31.3.09

Secura

Hoje em dia, comer uma boa banana nacional é I-M-P-O-S-S-Í-V-E-L!

As bananas nacionais estão esmirradinhas e sem graça. E ainda estão pelos olhos da cara. Pudera, a a bananeira de S.Cruz está morta. Culpa? Da invasão da água do mar e das pragas. Ou dito de uma forma mais concreta: do desastre ambiental que é a apanha de areia e do abandono do Estado da propriedade de S.Cruz. Sim, Senhor Ministro Ambiente, a degradação do Ambiente põe em causa o desenvolvimento sustentável, muito mais depressa que se imagina. Deixe-se de teimosias com a estória da Murdeira e vai cuidar das bananas!

Mais importação...que já tinha deixado de ser necessário, para o caso das bananas....

Frescura

Por falar em artistas, adorei este disco. Principalmente porque Carmen Souza, que conheci agora, não faz o caminho forçado que Lura fez, para se tornar uma "crioula autêntica". Ela [Carmen] só debita o seu talento, num disco fusion, de funky, jazz, ritmos africanos diversos, batuque e...electrónica. Pois, este disco não é um disco de "música caboverdiana"; é um disco de uma caboverdiana, com BUÉ de power. E no entanto um disco muito caboverdiano. Fiz-me entender?

KriolJazz. Praia, 3,4 e 5 Abril

Já estou em pulgas para o evento, como os meninos à espera de abrir as prendas no Natal. Nem acredito ainda nos nomes que se conseguiu juntar: Lenine, Mario Canonge, Ba Cissoko, Jorge Reyes...para além da prata da casa, é claro, principalmente para ouvir o Tcheka, porque hoje em dia há artistas CV que dificilmente actuam na sua própria terra! Há artistas que já só vem a CV arranjar mais um ou outro tema, se calhar pagando a um pobre coitado alguns cobres simbólicos, para depois, toca a voltar para a Europa, lá onde as coisas acontecem, fazer mais um disquinho exótico e vender. Quem disse Economia da Cultura?...pois, os outros sabem tirar proveito disso; nós sabemos é pavonear.

Não percam os workshops na UnivCV com esses artistas. É para o comum dos mortais, por isso não custa nada aumentar os horizontes: dia 1, 18:30; dia 4, 15:30; dia 5,15:30.

30.3.09

Rementalizar

"É defeito de estarmos distorcidos um pouco da realidade exacta das coisas que movem este mundo, melhor este mundinho que a Internet capitaliza num ápice de tempo. Estamos muito longe do centros de todo, temos de inventar uma pujança capaz de nos rebocar um pouco no mundo. Se passa o Sol e nem damos conta que anoiteceu."
Rony Moreira, a propósito do post anterior "Altermodernos"

Esta pujança é a educação. Não consigo imaginar uma outra forma de o conseguir. Enquanto estivermos desfasados nos conteúdos da educação, continuaremos desfasados do pensamento da actualidade. É para isso que serve a educação, do pré-primário até o pré-universitário: formar pensamento actual, actuante, constructivo, dinâmico, antecipador e adaptável. O ensino universitário é especial, especializado, concreto, profissionalizante; não é sua vocação formar Cultura. No pré-primário, ou seja no jardim, as coisas estão mais avançadas, um bocado pela dinâmica das escolas privadas; mas ao entrar no primário, a curva da qualidade é descendente; os alunos à saída do liceu, estão mais confundidos do que outra coisa. Esses alunos, depois da universidade, podem até saber as ferramentas para uma determinada área, mas para fazer o quê?

Revolução cultural precisa-se. Abaixo a velha troika!

Altermodernos

"Modernos ou pós-modernos, quem somos? Nem uns nem outros, antes seres de uma nova era em que se age e cria a partir de uma visão positiva de caos e complexidade. A altermodernidade, segundo Nicolas Bourriaud"

Isto de se estar atrasado em relação aos grandes debates estéticos mundiais é lixado. Quando nós aqui tentamos estabelecer um discurso sobre a arte contemporânea, pois que não podemos dizer que em CV haja uma arte pós-modernista, já apareceu um tipo a propor se ultrapassar o conceito de pós-modernidade, para se falar em altermodernidade. Faz sentido. O mundo já não é mais pós, é pró: vivemos num tempo, em que a Internet vai baralhar todas as noções até agora criadas de sociedades humanas. Por isso não é pós-alguma-coisa; é pró-esta-coisa-nova. Nós aqui CV, estamos perigosamente desfasados da história. Um número apenas, para reflexão: só 13% da população alguma vez usou a Internet em CV. Isso num mundo em que: economia que não está na Internet, não é competitiva; conteúdo que não está na Internet não é consumida; sociedade que não está na Internet não é conhecida. Como pode o próprio ambiente da criação estética estar actual?

Revolução Cultural precisa-se. E neste andar terá de ser com sangue: cabeças a rolar.

Fonte: aqui no Ípsilon


Palmas

Palmas para Sarron.com com a sua peça "10 segundos" no CCP Praia, dia 27. Foi um prazer!

Neu Lopes está triplamente de parabéns: pelo texto, pela interpretação e pelo som.

Karina Lizardo, a contracenante (a interpretar 5 personagens!) deu um apontamento valioso ao resultado final.

Os técnicos de luz e de som estiveram bem. Só a cenografia sofreu drasticamente.

Ao todo, o grupo se propos a um desafio enorme, diria até atrevido e trabalharam MUITO para o realizar. Ficaram umas tantas coisas pelo caminho, o que quer dizer que o espectáculo tem muito que crescer ainda, mas o resultado final é este: paixão, entrega, sacrifício, trabalho. Há muitas críticas a fazer, que espero ter a oportunidade de fazer directamente ao grupo. Aqui, publicamente, vai valentes palmas. Longa vida ao vosso grupo!

27.3.09

Cinemix

Ontem, discoteca Cockpit. Foi cool! foi um show de som e imagem. Grande cultura pop tem este DJ. Passou por imensos filmes, animações, videoclips, imagens de concertos, passou por vários temas musicais, do rock, do soul, do rap, da electrónica...oof! Foi mesmo uma grande remixagem.

