28.1.10

Ruído...a propósito de moralidade.

Já todos devem estar a par da alegada agressão ao líder do MPD nos Mosteiros, que até teve as honras de 1ª página no Expresso das Ilhas. O MPD considera que o caso é uma afronta à democracia e aos direitos individuais; o PAICV mostra-se indignado com o que considera manipulação dos factos e victimização; a Polícia, pasmem-se (não, não vão acreditar!) acusa o dito cujo de auto-agressão (?!).

Onde é que estamos? Onde está a Justiça? Onde está a moral pública? Que categoria de homens temos a tomar conta do nosso bem comum, Estado?

Sinceramente!

Eco...a propósito de moralidade

"A moralidade da política cabo-verdiana é das disciplinas filosóficas que os filósofos moralistas não empenharam muito nos estudos. Entre levezas e nada que fazer, mais para criancices do que outra coisa, os políticos vão se acusando de falta de gentileza entre si, enquanto para a população a violência é mais agressiva. Não sendo nem santo e nem pecador, o que não deve ser permitido na política cabo-verdiana são incestos – a montaria dos sindicados no lombo da égua da política. Aquilo que o Presidente da CCSL, José Manuel Vaz anda a fazer é corrida eleitoral e sem propósito sindicalista. Esta égua não deve ser montada pelos sindicados.

Diz o cavaleiro e líder sindical que “não se deixará intimidar nem pelo José Maria Neves, Primeiro-ministro e tão pouco pelo seu partido”. A pronúncia partidária de José Manuel Vaz é descabida pela simples lógica de que as Centrais Sindicais são representantes dos Funcionários Públicos e não mandatários políticos, por isto não deve nunca confrontar com partidos políticos da forma como expressou, sim com os Governos."
excerto de "Moral das Estórias! Favas, contas" in Geração 20 J. 73, um dos meus blogs CV predilectos

Comments: Tenho pra mim que uma das formas de endireitar a nossa moral pública é chamar esse pessoal de imoral todos os dias, até que se sintam ridículos. Só um reparo: Centrais Sindicais são representantes de trabalhadores, não somente de funcionário públicos.

25.1.10

Maybe You Can

Hoje, em troca de correspondência com uma das minhas interlocutoras (favoritas, devo confessar-te J), que na altura da Obamania tínhamos entrado em desacordo porque, se alguns se recordam, manifestei as minhas reservas na excessiva esperança na eleição do Obama e ela indignou-se com a minha falta de support, um ano depois manda-me textos de alguns conceituados opinion makers norte-americanos, tais como Roger D. Hodge, editor-in-chief da Harper's Magazine, que mostram uma grande desilusão em relação a Obama. Bem, nem tanto a mar, nem tanto a terra. O fenómeno Obama foi antes de tudo SOCIAL. Foi de histórica importância para o empowerment das minorias e um sinal de believeness que estruturas sociais injustas podem se transformar, ainda no decurso de uma geração. Mas, em termos políticos Obama é um...político, com toda a carga que esta palavra se assume na política contemporânea. Eu diria que Obama nem fazia ideia do buraco em que ia se meter. Política contemporânea é saber manobrar-se no meio de impressionantes poderios económicos, industriais e militares, que estão todos em mãos de...alguns privados. Quem manda nos USA é esse poderio, prova disso é a Cimeira de Copenhaga 2009. Mas continuo a achar que a eleição de Barack Obama foi um feito histórico, um feito social histórico, mas em termos de política...vamos ter de guardar as utopias para outra altura.

Gostei deste texto, que deu título ao post, curto e grosso.

Thanks J

24.1.10

...E quando é que a arte começa a ser ensinada neste país?

Danças na Cidade

A Câmara Municipal da Praia tem se notabilizado, do ponto de vista cultural, promovendo eventos de excelência como foi o caso do Gamboa 2009 ou o Kriol Jazz 2009. Sucessos que tem uma mão de Tober, um homem de bom gosto. A questão agora é que a bitola já está estabelecida e qualquer resultado abaixo dela fica a parecer muito mau. Caso do Bienal de Dança do Ceará, que Praia acolheu. FRACO, é o comentário mais lisonjeiro que consigo fazer.

