De toda a vez que olho para as realezas europeias, simbólicas mas ainda largamente presentes, ainda por cima, para infortúnio dos seus súbditos, a consumirem uma boa parte do orçamento dos seus Estados, o que parece uma contrassenso, porque a República derrubou a monarquia, mas continua a pagar as suas ossadas a preço de ouro, ou quando vejo uma enfiada de velhotes que nem se aguentam de pé no Vaticano a ditarem o que grande parte da população do globo deve e não deve rezar, ou quando sei que ainda os preços das matérias-prima de África se decidem nas bolsas europeias e norte-americanas, que também as artes e a ciência continuam ainda largamente sediadas na Europa e nos US, percebo que a chamada crise não é mais que um terramoto que vai fragmentar essa excessiva concentração de poderes e vai proporcionar novas centralidades. Isso já acontece com a China a comprar as dívidas públicas, ou Angola a comprar ativos europeus, ou o Brasil a liderar a Cultura Digital. Mas percebo que ainda é preciso dispersar mais os poderes e olhar para o (re)crescimento do festival de cinema Fespaco, ou ver para a CEDEAO como uma grande espaço para negócios e intercâmbio, ou mesmo, aqui ao lado, ver para a Bienal de Dakar como um espaço que já devíamos pertencer.
Quando penso nesses vetores sinto-me horrivelmente sufocado no provincianismo barroco destas ilhas, com essa mania que somos os maiores, sem nos darmos conta que isso foi um dedo que nos enfiaram por um buraco acima.