Em arte nada se perde, tudo se transforma. Não existe arte intocável; é permitido todas as recombinações. Sem essas ousadias a cultura seria uma grande seca. Mas atenção, MUITO trabalho é necessário. Também é verdade que não existe arte sem suor. Trabalhem!

A matança começou

Afinal, lá o sector do PAICV em S.Vicente apresentou as tais provas de corrupção na CMSV. Boa. Estragou um pouco o efeito surpresa e deu tempo para o carnaval da Isaura, mas muito bem. O que me dói mesmo é que isto tudo ficará em águas de bacalhau, como dizem os lusos. Como também vai ficando em águas de bacalhau, todas as queixas apresentadas nas Procuradorias. Como já alguém disse, Estado de Direito, onde o Direito é um elemento fraco, é automaticamente um Estado fraco e sendo um Estado fraco é repasto abundante para toda essa rapinada política. Escândalo de Enacol, arquivado; escândalo de Electra, arquivado; escândalo de TACV, arquivado; escândalo de SLN, arquivado...país arquivado. Não existimos verdadeiramente, estamos arquivados.

26.3.09

Mayday, mayday!

O PCA dos TACV disse: caros trabalhadores e amigos, tenho pensado demais em vocês, porque me preocupo muito com a vossa saúde. A situação é terrível. Terão todos que emagrecer muito, porque este barco, ou melhor dizendo, este avião, vai afundar com tanto peso, ou melhor dizendo, vai despenhar-se. Amigos, vocês andam a comer demais. A gula é pecado mortal e vai nos matar a todos. Amigos, os subsídios e as regalias são como os doces; são para comer com moderação. A partir de agora, não há mais doce para ninguém. É tempo de água e pão. Ninguém vai para casa, mas os que ficam, precisam emagrecer. O tempo é de abstinência e sacrifícios. Ainda tentarei mais umas massas da parte do governo, mas nada está garantido. Preparem-se, apertem os cintos porque vem aí uma turbulência severa. Só espero que ainda aguentemos no ar. Eu tenho as minhas almofadas nas costas e na barriga. Cada qual tem as suas?

Há figuras fantásticas

Há pessoas que nos marcaram e continuam a marcar. É o caso de Djick, o professor de filosofia; o meu professor de filosofia. Com ele comecei a ver que o acto de pensar se faz de duas maneiras: seguindo a corrente geral, o senso comum e o que nos ensinam; ou exercendo a crítica a cada passo que damos. Mas Djick é uma figura que nos marca sobretudo pela forma como encara e vive a vida. Por circunstâncias felizes, acabei por ficar mais próximo dele. Fiquei a conhecê-lo mais. Fiquei a saber que foi e é um atleta dedicado; vive com a calma de uma brisa do mar, o mar que é a sua imensa paixão, junto com a música, que também lecciona, e a filosofia, claro.

Aconteceu hoje. Eu trabalho numa zona da cidade que o pessoal já chama de "Wall Street", porque caboverdiano gosta de dar nomes sarcásticos às coisas e porque concentra realmente um número considerável de serviços de ponta: bolsa de valores, bancos, operadoras de telecomunicações. Trabalho em telecomunicações, desenvolvendo soluções, o que é um desafio e tanto. Trabalho das 8 até quando der para ir para casa. Almoço a correr. Vivo a correr, para além de gostar de fazer todo o resto que faço. Hoje, saí para ir a uma caixa ATM e foi quando vi Djick, vindo em minha direcção, caminhando a passo de vaca, de calções, chinelas, óculos de mergulho, barbatanas e assobiando. Vi aquela nuvem de tranquilidade aproximando até chegar a mim. Cumprimentou e perguntei-lhe, carregado de inveja: "vai curtir uma praia?" Ele respondeu: "sempre!" E continuou pela Wall Street abaixo, como se nada fosse. Como se todos os dias fossem um domingo tranquilo.

Quando chegar à sua idade, quero ter o físico, a mente, a sabedoria e a calma deste homem, o meu professor de filosofia de vida.

Cultura Nacional

Manuel Maria Carrilho, antigo Min.Cultura de Portugal, escreveu uma carta onde tece duras críticas ao actual Min.Cultura. quanto à sua política cultural. Pergunto-me o que inibe os nossos antigos Min.Cultura de INTERVIR na presente política cultural. Carrilho que conseguiu aumentar o Orçamento do Estado para a Cultura para 1%, briga agora para que esta cifra seja reposta, uma vez que baixou. Dizia também que é preciso reforçar: o património, as artes cénicas (música, teatro e dança) e as artes visuais, o cinema e o audiovisual, o livro e a leitura, a acção cultural externa. Nós temos 3% e um déficit de projectos para qualquer uma dessas áreas. Nós ainda temos a área da Investigação Cultural, que para nós é crítica, visto precisarmos recuperar a memória e os nossos valores autóctones . Ainda há a questão da língua. Nós temos tudo por fazer, estamos sempre a re-inventar a roda e, ainda por cima, a estragar coisas que foram feitas. Em comparação:
  • Património - isso vai acabar, se não intervirmos. Veja-se os centros de Mindelo e Praia. Veja-se as construções (armazéns de betão) em pleno sítio arqueológico da Cidade Velha.
  • Artes de espectáculo - música vai sobrevivendo no mercado internacional; dança, o único grupo digno do nome sobrevive por milagre; teatro...o que falta para capitalizarmos a experiência de SV para todo o país?
  • Artes visuais - acabar com o projecto do antigo Centro Nacional de Artesanato foi o pior assassinato cultural do pós-independência; audiovisual e cinema, esquece! Escola, precisa-se!
  • Livro/Leitura - ....tenho dificuldades em dizer que temos uma ficção CV contemporânea. Quanta gente lê um livro por ano? Quantos autores em média conhece um jovem de 18 anos?
Se alguém disser que a actual política cultural do Estado é positiva, vai ter que explicar, porque eu não vejo. Mas, em contrapartida temos uma área super forte na nossa Política de Estado da Cultura: gastar dinheiro em fóruns, simpósios, medalhas e afins. Atão, alguma coisa havemos de fazer!

