28.4.11

O erro de Freire, Abraão e Cia

Na bancada do MPD alinham jovens na primeira fila, o que é bom, o que não acontece muito no PAICV. Mas isso realmente seria uma boa nova, se essa geração, que nasceu num contexto de paz e independência, que passou a juventude na maior paródia, fosse uma geração com um discurso novo. Não! Pelo contrário, entraram na política no mesmíssimo registo que os seus manhosos mentores. Um registo da extrema agressividade, de falta de pudor de adjectivar o Primeiro-Ministro do país abertamente (não rapazes, não estamos em campanha, não é o presidente do partido adversário, é uma figura de Estado de suma importância).

Faz-me pensar no bébé de 2 anos que morre com bala no olho, ali mesmo ao lado do Parlamento. Faz-me pensar na violência que temos lá fora e faz-me pensar que: a violência na nossa sociedade é um fenómeno amplamente enraizado nas nossas cabeças: do intelectual, ao pobre desgraçado. Não há fino trato em lado algum!

A barbárie

Criança de 2 anos morre na cidade da Praia, vítima de bala perdida, do confronto de gangs...que no fundo não passam de outras crianças, armadas e odiosas. Isso tudo se passou bem no coração da cidade...a 100m do Parlamento, muito próximo de embaixadas, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, numa zona de muita circulação de pessoas.

E esta merda não vai acabar, enquanto não desaparecerem as causas de base: pobreza, droga, circulação de armamento, sociedade intolerante, falta de perspectivas/alternativas, mão mole das autoridades, um bando de deputados preocupados com o nós da gravata, discussões ocas, desinteresse generalizado, umbigação da vida social, ficar-se sentado confortavelmente no sofá, até que um dia - salvo seja! - volte a acontecer.

18.4.11

Kriol Jazz Festival


Maraca disse que o Kriol Jazz Festival (KJF) "recorda-lhe o Festival de Jazz em Havana nos seus primórdios" (Sapo.cv). Pois, só para nos lembrar que estamos nos primórdios de algo que não queremos que acabe nunca mais. O KJF (o gajo já tem até nominho) foi mais uma vez um sucesso, com Maraca & his Latin All Stars a ser, quanto a mim, um momento de alta qualidade de jazz. Aliás, os cubanos são o melhor da festa em todos os KJF.

A moça aí da foto é Vera Cruz, um trovão que se escapou do céu e veio morar na terra, justamente em Cabo Verde. E o pessoal que tocou e cantou com ela são todos belos músicos: Ricardo de Deus, Ângelo, Ndú, Binga, Kyra e uma bela guineense que agora não me recordo do nome. A actuação foi no palco paralelo, na rua pedonal 5 de Julho. O único senão desse palco paralelo foi a engenheira de som que maltratou os grupos e o line-up do 2º dia, verdadeiramente estranho.

De resto tivemos uma Praia a ferver durante 4 dias, com espectáculos, workshops, jam sessions, encontros com artistas, muita paródia, muita diversão. Era visível na cara de todos o êxtase. É incrível o contacto que, sendo a Praia uma cidade pequena, temos com os artistas; de repente estou numa paródia de botequim com nomes que via à distância.

Fica aqui uma reza profunda e secreta que o KJF esteja só nos primórdios e que a minha filha venha a desfrutar do mesmo festival e eu que tenha a oportunidade de lhe contar: "nos primórdios era assim:..." 

MLS

À margem do Kriol Jazz, discutiu-se as Indústrias Culturais em Cabo Verde, com o novo Ministro da Cultura, Mário Lúcio Sousa (MLS), palestrantes nacionais e ilustres convidados internacionais. É uma sensação de "mais do mesmo" mas é importante falar até que nos entre na pele. A boa notícia é: finalmente temos um Ministro da Cultura que trata a Cultura por tu e não comete a superficialidade de chamar a Cultura de "nosso diamante". O que foi dito no debate é que, precisamente, a nossa política cultural está ainda em estado de pedra bruta. Muitas aberrações vão acontecendo, por causa da falta total de visão de praticamente todos os Governos de Cabo Verde, mas que agora se põe com mais gravidade porque a nossa fraqueza nessa matéria está aos olhos do mundo.

