25.11.09

Quinta-Essência

Um deputado manda o outro aquela parte, o outro responde com ameaça de porrada, os dois andam por ali a engalfinhar-se, a imprensa e os coleccionadores de baixaria tratam de espalhar o acontecido pelos quatro pontos cardeais, não se fala de outro coisa nos cafés. Olvidamos completamente detalhes como, tratarem-se de deputados da Nação, por definição representantes do Povo no mais importante órgão de soberania de um Estado Democrático, que é a sede da Legislatura, são cidadãos respeitáveis (?), profissionais, pais, avôs.

Em vez de nós nos indignarmos em bloco com os dois malandros, andamos a tomar partido para uns e para outros. Há momentos na vida que nem família tem razão. Mas por cá, esse género de coisas é quintessencial, dá uma repintada na monotonia dos dias, acorda-nos do enfadonho das obrigações, atiça os selvagens que dormem dentro de nós, geram um mar de piada, coisa que mais o crioulo gosta de fazer, contar piadas. Eu não achei piada. Os dois deviam ter vergonha de ostentar os títulos que ostentam. E nós devíamos ter vergonha de não ter vergonha de nada, nem de lixo, nem de cocó, nem de cólera, nem de dengue, nem de deputado baixo nível.

2 comentários:

Et disse...

Alguns "coleccionadores de baixarias" limitam-se a coligir, trabalhar e partilhar abaixarias de forma profissional. Coleccionador não é profissão, mas o que dizer a aqueles que coleccionam com interesse especial, até papel di dropis? "São cidadãos modelares". Voltando aos “malandros” e maladrinhos, esses merecem mais e melhor estampa porque veiculam “Es mural di leti, kabritu, barbitxe, kabra ki ta mama kabesa, ikonumia di pesoa di família, es otu kabra ki ta nhami dinheru… i Bioku/escolinha”. Neste registo pode-se a partilhar a língua e a cultura, e porque não enjeitar o conteúdo/contexto?

Pss disse...

Nós até na "baixaria" somos pequenos. Até na baixaria não conseguimos fazer nada bem feito. Num pais à sério como a Coreia do Sul ou Japão (sim nesses países onde TUDO é levado a sério, inclusive a baixaria!) a coisa descambava para porrada, socos, cadeiras a voarem, deputados-karatecas a entrar em acção... ! A imagem passa pelas televisões do mundo desde de CNN á TCV toda a gente ria um bocado, o deputado que insultou pensará duas vezes antes de fazer o mesmo, nada garante que não haverá mais uma sessão de pugilato. Os deputados que levaram vão fazer uns curativos. No dia seguinte, depois do duelo apertam-se as mãos e voltam ao trabalho (também à sério!). Isso nos parlamentos a sério. No nosso caso: vão para lá é só gente fina, gravatinha, fatinho a luzir … . Gentnha que fica com tudo entalado. Com vontade de falar mas não diz nada. Depois ficam todos com joguinhos infantis de puxa-puxa. Com brincadeirinhas pueris do diz-se-que-diz-se, "deputado ofende outro"."idiota xpto exigiu pedidos de desculpa", "deputado pateta-alegre tomou a palavra para defender a honra da sua bancada". E fica-se nisso eternamente.