Como perguntava a minha prima a toda a hora, Como é possível não haver uma enchente de gente nestes espectáculos de tão elevada qualidade? Eu tenho mais perguntas. Como é possível que um certame com esta categoria não tenha sido amplamente divulgada?, exemplo como divulgam as inaugurações de estradas ou de uma parede qualquer? Como é possível que não inundassem as ruas de informações sobre o mesmo? Como é possível que tenha tido tão pouco público? Como é possível que tenha tido tão pouco interesse por parte da Comunicação Social?, exemplo como tem os congressos dos partidos? Como é possível continuar a não ver personalidades pública em eventos culturais? E os atrasos? Será que a cidade, e o país no seu todo, tenha tirado os melhores proveitos da Bienal?

Enfim. Espero que todo o calor humano, às vezes calor demais, com a recorrente imagem de indivíduos a importunarem os estrangeiros sem que haja a polícia por perto para garantir um estadia agradável aos mesmos, dizia, espero que o calor humano e a amizade que os artistas estrangeiros fizeram por cá, lhes tenha deixado com vontade de voltar a Praia, porque se depender da organização, eu não voltaria.

Lições: a Câmara não é feita para organizar eventos, mas tão somente os promover. A organização deve ser entregue a profissionais...bem pagos, como foram os milhões para a Gamboa e para o Kriol Jazz. Onde sai o dinheiro? De bons partenariados com os privados, já é tempo de aprendermos estas contas.

21.1.10

O Mito na Cidade

Imagem: e-art de Mito
Sexta-Feira, dia 22 Janeiro, 18h30, Praça do Plateau

...o Mito vai apresentar alguma das suas surpresas em vídeo , que ainda não sei bem o quê, mas agrada-me sempre ser (positivamente) surpreendido. E depois, vejam lá, é sexta-feira, é happy-hour e um pretexto para uma voltinha.

A calma

Nas Canárias, o povo é calmo e hospitaleiro. Aliás, à luz da modernidade, temos de rever o conceito de "Morabeza" aqui. O tratamento é bom em todo o lado: lojas, restaurantes, bares, na rua. A polícia sabe informar, os taxistas são atenciosos. Vê-se famílias inteiras, da mais velhinha abuela (avó) ao bebé de colo, a fazerem os seus passeios de fim-de-semana na bela via pedonal de Las Canteras, Las Palmas. Até mesmo num jogo de basquetebol (não sabia que era tão popular em Espanha) vão as avózinhas e os netinhos, euforia geral, mas no final todos saem e vão para as suas casas, na paz. Evidentemente que há crime, violência e acto de ignorância, mas o clima geral, pelo menos para o visitante é de serenidade, mesmo em horas de ponta. Disseram que são assim por serem ilhéus(!)....Mentira, porque nós também somos.

Se paz social não está directamente proporcional à justiça social, então não entendo nada do mundo.

20.1.10

Amílcar Cabral

Anima-me sentir que a data de 20 de Janeiro é assinalada cada vez mais com menos partidarização. A figura de Cabral é cada vez mais discutida do ponto de vista dos seus ideais e das suas acções. Anima-me sentir que Amílcar Cabral é uma figura de inspiração para a malta do hip-hop, grandes mensageiros urbanos. Gosto do orgulho que ostentam as pessoas hoje em dia, em ter uma t-shirt com Cabral, ou um boné. E mais obras, concertos, performances, palestras ou simples tertúlias, acontecem com o mote Amílcar Cabral.

Todos os povos tem os seus líderes carismáticos da história. O nosso é Amílcar Cabral, indiscutivelmente.

Extemporâneos até quando?

A pergunta sobre a Arte Contemporânea é difícil de responder até onde ela se manifesta inequivocamente, como em S.Paulo ou Nova Iorque, talvez porque ainda não existe distância histórica para a analisar. No nosso caso a pergunta é ainda mais elementar: o que a Arte significa para nós. Penso que, apesar de termos alguns (poucos) artistas dignos do nome, com uma obra de referência, não chega para Cabo Verde ter um Arte que a distingue, porque, como já tinha dito Abraão Vicente (e que todos ralharam), não existe um pensamento artístico em Cabo Verde. Ora, a Arte parte de algum pensamento e produz outro pensamento. Que pensamentos são esses?