25.3.09

Cultura Capital

Bravo CMP por querer mostrar serviço no sector da Cultura. Vamos lá ver uma coisa: já repararam como a Cultura é um factor multiplicador forte? Já repararam como aumenta a circulação sanguínea na cidade quando acontecem coisas? Os restaurantes e bares se anima, as praças se animam, as ruas se animam. As pessoas se encontram, discutem coisas, planeam coisas novas. De repente sentimos a fazer parte de um burgo. É só ter um pouquinho de vontade, imaginação....e competência, é claro.

Bravo CMP, que se institucionalize essas acções, que não seja sol de pouca dura, que não venham a ser infectados pelo vírus da política do expediente. Que tenham amor à cidade, numa palavra.

Não me matem!

Esta é a frase de Isaura Gomes em reacção ao anúncio de João do Carmo, responsável do PAICV por S.Vicente, que brevemente virá apresentar provas de bandidagem na CMSV. Ingenuidade política de um lado, do novel João do Carmo, que deve aprender que não se anuncia escândalos; ou apresentava as tais provas no momento do anúncio ou ficava caladinho que tem muito tempo à frente para mostrar serviço. Maquiavelismo de fazer inveja ao próprio Maquiavel de Isaura Gomes, que assim se defende, invocando os fantasmas que ensobravam o PAICV de outrora; qualquer coisa que venha a acontecer depois, mesmo sendo verdade, já estará envolta numa capa de perseguição.

E mais uma vez, as coisas do Estado ficam neste mar turvo de conjecturas.

(In)consequência II

O MPD, em sessão parlamentar, disse que as contas do Estado estão repletas de irregularidades e omissões. O PAICV, na mesma sessão parlamentar, disse que o actual Governo pauta-se pela transparência e rigor, mas no entanto reconhece que as contas contêm irregularidades "inerentes ao sistema".

Algum valor está aqui distorcido: ou o da transparência, ou o do rigor, ou o de prestação de contas, ou o de irregularidade. É o princípio crioulo do "mais ou menos" aplicado às contas do Estado. Resta saber se essas irregularidades estão para mais ou para menos e a quem isso custa.

(In)consequência

O que acontecerá quando o contador, que vai contando os dias que falta para o Min.Cultura apresentar o seu Plano Estratégico da Cultura (que está aqui ao lado no Bianda), dizia, o que acontecerá quando este contador chegar a zero? O que acontecerá se, nem este ano, nem até o final do mandato, nem nunca, o Min.Cultura conseguir cumprir a promessa de construir: 1museu na Cidade Velha, 1 Galeria de Arte Contemporânea na Praia, 1 grande Auditório no Mindelo. Já agora qual é o critério dessa distruibuição geográfica?

24.3.09

Telex 2

"Este ano o verão chegou com 2 meses de antecedência na cidade da Praia"
RCV, Jornal das 13h

É mesmo?! Nem dei por isso. Vou ter que desligar o aquecimento lá em casa e guardar a roupa de inverno...e mandar corrigir os guias turísticos que dizem que CV é um país quente o ano todo. E uma nota importante às queridas: tenham atenção que as câmeras de televisão andam por aí a fuçar; é que em termos de linha e formosura, os boys estão a ganhar.

"A confraria do grogue, CONGROGUE, de S.Antão, quer levar a que todos os confrades fabriquem grogue exclusivamente do suco de cana"
Idem

Era só ver os confrades vestidos a rigor com os seus longos fatos (verão só chegou na Praia por enquanto), os seus longos chapéu, a debitar discursos a lembrar livros de história sobre a época medieval europeia. Só que nenhum confrade jurou de pés juntos que seguirá a norma. Não há cana que aguente.

Telex

Há dias muito ocupados também.

A gasolina está a 96 paus o litro e o gasóleo a 76!...Que ganda descida! Que virá depois? Que estão a preparar? Quando a esmola é muita o pobre fica desconfiado.

Faltam 2 meses agora para o Min.Cultura apresentar o seu "Plano Estratégico da Cultura". Começo a ficar ansioso. Entretanto esta semana é rica: hoje, Kaká e Djamila no CCP com "Du e Tu", às 21h, um peça muito recomentável. Na sexta vamos ter teatro, com Sarron.com, no CCP, às 21h. E João Paulo Brito dará uma palestra sobre o teatro na quinta, não tenho o horário, mas assim que tiver passo.

Fiquem bem queridas e queridos

23.3.09

Filmes da minha vida

Há dias fantásticos. Aluguei este filme, por uma única razão: porque dizia a sinopse que tinha a ver com gastronomia, que sou fã absoluto. E pronto, preparei-me para ver um filminho que falava de pratos, vinhos e queijos. Acabei vendo uma obra de arte, em que a gastronomia é só o fio condutor. O enredo é fabuloso, a cair para o humor negro. A música é divina. O elenco está impecável. Mas sobretudo, é uma bela obra de literatura, cá para mim o início de sucesso de qualquer filme ou peça de teatro.









Este outro filme, ainda melhor, mais complexo em termos de realização, está na mesma linha do enredo inesperado. Ambos são terrivelmente sociais, como está na moda no cinema brasileiro, mas cada um com uma narrativa diferente, rica, intensa e salpicada de humor negro.


E como está de saúde e vigor o cinema brasileiro! Às vezes um pouco a exagerar na exploração da Estética da Miséria, mas o facto é que a fórmula resulta, tanto melhor quanto mais inventivo é o argumentista.

Blogjoint: Espaços públicos associados a espaços mentais

Serão os espaços públicos uma questão de ter dinheiro para os gerir, ou tão somente uma questão de incompetência pura? Será o dinheiro necessário à requalificação de alguns espaços, um gasto ou um investimento? Será que não falta é espaço mental?

