9.2.10

Pai,Filho,Espírito

"...tanto o CPLP como o Instituto Camões servem de condutores e suportes institucionais na reformulação do passado colonial que circula com a designação de política da língua portuguesa, ou simplesmente lusofonia."
António Tomás in O Fazedor de Utopias

Se isto não é uma opinião forte e polémica, outra coisa não é. António Tomás, enquanto que académico, doutorando, tem um escrita eivada de uma indisfarçável emoção revolucionária. Será pecado?

Não concordo taxativamente com esta opinião de "condutores e suportes institucionais na reformulação do passado colonial", embora reconheça gestos saudosistas nestas instituições. Sou do tipo que sabe que houve o Pai colonialista, o Filho colonizado, mas que sabe também que hoje existe uma herança humana, o Espírito, de onde se pode extrair um mundo novo, combinações inúmeras, campos inexplorados, valorizações imensas, que todos saiam melhores. Mas temos de agir também. Já chega desta africana-apatia.

10 comentários:

Ivan Santos disse...

Existem mais passagens polémicas no livro!!!Para não dizer, o livro todo!!(fiquei com a impressão que ele "culpa" Cabral e sua luta pelo facto de hoje Guiné, Cabo Verde e as demais ex-colónias estarem na situação que estão hoje)
Mas ao mesmo tempo é esclarecedor em alguns pontos da história politica de Cabo Verde!!!

Cesar Schofield Cardoso disse...

Ele não "culpa" Amílcar Cabral. Culpa os que o seguiram de não traduzir as utopias em práticas, de transformação efectiva dos nossos estados. Concordo com esta visão. Parece que os dirigentes de hoje, os que participaram dessa utopia, embarcaram numa onda, sem estarem completamente convencidos, moralmente, do que estavam a fazer.

Pss disse...

Na minha modesta opinião não creio que houve "filho colonizado".
Quanto muito pode-se afirmar que houve um bastardo. Isso é que é a verdade e que tem que ser dito.
Se se diz que houve o papá colonizador, o filhote colonizado (e é melhor pararmos por aqui com essa meiguice toda) estamos exactamente a propalar a "reformulação do passado colonial", hoje paternalista, não menos racistas, porém com muito mais verniz.

Baluka Brazao disse...

O Al Binda está a precisar de despartidarizar o seu discurso se pretende ter opinião ao nível que se pretende a este sobre as matérias em discussão!
Cabo Verde país atrasado? A solução está na assunção de governos da UCID e do MPD?
Brancos que querem mandar em pretos?
Por amor de Deus abstraia-se de preconceitos quando quizer ser levado a sério!

Anonymous disse...

Mas tu Cesar até quando vais abusar da nossa paciencia? com esta historia de que somos Africanos. Somos cabo-verdianos e tu descendente de polacos devias ser o primeiro a defender a nossa caboverdianidade em vez de uma africanidade de meia tigela. Exprimenta ir a Africa e vais ver o que te chamam. A mim já me chamaram "petit blanc" eu que até sou mulato, cafe com leite na justa medida. Dizer que somos africanos soa a falso. Acabemos com essa historia de pretos e brancos, em Cabo Verde isso não é um problema Al Binda, ou melhor é um problema seu e de mais alguns, não da maioria desta Nação. Quanto a Amilcar Cabral ele está mais do que ultrapassado, deixem o homem descansar em paz. Essa de Cabo verde ter sido colonizado é uma grande mentira. Cabo verde foi achado e povoado pelos Tugas e produziu isto que somos nós e somos filhos sim senhor mas que ganhou a sua Independencia, embora cá para mim uma boa autonomia como os Açores, a Madeira, Canarias, Aruba e outras ilhas seria suficiente, mas os Africanistas assim quiseram agora andamos aqui a pedinchar parcerias especiais e integração na Macaronésia algo de que somos parte por direito proprio. Ai tanto atraso nesta terrinha.

Baluka Brazao disse...

Pois é e se calhar também preferes usar esse nominho por pura modéstia. Não precisavas de dizer que não vives em Cabo Verde há muito tempo e que durante todo esse tempo tens vindo a acumular frustrações que se vão revelando nas tuas intervenções porque isso é obvio. 30 anos sem conseguir resolver problemas intestinais é muito tempo para qualquer ser humano. Assim torna-se difícil andar na vertical e olhar para a frente quanto mais fazer raciocínios razoáveis e coerentes.
Infelizmente quem não se tem visto ao espelho há muito tempo és tu. E bem precisas!

Pascoal disse...

As vossas ofensas em nada enriquecem o debate de ideias. Estão "ambos os dois" a perderem-se em pormenores quando todos sabemos que vocês têm muito mais para dar do que apenas e só troca de mimos.

