31.3.10

O Primeiro-Ministro

Hoje assaltou-me uma dúvida aflitiva: será que, pelo facto de criticar abertamente determinadas posições de José Maria Neves, as pessoas acharão que faço apologia de Carlos Veiga? Vamos lá desfazer as dúvidas: não!

É incompatível defender Ulisses Correia e Silva e José Maria Neves ao mesmo tempo? É descabido pedir Carlos Veiga e Felisberto Vieira (Filú) que vão para casa descansar? É incongruente ter amigos tambarinas e ventoinhas em pé de igualdade?

Vá tenham a coragem de assumir que Ulisses foi um alívio para a cidade da Praia, mas tenham a clareza de ver que Carlos Veiga não é alternativa ao JMN. Já viram para o outdoor que anda por aí a tentar "vender-nos" Carlos Veiga? Malta, não conseguem melhor?? É esse homem que pretende assumir o mais complexo cargo do Estado? E equipa? E projectos, ideias, alternativas, oposição sustentada?

Enquanto JMN contribuir para uma coisa fundamental, o equilíbrio do Estado, mantendo o país a funcionar minimamente correcto, tanto no plano interno como no plano externo, coisa que Carlos Veiga não conseguiu por altura do seu segundo mandato, ao causar o desmoronamento do governo, desestabilizando gravemente o Estado, JMN continua gozar de melhor score, no meu placar. Se o opositor de JMN fosse Ulisses eu estaria balançado, mas, tenham paciência, Carlos Veiga?!
A lista de crimes culturais aqui ao lado voltou a aumentar (e infelizmente vai aumentar mais, questão de memória só). No caso, a pergunta: que é feito dos instrumentos doados pela China?

Blogs

Ainda ninguém me esclareceu da razão de tanto burburinho sobre os blogs, se esses não passam de espaços pessoais, altamente autorais, nunca comparáveis aos orgãos de comunicação social. Já ouvi de tudo. Houve quem sugerisse uma deontologia para os blogs. Outros pedem-me que fundamente as minhas afirmações. Há ainda quem exija referências bibliográficas a seguir aos textos. Mas de que estamos a falar??!

Não sei para os outros como é o processo, mas o meu revelo aqui: normalmente faço os posts de noite ou logo pela manhã. Limito-me a 15mn a escrever um post, excepcionalmente tomam 20-30mn. Decidi não ilustrar cada post com uma imagem porque consome tempo. Faço o blog como um exercício de sistematização das minhas ideias, da minha própria escrita e tento mantê-lo diário. Escrever é como o desporto, temos que praticar. O meu blog tem sido o meu caderno de anotações.

Sinceramente não vejo a mínima diferença entre o meu blog e as conversas de café que tenho abundantemente, felizmente. Que me desculpem os sensíveis, mas não sinto a mais leve necessidade de me justificar. Quem vem cá, lê porque gosta de ler, concorda ou discorda, comenta se gostar de comentar (a maioria não o faz) e segue a sua vida.

Pois caros visitantes, vocês estão neste momento num espaço pessoal, não comercial, sem compromissos, sem objectivos definidos, que tanto pode soar a coisa séria, como também pode soar a vazamento de ideias. O erro aqui faz parte. E por falar nisso, vou partilhar uma coisa que uma vez aconselhou-me um grande encenador: "quem teme o erro, não cria, copia".

Mas afinal quem sente raiva do que lê aqui, porque volta sempre? Por masoquismo ou exercício de intolerância?

30.3.10

Antes de ver a ante-estreia deste filme, confesso, torci o nariz. Mea culpa. Nunca julguemos as coisas por "sensação"; vamos lá ver e depois ajuizar. No meu caso, não gosto de filmes musicais e não gosto mais ainda desta visão "Cabo Verde - terra de música e morabeza". Sim temos muita música e somos um cantinho quieto no meio do oceano, mas não essa ternura que determinados clichés reproduzem. Então quando fui finalmente ver este filme fiquei maravilhado com o que vi. É uma visão muito própria do autor. Tem muita força, muita energia e um documentário realmente sui gen

Borbulhas de nervos

Chegou o tempo dos nervos à flor da pele quanto ao discurso político. Pré-campanha, é o nome desse tempo. Estamos todos com medo de: se ganha o que já ganhou duas vezes, lá vamos ter de gramar as mesmas soluções repetidas tantas vezes que ficamos quase a acreditar que resultam; se ganha o outro (qual outro?) será uma espécie de lançar dados: a gente espera que saia o melhor, mas e se não sair?! O problema do outro é que por enquanto ele é somente um cartaz mostrando um homem sorrindo à força. Que inspiração!

