31.12.09

Dias 4,5 e 6 - Holá!

Quem vai para o sul das ilhas Canárias, saindo de Las Palmas, é como quem sai da Praia para ir ao Tarrafal, até na distância: é uma viagem da cidade, centro de negócios, para uma região de turismo clássico. No sul, o ar, o chão e o mar, estão impregnados de Turismo. Tudo é virado para o Turismo, tudo! Campos de golf aqui e ali, no meio da rocha (que isso sim é igualzinho o nosso país), milhares de residências a acompanhar a orografia do lugar, várias marinas, milhares de turistas, praias repletas, nenhum vendedor ambulante a atazanar a vida de cada qual, imensos restaurantes, bares, empregados frenéticos a distribuir o idiomático "holá!". Clientes são tratados como clientes, ou seja, como pessoas que querem um serviço e estão dispostos a pagar por ele.

Sobre o Turismo aqui, o que me chama atenção é o seguinte: o Turismo está integrado com as cidades, sejam elas mais de negócio, ou mais puramente de lazer, a cidade está presente. Ou seja, para além desses horríveis hotéis-fortalezas, que são do mais separatista que há, existe um serviço de Turismo que é acedido tanto pelo turista que veio em pacotes, ou aquele que veio de carro dar uma volta, como ao habitante das outras cidades que querem ter um fim-de-semana na relax, ou à população local que quer desfrutar do seu próprio lugar. Em Cabo Verde o que está a acontecer é seguinte: deixem os operadores construírem os seus hotéis-prisões como queiram, mas os Governos (Central e Locais), por favor que se concentrem no desenvolvimento das cidades para onde estamos a chamar o Turismo. Santa Maria é um exemplo que isso não aconteceu e não está para acontecer. Ou está?

30.12.09

Dia 3 - Tiques

Se fossemos uma região ultra periférica, como é denominada as Canárias, mudaríamos de roupa e sapatos a cada estação nas lindas lojas Zara, Cortefiel, Massimo Duti, Clarks, e mais uma data deles. Teríamos uma casa IKEA desde o tapete na porta de entrada até à vassourinha que limpa o cocó da sanita. Teríamos um carro novo a cada 4 anos. Teríamos uma dezena de marcas de cereais para o pequeno-almoço, os meninos estariam a engordar no McDonalds, os adolescentes passariam o seu tempo a comprar novos jogos de consola. Quem tivesse a sorte de ter um bom emprego poderia inclusive comprar um Porche! Isso tudo é possível nas Canárias. Claro que toda essa economia assenta-se num equilíbrio muito frágil, que incita ao consumo constante, a maioria a crédito, que ao mínimo abalo dos mercados, a coisa pode despenhar-se, como ficou demonstrado pela recente crise. Todavia, isto daqui tem toda esta opulência comercial, que até me intriga pela dimensão da sua população (cerca de 2M), mas é que o Turismo é uma fonte de rendimento a sério aqui.

Se fossemos uma região ultra periférica, com muita força de vontade e carácter de espírito, optaríamos por ver os museus, as galerias de arte, visitar as populações mais afastadas, passearíamos na linda avenida marítima, teríamos umas tantas opções de desporto e seria possível fazer um turismo interno de qualidade, a poucas horas de carro ou autocarro. Porque isto tudo também é possível nas Canárias. A questão do desenvolvimento das cidades mais avançadas é que, ao lado da loucura comercial, onde uma pessoa é convidada a cada passo a comprar, comprar e comprar, existe uma oferta de qualidade de actividades relacionadas com a Natureza e com a Cultura. E não é o que temos pedido para a nossa terra? Desenvolvimento com respeito pela Natureza e pela Cultura. Embora esteja a achar que esta vertente nas Canárias não é de todo exemplar, mas pelo menos já existe essa consciência e as estruturas vão sendo mudadas, para permitir mais Energias renováveis, mais espaços amplos de lazer, mais vias pedonais, enfim, mais conforto para as pessoas. Estamos a tempo de não estragar...embora ache que temos que estragar para aprendermos que estamos a estragar.

28.12.09

Dia 2 - Noite

Para mim a noite ilustra o cosmopolitismo das cidades e tenho a tendência em gostar mais ou menos dos lugares de acordo com isso. É quando passamos de turistas (seres desprovidos de interesse, que observam à distância) a visitantes, com estórias para contar do nosso país, com os nossos gostos e descobertas. É onde sabemos dos detalhes que não vem nos guias turísticos, conhecemos os habitantes reais, os artistas, a gente divertida, que conhece os cantinhos da cidade, os seus suores, as suas palpitações. É quando começamos a destruir as nossas ideias pré-concebidas do lugar, isso se tivermos a coragem de comunicar com os autóctones, claro.