Quando falo da Arte, referencio-me às Artes Visuais , que são as que conheço menos mal. Mas a ideia pode ser aplicada, por exemplo, à música, que é a nossa grande bandeira cultural. Embora haja uma produção notável, em relação à população que somos, podemos indicar muitos poucos trabalhos que podem ser classificados de "criação", com isto querendo dizer, pesquisa, experimentação, transformação e produção de algo novo, que é como se define a arte. A nossa Cultura é de reprodução, com pequenos momentos de transformação, mas essencialmente reproduz, inova pouco, cria pouco e, para mim o mais importante, questiona pouco. Um sociedade tradicional, portanto.

Escola é essencial, da pequena infância à universidade. Arte no Ensino, por favor.

19.1.10

Contemporâneo, nós?

E com isto tudo, mais uma vez a questão, O que significa a Arte Conteporânea, no nosso contexto, de falta de escolas, de falta de políticas, de falta de mercado...de falta de imaginação?

Danças

Praia vai ser palco da VII Bienal da Dança do Ceará, interessante, não é? Reparem bem, Praia não vai ter uma bienal, só vai acolher a bienal, este ano. Bem, a minha esperança é que se anime com a idéia e se trabalhe para termos uma "Bienal de Dança da Praia".

Entretanto ontem, dia 18, passando pela praça do Plateau, a principal praça da cidade, por volta das 7 da noite, vi que havia uma pequena multidão de estrangeiros, a que não se podia ver as caras porque aquela praça está submergida na escuridão. Depois vim a saber que aquela gente era o pessoal da prestigiada Bienal. Pensei imediatamente, Já é tempo desta cidade proporcionar um acolhimento muito melhor que a que temos agora: praças escuras, dois contentores no lugar da esplanada, Voz Di Povo que se fecha, como já aconteceram com tantos outros sítios de qualidade, porque esta cidade não consegue garantir a segurança das pessoas, sem falar que não há quaisquer estruturas de apoio ao turismo, como uma quiosque de informação em condições, autocarros cómodos, etc. Já é tempo de termos uma cidade à altura das suas pretensões.

Queixas à parte, parabéns à Câmara Municipal da Praia, que vai dando bofetadas com luvas de seda ao Ministério da Cultura, conseguindo a segunda edição do Kriol Jazz, para grande deleite meu, e agora esta Bienal. Outro parabéns ao Raiz di Polon, combatentes da Cultura, sem honras de Estado.

Sociologia elementar

Em conversa com a minha amiga, indignada com o estado de coisas actuais, criava as suas explicações para não estar só furiosa: Esta sociedade é violenta porque não há regras e autoridade! Ninguém é responsabilizado de nada, nem governo, nem sociedade, nem famílias. Pois, acrescentei, menino que é apanhado na rua, em horas que não devia estar, deve ser levado aos pais e estes responsabilizados. Pais?! Ela pergunta-me espantada, Onde vês pais, no plural? Isso também é outra das coisas, Como é possível que tantos homens continuem a não ser responsabilizados pelos filhos que geram? Como é possível que os homens desta sociedade continuem a queimar o dinheiro do seu trabalho em álcool e paródia, enquanto as mães esfalfam-se para dar de comer aos filhos? E, pior que tudo, estão sempre ausentes, mas quando aparecem, ainda encontram tempo para espancar a mulher, na frente dos filhos. Aí retorqui, Olha que as mães espancam os filhos também, como se fossem mulas, não é que mereçam as mulas maus-tratos. Sim, a violência é um ciclo vicioso, mas é aí que entra a autoridade e a justiça. Não chega, replico.

Ficamos um instante em silêncio, remoendo a raiva, buscando mais explicações. Enquanto não investirmos na educação, repondo os valores, nenhum outro investimento valerá a pena. Concordamos ambos.