Então é esse o tempo que estamos, sem terceira via, nem de partidos, nem de opiniões. A terceira via de opinião é classificada neste momento como "caminhar em cima do muro" a ver de que lado vão instalar o colchão. A terceira via é classificada assim porque na cabeça de muitos, neste momento só vale a pena exercer a opinião na perspectiva de que ela influencie uma eventual oportunidade eleitoral. Tal maneira de pensar é derivado de efectivamente acontecer assim em muitos casos.

Para pessoas que não tem, nem pachorra, nem capacidade, nem formação, nem estômago, nem ambição de cargos políticos, mas mesmo assim não se abdica do direito à opinião política, há duas opções: fingir-se de morto e curtir uma praia ou saber que este tempo é mesmo de nervos à flor da pele. Facilmente aparece um nervoso descarregando à sua ansiedade em cima de ti.

Imaginarium

No cinema da Praia, quinta, sábado e domingo....Fixe!!!

Civilização II

A Míriam do "Bom dia crioulo" da Rádio Nacional, disse que a tal senhora brasileira dos horóscopos disse que os nascidos sob o signo de Peixes, hoje devem ser "pessoas maravilhosas mas não abdicando-se dos seus direitos".

Tenho uma pergunta simples. A electricidade e a água são bens, como as telecomunicações são, como são os alimentos, como são a prestação de serviços de saúde ou outro qualquer, não são? Se qualquer um desses serviços não for prestado em quantidade e qualidade, estamos perante ineficácia, não estamos? A ineficácia e a ineficiência contínua significa que há, em alguma parte, incompetência, estou certo? Agora uma pergunta difícil: na cadeia complexa de decisões em relação à Electra, quem é o maior incompetente?

Ouvi dizer que foi criado o diploma que vai permitir criar o Sistema Nacional de Qualidade. Para quando isso? É mais uma daquelas palavras bonitas? No caso de ser verdade, qual será a bitola dessa Qualidade? A ISO (International Organization for Standardization)? Estavam a sério quando anunciaram isso?

Há dias estive num workshop que versava o tema da gestão por objectivos, que se aplica a empresas e governos. Sei também que está em curso, há já uns anos pra cá, ao nível do Governo, de um sistema de planeamento que se baseia em resultados. Será que isso sai algum dia?

...Desculpem muitas perguntas, mas estou seguindo as recomendações da Míriam e da senhora brasileira dos horóscopos...mas fui delicado, não fui? :)

29.3.10

Civilização

Não sei dessas situações, qual é a mais ridícula: tomar banho de cócoras, em escassos litros de água, porque a cidade toda já vai em não sei quantos dias sem água na rede; não trabalhar, ver a televisão ou qualquer coisa que seja eléctrico, porque já conhecemos a essa estória de cor e salteado; ou se é essa sociedade bundona, apática e ridícula, perfeitamente silenciosa a suportar esses estado de coisas, num país com as mais avançadas tecnologias de informação, onde o parque automóvel do Estado é invejável, não se dispensando os banquetes nos hotéis caros da cidade, nas dezenas de eventos que se fazem por mês neste país.

Já estou a ficar pelos cabelos de fóruns e galas em salas climatizadas, ornamentadas e chiques, para tratar de assuntos graves que acontecem na aspereza do terreno. Já estou a ficar perfeitamente indignado com esse exército de técnicos que mal conhecem os caminhos de Safende, Latada, Monte Agarro, Calabaceira, Ponta Água e dezenas de outras zonas que vão nascendo por esta cidade, que por falta de presença institucional, vão-se intitulando de "Jamaica", "Tchetchénia", "Kobom", etc., onde a realidade, garanto-vos, é bem mais dura que em páginas de relatório, mas, ao mesmo tempo, é menos apática que essa pequena burguesia administrativa. Existem umas tantas iniciativas comunitárias, que me parecem a nadar num rio seco.

...Sinceramente não sei se estaremos de verdade comprometidos com o desenvolvimento do nosso país. Ou se saberemos como nos comprometer.

24.3.10

Civilidade

Estão a roubar os cactos das rotundas na cidade da Praia. Sim, é verdade, estão a roubá-los! Lembremo-nos que a CMP gastou uma massa para embelezar essas rotundas, com uma solução de jardinagem, com palmeiras e lindos cactos, importados das Canárias. E agora, estão a roubá-los, imaginem, para vender no mercado!!...É, as senhoras que vendem plantas, vendem esses cactos com a maior cara de pau. São criminosas. Mas igualmente criminosos são os compradores. Senhoras e senhores compradores, tenham vergonha em ter esses cactos nos vossos jardins.

