobilizar o máximo de pessoas/instituições/empresas para esta causa
  • entregar pelo menos uma planta até o dia 22 de Outubro*
  • sensibilizar a vossa entidade patronal para se juntar a esta causa. mobilizando, divulgando e oferecendo uma ou mais plantinhas.

Sugiram, Opinem, Critiquem, Façam Propostas... AJAM!!!!

É JÁ NO DIA 24 DE OUTUBRO... FALTAM APENAS 9 DIASSSSSSSSS


Fundação Amílcar Cabral
Rua Andrade Corvo, Em frente à Procuradoria Geral da República
aberto entre as 10h e as 21h de segunda a sexta-feira
O filme Inglorious Basterds de Quentin Tarantino está no cinema da Praia!!! Que luxo! Que bom!

Boas Novas!

Mito Elias apresenta NÓ DI SULADA
8 vídeo-postais do reino de Mare Calamus.


22 de Outubro 2009 às 19:00
WMDC (World Music & Dance Centre) - Roterdão - Holanda

16.10.09

Semana Capital

De segunda a sexta acontecem coisas, uma mudança de era quiça. A cidade pulula esses dias. Uns andam a partilhar gostos, saberes e experiências literárias no excelente workshop de escrita criativa, outros discutiram sobre arte, prisões e prisioneiros no ABRIASPAS, acontece uma feira de livros aqui, um bar novo ali, ontem, na quinta-feira, assistimos a um potente filme documentário intitulado "Why We Fight" no clube Voz Di Povo, as pessoas estão inspiradas, combinam-se obras colectivas, criam-se projectos e a vida vai ganhando uma espiritualidade diferente nesta cidade. Estou amando!

Amanhã há dois concertos que parecem interessantes ambos: um de um artista do Madagáscar chamado Mikea, outro de Pedro Jóia, de Portugal. Ambos exactamente à mesma hora. E isto é um dos muitos sinais de uma programação cultural desconcertada. Há muito que vemos dizendo: é preciso uma programação cultural para a cidade, em que todos os agentes contribuem. Este é um papel que a Câmara podia fazer e a cidade ficaria agradecida.

Enquanto isso, longa vida para a cidade da Praia, que me tem muito ocupado esses dias, logo feliz.

15.10.09

Aos ofendidos

Acho sempre piada as pessoas, sempre bem protegidas pelo anonimato, que se ofendem com os assuntos. Ou serão as próprias pessoas visadas nas críticas, ou serão próximas, do partido ou simplesmente fãs que acham que devem proteger o seu ídolo de, vamos dizer, bocas. Vejamos.

Uma pessoa com responsabilidades públicas quer dizer que se ocupa do público, ou seja, de nós. Normalmente tem o salário pago com o nosso dinheiro e as suas acções nos implica directa ou indirectamente. As suas decisões têm consequências felizes ou infelizes para as nossas vidas. Aos Ministros, por exemplo, não se lhes critica que tenham determinadas benesses, porque realmente estão num cargo que deve ser bem remunerado, com dinheiro e outras espécies. Mas os Ministros são os responsáveis políticos de primeira linha. Tudo o que me implica, a mim e ao meu país, tenho o DIREITO e até o DEVER de criticar, como tenho a OBRIGAÇÃO de pagar impostos e cumprir com as leis do país. É assim o jogo, pelo menos nessa coisa que denominamos de DEMOCRACIA.

Continuo a achar piada: se as nossas palavras e não valem nada, então para quê se dar ao trabalho de comentar, ainda por cima com toxicidade? Se incomodam, alguma coisa de valor terão com certeza. Ou será isso tudo um deficit de cultura de debate? Já imaginaram um contra-informação em CV? Certamente desistiríamos da democracia.