Está tudo por fazer pelos lados do Min.Cultura e, continuo a dizer, o meu receio é não haver vontade política com força suficiente para alterar o estado das coisas. O maior drama começa com o corpo legal que regula a actividade cultural. O atraso neste particular é medonho: não existe um estatuto para o profissional da Cultura; não existe a regulamentação das leis de protecção à propriedade intelectual; a lei do mecenato também sofre, pelo menos, de actualização e divulgação, enfim...Depois passa por um quadro de pessoal insuficiente e completamente desactualizado do Ministério. Todos os programadores das estruturas do Estado (Palácio, Museus, Centros Culturais, Livrarias, Bibliotecas, etc.) tem que estar numa plataforma comum de trabalho, junto com o Ministério. Por sua vez, o Estado tem que estar em sintonia com os privados e a sociedade. E o somatório disso tudo tem que abrir-se ao mundo. Vendo bem as coisas,não é pouca gente que está a trabalhar todos os dias no sector, mas é verdade inultrapassável, o sector caiu obsoleto. Não tenho os números do OE para a Cultura presentes, mas se situaram nos 1%, isso dá 400.000K/ano. Em dez anos isso é 4 biliões de contos. Isso é dinheiro de quem produz, destinado a pagar quem não produz.

Que tal começar por estabelecer indicadores, metas e desafios para todo o mundo MLS? Todos mesmo! Do gestor ao artista. 

12.4.11

Vida Palaciana

Foto: Kish Morais
Fui ver um documentário sobre a vida e obra de Mark Rotko, um mestre absoluto. Conhecia a obra, não conhecia a vida; conhecendo a vida, admiro 10x mais a obra. Antes estive a falar com um produtor espanhol. Depois estive a falar com outro americano. Entretanto circulava gente de todo o tipo, profissão e origem. Dos andares de cima vinha o som da malta que ensaia para o Kriol Jazz. Omar Camilo abriu a sua exposição de fotografia sobre o KJF (Kriol Jazz Festival) no 1º andar. Na esplanada está uma feira de discos. A reabertura do bar deu luz nova ao lugar.

No coração do Palácio uma equipa de pessoas extraordinárias, que nem vou listar para não cair na deselegância de deixar alguém de fora. E sabem que mais? Uma equipa que trabalha essencialmente por amor. Enfim, não é preciso grandes, auto-proclamados-inovadores e incertos programas para a vida cultural da cidade; basta capitalizar o que já está no bom caminho.

Estão de parabéns os vencedores do concurso Vis-a-Vis. Estão também de parabéns os organizadores. Impressionante também a quantidade de vezes e a velocidade com que se montam e desmontam palcos hoje em dia na Praia. Ainda me lembro da montagem de palco a ferro de soldar e a desmontar a golpes de rebarbadeira. É isso mesmo malta! Fazer tanto que a agilidade do processo torna a coisa natural. No ser humano, cultural é natural (apesar da contradição lógica de tal afirmação).

10.4.11

Art


Em alguns países a arte e os artistas assumem um papel decisivo. Protestam, subvertem, questionam, sacrificam-se...e pelo meio ganham prémios.

Conheçam o colectivo russo Voina, que de alguns anos pra cá vem protestando fortemente os acontecimentos políticos na Rússia. Claro que muitos deles acabam presos. Mas são mediáticos e contam com o grande apoio de Bansky, o artista subversivo mais chique do planeta, digo eu. Ainda sobre a política e a arte: o grande (enorme) artista chinês Ai Weiwei foi preso...A intolerância vai reinar até o fim dos tempos.

Nós aqui mal conseguimos pronunciar a palavra "arte"...por ignorância das políticas e pela nossa própria incapacidade de pular pra fora do confort zone.

9.4.11

Praia sta ta fervi

Esses dias na cidade Praia temos uma agitação anormal. Boa agitação. Ao mesmo tempo decorre o concurso de descoberta de talentos musicais, Vis-a-Vis, enquanto que já entramos na semana do Kriol Jazz. A cidade está cheia de gente, de muitas nacionalidades. No Palácio da Cultura é um entrar e sair de gente que não acaba, para além de programação permanente: filmes, exposições, debates e cerveja gelada. Pracinha Escola Grande, Espaço K, Cometa, Cockpit. Avis...estão todos a fervilhar. Adoro a cidade assim!

5.4.11

Planeamento

O que é agora? Manutenção normal? Avarias? Boicote de campanha presidencial? A empresa de electricidade aderiu a um plano global de arrefecimento do planeta? Qual é a desculpa agora pela falta sistemática de electricidade? Alguma razão plausível? Ou trata-se de uma plano misterioso que não sabemos?

De acordo com uma sábia análise de um sábio amigo, Cabo Verde vai crescer a 2 dígitos sem electricidade; imaginem se fosse com electricidade; passaríamos a 3 dígitos! Tá explicado: trata-se de um plano de contenção, para que o mundo nos acompanhe.