Bandidos!

Quarta,Parede

"Um em cada cinco portugueses sofre de perturbações psiquiátricas"
in Publico.pt

Quantos caboverdianos em cada 5 sofrerão de perturbações psiquiátricas? Mas, antes de mais, o que são perturbações psiquiátricas aqui? Será que as consequências do álcool estão a ser tido em conta com "perturbação psiquiátrica"? E as depressões e stress que vemos por aí, ao lado de nós, a acontecer com colegas de trabalho, estão a ser seguidas? E o estado de paranóia que vivemos em consequência do clima de insegurança, é tratado a nível psiquiátrico? Como vamos de saúde psiquiátrica?

Tantas coisas por resolver e os deputados passam a maior parte do tempo a comportarem-se como miúdos em discussões no intervalo das aulas.

23.3.10

Humanóides

Depois de ler a última crónica de João Branco aqui, reforço a minha posição anti redes sociais virtuais. Não pertenço a nenhuma rede social virtual e não vou pertencer ao não ser que alguma sirva para nos aproximar. Devo parecer um dinossauro a dizer isso e uma tremenda contradição, já que a minha própria profissão é desenvolver esse género de soluções, mas uma coisas são tecnologias com fins de desenvolvimento ou melhoramento de sistemas - pagamentos, lojas virtuais, serviços de informação, informação ambiental, arte e cultura, etc. - e outra coisa é essa febre de redes sociais, em perfeita contradição com o "touch" humano que vamos perdendo.

Pensem o que quiseram, mas eu não gosto de Facebook, Orkut, Twitter, ICQ, Badoo, Hi5, Sonico... e mais dezenas desses. E PAREM DE ME MANDAR CONVITES!

E se os políticos pensassem antes de falar?

Elísio Freire, afirmou que "nem mesmo no tempo da administração colonial se assistiu a um cenário de perseguição aos cidadãos que decidiram identificar-se com outras forças políticas."
(RTC, via sapo.cv)

É dessas coisas que não perdoo aos meus colegas. Elísio Freire tem a minha idade, ou menos até. Eu não vivi no tempo colonial e nem mesmo senti a repressão que se fala da Iª República, por uma razão muito simples: era menino e ele também era. Mas, Elísio Freire fala da brutalidade da Iª República como se tivesse vivido alguma. E agora, uma verdadeira surpresa, fala da administração colonial, ele ainda nem embrião era! Claro, podemos sempre imaginar o que foi, mas imaginar nunca equiparou à experiência, que eu saiba. Mas se podemos imaginar, então:

  • Nem sequer havia partidos no tempo colonial, nem único, nem múltiplos, só governadores e governados; conseguimos imaginar isso?
  • Toda a cabeça pensante era puro e simplesmente perseguido pela PIDE; conseguimos imaginar isso?
  • A PIDE prendia, torturava e matava sem a mínima necessidade de prestar contas à justiça; é concebível isso?
  • Quando a PIDE não conseguiu apanhar os "criminosos" simplesmente perseguia os familiares; é aceitável isso?
  • A PIDE levou a que muitas pessoas (caboverdianas) se tornassem denunciadoras, também sob ameaças; sabemos o que é isso?
  • O regime colonial massacrou gente indiscriminadamente, na Guiné, em Angola, em S.Tomé e aqui, embora não houvesse massacres, houve episódios para esquecer (ou se calhar para se lembrar).
  • Vários caboverdianos que acreditaram nos ideias da Independência, inclusive várias pessoas hoje afectas ao MPD foram presas e torturadas pelo regime colonial.

O Freire tem o descaramento de comparar os dias presentes ao regime colonial?! O Freire não tem um pouco de respeito pelas pessoas que lutaram, sofreram e morreram para que hoje ele não passasse de um indígena?!

Elísio, não somos a geração do colonialismo, nem sofremos os traumas da guerra; temos a obrigação de elevar o nível da política e não vai ser com essas tiradas de certeza que o conseguiremos. Consegues melhor amigo.

22.3.10

Tolerância

Foto: Magnum
Preocupa-me um certo fanatismo religioso que tenho sentido por aí. Consecutivamente nas últimas semanas tenho visto manchetes de jornais, chegam-me ecos de programas na rádio e oiço comentários. O título que mais me espantou foi: "Cabo Verde acorda para o fundamentalismo islâmico". Depois leio que a PJ anda atrás de terroristas supostamente islâmicos. O problema não é a preocupação com o terrorismo porque, sim, devemos "acordar" para esse problema, que é global. O problema é a rápida colagem do terrorismo a uma religião, o Islão, sem o mínimo pudor, se estamos a ofender gente de bem ou não.

