16.2.10

Terça de Entrudo

Fico cada vez mais impressionado, à medida que vou aprofundando os meus conhecimentos disso, com o nível de vida social e cultural que se viveu no Mindelo durante a 1ª metade do séc.XX. Mindelo era como uma "Havaninha" para os governantes portugueses e as "forças vivas" locais. Mindelo não se assemelhava a nenhuma outra localidade em Cabo Verde. Desenvolveu notáveis figuras nas letras e nas artes. São famosos os clubes e as festas. Até os governadores colonialistas perdiam-se de amores por Mindelo e os seus encantos.

Nessa óptica, a entrada do PAIGC no Mindelo, na data da Independência, assemelha-me à entrada de Fidel Castro e Che Guevarra em Havana. O fim da belle époque da burguesia luso-caboverdiana. Ora neste sentido, pode-se compreender a animosidade contra os "revolucionários" de uma determinada classe de pessoas, e ainda hoje um culpar do PAIGC do desaparecimento dessa way of life.

Ora, caro amigos, concidadãos, patriotas ou não, sejam de que raça forem de caboverdino, uma coisa é certa: a minha cidade do Mindelo viveu coisas magníficas, de que lhe ficou de herança o cosmopolitismo; o problema dessa moeda é que no reverso a maioria na população, das "fraldas" do Mindelo e do resto do arquipélago, era miserável e ignorante, morrendo à fome e às doenças. Ou seja, não tinha como manter aquilo.

Agora aproveitemos das heranças boas, em que o Carnaval é uma das mais alegres, boémias, divertidas e reveladoras. Hoje mais do que chorar o passado, podemos é juntar todos os bons atributos que temos e procurar novos ares, de bandeira desfraldada nos ares, idealmente levada por uma bela porta-bandeira.

4 comentários:

R. M. Semedo disse...

Falemos do Maio ignorado, falemos da Brava à deriva, falemos da Boa Vista esquecida durante tanto tempo, ou do S. Nicolau que ninguém fala. Temos que perder essa mania de insistir que Cabo Verde é Praia e Mindelo / Mindelo Praia. Temos que distribuir as infraestruturas proporcionalmente por todas as ilhas para que os filhos dessas ilhas não tenham a necessidade de se deslocarem a outras para trabalharem ou estudarem. Quanto ao cosmopolitismo perdido, provavelmente encontramo-lo na Boa Vista ou no Sal. Compreendo que as gentes de Mindelo ou mesmo da Praia reclamem. Quem come muitas refeições por dia, normalmente tem mais fome do que aqueles que só comem uma ou nenhuma mesmo logo, é natural que reclamem mais, até se habituarem. A culpa não é do PAICV nem do MPD nem da UCID. Os tempos são outros. Não da concentração mas da distribuição.

Cesar Schofield Cardoso disse...

É precisamente esse o ponto do meu post, Semedo: esquecemos que Cabo Verde é um povo, que é muito mais que a pequena minoria que pode auferir de condições confortáveis de vida. É aspiração legítima de cada indivíduo procurar o máximo de conforto de vida que consiga (princípio que não abro mão), mas é dever do Estado (representante da colectividade) manter o equilíbrio entre todas as aspirações individuais. A felicidade da sociedade depende disso.

Obrigado pela contribuição

Pss disse...

"Os tempos são outros. Não da concentração mas da distribuição". Essa é mesmo HILARIANTE. Distribuição para onde ? Ah já sei ... Achada de Santo António, Plateau, Palmarejo, Estradas da última geração a rasgar as montanhas até Assomada. Sim tens razão os tempos são outros de distribuição. Distribuição concentrado. Mas de distribuição sem dúvida.

Pss disse...

E já agora o que dizes é de alguém que não conhece Cabo Verde. Vais encontrar cosmoplitismo no Sal ? Na Boa Vista ? Meu caro nessas duas ilhas há sitios que nem te deixam entrar (caso tu fores caboverdeano) para que saibas. Portanto quando fores procurar o cosmopolitismo vê lá onde procurar ...