Não poderia o Auditório Nacional ser gerido pelo colectivo de dança "Raiz di Polon"? Que falta para que o Palácio da Cultura "Ildo Lobo" seja convenientemente dinamizado? Mercado? O que faz o Centro Cultural do Mindelo funcionar? Mercado? Terão os Centro Culturais estrangeiros mais dinheiro ou só são um pouco mais competentes? 2% do Orçamento do Estado é realmente insuficiente para organizar isso? Não seria bem mais inteligente devolver o Centro Nacional de Artesanato (agora Museu de Arte Tradicional) ao colectivo de artistas que o geria anteriormente?

Será necessário construir novos dispendiosos espaços para a Cultura e o lazer ou requalificações inteligentes serão suficientes? Um desses armazéns da antiga zona das Alfândegas da Praia não daria uma excelente galeria de arte?

Não chegou o tempo de se perceber o significado de parceria público-privado? Quando vão as instituições públicas aprender a trabalhar com a sociedade viva? O debate deve se centrar nos espaços públicos, insuficientes, ou nas cabecinhas dirigentes, insuficientes?

Siga este debate com os jointers:

20.3.09

De Capital Desimportância

Se foi importante a visita de Sócrates? Foi! Definitivamente. Tendo em conta a importância das relações entre os dois países, em todos os planos, este Alto Patrocínio dos dois Governos a estas relações é vivamente desejada. Foi impressionante ver a operação montada pela parte portuguesa e a agenda altamente organizada, com pontos específicos de interesse, com acordos específicos, com projectos específicos. Contudo, fico algo desapontado quando a única referência à maior questão social entre os dois países, a Emigração/Imigração, é um anúncio de um "Sistema de Informação Conjunto de Gestão de Fronteiras". Caramba, pá! Milhares de pessoas, também chamado de Capital Humano, valem muito mais do que isso.

Nós que, ao que parece, até somos bons diplomatas, que até conseguimos condições e tratamento especial por parte de todos, temos que ter coragem e agendar assuntos, sem dúvida, desagradáveis.

18.3.09

Mundu novu (ou Mundo Novo?) II

O famigerado programa de distruibuição de 150.000 computadores, que só terá sentido se pensarmos em conectividade ubíqua, ou seja acesso à Internet 24/24, representa um negócio de 3 bilhões de escudos/ano, se todos se ligarem a um custo, vá lá, de 2.000$/mês. Nham, nham!

Mundu novu (ou Mundo Novo?)

Sócrates traz para CV Mundu Novu (ou Mundo Novo, já não sei!). Traz 200 milhões de EUR/22 bilhões de CVE, para as infraestruturas, em forma de linhas de crédito, ou seja, dinheiro emprestado que tem que ser reembolsado com juros. Traz mais outros 100 milhões de EUR/11 bilhões de CVE para as enegias renováveis. Ora, isso é MUITO dinheiro!

Cabo Verde importa anulamente de PT cerca de 550 milhões de EUR/60 bilhões de CVE; em contrapartida, exporta para PT 14 milhões de EUR/1 bilhão de CVE.

Cabo Verde, no conjunto da CPLP, é o 2º mercado para PT, só ultrapassado pela Angola. A nossa economia é toda ela "detida" por PT: Banca, Energia, Construção Civil, Telecomunicações, entre os mais importantes.

Posto isso, é claro que um estímulo à economia CV (crédito) representa directamente um estímulo à economia PT, a multiplicar por n. E o que podemos fazer? Para já corrigir o ambiente regulatório, permitindo uma maior transparência dos projectos. Depois pensar que projectos. Elefantes brancos, como a circular da Praia? Gualberto do Rosário, defende que é o momento de redireccionar os investimentos para obras sociais: habitação, saneamento, etc: porquanto está a procura internacional em retracção.

E no meio disso, a Oposição? Qual é a sua proposta ensombrada?

17.3.09

E-non-readiness

Não é novidade que as privatizações em CV foram uma perigosa burrada. Electra deu no que deu, ou seja, não deu em nada; CVTelecom é o que é, uma placa de chumbo em cima da nossa economia; os Bancos estão melhorzinhos, precisamente porque a regulação já existia quando se privatizou e mesmo assim!...(SLN)

A CVTelecom, é um caso bicudo. Por um lado rende milhões para os seus sócios e para os cofres do Estado, em dividendos e impostos; por outro lado bloqueia completamente o desenvolvimento da chamada economia digital. O problema começa com a privatização que alienou num único pacote as infraestruturas (rede) e os serviços (telefonia, dados). As infraestruturas não podiam ser privatizadas de ânimo leve e hoje é o que é. Hoje somos um país, em plena era de Internet, sem conseguir levar a economia para a Internet. História em 3 palavras: a Internet começou por ser um rede de conteúdos, depois passou a ser uma rede de serviços e hoje é uma rede de colaboração. Nós mal temos conteúdos na Internet, ou o que temos é desfasada. Salvo a Banca e o Estado, mal temos serviços. Colaboração é utopia. Até a concorrência (T+) sofre com isso porque precisa assentar na infraestrutura pública, detida pela CVTelecom, ou seja nem concorrência temos no sector. E uma informação para o comum dos mortais: os custos de comunicações para empresas nem são somente os de acesso directo à Internet; são também os custos de comunicação de dados. Nem leve esforço mental, imaginem uma empresa com unidades em 3 ilhas, com necessidade de as interligar e de as ter na Internet.

Perguntem ao especialistas porque estamos a descer no ranking do e-readiness, indicador que avalia o estado de preparação dos países para a economia digital. Vá lá, o preço por kilobyte em Cabo Verde deve ser um dos mais elevados do mundo. Culpado?

16.3.09

Que ando a ler

Este livro, achado na Feira do Livro, veio mesmo a calhar, a propósito de feiras de conhecimento e de mundo novo e de propaganda política enganosa (como se já não fosse por natureza).

