17.3.14

Void

Em resumo, o turista veio e deu de caras com a publicidade enganosa que andamos a fazer veementemente. Queríamos o quê? Ora, também eu fui a um restaurante e quase arranquei os olhos para pagar a conta, num serviço normal, quase de tasca. E o gajo do táxi cobra 30Eur Mindelo-Baia, o mesmo preço Lisboa-Madrid! Estamos a brincar. E a cena se repete no Tarrafal de Santiago, no Fogo, no Maio, em S.Nicolau, na Boavista, ou onde quer que se vá. Talvez Santa Maria escape um pouquinho e mesmo assim...

Temos de decidir senhoras e senhores. Temos de vender ou gato, ou lebre, nunca um pelo outro, ou os dois ao mesmo tempo. Se é turismo de caminhada, ótimo, o turista aceita a natureza tal com ela é. Mas, se queremos turismo de cruzeiro, caracterizado por "quero tudo em 12h", por favor não procuremos justificativas bizarras; vamos ter que oferecer tudo em 12h. Não me interessa se o raio do turista foi rude nas suas apreciações. Ele aqui foi chamado, pagou pra vir. Se não tivéssemos o hábito de engolir o arroz seco que pagamos para comer, entenderíamos o ponto do homem.

12.3.14

Pipocas

Artista: Ry Rocklen

Jornalista pergunta para miúdo, fechando de propósito a pergunta em Cabo Verde, para não dar ao miúdo hipótese de fuga: "Quem é o futebolista cabo-verdiano que mais admiras?". Miúdo, encurralado pelo fechamento, pensou um pouco, titubeou, mas finalmente disse: "Heldon!". Jornalista insiste: "Quando cresceres queres ser como quem?". Miúdo nem hesitou: "Ronaldo!"...Heróis constroem-se.

Rússia invade a Ucrânia nas barbas da Europa. Europa, que lembra um galo velho hoje em dia, ameaça tomar medidas enérgicas, congelar contas, bloquear relações com a Rússia, etc. Ao mesmo tempo, Portugal anuncia que vai intensificar as relações com agências russas do turismo, um dos seus principais mercados emissores. Eheheheheheheh. 

Cabo Verde é o quinto país do mundo com mais ministras. É também o país onde ainda elas apanham no focinho com muita força, chegando a matar. E Eurídice Monteiro, a voz chata da razão, pergunta: será que em Cabo Verde, o empoderamento das mulheres-elite significa a melhoria da condição das mulheres na base? 

"Homem que é homem não bate em mulher". É a campanha do momento. A pergunta que se impõe é: como é que o homem cabo-verdiano vai parar de bater em mulher, em homem, em criança, em velho, quando uma simples reclamação no táxi já é potencialmente agressora?