Cabo Verde suporta mal a diferença. Esta afirmação não é baseada em nenhum estudo, inquérito ou estatística. É minha a afirmação. É a minha observação. Certamente que isto terá a ver com a igreja católica e por muitos anos de repressão colonialista/fascista. Mas hoje, que nos consideramos muito modernos e com vontade de pertencer ao mundo, é tempo de questionarmos determinadas posições. Porquê de tanto espaço à igreja católica, com direito até a um (grande) espaço na televisão pública? Que animosidade é essa em relação ao Islamismo, a ponto de um padre (ou pastor, não me lembro) ter dado a ideia de pedirmos a ajuda aos USA para expulsar os muçulmanos que estão "invadindo" a nossa terra? Porque temos medo de criticar as posições da igreja? É por temermos a ira divina ou será porque acreditamos mesmo nessas posições.

Eu aconselharia a termos um pouco mais de tolerância aos imigrantes, ao pobres desgraçados que vêm do continente, muitas vezes a fugir de situações extremas, mais respeito à religião de cada qual e começarmos já a tratar da integração dessa população. Lembro-me quando começou a grande migração campo-cidade, aqui na ilha de Santiago, a cidade começou a "deformar-se", de não termos tomado medidas até hoje. Resultado: uma cidade caótica e problemas sociais graves.

Tomei isto emprestado do Café Margoso:
"Nenhuma palavra é tão violenta como esta: tradição. Sempre que me falam nisso pergunto-me: quantos medos são necessários para criá-la? E para mantê-la?"
Raquel Freire - Cineasta

21.3.10

Liberdade

A propósito do primeiro comentário ao posto "De um visitante", denunciando a situação em Cuba, faço eco desta denúncia e digo que mostremos indignação por todas as formas de castração de liberdade, nos dias presentes, ainda nem a II Guerra arrefeceu. Tenhamos atenção ao que está a acontecer em Cuba, na Itália, lá onde os homossexuais são condenados à morte, ao tráfico humano, aos países que mantêm crianças a trabalhar, inclusive o nosso, e em todo o lugar onde a condição humana é diminuída.

A diferença dos nossos dias com outros tempos de barbaridade, é que hoje a violência é sofisticada; está e acordo com a super sofisticação das sociedades modernas, dissimula-se das mais variadas formas, usa a Internet, tem uma rede gigantesca que pode envolver de bispos, ao homens políticos até ao bandido pé-rapado.

ABAIXO QUALQUER FORMA DE VIOLÊNCIA.

De um visitante..

Viva!
A maçonaria foi perseguida pela igreja, precisamente por não proteger nenhuma religião em particular. Mas o que me faz escrever este "Post" é porque gostaria de partilhar com vocês uma coisa curiosa. Provavelmente muitos dos mais velhos saberão e sobretudo a malta de Santo Antão.
No imaginário das pessoas de Santo Antão ainda existe um certo mistério atraz de algumas figuras, normalmente "poderosas", que eram "moçongue". Estes e os "gongons" entravam no mesmo pacote de misticismo.
Os "moçongues" não serão um sinal da maçoraria existente em Cabo Verde em tempos idos.....
Abraço

Este foi o comentário de um visitante a um post já um tanto antigo. Achei interessante o tema e resolvi trazê-lo mais para a superfície. Obrigado pessoa.

19.3.10

Acto 1

Primeiro acto digno de nota da nova ministra do Ensino Superior, Ciência e Cultura. Passou o moribundo edifício da Direcção Geral da Promoção Cultural, na glamorosa pracinha da Escola Grande, para a UniCV, mais precisamente com a finalidade de o transformar em Núcleo da Música da UniCV. Apreciei. A coisa continua na Cultura e ao mesmo tempo serve o Ensino Superior. Se instalarem aí um pólo de investigação, então a ministra vai ter todo o seu ministério representado nesse belo edifício.

Falta decidir em relação aos outros moribundos do Min.Cultura. Não se esqueça, Exma Sra Ministra, dos coitados dos funcionários e directores, que há anos não sabem o que fazem da vida. Entrar em qualquer instituição da Cultura nesta terra dá-nos a sensação que o relógio parou para essa gente. Sempre disse que a questão não está no orçamento; está nas ideias.

Capital,Poética



(cliquem na imagem para ver melhor)

Capital!

