29.7.11

Art House


De todos os filmes sobre a prostituição, este da israelita Keren Yedaya é provavelmente o mais marcante que já vi até à data.Tanto pelo roteiro, como pela técnica (que até em certos momentos assume um aspecto de anti-técnica). Em 3 semanas vi 3 filmes de 3 jovens cineastas, de 3 países diferentes, todos os 3 premiados no maior showcase do filme culto do mundo, Cannes. Todos os 3 tem um premissa muito simples: na arte é a história humana o que mais conta e contará sempre.

Sextavado

Cabo Verde hoje em dia recebe em turistas quase a mesmo número da população, o que significa que, sem dúvida, o Turismo é uma das nossas fontes de riqueza. Mas, no entanto, fora os grupos estrangeiros, os serviços ao turista (nacional, estrangeiro) são fracos. É conhecida a falta de qualidade e diversidade dos restaurantes, bares, pubs e afins. No que toca à Cultura, aí é que as coisas são mesmo beras. No entanto, num período em que devíamos trabalhar mais, fazemos de tudo para trabalhar o menos possível. É o "verão", palavra que me escandaliza em CV. Eu juro que não consegui distinguir as estações em CV; tanto muito sente-se durante 1 ou 2 meses um "tempo fresco". Num período em que, pelas oportunidades que oferece, todos deviam estar a inventar uma coisa que fazer, que fosse tirar cambalhotas na rua (é o que muitos artistas fazem por esse mundo fora para ganharem a vida), todos estão doidos pela próxima festa. Este ano a piorar, são as campanhas presidenciais é que estão a patrocinar a festa. Até a própria diversão está vazia de piada, porque sempre a mesma carneirada de sempre.

25.7.11

Fundamentalismo

De esquerda, da direita, islâmico ou cristão, pouco importa o título, fundamentalismo não é coisa boa em nada. Na Noruega um "fundamentalista cristão" matou 76 pessoas, a bomba e a tiro, naquele país que é conhecido pela sua paz e tranquilidade. Ao que parece, quando todas as forças de segurança tinham as suas baterias apontadas para células islâmicas no país, heis que o tiro veio do outro lado. Parece que é um golpe no preconceito. Afinal os desequilibrados estão por toda a parte. Precisamos de um mundo onde as pessoas vêem mais uns pelos outros, se apoiam mais, na saúde e na tristeza. Essas nossas sociedades de alienação social só produzem monstrinhos.

Paz às almas (na maioria jovens) que morreram na Noruega, terra que acolhe familiares meus.

24.7.11

A refinada irresponsabilidade

Vivo numa pequena terra. Tão pequena que a determinada escala nem aparece no mapa. Também os comportamentos se diminuem em escala. Não há grandes atitudes, nem grandes feitos ou grandes demonstrações de carácter. Porque também tudo é tão sensível. As nossas relações são de emotividade, de amor e ódio extremados. Vivo numa terra que também é um Estado. Tem Presidente, Primeiro-Ministro, Assembleia Nacional, Justiça, tem eleições, liberdade de expressão, associações civis, cidadãos livres e demais itens de um Estado moderno. Mas, chegado o tempo de campanhas políticas, quando está em jogo o status e muitas vezes o emprego de muito boa gente, esta terra, este pequeno Estado, vira campo de batalhas verbais dos mais lamacentos que há. Vale tudo, de cotovelada no nariz a pontapé nos genitais. Personalidades, pretensamente de postura irrepreensível, tiram cambalhotas no chão e fazem os malabarismos que forem necessários para se manterem nas posições confortáveis de não terem que fazer tanto e de ganharem tanto. Espectáculo deplorável!

Fast and Furious

Parece que determinadas almas vêm ao mundo carregados demais de energia. Enlouquecem e morrem, prematuramente. Parece inacreditável que Amy Winehouse tenha morrido. Como pareceu incrível quando Michel Basquiat morreu. O mesmo se pode dizer para o génio do jazz no baixo, Jaco Pastorious. O nosso Pantera também partiu precocemente. Todos eles atormentados por álcool, drogas e depressões. É muita fúria para o limitado corpo. Que o Universo os tenham.

22.7.11

A refinada lata

Todo o gesto executado com refinamento e criatividade torna-se arte. A lata, ou latosa como alguns preferem chamar,  do Primeiro-Ministro tem essas qualidades. Perante a pressão, vá lá, que nem é assim tanta, fosse noutro país a sociedade já teria exigido a sua demissão face à situação ridícula da Electra, o Primeiro-Ministro contra-ataca, acusando os cidadãos de “déficit de cidadania” porque roubam a luz, o que, segundo se depreende, será o resumo da problemática da Electra. Toda a verdadeira arte tem sempre a marca da originalidade e a lata do Primeiro-Ministro também tem essa qualidade. Depois do contra-ataque inusitado, ainda ameaça que vai fazer os governantes sairem à rua para manifestarem contra a população! Esse espectáculo pago para ver.

Confesso que a lata do Primeiro-Ministro é inspirador. A arte é isso mesmo, transformar os reveses em obras criativas. Já agora o Primeiro-Ministro, na mesma manifestação, podia protestar contra os cidadãos que não vão ao emprego, os infames desempregados. Podia ainda mostrar o seu repúdio pela população que se dedica ao crime pesado, que matam, se prostituem, violam e roubam à mão armada. Protestaria ainda contra os bundões da Assembleia Nacional que andam a torrar o dinheiro do Estado.  Chegado a um ponto, podia fazer como alguns artistas fazem, a auto-mutilação, castigando-se pela ausência de políticas habitacionais decentes, pelo estado deplorável da Justiça, pela quase inexistência de políticas ambientais e culturais e tantas outras coisas que falharam redondamente e com graves consequências no nosso dia-adia.

