18.12.11

Quando caem as árvores

Césaria Évora 1941-2011

O que mais gostava na Cesária era as suas falas absolutamente espontâneas, umas até bem sarcásticas, que era uma coisa que pouquíssimas pessoas no mundo entendiam a real dimensão, ao não ser nós de cá, que a viram sofrer a vida toda e sabíamos exactamente qual era a história de vida dessa senhora que se transformou em fenómeno mundial. As falas da Césaria, essas que o pessoal achava muita graça, traduziam-se para mim como o seguinte: ok, estou eternamente grata ao mundo pelo que fez por mim, mas agora deixemos de tretas!

Há um oceano de tretas em torno da figura de Cesária Évora, algumas que até dão enjoo. Césária Évora foi amplamente ignorada dentro de casa, desde sempre. Lembro-me dela podre de bêbada, na rua, como um indigente. Nessa altura ninguém fez nada por ela e uns macacos até punham-na a cantar em troca de uma garrafa de whisky. Depois da fama, enquanto que o mundo rendia-se aos seus pés, com um tanto de misticismo à mistura, dentro de casa raramente a vimos actuar, raramente vimos um bom documentário sobre ela, para não falar de sessões públicas de reconhecimento ao seu trabalho. Vejo mais gente a gabar-se da fama que Cesária granjeou a Cabo Verde, que gente a comentar a sua arte. Agora, depois da sua morte, por favor não finjam estar profundamente sentidos por ela e deixem a senhora descansar em paz!

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