14.10.09

Medidas Make-Up

(imagem a partir de notícia in A Semana, 9/10/2009)

Cabo Verde precisa de 80.368 novas casas para garantir “Casa Para Todos”. O Governo vai construir 8.650 até 2013. Neste caso faz sentido uma ligeira mudança no nome do programa para “Casa Para Um Décimo de Todos”. Se acontecer (que fique claro que não auguro isso) que este Governo perca as eleições em 2011, ou seja, a faltar 2 anos para 2013, então o programa será “Casa Para Um X (menos que 10%) de Todos”. Espera! O Governo vai construir casas?

A coisa é assim: o Governo de PT, nosso amigo de peito, vai emprestar ao Governo CV cerca de 200 milhões de EUR, equivalente a 22 bilhões de CVE...Isso é metade do actual orçamento do Estado CV! Muita massa. Depois, com os Bancos e as Construtoras locais, que são todas de capital PT, o Governo arranja as suas famosas adjudicações sem concurso para a construção dessas casinhas. Num lance verdadeiramente de glamour, os Governos de PT e CV agitam um pouco as suas economias, para além de ficar bem na fotografia, mas o resultado real dessa maquilhagem toda é a resolução de 1/10 de um problema gigantesco, enquanto que, estruturalmente, tudo continua igual: graves desequilíbrios no ordenamento do território; especulação imobiliária criminosa; acesso ao crédito proibitivo para a maioria da população; legislação de far-west; concorrência desleal entre as construtoras; falta de estímulo à indústria local de materiais de construção o que leva à importação de tudo, de pregos a vigas;…enfim.

O Governo não construi casas; o Governo regula o sector. Se já repararam, o maior problema à habitação neste país não é a pobreza, porque a maioria das construções clandestinas é feita de ferro e cimento e muitas vezes são prédios! O problema é de um sector selvagem, onde, para o interesse dos negócios, não se mexe, maquilha-se.

13.10.09

Abriaspas #2

Depois da apresentação de clips de vídeos sobre o campo do Tarrafal (passado) e alusivo ao Guantanamo (presente), fica a pergunta: “O lugar do prisioneiro ideológico, e da prisão, na relação com a criação artística?”

Bem, ontem não pude ficar para ouvir o debate até ao fim, mas tenho uma opinião sobre isso. A arte é fúria e catarse. Um homem sem fúria e paixão é um homem apático, sem força motora e sem motivação. Esta noção é extensível a toda a sociedade que deve reagir, na minha opinião, sobre os factos da sua história e da sua vivência diária. Temos de amar e odiar. Um homem convicto e transformador é feito disso. A temática é violenta, suja e traumática mas aconteceu e vive algures escondido dentro de nós. Existe e suja-nos. A sua transformação em arte é ao mesmo tempo cura, libertação e…criação.

Sempre achei bonito fazer arte (por definição o estético, o belo) a partir de lixo, neste caso lixo espiritual. Parece uma parábola: o destruidor suja e causa dor; o criador revitaliza a vida e faz o belo do horrendo. A arte é o reverso da estupidez.

O testa de ferro

(Imagem a partir de notícia in A Semana, 9/10/2009)

Antão Fortes, o Presidente da Comissão Executiva da Electra, é o testa-de-ferro ideal. Batem-lhe todos os dias, seja dos utentes pobres, desgraçados e torturados por uma falta de electricidade atroz, seja das empresas, que segundo este gestor tem mais é que comprar os seus geradores em vez de estarem a distribuir dividendos, seja dos fornecedores que em justa causa querem ver a cor do dinheiro, seja dos credores…o homem apanha de toda a parte. Ainda tem que aguentar os seus próprios técnicos corruptos que fazem ligações clandestinas e vendem material da empresa, eles próprios. Ainda tem que aguentar com o facto de ter o pior atendimento público do país. Numa palavra, provavelmente, a pior grande empresa do país. Mas o homem nada pode fazer, nem para remodelar a organização, nem para colmatar os graves problemas de tesouraria e nem pode sonhar com os avultados investimentos necessários, porque tais montas estão ao nível do investimento público, que tarda e nem promete.