Comparo cada detalhe com a minha cidade da Praia. Para quando teremos uma zona boémia, onde estarão restaurantes bonitos, de bom gosto, especializados, bares bonitos, pubs, ruas agradáveis, seguras, que convidem as famílias a sair e a fazer da nossa cidade um lugar com gente, que se cruzam, que contam estórias, divertem-se e recriam a cidade? O Plateau é o candidato natural. Tem tudo o que essas baixas dessas cidades cosmopolitas tem, ou tinha, já que as lojas chinesas quase levaram tudo, e o que não levaram destruímos com as nossas próprias mãos. Uma pergunta: porquê que, as lojas chinesas em outras cidades são lojas com outras qualquer e na nossa cidade pilham completamente os edifícios?

26.12.09

Dia 1 - Viagem

O boeing dos TACV cheira mal e tá roto. Dá pra acreditar que os braços das cadeiras estão remendadas com fita adesiva?! E os estofos rebentam pelas costuras?! Não houve televisão e a generosa refeição foi substituída por uma sandes, mas isso acho muito bem, já que todas as companhias do mundo fazem economias, porque não a nossa? O pessoal de bordo foi o melhor. Entretanto senti aura de pobreza. Pobre TACV!

Quem teve a ideia de comparar as Canárias com Cabo Verde? Calminha compatriotas, que há muito que temos que fazer. Pelas Infraestruturas temos um quadro imediato de comparação entre os países. Isto daqui é um GRANDE aeroporto, onde estão estacionados dezenas (disse dezenas!) de aviões, tem uma enorme gare e todos os requintes de grandes aeroportos. As estradas até a baixa falam por si: múltiplas faixas, pontes, rotundas, iluminação, sinalética e muitos carros indo e vindo. Todas as grandes superfícies tão cá, que também dá a dimensão da coisa: IKEA, Media Mart, Carrefour, etc.

Em relação ao Turismo, a tal coisa que falamos, falamos, falamos, mas não há meio de termos uma política clara para o sector, aqui podemos ter boas referências. Cá pra mim a maior referência é esta: se decidimos que Turismo é a nossa grande aposta também, há uma coisa que temos que começar a fazer: falar a sério.

Aparentemente temos todos os potenciais para aspirar este nível de desenvolvimento, até porque estamos nas boas graças da União Europeia e dos Estados Unidos, mas temos que encontrar um meio de engajar mais a sociedade. Definitivamente temos de parar de ser pequenos de pensamento e discutir em conjunto as vias mais adequadas. A começar por muito juizinho em 2011 (eleições nacionais).

Dia 0 - Férias

Tempo de interromper a rotina diária, das coisas que já se faz automaticamente, para mudar, ver outros lugares, pensar livremente e, talvez, mudar de rumo. 2010 parece-me simbólico suficiente para pensar em mudanças. O meu maior desejo é ver a vida cultural da minha cidade a florescer. Tenho bons feelings.

24.12.09

Quinta-Essência

Vou de férias!!!.

Para o novo ano, novas perguntas, novos desafios. Durante as férias será tempo para reflexão e, claro, muita paródia. O novo ano, dizem, vai ser rico em Cultura, porque atingimos a responsável idade de 35 anos. Tomara que se repita o magnífico Kriol Jazz, também espero ver a Bienal de Dança, pessoalmente vou trabalhar em outras coisas inéditas, quero ver um bom Teatro, já se faz um Audiovisual por aí, Bento Oliveira está na Praia, gostaria de ver a minha idolatrada Luísa Queirós e Manuel Figueira, quero ver mais quadros pretos de Tchalé, este ano foi rico em Música, 2010 quero mais, a Literatura teve um grande ano, mas escritores novos já se fazem necessários. O nosso ministro da Cultura é que continua uma tocha apagada, a gastar os recursos do Estado em salário, combustível e outras benesses, a leste de todo o sector que tem em mãos para gerir.