18.1.10









Suão

Se tínhamos dúvidas sobre a região que pertencemos, tá ali fora uma potente nuvem de poeira para nos lembrar que, estamos praticamente dentro do deserto Saara. Se temos dúvidas em que latitude nos encontramos, basta lembrar que, somos um país de clima tropical seco. Às vezes, sequíssimo, como hoje.

Dica: fervam muita água em casa, com gotas de óleos essenciais de cânfora ou eucalipto, e vão “viajando” com a panela pelos quartos da casa. O tradicional Vicks substitui os óleos essenciais. Humedece o ar, refresca e ajuda a “baixar” a poeira. Bebam muita água. Asmáticos e alérgicos, tenham cuidado em pôr as mãos nas superfícies de móveis e outras coisas...Ter o deserto à porta é terrível!, imaginem os próprios habitantes do deserto!

15.1.10

Sempre a mesma estória: Palácio da Cultura

Chega de incompetência! Não está evidente que a actual equipa do Min.Cultura é totalmente incapaz de dar dignidade aos lugares, aos eventos e aos agentes da Cultura? Sinto-me envergonhado de cada vez que ponho os pés no Palácio (que de Palácio já não tem nada) da Cultura Ildo Lobo. Sinto-me mais envergonhado quando o sítio (por falta de outro sítio) recebe exposições de tão bom gosto, como é o caso da actual de Ana Rita e Mito.

Não sei o que dizer mais...Triste ter que admitir que tem que cair a parede (Governo) para que saia a pedra mal encaixada (Min.Cultura).

Ode a Praia

Ontem (14 Jan) ouvi Mito a declamar, no jeito de Mito, ou seja, metendo o coração, a alma e as tripas na declamação, um poema lindíssimo de Jorge Carlos Fonseca, uma ode à Praia, uma declaração descarada e aberta à cidade da Praia. Como lá disse o meu amigo Nuno, quem estiver em maré de desanimar-se com esta cidade, que leia esse poema, que vai se sentir a pertencer a um lugar, não melhor que outros lugares, mas um lugar onde a sua vivência passada, os seus cantos e as suas pessoas, valem mais que os míseros actos de brutalidade que se sucedem na actualidade. Além do mais descobri um poeta: Jorge Carlos Fonseca (confesso, nunca tinha lido da sua poesia).

Sim, a arte pode nos restituir o orgulho de pertencer a aqui e a agora.

Quero ser Presidente da República

A quantidade de candidatos a Presidente da República parece querer dizer o seguinte: é um bom lugar para se ocupar, não exige assim grandes provas de competência e...porque não?! Parece querer dizer que o caminho para se chegar a PR é fácil.

Vamos ver: para ser Chefe do Governo é preciso passar por várias provas: há que convencer os próprios colegas do partido de que se é adequado para estar, no mínimo, na comissão política do partido, mas sabendo que Chefe de Governo será o presidente do partido. Depois de ganhar este desafio, é preciso ganhar as eleições, o que implica ter que lutar num campo onde não há tréguas, as eleições legislativas. Depois disso tudo, é preciso aguentar a carga, por quatro anos, pelo menos. Ou seja, o gajo que aspirar a tais vôos terá que sentir os tomates.

Presidente da República de Cabo Verde...é fácil. É a figura a mais simpática do momento e já está. Ou pelo menos assim pensam a meia dúzia de candidatos que já temos. Entre eles todos, safo algumas excepções, adivinha-se uma pretensão quase descarada em ter tal pretensão. Direito a sê-lo até eu (36 anos) tenho. Mas aspirá-lo é preciso ter uma boa dose de argumentos. A minha pergunta é: que argumentos terão determinadas figuras, falhados politicamente, falhados na gestão de alguma câmara ou organismo público, baços em termos de actividade pública, sem posições conhecidas em muitas matérias sociais, tais como a violência, o tema da moda, tipos que estão por aí a fingirem-se de mosca morta, que argumentos terão esses tipos para pedirem o meu voto? Ou pensarão esses senhores que é um bom lugar para a reforma?

Há uma certa síndrome de cara-de-lata por aí, penso.

14.1.10

KRIOL JAZZ!