Anonymous disse...

Racismo... CPLP... Cabral... E o que dizer do racismo praticado em cabo verde? Daqueles que não podiam passear na pracinha de Mindelo? Daqueles como o meu pai que era "obrigado" a lavar os pés para poder passear na pracinha? Pss, vamos destruir a pracinha por isso também? Acho que não. Cesar é descendente de polacos? deve ser branco de e de olhos azuis... porque é que nunca frisamos que ele é descendente de africanos também? afinal de contas o rapaz é mulato, mas preferimos só ver o lado europeu. Compreendo. Fomos educados nos moldes europeus, o nosso padrão de beleza é a grega com as suas proporções pré estabelecidas.Nunca nos foi ensinado a admirar o negro, e negro não tem beleza. por isso rejeitamos. Quando falo do César, falo de muitos Césares que existem por ai como eu e tu. A mim sempre me disseram que sou descendente de italianos... a parte africana do meu sangue ninguém se lembrou de quer recordar. CPLP... dizem-nos que somos "lusófonos". Como posso ser lusófono se respiro e transpiro crioulo, se penso e comunico diariamente em crioulo? Será que um descendente de Japoneses nascido e criado no Brasil se considera lusófono? Uns justificam-se que a nossa língua é 90% ou 95% português. Se o é, porque é que os portugueses não percebem 90% ou 95% do que eu digo? Cabral, foi um homem muito à frente no seu tempo. Se em parte as suas ideias ficaram presas no tempo, foi apenas e só porque a sua morte não lhe permitiu continuar a evoluir. Sim, porque só não muda de ideias quem não as tem. E ele, ao que parece tinha, e muitas. E não queiramos associar Cabral a esse bando de oportunistas que andam por aí e que oprimiram o seu próprio povo.
Um Abraço a todos

Cesar Schofield Cardoso disse...

Confundimos cor de pele com cultura. Isso é herança directa da separação que vai no colonialismo em: brancos, pretos e "assimilados" (crioulos na sua maioria). Há tempos se pôs uma questão interessante: qual é o grau de castanho que passa de preto a mulato?

Vá lá pessoal, se estudarem um pouco a história da colonização hão de ver que a questão da pele é por demais artificial, uma forma que o colono encontrou de "arranjar" a sociedade aos seus interesses. E que tal de deixarmos de lado a questão da pele e pegarmos de questões reais, como a língua, por exemplo.

E como podemos fazer este debate sem calor?

Rony Moreira disse...

Okei, César!
Debatemos questões reais, como a língua, dominação cultural, a independência e certos graus de complexo? Começamos pela língua e dominação cultural. No inicio dos finais do século XIX, a ilha de Santiago fervilhava pelo sentimento separatista e de nação (e não tinha nada ver com a cor da pele, porque os brancos terra viam-se como homens desta ilha), a situação era tão perigosa que Colonizador teria de liquidar a pretensão de independência e a questão cultural (porque a coluna dorsal da nação é a sua cultura). E neste ponto o colonizador pautar pelo equilíbrio racial a partir da assimilação cultural, e qual foi a melhor forma de concretizar esta politica — a educação, ou seja o ensino. E é neste preciso momento que se vai dar maior atenção ao ensino da língua e da assimilação da cultura portuguesa (Ocidental no seu todo).

A assimilação cultural, por dominação, devia consequentemente atenuar o sentimento separatista; e que não conjuga-se com este quadro seria inferiorizado. E é nesta lógica política, que a língua crioula foi desprezada, assim como maioria das manifestações culturais de elementos africanos. Esta mesma política de educação tinha ou outra vertente a “ocidentalização” da parte administrativa do Barlavento. As ilhas de Santo Antão, S. Vicente e S. Nicolau tinham maior número de professores e posto de ensino que as restantes, mas tinham menor número de população; e a percentagem em relação à população era de 8.1% em S. Vicente, 5.3% em S. Nicolau e 4.5% na Praia no ano lectivo de 1947-48. A instituição escolar (assim como hoje) funciona como um filtro que permite o acesso de poucos a posição de dominante; e neste quadro é o capital cultural que proporciona a mobilização social e aquisição de recursos económicos.

Por outras palavras, o ensino funcionou na época colonial como instrumento de assimilação cultural, que por seu torno levou a dominação cultural e que por fim teve ressonância nas formas de ver a autonomia e a independência. E até nas questões mais actuais sobre a oficialização do Crioulo.

Outra nota: o preconceito da dominação cultural e racial com todos estes séculos de revoluções políticas, económicas, sociais e individuais ainda persiste. Ainda há pessoas que conseguem ver na cor da pele a inferioridade mental. Quando todas as respostas estão na relação de poder.