O novo ano, dizem, vai ser de luta política, com pau, pedra e o que estiver à mão. Vamos conhecer quem afinal são amigos e quem são inimigos. Vamos ver a cara da ambição e os meios que se utilizam para a cumprir. José Maria Neves vai estar incrivelmente charmoso e Carlos Veiga vai estar incrivelmente raivoso, tá visto. Os jotinhas vão ser ministros em 2011. Em 2010, devem treinar os tiques de discurso, comprar fatos novos, gravatas giras e actualizar os sapatos. Nunca comprem meias brancas, por favor, aliás acho que nem se vende mais. Serão ministros iPod, iPhone, televisão a cabo, com gostos bem mais caros. Já prediz o meu compadre, é possível que os Tuaregs entrem para o próximo Governo. Lindo país pobre!

O novo ano, proponho à malta do visual, vamos discutir mais a arte contemporânea, a nossa. Podemos ter uma, não podemos? Ou se calhar nem falemos em Arte Contemporânea, porque já se fala numa nova etapa, que se chama de Arte Alter-Moderna, onde os novos médias jogam um papel central. Pois, com os novos médias, temos mais oportunidades, em termos económicos, mas em termos mentais ainda precisamos trabalhar muito. A Universidade de Cabo Verde precisa acertar com os cursos de Arte, senão, mais uma vez, a nossa conversa da Arte continua a ser essa paupérrima produção que vemos por aí. É duro fazer a Arte, sem referências (ou só com as externas) e sem ambiente de produção, discussão e competição.

O novo ano será o ano do início do fim da crise (espero). Gosto de crises, porque são oportunidades de rupturas, mudança de direcções, sacudimento de poeira, redefinição de paradigmas e escolha de novos parâmetros. É só ter coragem.

Um excelente Novo Ano a todos. Ousem mais, berrem mais, queiram mais e FAÇAM mais.

23.12.09

Quarta-Parede

(Perguntaram-me o que é quarta parede. No teatro é a parede imaginária que separa o palco do público. Significa pois a linha imaginária entre a ficção e a realidade. Os espectadores e os actores criam em suas cabeças uma ilusão de realidade na encenação. Quando se "rompe" a quarta parede costuma resultar em efeitos interessantes, quanto baste, claro. Quarta parede aqui significa a mesma coisa: a linha ténue entre a ficção e a realidade)

Se nos derradeiros anos Filú, anos de delírio, o Natal assumiu proporções de espectáculo, este ano de Ulisses, por ter criticado tanto os excessos de Filú, poupou tanto nos adereços que o Natal na cidade está para lá de mixuruca. O problema é que, para compensar esta pobreza, criam-se umas pequenas aberrações, como é o caso de uma feira (se é que se pode chamar aquilo de feira) de artesanato em frente à Presidência da República (atentem bem onde: Presidência da República!). Para mim é o seguinte: ou não se faz nada, se a onda é poupar, ou quando se faz, vamos ter um pouco de - não é pedir muito - bom gosto!

Depois passei em outra pseudo-feira no Palácio da (in)Cultura. A falta de senso de bonito é de bradar. Mas já disse um dos meus amigos arquitectos: somos geneticamente de mau gosto visual. Aliás este é um assunto que pode ser tratado na rubrica "Quinta-Essência", de como a nossa Cultura tem uma componente visual tão fraca. Somos bons de música, bons de literatura oral, bons de outras coisas, mas visualmente somos uma lástima.

Fora do Plateau então, a cidade não existe. Fico a perguntar-me, entre os megas projectos para a marginal da Praia, a intenção (esmorecida) de criar ruas pedonais, as grandes promessas de Ulisses de um cidade cosmopolita, para quando na verdade uma cidade à medida dos seus habitantes. É que na Praia vive a maior parte dos quadros formados do país, muitos intelectuais, a maior parte dos professores universitários, todos os dirigentes políticos, toda uma sociedade de pessoas refinadas, que vivem exclusivamente no círculo das suas casas. Parece que não se incomodam com esta pobreza de espírito que envolve a cidade e nem contribuem a ponta de um corno para que algo mude. Enfim, é sempre a velha estória, entre o que imaginamos ser e o que somos na realidade, vai uma parede muito grossa.