Admiro essa capacidade criativa do Primeiro-Ministro, mas tenho de adverti-lo que a prática da arte tem os seus riscos: quando a fantasia invade a realidade, é preciso soar o alarme e fazer intervir profissionais da cabeça.

(O que foi escrito acima não é ficção, vejam a seguinte notícia: JMN diz que a falta de energia na capital é uma situação que o “angústia profundamente”)

20.7.11

Le manif

Por azar não pude participar na manif contra os apagões da Electra. Queria estar presente, porque defendo que, quem critica deve ter uma acção consequente. Não deu, pronto. Pelos vistos a manifestação não teve grande aderência e pelas fotos, foram os suspeitos do costume. Há blogs e comentários no FB a criticar a atitude passiva das pessoas, que não saem à rua, não participam etc. É assim: a Pró-Praia não tem que se queixar, pelas seguintes  razões:

  • Primeiro, anda desaparecido por anos e de repente aparece e quer que toda a gente adira. Não funciona.
  • A Pró-Praia está marcada desde a sua nascença por quezílias partidárias e para ultrapassarem isso tem que provar a sociedade que a sua acção é permanente e em nome da cidadania.
  • Não sei, por isso pergunto: será que a Pró-Praia está a criar dinâmicas com as zonas da periferia? Será que já pensaram numa rede, formada por todas as associações cívicas da Praia?
  • A marcação de uma manif pelo FB, numa cidade como a Praia, está fadada a ser o que foi. Perguntem ao pessoal dos partidos como se faz a mobilização.

Ou seja, só nos podemos queixar de nós próprios. O exercício da cidadania em CV é complicado, porque quem a pratica acha que está a fazer um grande favor à sociedade e como tal põe-se numa posição chorão, incompreendido, não valorizado, não recompensado, etc. Pessoal, se não funcionou, alguma coisa está errada e não são só os outros.

Finalmente um exemplo que me parece de dar lições às pseudo-associações da sociedade civil: a Associação de Desenvolvimento do Safende: uma associação carente, numa zona carente, mas que consegue fazer mais do que dar fricotes no FB. Precisamos abrir os olhos, dar um estalo a nós mesmos, para acordar para a realidade da cidade da Praia e do país no geral; é muito mais do que o Plateau e a Praça Nova.

17.7.11

Art House

Dois nomes a reter e a seguir:

O mexicano Fernando Eimbcke. O filme Lake Tahoe é poesia pura.
A argentina Lucía Puenzo. Bom roteiro = bom filme


13.7.11

Crise cá

Cá a crise não será de um escândalo da bolsa, porque bolsa aqui é só uma panelinha muito bem remunerada para os boyz. Também não será uma crise de subprime, porque os bancos cá estão bastante confortáveis, dizem os entendidos, até com excesso de liquidez. Poderá talvez ser uma crise de endividamento público, que também segundo os entendidos, ultrapassou os limites do aceitável. O nível de desemprego, fosse noutro país, já teria deitado o país abaixo. Entretanto, tudo anda num silêncio e normalidade doentia, como se o mundo das tragédias não existisse. Mas, pelo menos isso as autoridades já admitiram, em termos de segurança as coisas chegaram ao ponto de obrigar o exército a ter que intervir, o que poderá ser só o furúnculo de toda uma infecção muito mais profunda.

Estaremos em sub-crise, que é como nas artes cénicas o sub-texto; não fala mas pode estar a dizer o mais grave.

Homo pacificus ridiculus

12 horas sem luz é demais. Isto já está a atingir proporções ridículas, digno de um estudo sério.

HIPÓTESE 1: Estamos na presença da formação de uma sub-espécie humana, que podia ser denominada de "homo pacificus ridiculus". Nada nos indigna, nada! Aumenta-nos os impostos, reduzem-nos os benefícios, o Estado exibe luxo, enquanto a população sofre de necessidades primárias, mas nada, nada, faz-nos sair do conforto do sofá, mesmo que isso signifique apanhar até nos partirem os ossos todos.

HIPÓTESE 2: Algo precisa abalar, ou diria chocar, o nosso sistema nervoso, de forma mais dramática, para ganharmos a noção que abuso tem limite!

HIPÓTESE 3: Não temos a mínima noção do que fazer. Os governantes andam a brincar de governar e os governados andam a fingir que estão numa democracia. Isto aqui é uma autêntica ditadura da lógica de uns a prevalecer sobre outros. Fartamos de berrar que uma circular de luxo, como a que existe na Praia, para a circulação de vacas e burros, era uma tolice em relação a necessidades mais urgentes. Também protestamos contra a escalada de fantasias em relação aos resorts e estradas e aeroportos internacionais. No final da linha temos os ditadores que ganharam algum dinheiro com a farsa, temos uma crise mundial que decorre precisamente desse tipo de farsa e temos os iludidos, a acharem que ainda assim somos os maiores.

HIPÓTESE 4: Tamos doentes. Gravemente!

12.7.11

Inactividade (ou Inatividade?)

O estado de inactividade deste blog coaduna com o estado de apatia geral do país. Don't blame me.

3.7.11

Alvarito

Há figuras que nos enchem a memória por toda a vida, que conhecemos com os nossos olhos de criança, nos parecem gigantes e eloquentes. Melhor ainda, crescemos e continuam gigantes e eloquentes. Há gente que vai e volta. Conheço uma centena de pessoas novas todos os anos e outras tantas se desvanecem na memória, mas há pessoas que são como componentes do sistema central, nunca vão, fazem parte do ser que somos.

Às pessoas de enorme estatura que me fizeram, gente de bem, que continuem a encontrar força e inspiração para se manterem gigantes. Abraço Alvarito.