De vez em quando por essas bandas do Bianda circulam ares de poesia, boas notícias. Informam-me que o crime cultural "Antiga Biblioteca, na pracinha Escola Grande, condenada à morte lenta", que fazia parte da minha lista (mesmo aqui no lado direito) dos crimes culturais, vai ser resgatada em "Núcleo da Música" da UniCV. Não podia estar mais feliz. Onde estão juntos António Correia e Silva, Djinho Barbosa, Ricardo de Deus, Lúcia Cardoso e os outros ilustres integrantes da UniCV, só pode sair coisa boa. Vejam mais informações aqui

Como é bom ver renascer das cinzas um jardim! Obrigado pela notícia Djinho.

Sexta,Capital

Segundo Míriam, uma voz pela manhã na Rádio Nacional, que nos entra em casa ou no carro como o vento que sopra pelas frestas de janelas e portas, os nascidos sob o signos de peixes vão passar por um período conturbado em termos materiais. Não sei que espécie de guerra estarão os astros cometidos neste momento, mas os desse signo "devem aprender dominar a matéria, para que a matéria não os domine". Não só os de peixes; muita gente.

Depois vem um voz masculina, robótica:
Para Wagner dos Santos, da mamã.
Para Wagner dos Santos, dos irmãos.
Para Wagner dos Santos, das tias e primas.
Para Wagner dos Santos, da madrinha.
Para Wagner dos Santos, dos irmãos.

Continua a Míriam, na sua voz de discreta confidente, dando conselhos que nos guiem pelos périplos tortuosos da vida. Faltou-me só ouvir o já velho anúncio: "...vento moderado de nordeste, mar de pequena vaga, visibilidade reduzida...". Hoje é dia de bruma seca serrada. Os asmáticos e alérgicos que tenham muitas precauções. Eu gosto de deixar uma panela a ferver em casa, com óleos essenciais de eucalipto, cânfora ou sálvia; humedece o ar e acalma as vias respiratórias.

Adoro a rádio, mesmo com esses programinhas tolos. É como ter uma pessoa disposta a nos falar, logo pela manhã, com a vantagem de não termos que responder. E ainda vamos tirando uma informação aqui e ali, ou um mero consolo, acompanhado de música. Por falar em música, já quero ouvir o novo trabalho de Carmen Souza, com o nome "Protegid". Gosto da sua música light, com gotas de jazz, muita electrónica e descaindo para a lounge music. Viva a diferença!

Hoje é sexta-feira, um dia sempre de bom astral. Bom FDS a todos.

18.3.10

Quinta,Essência

Assim não dá! Imaginem uma coluna de polícias de choque, no seu jogging matinal, homens musculados, suados, cara de mau, intimidadores, todos a cantar (nesses cânticos de motivação enquanto fazem exercícios físicos): "Ó malhão, malhão...1,2,3...que vida é a tua..."

Que me desculpem os portugueses, não se trata de malhar numa das suas cantiguinhas populares, mas para um povo que tem uma música chamada funaná, é de engasgar-se de rir. Ainda mais se tratando de homens que devem lidar com um fenómeno muito recente e muito violento na nossa sociedade, chamado "thug". Neo-colonialismo é uma expressão que saiu de moda, mas tem o seu quê de culpado aqui. Cheguei à conclusão que a Cultura deve dar uma mãozinha à Segurança. Músicos, vamos lá arranjar algo apropriado à polícia crioula. Que tal "omi faka, mudjer matxadu"? Sei, é um tanto carnificina, mas soa-me mais correspondente.

17.3.10

Políticas móveis

O Primeiro-Ministro tem uma criatividade que toca a literatura do absurdo. Ele daria um grande dramaturgo, se a dramaturgia representasse para ele o que representa a política. Quando menos esperamos, nas situações mais impensáveis, e debaixo das mais cerradas críticas, ele lá sai com um conto, mas o verdadeiro mérito é que ele transforma esse conto em acção, daí a dramaturgia. Tem tudo traçado: os personagens, os cenários, o enredo, os momentos chave da história, os efeitos especiais e um belo sorriso no cartaz.

O mais recente enredo tem a ver com os "thugs", apanhados de surpresa na história. O homem vai promover encontros de thugs. Só espero que ele leve a polícia de intervenção em número suficiente. O homem vai lá dar paleio e promessas. Uma das promessas é de rolar quilómetros no chão a rir: promete - se não tivesse visto e ouvido não acreditaria - centros de juventude móveis(!) Os jovens irritados dos bairros desgraçados vão passar a dispor de computadores, psicólogos e outras coisa, temporariamente. Deduzo que um carrinha passe, pare algumas horas em cada bairro e siga para o outro. Ou seja, ninguém vai poder dizer que o Governo não tem medidas sociais. Só que elas são móveis.