22.12.09

Terças

Pai
Juro que acho estranho esta altura do ano, aqui em Cabo Verde. Acho particularmente uma piada os Pai Natal, vestidos a rigor (que tecido é aquele, lã, flanela?), de enorme barba branca postiça, botas, gorro e tudo o que (acham que) tem direito. Da neve então nem falemos. Como a natureza não vai em modas, não vira inverno onde não é de virar, ontem fez tanto calor, que queria ver até onde esta alienação estúpida podia aguentar. Mas de certeza que havia algum Pai Natal por aí a sofrer, porque sofrer é preciso para imitar os outros. O Zema é que tem aproveitado e vai andando por esses cutelos distribuindo a sua benção às criancinhas, velhos e desfavorecidos. Consigo até ver a sua mão reverenda a pousar providencialmente nas cabeças coitaditas.

Filho
Esses meninos estão bem diferentes dos meninos que fomos. Mas também eu fui bem diferente do que o meu Pai foi. Isso deve ser desenvolvimento, creio. Vejo os de agora EXIGIREM determinados brinquedos aos pais, que no meu tempo nem havia para comprar. Víamos na televisão, mas os meninos agora vê-nos nas prateleiras, aliás podem até tocar e experimentar e os vendedores fazendo as demonstrações. Fiquei como um tótó a ver para um helicóptero que voa a sério! E o pessoal da Saúde emitiu um alerta aos pais para terem critérios a escolher as prendas aos meninos, tais como evitar muita arma. Bravo! Só que ninguém irá escutar estas súplicas.

Espírito
À parte a irritação comercial do Natal, convenhamos que é uma altura que abre os corações. Adoro o jantar com a família. Amo os encontros com os amigos e este ano até o pessoal fez trocas de prendas com amigos secretos, guloseimas, um vinho a rimar, música e boa disposição generalizada. Bom espírito realmente. É preciso esquecer um pouco o mundo cruel e encontrar momentos como esses, de alma. É preciso, para mim pelo menos, fazer um grande esforço para não me irritar profundamente com esta data, que enriquece os comerciantes, engrandece as Igrejas e deixa os pobres a parecer mais pobres e à margem da quentura, do riso e da alegria dos lares que podem.

Resta-me desejar Paz, que é o minério mais valioso do mundo.

21.12.09

Segundas-Versões

Com semelhantes irritantes e absurdamente longas horas sem electricidade, não há boa-vontade que aguente! Tive de Sábado para Domingo sem luz em casa. Tou hoje sem luz no trabalho (embora o motor). Chega, chega, chega!

As negociações prosseguem para um grande consórcio para a Electra, onde o nome do INPS vem à baila. Muito bonito, li com atenção as boas intenções do Governo, mas eu só tenho uma questão: projecto? Onde está o projecto, apresentação pública, documentos para consulta pública, etc.? Muito queixamos de participação da sociedade na vida pública do país, mas há que dar espaço. É que os dirigentes já decidiram que é bom (enquanto a Oposição já decidiu que é mau), mas no entanto não oiço a sociedade. Qual é a opinião da Ordem dos Engenheiros? O que pensa a Pró-Praia? Que pensam os economistas (para além do achismo que li no jornal)? Será mesmo uma segunda versão da Electra ou será a mesma versão com mais dinheiro para (literalmente) queimar?

Na Quebra-Canela levanta-se um monstro de betão em cima do mar, que fere qualquer princípio de estética, ambiente, urbanismo, para além de abrir o precedente que vai permitir toda a absurdez naquela zona. Sociedade calada.

Sociedade de burros!

17.12.09

Quinta-Essência

Ainda ontem comentamos, nós não nos juntamos por nada que há! O nosso prédio poderá desabar que os condóminos, quem nem devem ser chamados de tal, porque como tal não se comportam, nada farão. Poderá a cidade ser engolida pelo lixo, a Electra nos deixar sem luz uma semana, os buracos permaneceram no estrada por meses, o homem tirar a pila e mijar à frente dos olhinhos dos nossos meninos, que nada, absolutamente nada, nos move para uma movimentação civil. Viram com a Dengue? Treta pegada. Tava na moda, coisa que até o Primeiro-Ministro saiu à rua, pois não ficava bem todos os bacaninhas também não saírem à rua. E a população, puro susto que provocou um espasmo de comunitarismo, mas de seguida, as coisas continuaram a mesmice, tanto é que tou para descobrir qual dos meus vizinhos teima em pendurar o lixo na varanda! Porra, que cena que me irrita todas as manhãs ao sair de casa!!