Um livro essencial para quem se interessa pela que já é considerada a 3ª revolução da humanidade (depois da revolução agrícola e da revolução industrial), a revolução da informação, que é o mesmo que dizer, o triunfo da cultura. Um livro que exemplifica esta revolução com o aparecimento de esplenderosas novos produtos, organizações e redes sociais, tipo Linux, Wikipedia, MySpace, Blogger, etc. Um livro que dá pistas até para a presente crise, que não é só financeira, que é essencialmente de adaptação e agilidade das antigas corporações, como a General Motors, por exemplo, que apesar de ser um potência industrial mundial, é rígida em sua organização interna, não teria sido eles a inventar o trabalhador burro. A nova economia baseia-se no oposto, em trabalhadores e consumidores inteleligentes.

O livro também aborda questões sociais, como o poder, autoridade e legitimidade de intituições como o jornalismo, por exemplo, que estão a ser abaladas pela blogosfera, não que esta as vá substituir, mas porque as obriga a justificar o seu poder, hoje mais do que nunca. Hoje, se o público está insatisfeito auto-organiza-se (passo a redundância) em comunidades colaborativas (wikis) para colmatar a sua insatisfação. O mesmo se passa com a distribuição de filmes, discos e livros: a wikipedia está a levar várias editoras à falência.

A conceito da economia digital pressupõe muito mais que a questão dos terminais, porque estes são voláteis; pressupõe CONECTIVIDADE PERMANENTE UNIVERSAL E ABUNDANTE. A seguir vem os conteúdos e os serviços para a Internet; a seguir vem as novas organizações globalmente colaborativas, os novos superstars da nova economia, a wikinomia.

13.3.09

"Sócrates traz ’Mundo Novo’"
In A Semana, 13/3/2009

Ai que é desta vez que morro de desgosto! Então andamos a trabalhar há anos (NOSI) e é Sócrates é que traz um mundo novo???! Ai políticos que não nos respeitam. Ai Comunicação Social acrítica.

Feira do Conhecimento II

A propósito, sou absolutamente contra esta onda de abrir balcões da Casa do Cidadão nas escolas e demais instituições públicas. Acabemos com essa mania do Estado que nos faz um favor. Reparem: é preciso ir a um balcão, falar com um(a) fulano(a) e, dependendo do humor do(a) dito(a) cujo(a), é possível ser-se bem atendido ou pessimamente, e, mais grave, passa uma ideia que a Casa do Cidadão/Portal do Cidadão só serve para tirar certidões.

A minha sugestão/alternativa: dinamizar quiosques digitais em todas as instituições públicas e promover o self-service. Vantagens: 1)eliminamos uma interface (que envolve humor, incompetência, salário, etc) ; 2) aumentamos exponencialmente o nº de utilizadores registados no www.portondinosilha.cv; 3)promovemos a descoberta das várias outras secções deste imenso projecto, que por enquanto, em termos de serviços, só tem as certidões.

Aliás, é a segunda opção nem é minha, é a que está na estratégia definida pelo PESI/PAGE, mas esses políticos....

AI QUE NÃO POSSO COM PROPAGANDA POLÍTICA, ARR!!

Feira do Conhecimento

Larguem a estória do Turismo; o Conhecimento é que está a dar.

Esta frase é verdade para muitos países e cidades. Sou/fui do team NOSI e vivi as alegrias de ver esta organização a estabelecer um debate em torno das novas tecnologias e vivi/vivo as angústias de ver o quanto ainda temos que andar e quantas montanhas temos ainda que derrubar, até que possamos dizer de facto que temos uma Sociedade do Conhecimento. Não me venham com essas tretas de Magalhães e de Mundu Novu e mais outras tretas pegadas. Isso é propaganda política. Quando podimos ao poder político, como andamos a pedir anos a fio, que intervenham em peças estruturais, afim de facilitar este conceito, a porca torce o rabo:

1. Investimento humano. Não há sociedade de conhecimento sem um forte investimento em recursos humanos e temos que saber que isto irá custar muito dinheiro. Talvez por alguns anos temos que deixar de ter orçamento para placas desportivas, para poder contractar ainda muitos mais especialistas para o NOSI, que trabalha à base de doação de sangue.

2. Transformação da Adm.Pública. Ora, todos sabemos, a tecnologia é vazia, se não se seguir a uma efectiva transformação dos processos. A nossa Adm. Pública continua um monstro e isso é uma responsabilidade política.

3. Comunicações. Com a burrada da privatização da Telecom, ficamos atados. Os preços de Comunicações são absurdos. Não há nenhuma sociedade de conhecimento que possa sobreviver neste ambiente e estou para ver que tipo de arranjo se vai fazer para, ao mesmo tempo, distruibuir computadores a torto e a direito e permitir a inclusão desses terminais na Internet. Aproveitem a visita do chefe do Gov.pt e façam todos os lobbies, mas tenham só cuidado em não prejudicar a concorrência. Hoje sou da T+ (operadora de telecomunicações) por isso a minha preocupação.

12.3.09

Moranguinhos

O que tem em comum os nossos Premiers, o das terras de Camões e o daqui, das terras de…o que se diz no nosso caso? Terras de Amilcar Cabral? Epá, o pessoal do MPD não concorda nadinha com isso. Mas então como se diz? Ai, ai, ai, a História!

Os nossos Premiers se parecem em muito.São ambos moranguinhos, que elegem o charme como um vector de marketing político. Ambos chegaram ao poder em contextos de grande descontentamento popular, arrancando assim cifras impressionantes de votos. Ambos sabem como é importante escolher cuidadosamente a gravata. Ambos estão a levar rudes golpes na sua popularidade, mas o encanto dos seus sorrisos ainda faz suspirar corações. Ambos têm oposições violentas, que ainda não perceberam que oposição aos moranguinhos só se faz com outros moranguinhos. Ambos se dizem socialistas, mas falam mais em negócios do que qualquer outra coisa. Ambos estão mergulhados até ao pescoço no escândalo da BPN/SLN/BI e ambos têm outros escandalozinhos domésticos cabeludos. Mas o que é definitivamente de alma gémea entre os dois é o enigmático sorriso, parecendo que, pode o mundo acabar a fogo, que morreriam carbonizados, mas permaneceriam sorrindo.