Coleccionarei essas ideias brilhantes e quem sabe um dia me sirvam de inspiração para uma obra literária.

Mundo louco!

Fonte: Público.pt
Manifestantes na Tailândia derramam 300Lts de seu próprio sangue, como sacrifício, exigindo eleições antecipadas!

Há coisas na política que é de cortar os pulsos, como essa cena do Primeiro-Ministro CV em franca cavaqueira com os grupos thugs, mas essa notícia acima não é um pouco demais?!...Só de pensar que há gente que morre por falta de doador de sangue.

Enfim, o mundo é uma comédia trágica, ou tragédia cómica, ou como entendam.


Sem limites

Esta ouvi com os meus próprios ouvidos. O primeiro-ministro disse: "Vamos promover um encontro com todos os grupos thugs".

A doideira não tem limites. Os "thugs" já são uma instituição, a tal ponto que merecem um encontro com o primeiro-ministro. Mesmo que admita que os tais "thugs" estejam organizados em grupos, não é um pouco surreal se encontrarem com o Governo? E afinal vão discutir o quê? Vão negociar os dias em que podem ser violentos e os dias que não? Vão negociar o limite de armas que cada um pode deter? Vão negociar a jurisdição dos territórios de cada grupo?...Estou mortinho de curiosidade. O que vai o primeiro-ministro discutir com os thugs? Vai lhes prometer emprego? Que tal umas FAIMO THUG para meter em frentes de trabalho todos os thugs do país? Vai lhes prometer medalhas de mérito, para quem cometer o menor número de delitos?

Não devia estar o Premier mais preocupado em, garantir empregos reais, combater a corrupção, atenuar os desequilíbrios sociais, promover políticas efectivas de educação com vista à inserção no mercado de trabalho, promover políticas efectivas de auto-emprego e mais uma data de outras formas de combater a instabilidade social, em que a violência é só a consequência desagradável? Pelo amor à nossa inteligência Senhor Primeiro-Ministro!

(Ah, isso passou no noticiário da Rádio Nacional, hoje, 17 Março, espaço 13-14h)

15.3.10

Triquices

"Dez pessoas detidas por roubo, posse de estupefaciente e armas brancas é o balanço de uma operação conjunta da Polícia Nacional e Militar realizada em São Vicente, no fim de semana."
Fonte: A Semana (via Sapo.cv)

Quando oiço falar de bairrismo, ainda por cima ao nível dos decisores políticos, dá-me vontade de mandar uma valente m...! Os nossos problemas não se limitam aos thugs na Praia, ou às barracas na Boa Vista ou a algumas casas clandestinas. O nosso problema é enorme, está presente em todo o território e não há ninguém que pode dizer que conhece, e muito menos controla a situação. O nosso problema é de modelo de políticas estruturais, por isso os mesmos fenómenos que estão na Praia ou na Boa Vista, também estão em S.Vicente. E enquanto não aprendermos a ter um discurso global, elencando questões reais em vez de deitar poeira ao vento, estaremos aqui às voltas com o mesmo.

14.3.10

Pedalada

Procuro alma(s) aventureira(s) (m/f) para uma viagem entre Lisboa/Dakar ou Bissau em bicicleta de aproximadamente 3.000 km (até Dakar). A ideia é percorrer entre pedais e tendas países como Portugal, Espanha, Marrocos, Sahara Ocidental Mauritânia, Senegal e, possivelmente Gâmbia e Guiné Bissau. A viagem deverá ser feita a uma média de 100 km dia durante 30 dias.

Caros e estimados.
Venho por este meio solicitar que me ajudem a divulgar este ideia/projecto em fase de concretização num apelo ao espírito aventureiro de todos aqueles se sentindo capazes e tendo disponibilidade e força de vontade, caboverdeanos ou não, se predisponham a investir 30 dias das suas vidas neste desafio onde o deserto é apenas uma ponte.
Obrigado antecipadamente.
Marco Além

Sexta,Capital

É bom ter amigos mas melhor ainda é ter os bons. Ensinam-nos em gestos simples e naturais as coisas que vão aprendendo também por esta viagem longa da vida. Ensinam-nos a arte de viver.

Obrigado amigos, pela noite de sexta-feira, de poesia e boa conversa. Obrigado Zé.

(É claro que esta mensagem é encriptada e só a vão perceber os a que é destinada. Como diz o Margoso, peço desculpas à demais clientela)

12.3.10

Borbulhas de nervos

É o tempo ideal de comprar jornais. Comprem todos os jornais. O importante é que não os levem muito a sério, para não ter aquela sensação de deitar fora 100 escudos vezes 3, todas as semanas, o que dá 1200 paus por mês. Comprem com um espírito cómico, de diversão e até de criatividade.

