27.5.11

Limites humanos da política

...e a incapacidade em admiti-lo.

José Maria Neves vai entrar para a história política de CV como o governante que liderou uma das mais brilhantes campanhas diplomáticas de CV. Aliás, se há sector de governação que merece destaque em todos os governos de CV, sector discreto por natureza e logo olvidado, é a Diplomacia. Terá essa vocação diplomática o seu embrião nas acções de Amílcar Cabral, Abílio Duarte e Dulce Almada, no mobilizar da luta da libertação? Algum politólogo que me ajude, p.f.

Voltando a JMN. Foi durante a sua governação que vimos o nosso país a beneficiar-se (?) da graduação de PDM, que veio o compacto do MCA, que assinamos uma parceria especial com a UE, que um alto governante dos USA visitou CV, que as relações com Portugal intensificaram (até com efeitos colaterais discutíveis), que reatamos (vergonhosamente sem vontade) as relações com o espaço da CEDEAO, etc. Mas JMN também vai entrar na história por falhar dossiers gigantescos: o social, o ambiental e o cultural. Começando pelo último, zero! Passando para o ambiental, diria que é maior que o próprio governo, é uma consciência nacional que precisa ser tomada, mas medidas governativas já ajudariam; e o social, só ver para o nível de desemprego que nem vale a pena falar do resto.

JMN será dos governantes mais marcantes da nossa história, amemos ou odiemos esse facto, mas, quanto a mim, o defeito enervante de JMN é a sua incapacidade em reconhecer que falhou...até porque é da natureza humana falhar. Entendo que esse flanco seja difícil de dar em política, mas eu, enquanto cidadão, não sou obrigado a concordar com isso.

11 comentários:

Tchale Figueira disse...

Um autista o J M Neves! Numca o PAICV foi tão mono -bloco como agora, nem nos tempos da primeira republica com a sua ditadurazinha marxista. O povo tem o governo e os politicos que merece.

Anónimo disse...

será mesmo que é (só) isto mesmo que merecemos ou será que é não porque a democracia representativa tém limitações grandes(demais)!

Redy Wilson Lima disse...

Ficar na história como o político que melhor soube gerir o negócio da prostituição geopolítica e económica querias tu dizer... como diz e bem um amigo politólogo (na tese de doutoramento) a nossa diplomacia é das putas.

Anónimo disse...

César,

Só com uma tremenda overdose de miopia politiqueira é que podemos chagar a tais conclusões insanas e ingénuas. 1º Quem conheceu e conhece bem Cabo Verde, sabe que todo o novo conceito de cabo Verde foi moldado e profundamente transformado em menos de 10 anos durante o governo do MPD. O modelo de governação do país era o pior do do mundo comunista, marxista soviético e cubano. Reinava a pasmaceira e a perseguição aos adversários que ousassem pensar e agir diferente do sistema de veneração aos iluminados e melhores filhos da terra! Em 15 anos nem mais um liceu foi criado para além dos que foram herdados dos portugueses! Comércio era monopólio da EMPA, onde todos os meses havia falta de alguma coisa: arroz, açúcar, leite, farrinha, etc, etc. Foi no tempo do MPD onde se deu a verdadeira reforma económica e social do país, onde passamos a acreditar de facto em Cabo Verde, com a libertação dos vários sectores económicos e de mentalidades que estavam presos à pobreza e à mão estendida da "ajuda externa". JMN encontrou quase tudo feito: a mudança e a concepção da nova estrutura económica do país, as grandes obras, a reforma administrativa, financeira e tecnológica de governação electrónica, a estabilidade cambial e convertibilidade do CVE/€, as parcerias e a abertura aos investimentos externos (que ele próprio JMN apelidou do "MPD estar a vender o país aos estrangeiros", etc, etc ... JMN e os camaradas apanharam foi uma grande boleia de governação e não vão deixar nada de verdadeiramente novo e revolucionário para os próximos governos. As premiações que ele está a auferir são frutos das revoluções feitas na estrutura económica do país feitas nos anos 90 e nada mais do que isso! Frutos da Governação do JMN começamos agora a sentir na pele: aumento de criminalidade; projectos descontinuados como os Programas de Luta contra a Pobreza, o investimento da recuperação do património (Palácio de Cultura, conjunto de edifício do quintal da música, museus, centros de artesanato, igrejas e monumentos um pouco por todas as ilhas), aumento da pobreza, do emprego, desaceleração do crescimento económico, aumento da dívida pública, negociatas do "asfalto", etc, etc ... Um pouco mais de honestidade intelectual e humildade não faz falta a ninguém.

Cesar Schofield Cardoso disse...

Um pouco mais de contenção também não faz mal a ninguém.

Redy, um pequeno detalhe: neste blog, a única pessoa que pode usar palavrões sou eu, tá? Espero que entendas e respeites a minhas minhas normas.

O fulano a seguir: não estou a comparar a governação do PAICV com o do MPD; na verdade o post é para criticar a modelo de desenvolvimento de CV. Mas a ansiedade é tanta que, mesmo que critique JMN, vou ser acusado de pró isto e pró aquilo. É preciso paciência!

