19.7.13

Finas navalhas


Os americanos apanham militar guineense, acusado de crimes, em alto-mar no seu iate de luxo. Aliás, o luxo do iate de um militar de um país onde a população esgrima-se pela sobrevivência, é já de per si uma novela só. Os americanos conduzem o iate de luxo, com militar dentro, para um cais de Cabo Verde. Não tarda a reação da Guiné-Bissau a acusaram Cabo Verde de entregarem um alto cidadão seu à opaca justiça internacional dos americanos. Cabo Verde replica que o iate, o seu luxo e o seu conteúdo, foram apanhados em águas internacionais. Azia instalada. Entretanto, cidadã guineense é apanhada com droga num aeroporto de Cabo Verde. Segue a sua extradição para o país de origem, acompanhada por dois policiais cabo-verdianos. Chegando lá, as autoridades capturam esses policiais, acusando-os de comportamentos estranhos, tais como não terem aparecido com a senhora, (esfumou-se nessa estória), ou que os agentes não teriam dado entrada no hotel onde supostamente deviam dar, supondo-se que terão preferido ir brincar aos espiões. Segue julgamento dos agentes, pela justiça guineense, que as autoridades cabo-verdianas já vão denunciando, que está repleto de ilegalidades, o tal julgamento. Entretanto os governantes dos dois lados vão espetando finas navalhas nas costelas uns dos outros.

Os espetadores aguardam o momento em que a estória explode.

8.7.13

Independência, é?!

Artista: Mel Bochner

Em suma, os gays fazem a sua parada, os stripers tiram a calcinha (feita da bandeira nacional), toneladas de cerveja rolam em vários dias de festivais e os políticos hesitam entre o muito mau país e o muito campeão país. A Independência permitiu isso, a pluralidade.

Uma definição de país hoje é constantemente variável. Varia com o estado do tempo e do temperamento. A análise depende se feita do planalto ou da planície. Depende da feição dos ventos. Nada de terrivelmente profundo. Somente umas formulações apressadas na TV, ou opiniões inseguras na rua entre os populares. Nada de estudos, ou publicações, literatura ou arte. Somente programas de TV, propaganda, anúncios turísticos ou de venda de lotes. Mesmo que de quando em vez venha um aviso de fora, nem se sabe bem de que ponto cardeal, que diz: o país tem risco de convulsões!...Só quem não vive com os pés assentes neste chão não sabe que, isto aqui é uma convulsão, constante.


3.7.13

Tumular

Artista: Hedwig Houben

Tribunal é um lugar pesado. Tipo cemitério. O edifício é pesado, a espera é longa, o processo é lento, as togas negras parecem a morte a caminhar, o escrivão tecla com dois dedos, o juiz corrige os autos como se fossem dactilografados por uma criança, as declarações são pomposas, os bancos são duríssimos, a sala é feiíssima, os mobiliários são cinzentos, as feições são fechadas e a palavra "julgar" tem aparência de catana. 

1.7.13

Puberdade cidadã

Artista: Richard Hawkins

Enquanto o mundo se revoluciona, nós aqui, em respeito à tradição, aguardamos a feição do vento para decidir o rumo a tomar. O Brasil, em tempo real, digladia-se com as suas graves rachaduras sociais, levando o povo à rua, levando a polícia à rua, levando a embates físicos às vezes trágicos, em tempo real, explode de alegria por mais um título no futebol, o enésimo título. Aqui, perante os Gays, Lésbicas e Simpatizantes (adoro o termo "simpatizante") a sociedade divide-se em comentários tímidos, também em respeito à tradição do posicionamento não firme. As figuras públicas ou apressam-se em demonstrar que não têm preconceitos, numa pressa que quase denota preconceito, ou ficam caladinhos à espera da reação dos colegas de equipa, ou ainda invocam esdrúxulos valores da família, jurando defender os direitos humanos.  Se há tema que provoca hilárias reações, esse tema tem a ver com o sexo em geral. Os GLS.CV tocaram no umbigo da nossa púbere sociedade.