É tempo de informação, contra-informação, desinformação, falta e abundância de informação. Pré-campanha oblige. Bem, jornais deviam ser isentos, mas sabem de algum lugar no mundo onde isso aconteça? Não é que eu conheça muitos, mas pela nossa natureza, digo nós da humanidade, não me parece que isenção e razão total seja do nossa fibra. Por uma razão muito simples, temos sentimentos, a maior parte dos quais raiando a paixão, e ainda bem. Já viram como isso seria uma seca insuportável se fossemos frios, verticais e constantes como uma barra de aço?

O problema dessa dualidade insolúvel, ou seja, a necessidade (não sei quem criou essa necessidade) de isenção e a nossa natureza sentimental, é que em Cabo Verde assume feições burlescas. É este jornal a apoiar descaradamente este candidato, é aquele outro ostensivamente a favor daquele partido, é o outro abertamente da oposição, é tal cronista a mandar das suas, é o outro a desmontar esse, são os jornalistas subtilmente a sugerir isso e mais aquilo, enfim, a humana comédia.

O remédio é não levar a peito. Perdoamos os que não sabem o que fazem. Ou sabem muito bem! Nesse caso não é perdoável.

9.3.10

Quando caem as árvores

"A poetisa santomense Alda Espírito Santo, 84 anos, faleceu hoje, em Luanda, onde se encontrava em tratamento médico."
fonte A Semana

Das pessoas que mais admirava, parte da geração de Amílcar Cabral, Mário Pinto de Andrade, Agostinho Neto e tantos outros, que pegaram da utopia da Negritude e levaram à acção, que resultou em nossas Independências.

E essas pessoas ainda não estão no seu devido lugar (cimeiro) nos livros de História

8.3.10

Protesto!

O meu (?) Primeiro-Ministro é um gajo que vai ficar marcado na minha memória pela sua total, digo TOTAL, falta de bom senso em termos de Cultura. Então o homem distingue o CCM (Centro Cultural do Mindelo) com o mais alto grau de mérito cultural a nível nacional?!! Estamos a brincar ou quê? Não existe aqui um ENORME contrasenso, quando, o Min.Cultura que manifestamente não fez puto nos últimos anos, e no entanto uma das suas instituições é premiada ao mais alto nível? E a grande dinâmica cultural que temos imprimido na cidade da Praia é obra da magia ou quê? E mesmo em S.Vicente, em termos de Cultura, o Primeiro-Ministro tem a certeza que CCM é o mais meritório? Tou a lembrar-me de apenas dois nomes agora: Mindelact e M_EIA. Aqui na Praia, assim de repente, lembro-me de CCF, CCP, Fundação Amilcar Cabral, Raiz di Polon,...Mas será que este Primeiro-Ministro ainda vai conseguir nos surpreender??

Engraçado é que esta notícia apanhou-me a ler uma outra, sobre a escola M_EIA, que promove um encontro internacional sobre a educação artística, a decorrer no Mindelo de 30 de Agosto a 4 de Setembro. Lembro-me ainda que, recentemente esta instituição, de "grande contributo à concretização da política nacional da cultura" acolheu de forma escandalosa um culto da Igreja Maná, que não passa de uma seita irresponsável, que jura curar doenças como a SIDA! Vamos lembrar esta crónica de João Branco

Chamaram-me a atenção para o facto de algumas instituições que indiquei acima já terem sido agraciadas com a tal medalha. Então a coisa é assim: como esses já ganharam, para não fazer diferença, os outros vão ganhar também, mesmo que não tenham o mérito? Bem, quando o tal prémio já foi atribuído até ao IPPC!...nem sei porque ainda me escandalizo.

É preciso muita paciência!

7.3.10

Segunda,Intenção

Políticos são malabaristas por inerência de função. Aqueles que são, bem entendido, que não me levem a mal os meus amigos políticos de coração. Quando digo "político" refiro-me a esta forma de estar na política que, infelizmente, granjeia a má fama aos políticos.