Por esses dias por cá vamos ter overdose de sorrisos de moranguinhos, para delírio dos fãs.

11.3.09

Asneiras comprovadas

Por falar em turismo, urbanismo, ambiente e tal, as asneiras que estamos a fazer agora, os outros já fizeram no passado. Em vez de aprendermos com a história, copiamos os seus erros. Sounds like stupidity. Checkem este bastante elucidativo artigo, a propósito de Canárias, um país que pretendemos imitar

O português que nos pariu

Antes que as mentes perversas possam construir as suas perversidades, o título é de um livro de Angela Dutra de Menezes, jornalista brasileira, sobre os seus antepassados portugueses.

Chega hoje um avião abarrotado de governantes e empresários portugueses, chefiados por Sócrates, este gajo que tem nome de um dos fundadores da filosofia moderna ocidental, trazendo na bagagem carradas de computadores que tem o nome de um dos fundadadores dos descobrimentos portugueses, Magalhães. Simbologia terrível! Esta nova invasão tem os mesmos objectivos que teve o de quinhentos anos atrás: estabelecer feitorias, cuidar das que já existem, só que hoje isso é chamado de "cooperação bilateral". Pois, também uma feitoria, em teoria, era uma cooperação bilateral. Bom, no nosso caso é um pouco diferente, porque dantes éramos todos inabitados, de maneira que o português foi literalmente, o português que nos pariu. Em rigor histórico foi mais, o português que nos fornicou.

Diplomacia selectiva II

É lixado a história. Numa meia vida, passa-se de vilão a herói; de dominador a dominado; de inimigo a amigo fraterno. É lixado a história, porque não tem lógica, ou, dito de uma outra forma, demonstra que o comportamento humano é ainda e será sempre regido por instintos básicos de sobrevivência. Se numa determinada altura um homem tiver que engolir um sapo, vai engolí-lo. Se o presidente da república portuguesa tiver que engolir o presidente, déspota, angolano, vai engolí-lo. Em nome da sobrevivência da economia portuguesa, ou seja, das famílias portuguesas, do homem português.

Elogios a José Eduardo dos Santos?! Tenham dó! Dêem-me motivos para acreditar na história.

10.3.09

Diplomacia selectiva

"Nenhum chefe de Estado confirmou a presença no funeral de Nino Vieira"
In Liberal online

Se fosse para ir para o Japão, o pessoal alugaria um avião; organizaria uma delegação, em se incluiria jornalistas, as esposas e os esposos, a secretária, o engraxador, o médico e outros assistentes; aguentaria as imensas horas de voo e o jetlag; e ainda seriam capazes de chorar sentidamente até murchar os olhos. Depois, para aliviar a dor, andariam pelas ruas de Tóquio, comprariam umas lembranças para os filhotes e parentes, com as sobras das ajudas de custo, que teriam de ser consideráveis, dada a longitude do lugar. Mas, para a Guiné, como já dizia o outro: quem não tem condições de morrer que não morra!

9.3.09

Cartas, blogs e anónimos

A propósito de uma famigerada carta anónima, veio ao de cima um determinado discurso da ética dos blogs. Terão até perguntado se não seria pertinente pensar num código deontológico para os blogs. Já agora pergunto se não faz sentido falar de um código deotológico para toda a Internet. Uma espécie de ética supra-nacional, a ser administrada, talvez, pelas Nações Unidas, mas visto que esta organização não consegue impor nada que valha, se calhar podia se organizar um grande tratado internacional, em que todos os países seriam obrigados a ratificar, sob pena de pesadas sanções. Ora vamos lá ter paciência!

Mais uma vez a confusão entre blogs e comunicação social. A ética de um blog é a do seu autor, ética essa que é directamente regulada pela sociedade, em tempo real. E a sociedade caboverdiana ficou é muito agradecida a esta carta que disse muito que todos já sabiam. Eu a divulguei, tive dúvidas em fazê-lo, mas hoje não me sinto nem um pouco mal com isso. Engraçado é que, perante tanta evidência de bandidagem, de falta de toda a ética, a questão agora ande em torno da carta, que é isso e mais aquilo. Vamos lá ver uma coisa: se o interesse público fosse gerido com responsabilidade, transparência, orientado a boas práticas, verificadas e demonstradas, essa tal carta seria completamente inócua. Mas não é. Até uma certa imprensa, que obedece à deontologia do seu sector, a usou livremente para vender a sua notícia. Até o Parlamento a usou como tema para uma sessão inteira. Até a Procuradoria Geral da República cogitou averiguar as acusações graves. Agora vem me dizer que os blogs deviam se pautar por uma deotologia abstracta! Que os blogs precisam ter responsabilidade!...Brincadeira tem hora, né!?

Blog joint: Máscaras Anónimas

Perguntou-me o jornalista, qual é o peso de um blog; respondi-lhe que, um blog tem o peso do seu autor. Não é um orgão de comunicação, não é uma tese, não tem obrigação da "verdade", nem de acertar, nem de agradar...tem só o peso que o seu autor tem, enquanto ser social e enquanto compositor de palavras. Mas, efectivamente, o autor tem um peso, maior ou menor, de dizer as coisas. O autor de um blog, o identificado, é um ser social e o seu peso não tem a nada a ver com blogs. O teria de uma qualquer outra forma, porque na verdade o substracto são as ideias, as atitudes e as acções. Este peso é o da aceitação e da admiração, que quando é notória gera este fenómeno dos anónimos destrutivos. Mais uma vez, isso não tem nada a ver com os blogs, porque esses personagens existem sempre nas nossas costas, a fungar atrás do nosso pescoço. Nesse ponto de vista, os anónimos destrutivos dos blogs até são benéficos, porque aí encontram um meio para descarregar a sua ira contida, que nos faz mal, mas que nos informa e nos melhora, se aprendermos mudar a polaridade dessa energia negativa.

