A propósito do comentário de Houss no post "silêncio", sobre a ausência de Amílcar Cabral nas nossas notas (dinheiro) e sobre a sensação do desvanecimento da figura deste líder maior, do nosso dia-a-dia, das nossas conversas.
Eu tive a "obrigação" de ler muito sobre Cabral, para um trabalho que fiz e foi lendo que descobri o quanto nós somos ignorantes do seu percurso, importância para o pensamento nacionalista africano, influência para os nossos primeiros dirigentes e figura de destaque no mundo. Os suecos devem admirar Amílcar Cabral mais do que nós próprios. Parece-me que é mesmo da humanidade, não conseguir valorizar o que está perto demais, o que nos parece demasiado vulgar para ser elevado.
Bem, como isso não quero dizer que as figuras da história devam ser mitificadas. Não, mais simples que isso; temos unicamente que continuar o trabalho que eles começaram. Amílcar Cabral fez um grande esforço para a definição de uma série de condutas, para que os povos africanos pudessem se emancipar e trilhar o seu próprio caminho. É verdade que boa parte da sua moral está vinculada ao contexto da guerra, mas é verdade também que ele professava essencialmente a valorização do homem; por exemplo, acho de um romantismo insuperável, que ele tenha insistido em ter escolas para todos, em plena guerra. Ele era um idealista, mas ao mesmo tempo um pragmático.
A minha posição em relação a Cabral, não é de endeusificação; é de aprender a ter respeito pela história e a admirar um homem de obra. Uma inspiração, no fundo.
Nós aqui, não é só Amílcar Cabral que não valorizamos; estudamos muitos dos grandes filósofos, mas são poucos os que conseguem identificar as suas condutas ao que aprenderam na escola. Somos imediatistas, fingimos que os problemas são só dos outros, somos ligeiros e vaidosos. É de contar nos dedos os homens deste Cabo Verde da actualidade, que inspira uma real admiração.