Qual a causa desta deficiência grave de consciência de comunidade? Será por nos ter sido negada a cidadania por séculos? Mas então não estará aqui um caso de psicologia social a ser estudada? Uma ponte aqui com a conversa tida com outro ilustre amigo, que falava da falta de seguimento das nossas acções, ou seja, identificamos um problema, fazemos grandes campanhas de informações, e até algumas acções bonitas, mas depois não há seguimento avaliação e replanificação das nossas acções. Será por isso que alguns dossiers não andam nem pra frente, nem pra trás? Neste caso então seria um caso a estudar, mas depois seria de planificar acções com a intenção de mudar este nosso estado de apatia social, do deixar andar, mijar e cagar.

16.12.09

Quarta-Parede

Isso de Carlos Veiga pretender recandidatar-se a Chefe de Governo deste país, tem um quê de controverso. O grande busílis para ele é encontrar um discurso de Oposição que não lhe faça parecer um grande cara-de-pau. Carlos Veiga, para o bem e para o mal, tem inexoravelmente uma tremenda responsabilidade neste país, como tem e terá sempre José Maria Neves. Esses homens tomam decisões que nos mudam definitivamente e quem tem o poder de mexer com a vida dos outros, deve saber que quando abre a boca deve, se não assertar, assegurar-se que não atira qualquer coisa cá pra fora.

Não Dr.Carlos Veiga, Cabo Verde não ganhou um segundo pacote MCA por mérito da "fiscalização" do MPD, até porque este partido conseguiu uma coisa inédita no passado que foi desacreditar o país face à Comunidade Internacional. Tenho a certeza que não se esqueceu por isso não nos faça de trouxa, e nem se faça de cara-de-pau. A César o que é de César. Temos só que parabenizar o governo do PAICV por esta vitória, não querendo dizer que a sua ficha ficou limpa. Este Governo, também, vai tendo grandes responsabilidades em muitos males que padecemos e isso também não esqueço. Política precisa de elevação e isso começa por grandes líderes. Desejamos uma boa Oposição que será naturalmente a alternativa em 2011, mas esta Oposição precisa de se encontrar rapidamente. Até agora tem sido um discurso corrosivo, não colaborativo, nada inovador, completamente esvaziada de visão e sempre, sempre, sempre no encalço do Governo, em vez de se posicionar em frente, num plano novo, que nos dê novas perspectivas também.

Esperava mais, juro!

14.12.09

Segunda-Versão

O meu acto de paridura da KATHARSIS manteve-me fora das lides blogosféricas, mas retomo sempre. Desta vez retomo com uma sensação que o blog já precisa de uma segunda-versão...bem, um novo ano e logo se vê.

Por falar em KATHARSIS, a minha mais recente dedicação, obrigado aos que apareceram, comentaram e deram sugestões para melhoradas aqui e ali. Continuo a perguntar-me sempre o que fará as pessoas saírem de casa. Continuo a querer sempre ter gente nas exposições, para verem e ouvirem, para comentarem, arriscarem uma análise, uma crítica. Continuo a sonhar com a ajuda de jornalistas para, depois de apresentada a coisa, que façam textos, que critiquem, analisem, façam links com outros projectos. Enfim...

Definitivamente, há que encontrar uma segunda versão das coisas. As do momento não tem funcionado muito bem. Muita conversa surda-muda. Muitos desamores sem nenhuma razão aparente. Este faz, aquele outro acha que tá mal feito, mas entretanto aquele outro não faz porque senão este vai também dizer que tá mal feito, assim de seguida. Temos uma visão ridiculamente curta e não vemos que, nem todos juntados, não damos conta dos desafios que estão aí, na cidade, no país, no mundo. Fiz a minha cota parte. Tentei todo o tipo de colectivo e resultou um ano, mas no ano seguinte já apareciam as questões crioulas de identidade de cada qual com as suas própria pessoas, os seus fantasmas e as suas frustrações. Parto solo daqui em diante. Eis uma segunda versão.

Entretanto vão aparecendo segundas-versões de tudo nesta cidade: um delicioso restaurante indiano (dizem, preciso comprovar) a contrariar a mesmice gastronómica por cá; o projecto Paradela a insistir que Cabo Verde tem que fazer cinema (APOIO!); Voz Di Povo que devolveu a dignidade à noite do Plateau; projectos de literatura que vão aparecer no novo ano; os meus amigos do teatro que trabalham como toupeiras; Abraão Vicente a tentar trazer Bento Oliveira para a Praia, um dos mais desconhecidos génios visuais deste Cabo Verde contemporâneo. Falta mesmo é juntar tudo e sair por este mundo fora, de cara levantada, cheios de orgulhos, a dizer para todos, fazemos o nosso. Faltou mais.