Redy Wilson Lima disse...

Meu caro, as normas são tuas, o blog é teu. Só para não os publicares, mas as coisas devem ser chamadas pelo nome, tout court.

Cesar Schofield Cardoso disse...

Caro Redy, quanto aos palavrões, é uma linha que quero evitar, bem como quero evitar despiques pessoais aqui no blog. Não é esse o objectivo do blog; quero um blog para veicular ideias e quero que as pessoas repliquem com ideias.

Quanto ao assunto em si, parece-me um pouco ingrato empacotar toda a diplomacia numa expressão tão genérica, vaga e dura. Reconheço que o próprio exercício da diplomacia, a nível geral (mundial), seja um negócio de imposições e cedências, sendo que os mais fracos mais cedem que impõem. Mas justiça seja feita aos grandes momentos. Inspiram-me a cruzada empreendida por Dulce Almada e Abílio Duarte; a luta da libertação teve tanto sangue de tropas, como negociações profundas de Amílcar Cabral; Pedro Pires foi mais herói no momento de negociação da independência, do que na luta armada; os primeiros anos de governação foram realmente uma utopia; a paridade com o euro, acção governativa de Carlos Veiga, pode ser contestada, mas o facto é que angariou uma grande notoriedade à nossa economia. O compacto do MCA também pode ser contestado (toda a acção governativa tem sempre um lado altamente contestável) mas o facto é que Praia vai finalmente ter um porto em condições...etc.

As escolhas podem ser contestáveis, mas há que respeitar o trabalho de centenas de pessoas ao longo da história. Isso lembra-me os grandes opinadores do futebol; o treinador faz sempre más escolhas e, se fosse o opinador no lugar dele, faria muito melhor.

Saudações

Bitim disse...

Cabo Verde sendo um país pequeno e com poucos anos de independência, entrar para a historia da política ou seja lá qual for a área, não é assim tão dificel. Os critérios que ditam se uma pessoa entra para a historia são vários, podendo mesmo entrar pela positiva ou negativa. O Gualberto do Rosário com menos de 2 anos de mandato como Primeiro-Ministro entrou, quanto mais o JMN que já vai no seu terceiro.

Anónimo disse...

Caro César, levantaste algumas questões interessantes e o debate dos comments podem ser úteis se houver elegância no discurso e não ódios latentes nos discursos.
O Tchâle parece estar out do que se esta a acontecer com o PAICV. Então, ele não vê que o PAICV está (ou sempre foi) tudo menos mono-bloco? Nem em 1975 o foi! Aliás, basta ver estas eleições presidenciais para vermos a clara separação da ala conservadora com Pedro Pires, Julio de Carvalho, Corsino Tolentino, Irineu Gomes e outros combatentes da pátria, mais os seus "seguidores" como o Filú, Sidónio Monteiro, e Arsitides Lima, versus ala renovadora José Maria Neves, Adão Rocha, Manuel Inocêncio Sousa, José Brito, Basílio Ramos, Eugénio Viega, Cristina Duarte e Cristina Fontes Lima, Victor Baessa, João Baptista, Américo Nascimento, , José Maria Viega, Mário Matos, Lívio Lopes, Rui Semedo, Armindo Mauricio entre outros. O José Brito e Adão Rocha já tinham outra forma de pensar mesmo quando eram ministros no partido único. Os Bastidores de Independência, de José Vicente Lopes, dá-nos algumas dicas sobre isso e é saber que já o leste, César. O resto da malta que anda a escrever posts não têm essas noções porque não leram coisas importantíssimas sobre a nossa história política. Se o PAICV sair dessas presidenciais incólme e unido (o que não seria novidade para mim) daria a melhor e maior lição de democracia interna no nosso país. O MPD nunca conseguiu manter-se unido em momentos como este que o PAICV está a passar, pois sempre se fragmentou em outros partidos.Já agora para o Tchâle, qual era o governo e os políticos que o povo cabo-verdiano merecia? Sim, porque essa máxima que "o povo tem o governo que merece" é uma frase gasta, vaga, oca e que não explica nem tenta compreender o porquê do povo votar em X ou Y.
Edward.

Anónimo disse...

Quando me refiro em ala conservadora não o faço em sentido negativo ou pejorativo.
Edward.

Anónimo disse...

Tschalé Figueira é o anarquista da década d setenta que não cresceu, ficou parado no tempo, não vai amudercer nunca e está démodé: "...há governo, eu sou contra!!" Como é possível o PAI e ZMN ser tudo isso que se está "vomitando"aqui e CV ser modelo de boa governação e alcançar IDH que são reconhecidos, publicitados por agências internacionais fora e suspeita? Quer se goste quer nÃo se goste do PAICV há que reconhecer que é o partido mais maturo, com maior cultura organizacional e democrática que existe em CV! A nível de projecção internacional não há qualquer comparação possível com os outros partidos caboverdeanos.