Mas existem os bons Anónimos, esses que, pelas suas doutas palavras, sentimos uma boa alma por trás, mas que, facto que ainda não pude perceber, não andam de cara ao sol. Será por mera característica pessoal, também conhecida com discrição? Ou será por uma má interpretação da história, esses que pensam que ainda podem ser presos pela palavra? Ou será por preguiça de pensar nisso e à cautela são anónimos? Pois, esses Anónimos também tem um peso, o das suas palavras, mas que, pela condição de anonimato, ficam a flutuar num espaço, que não se materializam, porque não tem endereço, que não tem consequência, porque é uma energia positiva que se dissipa nesse espaço.

Os Anónimos, bons ou maus, vão nos indicando a quantas andamos do assumir de si, em sociedade. São bons.

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6.3.09

Estado de piada

"Os contemplados [para 1º Grau da Medalha de Mérito Profissional] são o Sistema Nacional de Protecção Civil, a Inspecção de Actividades Económicas, a Direcção Geral dos Desportos, a Comissão de Coordenação e Combate à Droga, a Direcção Geral de Agricultura, Silvicultura e Pecuária e a Comunidade Terapêutica da Granja São Filipe.

Vão receber a mesma medalha a Universidade de Cabo Verde, o Instituto de Investigação e do Património Cultural, os hospitais centrais “Agostinho Neto” e “Baptista de Sousa” e o Programa Nacional de Saúde Reprodutiva.

Estas condecorações assinalam os três anos de mandato da VII legislatura, que acontece no Domingo, 8. Hoje, 6, José Maria Neves reúne-se no salão de banquetes do Palácio do Governo com responsáveis da Administração Pública numa reflexão conjunta sobre “Gestão em tempos de mudança”, o futuro do país e os novos paradigmas da AP. "
Fonte A Semana Online

O grande problema deste lote de condecorações é que se misturam instituições de mérito de facto, com instituições que andam a gozar com a cara de cada qual. Destaco a Comunidade Terapêutica da Granja São Filipe, que tem feito um trabalho grandioso, com resultados concretos, mensuráveis, comparáveis e de impacto real. O Programa Nacional de Saúde Reprodutiva também é um herói discreto. Mas convenhamos, Sistema Nacional de Protecção Civil?! Alguém se lembra das últimas chuvas, em que todo o mundo perguntava: onde está a "Protecção Civil"? Os gajos tem altas instalações, viaturas, uma fardas giras, mas os gajos ainda não acertaram com uma. Direcção Geral dos Desportos?! Tão a brincar? INSTITUTO DE PROMOÇÃO CULTURAL?!..Não, assim é demais!

Este Governo vai ficar na história como o "Governo das medalhas". E as pobres das medalhas viraram piada.

Praia anima-se

Vem aí Praia Jazz, festival de música jazz, Praia Anima, projecto para revitalizar os espaços culturais da cidade, cinemas, salas de espectáculos. Vem aí também um encontro de Fotografia Contemporânea, embora esteja bastante receoso da denominação "contemporânea". Mas, enfim, vem aí uma equipa camarária a querer mostrar serviço e a pegar a agenda cultural da cidade pelos cornos.

Alguém avisou-me da ausência do Hernani no Praia Jazz, que acharia uma pena, porque se trata provavelmente do maior jazzman autêntico de Cabo Verde da actualidade. Também senti falta dos nomes do jazz da Praia: ARKORA, ou seja, Ângelo, o maestro que levou Mayra à vitória no Canadá, nos jogos da francofonia, que preparava o 1ºdisco do Pantera, que arranjou o 1º disco do Tcheka; Kizó, o meu baixista caboverdiano preferido; Raúl, um dos escassos bateristas que executam jazz em CV; e Ricardo, esse cara que veio do Brasil, trazendo música clássica na bagagem, que se virou a jazz e a ritmos berdianos, um grande músico. Que dizer então do projecto do Djinho Barbosa, Tras di Son, que será o único trabalho de música urbana elevada à linguagem de jazz, da cidade, dos últimos tempos?

Vejam lá pessoal camarário. Aplaudo o dinamismo, mas uma coisa que venho dizendo das instituições públicas: há acções que não podem se guiar, nem por valores económicos, porque não são rentáveis per si, nem pela moda, que é ingrata; há acções públicas que devem se guiar pelo interesse público, o que envolve história e visão de futuro.

Frases

"Concurso para alienação de frango enlatado - cozido em molho de tomate"
in Liberal online

Há frase fantásticas, não há?

4.3.09

La Piovra

Dizem que na Guiné, não será pela morte do Nino que as coisas se comporão. Não será com duas cantigas que o Estado retomará o seu normal funcionamento. Não será com discursos de circunstância da CPLP, UA e CEDEAO que os males vão desaparecer. Não é a morte de Nino que vai acabar com a desordem. Depois de crise atrás de crise, la piovra, com os seus inúmeros tentáculos tomaram conta do Governo daquele país. Dizem que a coisa é medonha, está bem instalada e é o verdadeiro epicentro do problema.

Em Cabo Verde, o Premier já chegou de afirmar que os políticos andam a namorar com tentáculos da piovra. O homem disse, ninguém desdisse, ficou o dito pelo não dito, não se sabe o tamanho desses tentáculos, pero que los hay, los hay. Hoje, alguém dizia-me: nós nos enganamos tão bem que não há crise, não há corrupção, que tudo está bem, que somos os maiores, que acabamos por acreditar piamente nisso.

A prevenção é bem menos cara que a cura, mas...niguém quer saber!

3.3.09

Um maestro

Ando a ouvir a última deste senhor. Sabem quem é? É quem produziu o último disco de Tcheka. Para além disso é um dos mais importantes personalidades da música brasileira, porque: é um compositor originalíssimo; é um arranjador originalíssimo; é um inovador permanente; consegue surpreender a cada novo projecto; e, aos 50 anos, parece que só está começando. Pois, é este senhor que muitos não gostaram que produzisse o disco do Tcheka, porque, acham, que "desvirtua" a música caboverdiana.

