23.3.10

E se os políticos pensassem antes de falar?

Elísio Freire, afirmou que "nem mesmo no tempo da administração colonial se assistiu a um cenário de perseguição aos cidadãos que decidiram identificar-se com outras forças políticas."
(RTC, via sapo.cv)

É dessas coisas que não perdoo aos meus colegas. Elísio Freire tem a minha idade, ou menos até. Eu não vivi no tempo colonial e nem mesmo senti a repressão que se fala da Iª República, por uma razão muito simples: era menino e ele também era. Mas, Elísio Freire fala da brutalidade da Iª República como se tivesse vivido alguma. E agora, uma verdadeira surpresa, fala da administração colonial, ele ainda nem embrião era! Claro, podemos sempre imaginar o que foi, mas imaginar nunca equiparou à experiência, que eu saiba. Mas se podemos imaginar, então:

  • Nem sequer havia partidos no tempo colonial, nem único, nem múltiplos, só governadores e governados; conseguimos imaginar isso?
  • Toda a cabeça pensante era puro e simplesmente perseguido pela PIDE; conseguimos imaginar isso?
  • A PIDE prendia, torturava e matava sem a mínima necessidade de prestar contas à justiça; é concebível isso?
  • Quando a PIDE não conseguiu apanhar os "criminosos" simplesmente perseguia os familiares; é aceitável isso?
  • A PIDE levou a que muitas pessoas (caboverdianas) se tornassem denunciadoras, também sob ameaças; sabemos o que é isso?
  • O regime colonial massacrou gente indiscriminadamente, na Guiné, em Angola, em S.Tomé e aqui, embora não houvesse massacres, houve episódios para esquecer (ou se calhar para se lembrar).
  • Vários caboverdianos que acreditaram nos ideias da Independência, inclusive várias pessoas hoje afectas ao MPD foram presas e torturadas pelo regime colonial.

O Freire tem o descaramento de comparar os dias presentes ao regime colonial?! O Freire não tem um pouco de respeito pelas pessoas que lutaram, sofreram e morreram para que hoje ele não passasse de um indígena?!

Elísio, não somos a geração do colonialismo, nem sofremos os traumas da guerra; temos a obrigação de elevar o nível da política e não vai ser com essas tiradas de certeza que o conseguiremos. Consegues melhor amigo.

6 comentários:

Anonymous disse...

Asvezes acertas na mosca nas tuas analises, mas hoje não sei porque escreve um post de caca. Em primeiro lugar o discurso não é de Elisio Freire um rapaz da tu idade ou mais novo, mas sim do Deputado e Lider de um Grupo Parlamentar. Então quem não viveu a historia jamais pode falar dela ou emitir opiniões? Mas que ideia mais absurda? Encontrasses outras razões para discordar do Freire. Vá retrate-se deste erro clamoroso.

Cesar Schofield Cardoso disse...

A palavra "cáca" podia ficar de fora, mas enfim...

Falando estritamente de história, esquecendo o deputado, líder de bancada, Elísio Freire. Acreditas mesmo que temos hoje alguma coisa parecida com o tempo colonial? Já leste a história política de Cabo Verde do séc.XX, nomeadamente o Salazarismo, o fascismo, de inspiração nazista, as façanhas da PIDE/DGS? Achas que alguma coisa de hoje se compara a esses tempos???

Paciência para o pessoal quando não querem entender!

Amílcar Tavares disse...

Cabo Verde não tem um único político de jeito. Tenho dito...

Renato Frederico disse...

Todos os Deputados merecem meu respeito. Entretanto, alguns, devido a emoções do momento, são tentados a exprimirem-se mais em nome pessoal que no do colectivo, exagerando muitas vezes na linguagem; uns rasgando a gramática portuguesa, outros deliciando-nos com o "sontontonspék" e ainda outros, malcriadamente, ofendendo pessoas e a história.
Os nossos políticos têm falhado (quem não falha?) mas é curial que se consciencializem da falha. Tenho ainda presente a "gaffe" do Ministro Lívio em como atirar sobre um delinquente "é normal"...
O Primeiro Ministro a afirmar "vamos nos encontrar com todos os grupos de thugs" - essa é de bradar aos céus, comentei com meus botões.
Mas nem só de "gaffes" estamos habituados: gosto de ouvir a serenidade e clareza da Filomena Martins, a seriedade do Rui Soares, o humor do Pascoal Santos e o badiu di fora do Filipe Furtado. Contudo, prefiro ler Humberto Cardoso do que escutá-lo.

Anonymous disse...

Ola Cesar

Tudo bem, eu não comparo o que se passa hoje com o Fascismo, mas que há abusos há, alias bem documentado no relatorio do Departamento de Estado dos EUA. Convenhamos que há coisas não são aceitaveis num Estado de Direito Democratico. P.ex o Chefe de Esquadra dos Mosteiros alegadamente agride um cidadão que é Professor e Politico, está sob investigação e no entanto é transferido para a cidade de S.Filipe ou seja é promovido. Claro está que o Ministro está convencido que não existe Justiça nesta Terra senão o homem ficaria em stand by. Agora que alguns foguenses se sentem perseguidos lá isso é verdade e merece ser denunciado e combatido com vigor.
Porque será que na tua incursão pela historia esqueceste das torturas em nome do Partido Unico. Lembras-te do Livro do Cuxim? Ou alguma vez leste o livro de Humberto Cardoso O Partido Unico em CV, Um Assalto a Esperança? Conheces pessoalmente algum familiar de Adriano Santos morto no 31 de Agosto? Conheces algum familiar do Titino Boxeur? Conheces o Buna Morais jovem que foi espancado no Mindelo nos anos 80? Precisas ler mais sobre a historia destas ilhas, para refrescares leia por exemplo: http://emcima.blogspot.com/2010/03/obsessao-pelo-controlo-da-memoria.html

Cesar Schofield Cardoso disse...

Sim, há abusos em todo o regime ... inclusive o democrático. Mesmo depois de 91, já assisti a brutalidade policial, ou estamos a esquecer o excesso de zelo da polícia de choque em uma ou outra ocasião. Negar que a nossa polícia vem cometendo actos de brutalidade é uma hipocrisia, mas tenhamos atenção às comparações. Felizmente no nosso país, a sociedade vai ficando menos bruta e tacanha. Hoje já é possível processar a polícia; antes não era.