Electra é a materialização do fracasso energético do país. É também o exemplo vivo de falência de empresa pública (como os TACV). Antão Fortes está no meio de uma sucata, sem dinheiro, atacado por todos os lados e sem uma mãozinha do Governo. Impávido e sereno, faz a gestão do stress, blindando na perfeição o Governo, o verdadeiro fracassado nesta estória de Energia. Fico a pensar: o que motiva um gestor que sabe que nunca vai poder melhorar a sua empresa? Ponho a pergunta de outro ângulo: o que motiva um gestor que sabe que a sua vida, enquanto estiver nessa empresa, será só apanhar?...Não é testa-de-ferro; é soldadinho de ferro.

12.10.09

ABRIASPAS HOJE

Video (de curta-duração) inicial seguido de conversa temática: o lugar do prisioneiro ideológico, e da prisão, na relação com a criação artistica.

Apareçam! Fundação Amílcar Cabral, 18h30

9.10.09

Semana Capital

Na segunda-feira abrimos ABRIASPAS na Fundação Amílcar Cabral, um espaço de arte e poesia, como o denominamos. Ao mesmo tempo começou o workshop de Escrita Criativa, com um grupo adorável de pessoas dos 30 aos 60 anos. Ana trata-nos como bebés, cuidando de cada um individualmente, percebendo como cada um sente as coisas, dá-nos força e um tau-tau quando é preciso também. A cada dia a sua paixão enche-nos também de paixão pela literatura e pela vida, afinal.

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Para além da livraria Nhô Eugénio, o Café Tertúlia na Fundação Amílcar Cabral tornou-se um dos meus sítios favoritos para ir durante o dia e mais precisamente ao almoço. É o único lugar de Cabo Verde onde a comida vegetariana é dominante. Para além do bom gosto e do espírito do lugar. Beijinhos às minhas queridas Samira e Nice. O Clube Voz Di Povo tornou-se outro dos meus sítios favoritos, desta vez para a noite. O espaço é agradável e vão lá pessoas frescas da cabeça. Ontem passaram o documentário “Super Size Me”, que odiei, que não invalida o facto de ter gostado do serão da quinta-feira, de resto um dos dias mais perigosos para se sair à noite porque é inexplicavelmente sedutor, sempre.

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Decorre a exposição da minha amiga Soizic no CCF. Tá lindo, vão lá ver. Hoje temos noite de Flamenco, para além de tocatina no CCF e mais outros deliciosos pecados por esta capital. É claro que essa dinâmica se decorre sem um dedo de instituições públicas. Imaginem o que não seria esta cidade com a sua participação!

7.10.09

Abriaspas#1 - a performance



Até ao final do mês vamos estando construindo um pequeno discurso à volta do tema da prisão, do prisioneiro, da liberdade, da falta dela e de factos associados aos campos de concentração/detenção.

Próxima acção: Segunda-Feira, 12 Outubro, FAC, 18h30

6.10.09

Abriaspas #1

Imagem: PCP

"O campo do Tarrafal, inaugurado em Outubro de 1936, foi inspirado nos campos de concentração nazis, que Hitler nessa altura começava a montar na Alemanha e depois estendeu, como campos de extermínio, por todos os países ocupados pelo exército nazi."

Inauguramos ontem o ABRIASPAS com um tema forte, com pano para muita manga: O campo do Tarrafal, conhecido como o campo da morte lenta. Cresci ignorando inteiramente essa realidade, como ignorava mais outros tantos aspectos da nossa história e ainda muitas mais gerações vão continuar a ignorar a história, a avaliar pelo andar da carruagem. À medida que vou ouvindo sobre o campo do Tarrafal, vendo filmes, lendo artigos e tomando conhecimento da profundidade do horror que por ali passou, vou ganhando um sentimento que aquele campo precisa ser sacralizado e, como disse um amigo meu a ver o filme do João Paradela, devíamos fazer silêncio ao pisar aquele espaço...esse espaço que um dia o Ministro da Cultura disse na televisão, por altura do altura do "Simpósio Internacional Sobre o Campo de Concentração do Tarrafal", Abril 2009, que "devíamos transformar estas casinhas em residências turísticas" (!!!)