Lenine é um tipo exótico: mistura as batidas populares brasileiras, com muitas batidas pop e mais alguma coisa que a gente costuma ideintificar como: "isto é típico do Lenine". Este último trabalho (Labiata) tem um rock carregado, o que me agrada, por ser um fã do rock, por ter sido a música que me sintonizou com o mundo nos anos 80. Vi a notícia do lançamento da último álbum dos U2 e lembro-me como era irritantemente aficcionado pela música deles. Mas o trabalho do Lenine não é pop, é jazz, coisa que não sei explicar; só sei identificar.

Fico a imaginar um Batuco transfigurado: guitarras distorcidas, mistura de batidas, efeitos especiais: e fico a imaginar os gases que isso ía causar aos puristas de serviço. Pois, Lenine é dos tipos que não estão nem aí para os purismos culturais, mas no entanto expande a cultura exponencialmente, de cada vez que concebe uma das seus maravilhosos álbuns.

Com licença, isto é nosso

Candas Sisman

A violência interna nos países é como a violência dentro das famílias: os vizinhos e os amigos sabem da sua existência, mas não se metem. Quando os beligerantes aumentam o tom, a tal ponto que atravessa as paredes da sua intimidade e nos chega aos ouvidos, nos fere, fingimos não ouvir e continuamos a ver para a televisão. Quando acontecer que se parta a louça, talvez um dos vizinhos, um dos mais conscienciosos, possa se dirigir aos pares, tentando os apartar. Mas ninguém se mete, para tentar denunciar, criticar ou restabelecer a ordem, pelo diálogo. Quando então, infelizmente, acontece a tragédia, resultando na morte, aí todos se põem a mostrar uma profunda indignação e a debitar os discursos moralizantes, apelando à razoabilidade e ao respeito às instituições.

Na Guiné-Bissau os berros e o barulho da louça partida nos chega constantemente, mas terá havido uma acção enérgica e dissuasora dos vizinhos e amigos? O mesmo direito que nos autoriza a criar acções diplomáticas concertadas agora, não nos autorizava a criar acções dissuasoras preventivas mais efectivas no passado?

A violência dentro de um país, uma célula no tecido global, ou de uma família, uma célula no tecido social, não é um assunto privado; a comunidade é responsável.

2.3.09

Filmes da minha vida

Imagem:IMDB

Se gostam de argumentos inteligentes, procurem este filme e vão ver que, por mais que um assunto é conhecido, há sempre uma nova forma de a contar. Neste caso, a queda do Muro de Berlim e a forma como foi vivida por uma família. Grande literatura; desses que nos dão vontade de ser escritor.

Além do argumento brilhante, o filme em si é forte na sua direcção. Aliás, os filmes alemães contemporâneos que tenho visto, distinguem-se num aspecto: são milimetricamente dirigidos: cada plano, cada sequência, cada acção, é cuidadosamente montado, o que, tangencialmente, pode aborrecer pessoas mais ávidas de acções frenéticas. Vi o potente "A Vida dos Outros" (ou no original, "Das Leben der Anderen") de Florian Henckel von Donnersmarck, que também passa esta ideia de que cada plano é um projecto. Vi ainda "O Falsário" (Die Fälscher) de Stefan Ruzowitzky, não brilhante, mas notável. Outro aspecto de matar neste filme é a direcção de arte. Foi divertido ver a reconstrução dos mais pequenos detalhes da época, dos edifícios, passando pelos móveis, automóveis, figurinos e até marcas específicas de, por exemplo, pickles.

Uma expressão que me ocorre para denominar este cinema alemão, o pouco que já vi, é: "honestidade estética", termo bastante enigmático eu sei. A desenvolver em próximos capítulos...

À Segunda

Fonte:IMDB

Passando à revista às minhas tropas dei por falta de...tolerância na Guiné-Bissau. Os demónios voltam a ensombrar este país, irmão de armas, que ainda não aprendeu a largar as armas. Terão matado Nino Vieira, em retalhação ao assassinato do Chefe do Estado Maior. Tempo de ódio na Guiné.

Robert Mugabe faz uma festinha dos seus 85 aninhos que custou à volta de 200 mil euros!! E o país sucumbe à fome e às doenças.

Aqui não temos armas e corruptos tão descarados como Mugabe, mas temos coisinhas que matam softly. A corrupção no continente é destruição directa, pura; a corrupção por cá é ferrugem: não faz barulho mas estraga na mesma. É inconcebível que a Ministra da Economia se arrogue a não comentar o caso da CI. De igual modo, o Min.Agricultura e Ambiente não responde sobre a Murdeira, sobre as pedreiras que estão a prejudicar as populações, sobre o abandono da barragem do Poilão, etc. Em relação a isso, uma nota positiva à Min.Educação, que fala que se farta: instigada a falar de assuntos quentes, tais como o Ensino Superior e a situação profissional dos professores, não foge, fala abertamente. So good, so far para ela.

Costumo estar um pouco menos intragável às Segundas, mas esta apanhou-me de gripe, que vem já do fim-de-semana. Aproveitei e fiquei profundamente em casa e assisti a todos os filmes, piratas como sempre, que pude: "Doubt", de John Patrick Shanley, com interpretações grandiosas de Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman. A Kate Winslet deve estar mesmo impecável em "The Reader" para lhe roubar o Óscar. Ainda com Meryl Streep, vi o agradável "The Devil Wears Prada" de David Frankel, que me atraiu, no aluguer, pelo sugestivo nome, por Meryl Streep e pelo belíssimo cartaz. Desilusão para "Gran Torino" de Clint Eastwood e por último, uma grande surpresa, como tem sido aliás a minha descoberta do cinema contemporâneo alemão, "Good Bye Lenin!", de Wolfgang Becker, um filme brutal, com reminiscências a "La Vita é Bella" de Roberto Benigni.

Afinal, sofri, fisicamente e espiritualmente, mas nem foi tão mau assim, com tanta arte a acompanhar-me.