21.2.11

One nation two

Como pode se queixar a ilha de S.Vicente, de falta de investimento do Estado? Como? SV reclamou um parque industrial e tem um, mas não há indústrias. SV reclamou indústrias, mas as poucas que se implantaram aí, fecharam as portas, porque os trabalhadores reclamavam de...trabalhar demais e porque havia demasiadas complicações administrativas. SV reclamou um aeroporto internacional e tem um, com raros vôos internacionais. SV tem uma lindíssima estrada que liga Calhau-Baía, mas não sinto nenhuma movimentação no sentido de arranjar empreendimentos para aí. No entanto, SV tem um absurda situação do Poder Local e as pessoas ficam impávidas e serenas!!!

Em SV vejo uma incrível energia para garantir que o Carnaval aconteça, com todos os requintes. As pessoas de SV, estejam onde estiveram, mobilizam-se e conseguem realmente que esse belíssimo acontecimento seja um esplendor. No entanto, o que a nossa geração tem que perceber é que, questões de cidadania e de desenvolvimento, não acontecem por benevolência do Estado. Se não estamos de acordo com determinadas situações, temos de ter energia, organização e espírito de sacrifício, para poder elencar as questões. Há interessados?

9 comentários:

Paulino Dias disse...

Caro César,

Assino em baixo dos principais pontos que levantaste, excepto um: o argumento aritmético/populacional para justificar investimentos públicos em Santiago ("a ilha de Santiago tem a METADE de toda a população de Cabo Verde, logo é directo que tenha a metade de tudo")

Note que este argumento é perverso e perigoso a longo prazo: a sua utilização, isolada e indiscriminada na definição de políticas públicas tende a fazer com que a maior parte dos investimentos se concentrem nos principais centros urbanos, em detrimento das "periferias" - conceito aqui utilizado meramente na perspectiva demográfica, seguindo a tua ideia. Ora, a longo prazo, esta tendência tende a provocar ou acentuar o êxodo populacional para os espaços que recebem mais investimentos, o que cria um círculo vicioso: + investimento = + atractividade = + população = + problemas = + concentração de investimentos = + êxodo...

É natural que a iniciativa privada (os investidores, as empresas, o mercado...) considere a distribuição da população como importante critério para decisões de investimento e para alocar recursos PRIVADOS. Isso é normal e salutar. Mas o Estado tem outras responsabilidades, deve ter outra abordagem, deve utilizar outros critérios na alocação/distribuição de recursos PÚBLICOS. Um desses critérios é a necessidade de minimizar distorções que venham a acentuar o círculo vicioso que referi acima, através de políticas coerentes, integradoras, promotoras da igualdade e com visão de longo prazo.

Eu aceitaria melhor como argumento para esta alegada desigualdade na distribuição de recursos públicos o facto de a Cidade da Praia enfrentar problemas estruturais complexos, que podem ter - ou não! - origem na dimensão da sua população e que por isso demandam um volume maior de investimentos. Aqui estaríamos de acordo. Mas não porque concentra a metade da população. Este argumento, repito, é perverso e perigoso a longo prazo...

De todo modo, lanças desafios pertinentes e perguntas inquietantes que, a meu ver, demandam uma reflexão cuidada por parte de todos e dos sanvicentinos em particular. Well done!

Abraço,
Paulino

Cesar Schofield Cardoso disse...

Grande contributo Paulino!

Agora, pegando do teu argumento, mais uma razão o pessoal de SV parar com essa choradeira, porque CV tem outras ilhas, que ainda se debatem com problemas profundos. Só não me parece justo que SV esteja a reclamar de falta de investimento; é só ver as obras (que a mim não me dizem nada, confesso).

Obrigado pela tua participação, sempre muito ponderada.

Carla disse...

Olá Cesar
concordo coma maioria dos teus argumentos, menos com o primeiro, com disse o Paulino.
é importante ver que Santiago tem metade da população também porque muita gente procura a Praia por falta de opções nas suas ilhas.
e se continuarmos asssim, além do exodo que irá despovoar as outras ilhas, Praia deixará de ter capacidade de albergar esta gente toda que aqui procura melhores condições de vida, agravando os problemas já existentes de falta de habitação, de saneamento, de ordenamento territorial.
São Vicente, na minha modesta opinião precisa de um rumo, de algo que possa aproveitar as condições naturais da ilha e as capacidades das suas gentes.
falaste do carnaval. eu acrescentaria, o fim de ano, do Mindelact.... festas e eventos que mobilizam sanvicentinos e não só. há muitas cidades no mundo que vivem destas festas, que foram transformadas em verdadeiras industrias e mobilizam milhões. este pode ser um caminho, para o turismo em são vicente, para empregar a mão de obra local, para promover a cultura de são vicente.

Anónimo disse...

