6.8.10

Arbítrio

Em que situações o árbitro anula o jogo? Pelas razões que me ocorre, se uma das equipas não comparecer, chove aos potes que os jogares nem conseguem se manter em pé, em situação de falta evidente de segurança, se o campo racha ao meio, ou seja, em situações obviamente de anulação. Não consigo encontrar uma razão satisfatória para o Ministro da Saúde ter anulado o concurso de avaliação curricular à classe médica.

História. Os médicos não são promovidos desde 95 por falta de concurso, para determinar de forma criteriosa, quem deve e quem não deve ser promovido. Finalmente se faz, e pelo próprio Ministério. Até aqui bravo. Resultado do concurso: a esmagadora maioria dos médicos obtêm classificação de aluno suf- a medíocre. E este é só um concurso curricular, ou seja, a malta só tinha que inventariar a papelada, as formações, os workshops, os papers científicos que tenham produzido, o currículo profissional e por aí fora. Imaginem se fosse uma avaliação de desempenho? Se um dos critérios fosse "satisfação do utente", aí é que muita gente ia apanhar com um "mau". Se a malta da "bata branca", como são conhecidos, não passaram neste concurso, ou é porque não apresentaram a papelada, ou é porque não a têm, literalmente. Face a isso, claro está, senhores do mundo (ou da vida, mais propriamente) como são os médicos, contestaram  (os maus) em massa e o Ministro da Saúde, numa saída que não lembrava o diabo, ANULA o concurso, satisfazendo os maus e prejudicando os bons. Ainda por cima diz o seguinte: "a breve trecho, e em concertação com as entidades pertinentes, decidir-se-á da conduta a seguir". (A Nação, 5/8/2010)

Não é aceitável sob nenhum ponto de vista a decisão do Ministro. Se o concurso continha irregularidades, como alegam os "prejudicados", que não se fizesse. Se os critérios não eram claros à partida, que a classe não os aceitasse, impugnando o concurso antes que acontecesse. O que não podia acontecer era, que se anulasse um concurso, conduzido por gente séria, inclusive com a participação da própria Ordem dos Médicos, com base em descontentamento dos que (mesmo sendo a maioria) o concurso não tenha corrido à feição. É com essas atitudes que os políticos desvirtuam gravemente o jogo do Estado de Direito. Como é que os cidadãos podem confiar nas autoridades, se não sabem ao certo por que batuta se rege o próprio Estado? Que poder é esse, supremo, de um dirigente político anular um acto administrativo (e logo legal), com base em critérios tão subjectivos, ou no mínimo mal explicados? Poder pode, senão não o teria feito, mas será que deve? A conduta a seguir é caso a caso?

Mais uma grave desilusão na forma como se conduz os assuntos de Estado. Por razões de coerência, ou fazemos concursos correctamente e os respeitámos, doa a quem doer, ou não fazemos concurso nenhum e assim sabemos que isso funciona ao gosto do freguês.

2 comentários:

Anónimo disse...

... ''O problema é que um dos pacientes acaba morrendo por complicações na cirurgia. Seria superável não fosse ele um ricaço que patrocinava a instituição --e o que sobreviveu é apenas um pé-rapado qualquer. É o livre-arbítrio que determina seu futuro. Ele acha que fez certo, mas sua vida não para de dar errado desde então''(...)

Anónimo disse...

Olha César. Tens muita razão em criticar a anulação do concurso. Nao sei onde se foi buscar esta soluçao injusta para aqueles que foram selecionados com nota positiva. Quanto às notas é o seguinte: nós caboverdianos não estamos acostumados a concursos. Nao temos a preocupaçpao de ter os nossos curricula actualizados. Duvido até que saibamos prepara-los para os requisitos de qq concurso. Agora, houve Médicos que com + de 20 anos de trabalho, com provas dadas, entregaram 2 folhas na ideia que o juri ja os conhece. Era um concurso documental, o juri fez o que se pediu, analisou os documentos entregues. (E que fique claro que nao se avaliou a competencia tecnica. Os Médicos ja deram provas da sua competencia. Muitos ja se esqueceram da Dengue. Entre os 1º casos e o diagnostico de certeza da epidemia foram 17 dias. Leve-se em conta que as amostras foram enviadas para o exterior).
Em Portugal, numa avaliaçao aos Magistrados aconteceu o mesmo, notas baixas. Mas foi tudo resolvido entre as partes.
Agora pra variar te digo, por interesse de alguns em detrimento proprio politizou-se a coisa e deu no que deu. Assim vamos caminhando...