10.12.09

É HOJE

A Fundação Amílcar Cabral e a Associação de Jornalistas de Cabo Verde, têm o prazer de a/o convidar para a inauguração da exposição Kathársis, de César Schofield Cardoso, João Paradela e Soizic Larcher no próximo dia 10 de Dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, às 19h na AJOC.

Sinopse
Em Outubro de 2009 nasce Katharsis, um projecto multidisciplinar que nasceu da vontade de explorar através de linguagens artísticas os debates sobre o Tarrafal e o preso político ideológico.
Trata-se essencialmente de uma homenagem a esta condição que infelizmente é actual. Homenageia-se os homens perseguidos, torturados e encarcerados; as mulheres, mães e filhos, esposam e viúvas, filhos, órfãos, vítimas que, estando em liberdade, sofrem o mesmo castigo infligido por déspotas e regimes totalitários.
Katharsis é uma instalação, é o cruzamento entre linguagens artísticas e de olhares dos criadores, um convite à reflexão sobre a condição humana.
Katharsis inaugura do próximo dia 10, dia internacional dos direitos humanos, às 19h na sede da AJOC, Plateau - Cidade da Praia.

Ficha Técnica
Direcção Artística César Schofield Cardoso
Filmes César Schofield Cardoso e João Paradela
Interpretação/Pintura Soizic Larcher
Direcção de Produção Samira Pereira
Co-Produção Fundação Amílcar Cabral e Associação de Jornalistas de Cabo Verde

Hoje a cidade vai bombar!

Expo KATHARSIS, Mostra de Cinema de Direitos Humanos e Concerto Remna. Grande prenúncio de Sexta-Capital

Quinta-Essência

Tem mal escrever como se fala num café ou em casa? O que faz com que a palavra escrita tenha que ser catequética?

É abismal a distância que vai do nosso mundo oral ao escrito. Oralmente, somos faladores, divertidos, sarcásticos, maus, ao passo que quando passamos à escrita somos uma coisa chata, que tem que ser formal, ser sistemática, senão tem classificação menor, não vale. Será por isso sermos paupérrimos de literatura? Pois que, da passagem do oral à escrito, fica-nos o mundo todo pra trás.

Na rua, em casa, no trabalho, na intimidade somos pornográficos a toda a hora, facilmente mandámos à merda, quando não é a mãezinha que entra na conversa sem o mínimo de sacralidade, porra então nem sequer é palavrão. Mas, na escrita somos os pontífices do catolicismo e, sei, as palavrinhas merda e porra já te causaram desconforto, porque é assim, é estranho vermo-nos ao espelho escrito.

Deve ser por isso que, não poucos estrangeiros, tendo primeiro conhecido o nosso país por escrito, pelas nossas belas descrições de morabeza, pelos nossas leis tão avançadas e bonitas, pelo romanceio de histórias suaves e gente castiça, se espantem a sério quando se confrontam com uma grande crueza que somos. E de palavras principalmente.

9.12.09

Quarta-Parede

O post da segunda, que tem a ver com machões que cumprem a sua macheza batendo nas mulheres, precisa de algumas correcções e observações. A primeira observação é que, definitivamente, o tema da Violência Baseada no Género (VBG) é uma lata de porcaria que ninguém quer destapar, daí que o trabalho da ICIEG e campanhas como o Laço Branco sejam tão importantes, para que ao menos se fale no assunto. Da fala até a acções concretas, digo, legislação e isso tudo, vai um bom caminho ainda, porque o tema não é trivial, pelo contrário, está inscrito na nossa convivência social, como estão outras coisas “normais”.

Voltando ao post, ele contêm imprecisões, porque ao que parece os tais vilões identificados em conversa informal, continuam vilões, mas não são da iniciativa do Laço Branco. Ora daí ter causado uma certa polémica, que também ela é interessante: é justo pensar em expulsar reconhecidos agressores, ou pelo contrário, faz ainda mais sentido tê-los na iniciativa, como forma de auto-redenção, como alguém já sugeriu? É justo exigir comprovativos de não-agressão a quem queira se ingressar na iniciativa, ou o objectivo é precisamente ter todos, agressores e não-agressores.