Uma excelente notícia a contrabalançar as más. O possível cartaz do festival já tá publicado aqui, no lateral direito ->

Novo terrível começo de ano

Serão esses acontecimentos terríveis alguma maldição? Porque tem que pagar os bravos, os talentosos?

Um abraço a Vadú, um rapaz que se fez, sonhou e lutou pela sua carreira. Mas, antes de mais, um homem a mais ceifado pelos trágicos acontecimentos que estão a marcar este início de ano.

Eu acredito pouco em sorte e azar. Acredito que as coisas são na sua maioria provocadas. Creio que não estamos em maré de azar. Creio que estamos a colher os frutos ácidos das sementes do mal que estamos a plantar. Os diversos mini acontecimentos diários, perversos, que vivemos, não são banalidades. Mijar na rua, corta; manobras estúpidas, corta; gritar palavrão na rua, corta; desrespeito pelos mais velhos, corta; etc. Não acredito no azar. Acredito numa série de acontecimentos maus que acabam mal. Estão a acabar muito mal, trágicos, para a nossa grande dor e infelicidade.

Todos que tem responsabilidade de velar pela educação e os valores da nossa sociedade, são chamados a dobrarem esforços, a serem mais rigorosos, a não aceitarem a fatalidade dos factos, porque, está provado, a abstenção tem consequências trágicas. Falo aqui de pais, de cidadãos, de organizações da sociedade, dos dirigentes de empresas privados e do Governo. Ninguém está isento de culpa.

9.1.10

A sério?!

"PM admite existir elevado nível de violência no País"
Fonte: Expresso das Ilhas

Admite?? Não está evidente? Ou será que vai replicar, como diz a Polícia todos os anos, "O balanço é positivo"?

Estados ridículos

"Delegação [de futebol] do Togo recebida com tiros [em Cabinda, para CAN 2010], um morto e dois jogadores feridos"
Fonte Sapo.cv

Para mim, insegurança é um indicador de Estado. Quanto mais ridículas as situações de insegurança, como esta descrita aqui, como as que acontecem na cidade da Praia, mais frágeis parecem-me os Estados.

Os Estados existem para garantirem a coesão social, promovendo o Emprego, a Repartição da Renda, a Saúde, o Ensino; e o funcionamento das instituições, entre as quais as instituições da Ordem e da Justiça. Aos Estadistas não se pedem actos de bravura, na medida que são pagos, a dinheiro e a títulos, para fazerem o seu trabalho, que é manter o Estado a funcionar. Em Cabo Verde temos uma situação confusa: temos um bom índice de Governabilidade, pelo facto de termos eleições livres e organismos do Estado a funcionarem de forma transparente e independente, mas por dentro (sociedade, entenda-se) estamos rotos. Congratular os ganhos sim, mas encarar de frente, com cara de mau, as vicissitudes, é o que nos falta, considero.

5.1.10

...

Enquanto se tenta salvar um cinema, uma referência na cultura caboverdeana, não nos apercebemos que estamos a ser actores mal pagos de um filme sem qualificação possível do qual almejamos rasgar a tela que nos separa da realidade a tempo de não sermos a próxima vítima deste tão mal elaborado guião. Estamos sentados impavidos e serenos numa plateia também ela de má qualidade, desorganizada e fedorenta. Os realizadores e ficcionistas sociais que nem sequer por nós foram escolhidos mas que numa salada de paladar duvidoso nos deram a aprovar nas urnas, diariamente nos vende uma imagem tridimensional e irrealista de um país solarengo e de sucesso com vista para o atlântico. Preocupados com sei lá o que, fingem não ver que a sociedade está morribunda e decadente. Será que ninguém tem coragem para dar o grito? CORRRRRRRRRTAAAAAAAA

Marco Além (um ilustre comentador neste blog)

DIGAM-ME QUE NÃO É VERDADE QUE O DUDU MORREU A FACADA!!!

Tou em choque! Não posso acreditar.

O QUE ESTÁ A ACONTECER AO MEU PAÍS? ONDE VAMOS PARAR COM ESTA VIOLÊNCIA GRATUITA? O QUE NOS ESTÁ A TORNAR UM PAÍS DE ESTÚPIDOS?