O objecto artístico que sairá do ABRIASPAS deste mês será uma pequena homenagem ao horror que viveram os nossos povos sobre o domínio do nazismo/fascismo/colonialismo. Leiam o artigo indicado, no site do Partido Comunista Português, que é muito elucidativo, embora falte a parte dos africanos...mas isso minha gente já é trabalho nosso...em vez da casinhas turísticas.

NOTA POSITIVA: As pessoas que apareceram e ofereceram as suas visões, histórias e energia

NOTA NEGATIVA: O desinteresse inexplicável de artistas, jornalistas, estudantes, investigadores e intelectuais de uma forma geral. O trabalho que temos estado a insistir é assim tão desprovido de interesse?...Duvido.

4.10.09

Corações precisam-se

imagem: Hugo Miguel Coelho

Acontece esta segunda (5 Out) a primeira acção do ABRIASPAS, com uma instalação audiovisual a ser produzida praticamente no momento. Pedimos a todas as pessoas que tem um instrumento musical, uma câmera fotográfica digital ou uma câmera de video, mesmo que sejam dessas de telemóvel, que apareçam e participem desta "provocação", e ao público em geral que apareça, ouça, pergunte e comente.

Sobre o tema, "O campo do Tarrafal", as discussões podem assumir várias formas, mas todas serão, do meu ponto de vista, um exercício sobre o nosso grande desconhecimento deste campo que existiu, na mesma medida que existiram outros campos de concentração, torturou, humilhou e matou gente de forma bárbara, mas ao mesmo tempo não existe na consciência de muitos, para não dizer a maioria, dos nossos povos que atravessaram pesadas décadas de Fascismo.

Fundação Amilcar Cabral, 5 de Outubro, 18h30

Lições de Hitchcock

"Vertigo" é considerado por muitos a maior obra-prima de Hitchcock e um dos filmes mais marcantes do séc.XX. É de facto um filme impressionante. Tudo é de mestre. Os cenários são sempre os sítios magníficos de Hitchcock, as mansões bizarras, as igrejas, os cemitérios, os museus, a fotografia é expressionantíssimo, a música do indispensável companheiro de estrada do mestre, Bernard Hermann, é metade do filme e talvez a mais potente que escreveu na sua carreira. Mas o que mais e sempre chama a atenção nos filmes de Hitchcock são os argumentos fortíssimos todos centrados em histórias profundamente humanas. Como disse Martin Scorcese a propósito de Hitchcock, ele se mantém o favorito de muitos porque fez filmes sobre nós, as nossas vidas, sofrimentos, angústias e dramas. Além disso fê-los com uma mestria técnica que catapultou a linguagem do cinema para níveis de elevada elaboração.

1.10.09

Depurem-se!

www.centerblock.de
Vá, terminem com esta porcaria! Para defecar experimentem a casa de banho que também serve para vomitar enquanto que descarrego de frustrações é coisa de implantação mais profunda e requer aqui mais consideração. Passa um tipo a ostentar sorriso de felicidade e, paf!, apanha com um estalo porque acontece ser da cor errada ou estar no sítio errado ou estar na hora errada, mas essencialmente porque ostentou felicidade diante de um ser enturvado de frustrações sabe-se lá de que cargas.

Agressões acontecem sempre assim em momentos e lugares que em condições normais não tinham que acontecer. E apanham sempre os que em teoria se pode bater sem o perigo de se apanhar de volta com força que fique o queixo a doer e o orgulho a doer ainda mais. E agridem sempre os que em teoria estão investidos de uma força qualquer ou defendidos por detrás de um escudo qualquer, seja de ferro, de madeira ou de distância, de máscara ou de anonimato. O facto é que o acto da agressão provoca alívio temporário de agressor sem o tirar da sua condição de amargo.