É assim, Isaura Gomes é acusada de alegadamente mandar deitar abaixo um edifício, abusivamente, e os supostos lesados vão à barra dos tribunais. Isaura Gomes estará em maus lençóis com este conto todo, não que ela tenha culpa no cartório, mas porque pega mal a poucos meses das eleições legislativas esse género de publicidade. Se ela tem culpa no cartório ou não, se a malta do PAICV anda a criar um facto político ou estão investidos do mais puro sentido de cidadania, a verdade a gente não sabe e aí a Justiça não escapa ilesa. Pois, nesse género de confusão, a Justiça tem que ser fiel e dissipar as dúvidas, mas de justiça andamos em crise nos últimos tempos. Então a senhora esquiva-se de aparecer nas audiências dos tribunal e os supostos lesados correm o risco de ficarem a ver navios prescrição do processo?! Que cena é essa de uma pessoa esquivar-se ao tribunal, protelando o processo até prescrever-se? Funciona com toda a gente? Então estão a dizer-me que posso usar este truque, caso um dia venha a estar em situação de chamado a tribunal? Salvo seja!

Repito, é nessas situações que a Justiça deve nos devolver a paz de espírito.

ZCunha como chego a ti? Telefone?

5.3.10

Desabafo

"O Ministro da Cultura saiu porque se mostrou incompetente para o cargo, para o que terá contribuído ter estado rodeado pelos mesmos de sempre que por lá andam a vegetar deste o tempo de canequinha"
João Branco, in cafemargoso.blogspot.com

Gosto quando pessoas da importância deste senhor, tem posições sem sombras para dúvidas. É tudo mais fácil assim.

4.3.10

Sufoco

Carlos Veiga visitou a ilha do Fogo e as suas declarações à rádio vêm com palavras como, O Governo está a asfixiar os municípios. O discurso foi todo ele baseado em "asfixia", "sufoco", "opressão"...isso tudo ouvia nas notícias das 13h, a caminho de casa com um sol...sufocante. Ora, sufoco é ouvir o chefe da Oposição a falar. Discursos redondo e repetitivos, sem a força anímica de tempos outros, sem uma verdadeira visão tranformadora, sem brilho e sem, muito pior, um partido atrás que lhe faça ressonância.

Eu desejaria uma Oposição forte, inspiradora, intelectual, inteligente, elegante, confiante. Uma verdadeira alternativa ao poderio hegemónico de José Maria Neves, mas ao que parece é pedir demais.

Quinta,Essência

Deu um pouco de dó ouvir o Manuel Veiga quase a explodir, Não concordo com esta remodelação! É que para além de sair, vê a sua instituição relegada para um plano confuso.

Gosto da pinta da nova Ministra do Ensino Superior, Ciência e Cultura. Safa-se bem quanto à pergunta sobre a Cultura, dizendo que a Cultura está em toda parte (concordo) e que por isso ela estar associada à Ciência e ao Ensino faz todo o sentido. Certo Excelência, faz sentido sim, mas é mais que isso.

A Cultura precisa de políticas próprias, entre as quais entram a investigação e o ensino. Mas há outras componentes supra importantes, que destaco o Património e a Programação Cultural. Do património físico, que passa pela arquitectura, aos artefactos, aos espólios que o Estado detêm, vamos de mal a pior. É só ver a delapidação que sofreu a arquitectura no Plateau, cidade da Praia, ou as barbéries que aconteceram no Mindelo e as que vão acontecendo um pouco por este Cabo Verde, com particular gravidade na Cidade Velha. É só ver a forma como as peças recolhidas e catalogadas pelo extinto Centro Nacional de Artesanato foram tratadas. Que alguém tenha curiosidade de ir ver como está guardado o espólio de peças de arte no Palácio da Cultura na Praia. Enfim! Do património imaterial, a espinha para a governação de Fernanda Marques vai ser a língua caboverdiana, mas o mais certo é que nem toque nela. Da programação cultural, a empresa é titânica! Como programar todas as artes existentes, os seus agentes, os artistas, as redes, os eventos? Como conseguir uma programação cultura à altura das nossas aspirações? Para quanto uma rede de equipamentos culturais dignos e funcionais, nomeadamente, salas de música, estúdios de gravação, galerias, museus, etc.? Para quando o mecenato cultural efectivo? Para quando a participação internacional de Cabo Verde, mesmo aqui ao lado, Dakart?

Ou seja, que me desculpe a bela pinta da Ministra, mas é que ela já terá tantas dores de cabeça só com o Ensino Superior que anda às leis de mercenários, que não vejo como ela poderá conta disso tudo. De todo o modo vou estar atento e participativo. Vamos lá ver os pontos que a nova orgânica marca.

2.3.10

Pai,Filho,Espírito Santo. Amém!

Haiti, Madeira, Chile...só o começo da hecatombe climática que pode estar a vir por aí. O ser humano sem consciência social, cultural e ambiental é uma ameaça.

A propósito relembro uma piada (que deu alguma confusão aqui por outras razões): "Se deus tivesse feito um estudo de impacto ambiental antes de criar o homem, desistiria na hora!"