DUDU, UM DOS MEUS MAIS QUERIDOS AMIGOS, MORREU. NÃO POSSO ACREDITAR!

POR FAVOR, JUSTIÇA. DOA A QUEM DOER.

4.1.10

Dias normais


Pronto, passamos! Não foi desta que o mundo explodiu, mas já tá garantido que explodirá em 2012. Puf!...O que mais odeio são profecias, livros de auto-ajuda, receitas de felicidade, manuais de sexo e outras tantas tretas que tentam mostrar a profusão da vida em meras linearidades. Isto aqui, mundo, há de acabar por desgaste, todos os dias, acabando partes do céu, do mar, das terras e de nós. Não com cataclismos.

De volta à vida normal, ao levantar-se de manhã, à higiene interna e externa, às padarias, ao pequeno-almoço e ao resto, que é igual em toda a parte. Mas tou de férias e isto tem um diferencial incrível na vida de uma pessoa. O diferencial da calma, do sono, do tempo e da fruição. Tempo para ler os últimos romances, Saramago, o meu mais actual herói, na calha. Ver e rever filmes. os Irmãos Coen são a dupla de escritores/realizadores mais criativos da actualidade. Quem ainda não viu "Este país não é para velhos", faça o ver de procurá-lo em qualquer video clube pirata e vê-lo. Quem tiver amor suficiente pelo cinema, veja "Haverá sangue". Quem tiver senso refinado de humor, veja "Crueldade intolerável" ou "Queime depois de ler".

Passou numa televisão "Reservoir Dogs" (AKA "Cães Danados"). Tinha visto este filme há muito tempo atrás, mas há obras que só a maturidade nos leva a entender a sua subtilidade. Maturidade e o respeito por génio da cultura pop, Quentin Tarantino. Reservoir Dogs, para olhos despreparados é um banho de sangue, para olhos preparados é uma machadada estética, que marcaria o estilo de Tarantino, até ao recente monumento "Inglorious Basterds". O gajo é simplemente genial, nada mais.

Por falar em televisão, coisa que não vejo, mas que tenho visto porque tá um à frente de mim (e confesso que essa caixa tem em mim um efeito buraco negro), vendo a incrível quantidade de filmes e séries do género fast-food, compreendo o porquê de muita gente não ter a paciência de ver uma boa narrativa: essas porcarias cénicas estão carregadas de gajos musculados, mulheres-bomba (não faz mal espreitar um cuzinho, eheheh), estórinhas de 3ª categoria, técnicas hipnotizantes de montagem e uma estética do tipo desporto radical, que puxa pela adrenalina, efeito que causa a que um bom filme de autor fique a parecer uma seca. As nossas sociedades precisam reconquistar a POESIA.

2.1.10

Dia 7 - Passagem de Ano

É igual em todo o mundo. Celebramos um passagem simbólica, fazemos renovados votos, temos esperança e optimismo. Mindelo continua a ser para mim um dos melhores lugares para o as festas de final de ano, fazendo a diferença pela festa de rua que é, antes de todos se enfiarem em alguma festa comercial. A cidade devia fazer dessa tradição - das batucadas, do banho no mar, da folia popular - uma autêntica marca e vendê-la em pacotes turísticos. Com o meu povo é assim: quando devemos ter o maior orgulho e aproveitar das coisas que temos forte, não o fazemos; só fazemos garganta com o que ainda não temos como um valor seguro, ou que não é nosso de verdade. Ou seja, precisamos nos achar.

Final do ano, este ano, foi em Las Palmas. Confesso que esperava mais e por isso o orgulho do fim-de-ano de S.Vicente. Apesar disso, estive entre amigos e pessoas de boa disposição, que me proporcionaram uma óptima festa. Tenho dito, os lugares são as pessoas. Quero agradecer a essas pessoas que me fizeram sentir tão bem em terra estrangeira.

Estar um pouco fora do país, descansa-me dos problemas de todos os dias, traz-me um pouco de paz interior, dá-me saudades e em poucos dias, já estou cheio de orgulho de pertencer a uma terra chamada Cabo Verde. (tirando os idiotas, é o meu lugar!)