8.1.14

Fotofestivalar e Fotodepender

Imagem do espetacular Kiluanji Kia Henda

Há anos que tentamos abordar o tema da Arte Contemporânea em Cabo Verde, mas continua a ser uma noção bem distante. Atrevidamente já criamos no passado eventos que chamamos de "Arte Contemporânea" a ver se provocava uma reacção, nesta sociedade flácida, mas não provocou, a sociedade continua flácida. Já fomos lá fora, já participamos em eventos chamados, justamente, Arte Contemporânea, vimos maravilhados e de algum modo consternados que, realmente, andamos a margem do que se apelida arte, quanto mais contemporânea.

Razões várias, a começar pela ausência da academia, ressaltando o meritório contributo do M_EIA, mas evidentemente insuficiente para o volume do país. A academia não vai criar talentos, mas vai criar aprimoramento técnico e o imprescindível campo teórico. Da questão da educação, saltam todos os outros: falta de produção, logo a ausência de propostas arrojadas, a inexistência de eventos regulares (bienais, por exemplo), não presença de curadores, historiadores e jornalistas especializados, falta de mecanismos de distribuição e retro-alimentação do sistema, por aí fora.

Neste contexto surge o Festival Internacional de Fotografia de Cabo Verde, com uma proposta tão nivelada por cima, que talvez nos tenha apanhado em contra-pé. Apanhou-nos a todos: autores, produtores e financiadores. Vamos tentar corrigir essa rota? Vamos restabelecer o debate interno? Vamos recuperar as reflexões feitas no Praia.Mov ou no Oiá? Vamos começar agora com as atividades, para quando do festival a gente esteja de pés firmes no chão?

Neste contexto também vem surgindo, da timidez para níveis cada vez maiores de atrevimento, as iniciativas do coletivo online Fotodependentes. O mérito do coletivo, na minha pessoalíssima opinião, é provocar uma "dessacralização" no fazer da imagem. A maioria dos membros do coletivo entraram com a desculpa que não são profissionais, que fazem por atrevimento, que são curiosos...enfim. Dessa timidez nasceu o "passatempo" (mais uma vez uma cautelosa posição) #PROJETO47, que considero particularmente feliz, pela mistura de cidadania, fruição e apropriação do espaço online.

É preciso no entanto pautar que, fotógrafos-artistas são uma categoria diferente dos fotógrafos-profissionais (no sentido comercial) e que esses são diferentes dos fotógrafos-amadores. Cada categoria tem um percurso que é preciso respeitar, mas todos juntos formam uma massa crítica à tão carente produção de imagens neste Cabo Verde que, paradoxalmente, tem milhares de fotografias espalhadas por esse mundo fora. Mas, uma fotografia é uma imagem?

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