O post teve a imprecisão acima indicada, mas serviu para libertar certas ideias, precisamente porque foi escrita como se de Radar se tratasse, como alguém notou-me. Ficamos a saber, por exemplo, que há pessoas que acham que essas iniciativas são meros “show off”. Serão mesmo ou terão um real interesse social? Enfim, penso que qualquer debate sobre o tema, mesmo com imprecisões, é melhor que debate nenhum, até para banalizar o debate sobre o tema. A impressão que fiquei é que estão todos muito sensíveis quando se aborda a questão. Comments?

7.12.09

Copy&Paste

"Se Cícero ainda vivesse entre vós, italianos, não diria “Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?”, mas sim: “Até quando, ó Berlusconi, atentarás contra a nossa democracia?” Disso se trata. Com a sua peculiaríssima ideia sobre a razão de ser e o significado da instituição democrática, Berlusconi transformou em poucos anos a Itália numa sombra grotesca de país e uma grande parte dos italianos numa multidão de títeres que o seguem de rastos sem se aperceberem de que caminham para o abismo da demissão cívica definitiva, para o descrédito internacional, para a irrisão absoluta.

Com a sua história, a sua cultura, a sua inegável grandeza, Itália não merece o destino que Berlusconi lhe traçou com criminosa frieza e sem o menor vestígio de pudor político, sem o mais elementar sentimento de vergonha própria. Quero pensar que a gigantesca manifestação contra a “coisa” Berlusconi, na qual estas palavras irão ser lidas, se converterá no primeiro passo para a libertação e a regeneração de Itália. Para isso não são necessárias armas, bastam os votos. Ponho em vós toda a minha esperança."

Segunda-Versão

Ouvi dizer, por favor, não pensem que sou dado a essas fofoquices, mas já diz o ditado que onde há fumo há fogo, que alguns rapazes cá do burgo, normalmente muito janotas a circular por aí, andam a descarregar a sua mão masculina em cima da parceira, ou parceiras lá onde for o caso. Ora, até aqui nada de novo ou extraordinário, porque o padrão é os machos crioulos baterem em suas mulheres pelo menos uma vez na vida, tipo, há uma primeira vez para cair de bêbado, há uma primeira vez para estar com uma mulher e uma primeira vez para as bater. Isto é idiossincrático, senhoras! Aliás, senhoras, devem agir com cuidado nessa coisa moderna de querer mudar os vossos homens, para que não deixem de ser homens de uma vez. Para que saibam, porrada e grogue são moléculas masculinas, sem as quais os dessa categoria correm o risco de perder a tesão.

Até aqui estivemos a falar de assunto comum, homem, mulher, crioulos, porrada, o de sempre. O caso muda de figura quando esses janotas, pertencem a uma campanha chamada “Laço Branco”, que é uma rede de homens contra a violência de género. Espera! Estou baralhado. Os camaradas batem nas mulheres e pertencem a uma associação de homens contra a violência de género? Bem, a mim deram-me dados precisos, nomes, profissões e filiações partidárias. Uma teoria que me pareceu plausível, explica que na verdade esses tipos não pertencem e nem acreditam em tal iniciativa, que só estão aí, sorridentes a posar para a fotografia, porque em termos de marketing político é o que mais tá a dar.

Sabem, agora metendo toda a violência dentro do mesmo saco, a questão complicada é, quando vemos uma mãe que assenta a mão no seu filho, com tanta fúria que ultrapassa a “palmadinha terapêutica”, e ficamos de boca calada, ou até apoiamos, é onde semeamos a árvore da violência, de género inclusive, que essa também muita vezes começa com uma “porradinha necessária” e um dia descamba em morte. A minha sensação é que, metade de nós é agressor e a outra metade é cúmplice.

4.12.09

LAÇO BRANCO

CARTA PRINCÍPIOS DA REDE LAÇO BRANCO CABO VERDE

HOMENS CONTRA A VIOLÊNCIA DE GÉNERO

Quem somos?

O Laço Branco Cabo Verde é uma rede fundada no dia 10 Julho de 2009, por um grupo de homens das mais variadas áreas de formação e de actuação. É um grupo que se caracteriza pelo forte engajamento na promoção da igualdade de género, pelo que fomenta alianças com outras instituições/organizações da sociedade civil que se posicionam a favor dos direitos humanos e contra a desigualdade de género e a todas suas manifestações, especialmente a Violência Baseada no Género (VBG).

Porque surgimos?