César, falas com paixão/emoção sobre este assunto. Este é o teu diferencia! Acho que os Sanvicentinos precisam sim ouvir isso e quem melhor do que outro apaixonado por SV, como dás a entender que és, para apontar isto tudo?
Se o argumento da metade da população não saiu bem, serviu pelo menos para trazer a lembrança a dimensão deste país, dos problemas gigantes ainda por resolver, cuja solução poderá até passar por estas políticas de que o Paulino tão bem já falou, de minimizar distorções regionais, e espero que sirva também a uns e outros para deixarem de olhar para os próprios umbigos e pensem mais como Cabo-verdianos que somos, de norte a sul!
O problema de transporte da Ilha Brava não é só um problema da Brava, o problema de desemprego não é só de São Vicente… and so on… são problemas nossos… o que eu quero na distribuição de investimento público, é sim essa visão que permita corrigir as assimetrias, mas lembrando o meu Cabo Verde real, e a falta de recursos do meu país, o que também quero é Visão de “rentabilidade” do investimento. Não posso ficar triste se a Boa Vista tem um belo aeroporto internacional, ou se a Praia terá um bom porto… no final das contas o resultado destes investimentos - infra-estruturação e não só, deverá ser produção de riqueza, a qual o governo que é de todos nós poderá investir para minimizar estas distorções regionais e não só...!
E viva cabo Verde, oji dia di língua materna!
Mirian

Cesar Schofield Cardoso disse...

Lembrou-me agora um encontro que fui durante a campanha com os "homens da cultura" (como detesto essa expressão!) onde cada um que pedia a palavra gastava o (nosso) tempo com as suas lamúrias pessoais e raros foram os que conseguiram ver o problema como um todo. A política se trata de ver ao redor do nosso umbigo; ver para o bem comum e perspectivar em como vamos nos beneficiar do desenvolvimento geral. Certamente com visões de curto raio não conseguiremos vê-lo.

Obrigado Míriam

Anónimo disse...

Schofield desculpa-me mas bo ta totalmente errado! Se bo tava vive na Soncente bo tava oiá manera que coizas é na realidade mas como bo ta vivê na um país de ilusão criod pa bo deus ze maricas neves, untom bo ta espressa assim! já agora povo de Soncente ta pdib pelo amor de Deus, pa tude o quê sagrode na vida, cá bo parcê prei na Soncente que bô máquina de foto pa fazê reportagem de carnaval e nem cá bo bem tude ano moda bo ta custmá, na verão pa bem passa férias e também cá bô bem pa festas de fim de ano e nem pa baia das gatas e menos ainda pa MindelAct que bo foi um daquês que promovê que el fosse tirado de Soncente pa ba pa Praia. E ACIMA DE TUDO, SE BO PUDER CÁ BO NEM FALA CRIOLE DE SONCENTE PAMODE NO TEM NOJO DE MNINES DE SONCENTE QUE TA DIFAMÁ E ESPESINHÁ ESSE ILHA. BO CRÊ OU BÔ CÁ CRÊ SONCENTE É NOSSA E NÃO DA REPÚBLICA DE SANTIAGO. SONCENTE É CABO VERDE, OK? MODA QUÊS OTES ILHAS TAMBÉM É CABO VERDE! BO SAÍME UM GRANDE PALHAÇO QUE DEVIA ESTODE TA TRABAÍA NA ALGUM CIRCO RASCA!

Cesar Schofield Cardoso disse...

Anónimo(a) o teu comentário passou porque cansei-me de rejeitar os dos teus colegas e deixei passar esse, para também ter um oportunidade de reagir. As perguntas:

Tens a certeza que não estou a ver como as coisas se passam em SV?

Que comentários fazes à situação da Câmara de S.Vicente que levantei?

Que comentários fazes à falta de capacidade local em dinamizar as coisas boas de SV?

Conheces outras municipalidades, muito mais pobres que SV, que conseguiram dar a volta por cima, só pela dinâmica local?

Aliás, quanto municípios em Cabo Verde conheces? Digo, conhecer a experiência.

Tens a certeza que peço que o Mindelact seja tirado de S.Vicente? Dou-te um dica, procura um artigo meu sobre o Mindelact em www.buala.org

Outra coisa, tens a certeza que, pelo caminho do insulto, vais conseguir atingir alguma coisa?

Pois Anónimo, as questões são muitas. A minha pessoa não interessa para nada

Cesar Schofield Cardoso disse...

Outra péssima notícia para ti: não vou deixar de ir a SV, porque felizmente tenho mais amigos que inimigos aí.

Janaína Almeida disse...

1º, acho que devemos antes de tudo, ter respeito pelas diferenças de opinião...Isto é Cidadania.Isto é Democracia!
2º A abordagem do César é de se salutar...
3º São Vicente precisa sair do marasmo que se encontra...e isto acontecerá na união de esforços Estado/ Iniciativa privada mas acima de tudo creio que o espírito mobilizador é fundamental
4º Concordo também que os problemas são estruturais de Cabo verde...não devemos tirar o mérito dos investimentos em outras ilhas deste CV por acharmos que SV precisa de mais investimento
5º Pensar SV seria avaliar as potencialidades que a ilha e seu povo oferecem: Cultura? Carnaval? Turismo de Praia,Pescas? Serão estas áreas estratégicas para SV? Se sim, devemos todos empenhar-nos para que se tornem realmente geradoras de rendimento e consigam dinamizar a economia da ilha de forma sustentável
5º Como costuma dizer o movimento CMC, o povo de SV parece ter entrado em apatia...isto sim, há que combater.
SV não vai a lado nenhum apenas com os argumentos do tipo "Praia tem e nós não temos"...Quanto a mim,apenas alimentam bairrismos sem avaliar qual é a "root cause" dos problemas
Somos todos 1 Cabo Verde
Cptos
Janaína Almeida