1.11.10

Estômago



Quando já acho que a ilha de Santiago não pode mais me maravilhar, eis que me dou conta que vivo numa ilha que tem ainda mais mistérios e encantos por desvendar. São muitos os caminhos desta ilha. São tantos os montes, as montanhas, os vales, as ribeiras e populações, ainda por descobrir.

Conheço mal o concelho de Santa Catarina, por uma razão simples: é grande e variado, em lugares e modos de estar. Neste fim-de-semana vi pela primeira vez o pé de Poilão gigante, região da Boa Entrada. Digo-vos, aquilo devia ser declarado património natural e ser protegido. É uma árvore que tem vários metros de diâmetro, raízes enormes e uma frondosa copa. Em vez de protegido, à sua volta, vestígios de piquenique, rabiscos no seu tronco e até grafittis (sim, com spray!)


Assomada, a cidade central de Santa Catarina, fica num alto, num grande planalto. Ao redor, existem zonas baixas, que se organizam ao longo dos caminhos d’água. Meti o meu carro numa dessas ribeiras, com água a correr, e andamos ali a descobrir os lugares, com gosto a safari. A dado momento vi umas árvores, que já vi em só duas localidades nesta ilha, que se dá o nome de lemba-lemba, que tem umas grandes lianas, a lembrar os filmes de Tarzan. É um espanto de árvore.

Terminamos a incrível aventura pelo interior de Santiago (interior literalmente, o estômago da ilha) em Tarrafal, a minha musa doirada e maltratada por mãos de péssimos gestores locais. Às vezes dói-me que a vila seja tão pobre e decadente, mas às vezes abstrai-mo e curto a incrível beleza da sua maior praia e as suas águas que fazem amor a uma pessoa.


Adoro este país. Adoro Chã das Caldeiras, Pedra de Lume, Calhau, Praia Grande, Monte Verde, Santa Mónica, Santa Maria, Assomada, Praia, Mindelo, São Filipe…e mais uma data de pequenos cantos, encantos.

11 comentários:

Benvindo Chantre Neves disse...

Cesar, conheces um outro poilão que fica em Leitãozinho, nos Picos? Mais uma maravilha da Natureza. Precisamos valorizar essas preciosidades. Esta terra é tão rica muitos cabo-verdianos (boa franja) são estrangeiros na sua própria terra!

Cesar Schofield Cardoso disse...

Oi Benvindo, não conheço mas vou descobrir. Obrigado pela dica.

Mais do que estrangeiros na nossa terra, o que me preocupa é a falta de valorização da própria terra. Uma vez um chinês disse-nos uma coisa que me marcou: "é impressionante a facilidade com que se deita uma árvore abaixo em CV". É verdade, nós temos uma brutalidade interna, que se exprime em diversas formas de destruição. Tenho por mim que o Caboverdiano ainda tem um caminho espiritual grande por trilhar.

Fica bem.

Amílcar Tavares disse...

Bela jornada. Fiquei com as saudades de casa reforçadas.

Anónimo disse...

Proximo desafio no Tarrafal: subir o Monte Graciosa. A paisagem é impar e gostarás mais do Tarrafal. E trás uma maquina fotográfica pois se fores ao farol a visao da baía nao tem igual.
Eu sempre digo que o problema daqui são as gentes... as que estão no poder local. Que falta de sensibilidade! Falta visão, muita visão. Infelizmente não se vê por aqui marcas de municipalidade. Muito pobre.

Et disse...

É Bonita a reportagem. Obrigado, César.

Anónimo disse...

Caro César, posso imaginar o teu espanto em relação a Boa Entrada...agora tenta fazer um recuo para 30 anos atrás e imagina o que lá estava.

Enquanto garoto, parecíamos todos uns autênticos Tazans explorando os recantos deste lugar e que nos permitia imaginações várias.

Benvindo a Boa Entrada.

Djinho

Cesar Schofield Cardoso disse...

Tenho a honra de ter 40 árvores plantadas no Monte Graciosa, quando tinha uns 14 anos (já lá vão 23! credo!), nas famosas campanhas de reflorestação, acompanhando o meu tio. Sim, a vista é fabulosa.

Cesar Schofield Cardoso disse...

Salve Amílcar. Et a jornada foi ainda mais bela que a reportagem, garanto-te.

Djinho, cá por mim, devia constar na carta dos direitos das crianças, o direito a ter uma árvore. Também não me esqueço duma árvore que tinha ao pé de casa, que, em cima dos seus ramos, éramos deuses. Impressão minha ou a cidade da Praia e as suas novas zonas não têm árvores? Cuidemos da natureza.

Anónimo disse...

Olá Cesar, eu também este ano tive o prazer de ver pela primeira vez o PÉ DE POILÃO, estive acompanhando uma delegação chinesa e fomos ao interior da ilha, nunca tinha imaginado que essa árvore era tão grande e bonita, fiquei deslumbrada. (Criola de Dja d´Sal)

Benvindo Chantre Neves disse...

Cesar, vou te deixar o link de uma reportagem que fiz sobre os "Caminheiros sem Fronteira". Nela podes ver o tal Poilão de Leitãozinho. Se quiseres, podes deixar-me teu e-mail e envio-te algumas fotos.

http://www.rtc.cv/index.php?paginas=20

Abraço

Cesar Schofield Cardoso disse...

Obrigado Benvindo ;)