29.4.10

Quinta,Essência

Lars Von Trier é do género de realizador amar ou odiar, ponto. Um projecto seu pode não resultar num must, mas quem aprecia o cinema em todas as suas vertentes, vá lá, técnicas, não pode deixar de ficar babado com as suas obras. Há sempre uma maneira de fazer que ele subverte, um discurso que ele desconstrói, um ponto de vista inovador e há sempre sequências estrondosas, preparadas ao milímetro. Não gostei particularmente do argumento, ou melhor, de como foi dirigido o argumento. Mas amei as sequências de diálogos, com direito a "erros" como a quebra de eixo (jargão cinematográfico) ou a "erros" de focagem, "erros" de enquadramento, etc., etc., etc. Uma outra marca de Von Trier, que escapa a olhos destreinados, é o recurso à câmara na mão durante todo o tempo do filme, o que transmite ao espectador uma impressão de "estar lá", participar. Mas é um câmara na mão bem feito e discreto.

Para além da realização vem as outras coisas. O visual é puro espectáculo, feito pelo director de fotografia de "Slumdog Millionaire". A banda sonora é um actor ele próprio. A direcção de arte marca presença forte. E o mais forte do filme (como em qualquer filme de ficção que se preze) são as interpretações. Willem Dafoe, o máximo como sempre; Charlotte Gainsbourg, uma agradável surpresa para mim.

Este não é o melhor filme de Von Trier, de certeza, principalmente por ter entrado num género, algo entre terror e surrealismo, que outros dominam melhor, como o incomparável David Lynch. Mas ver Von Trier é sempre um acto de arte. Não são filmes para se gostar ou não; são rompimentos com os próprios limites da criação, que também causam desconforto e estranheza. Percebo os que odeiam, mas quem ama sabe do que estou a falar.

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