Na sociedade cabo-verdiana prevalecem preconceitos e estereótipos sexistas bastante enraizados. Uma das faces mais visíveis destas representações é os altos índices de violência contra a mulher (22%), que têm como efeito a deterioração de relações nos espaços privados e públicos. Os homens são ao mesmo tempo parte do problema e da solução. Confrontando os homens com atitudes, normas sociais e comportamentos discriminatórios em relação aos papéis de género e à violência contra as mulheres, queremos comprometer os homens nesta luta de identificando e eliminação das praticas sociais injustas em função do género e de pôr fim à todos os tipos violência contra a mulher.

Em que acreditamos?

Que ser homem NÂO é:

° Ter muitas parceiras;

° Usar violência contra mulheres ou homens;

° Aguentar a dor;

° Procriar um grande número de filhos e filhas;

° Exercer o poder sobre outrem;

° Ser heterossexual.

Que ser homem É:

° Saber construir relações baseadas no respeito e igualdade;

° Não tolerar qualquer tipo de violência;

° Ter coragem de pedir ajuda;

° Saber partilhar decisões e poder;

° Saber respeitar a diversidade e os direitos de todas e todos.


O que queremos?

° Difundir e multiplicar a mensagem do Laço Branco Cabo Verde;

° Promover a igualdade e a equidade do género;

° Combater todas as manifestações de violência, nomeadamente a VBG;

° Promover e estimular a assumpção plena dos direitos e deveres próprios da paternidade;

° Apoiar as políticas e iniciativas que fomentem a equidade de género na família, na saúde, na justiça, na educação, na política, na economia e na comunicação social.

Para tal, a rede tem o intuito sensibilizar, envolver e engajar os homens em Cabo Verde e a sociedade civil no geral no combate à violência baseada no Género e a todas as formas de desequilíbrio de género, e na desconstrução duma visão distorcida de masculinidade.

Quais os princípios dos quais não abdicamos?

° Da visibilidade no combate à violência contra a mulher;

° Da denuncia e combate a todos os actos de omissão, infracção, comportamento discriminatório, nomeadamente, machismo/sexismo, exclusão social, homofobia, racismo ou qualquer outro tipo de comportamentos contra mulheres, homossexuais, bissexuais, transexuais e violação dos direitos resultantes da desigualdade de género;

° Da aliança com as mulheres para alcançar a equidade de género e conquistar direitos, saúde e bem-estar das mulheres e meninas;

° Da assumpção e partilha das responsabilidades que a constituição da família implicam, nomeadamente o cuidado das crianças ou dependentes e as tarefas domésticas

° De praticar uma nova masculinidade que respeita a diversidade sexual e os direitos reprodutivos de mulheres e homens;

° De responsabilizar-nos pelo nosso bem-estar, pela nossa saúde, planeamento familiar e por uma pratica sexual responsável;

° Da identificação e da denúncia das necessidades específicas e experiências de homens e meninos que não são tomadas em conta pelas políticas públicas e práticas profissionais em todas as áreas;

° Da transparência, honestidade, justiça e ética em todas as nossas acções;

° Da colaboração e diálogo com todo o tipo de instituições.

Como podemos ser contactados?

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Sexta,Capital

Enfim, a situação da Dengue parece acalmar, depois de uma aturado esforço das autoridades médicas e sanitárias. Parabéns! Agora, a população, essa é que continua a mesma. Ainda ontem, no meu bairro, Palamarejo, vi um carnaval de sacos de lixo pendurados nas varandas, árvores e postes. Agora imaginem nas zonas onde efectivamente não há condições sanitárias. O trabalho é árduo. A cabeça das pessoas é mais difícil de mudar que toneladas de aço.

Natal vem chegando, mas ainda está tudo muito quietinho, crise oblige. O que de certeza não vai faltar é dinheiro para a paródia. É nesta época que se gasta mais em lixo que em outra coisa. Por falar em gastos, já tiveram a curiosidade de ver parte do dinheiro das famílias que é gasta em bebidas alcoólicas! É imenso. Vejam o site da INE.

Hoje sinto de novo o espírito da sexta-feira, embora não vá tomar a tradicional cerveja. Estou em trabalho de parto e na segunda já vos digo o que vou parir. Portanto, em vez de cerveja, a noite será de contracções e sofrimentos da criação. Para ajudar, estou a ouvir Jaco Pastorious esses dias, que me dá tanta inspiração. Sei pessoal, isto tá fraco esses dias, mas compreendam que há momentos de tal modo interiores que nada sai pra fora.

Bom FDS