2.6.14

Feijoada enlatada

Artista: Mohau Modisakeng

Mindelense ganhou o campeonato nacional, mas os festejos, em comparação aos do Benfica cá, parecia um desses apitos baratos, que quase não consegue apitar. Não houve nem cortejos quilométricos, nem auto-tanques lançando água numa multidão em delírio e nem acaloradas declarações de importantes figuras. Mas percebo. Ser do Benfica é uma religião, é um pertencer. É o clube, o grande. É ver craques, verdadeiras estrelas que desfilam em carros de luxo, tem namoradas louras e vão a galas. Ser do Benfica é um pretexto para ir a Lisboa, visitar o Estádio da Luz, a catedral do futebol. É benéfico para a leitura, de todos os jornais, dos casos desportivos e extra-desportivos. Dá tema para semanas de conversas, debates televisivos, enche os bares,  as barbearias, mantêm muita gente com algo na cabeça para se preocupar. É o glorioso. Nada que se compare a Mindelense, um minúsculo clube sediado numa infame rua de botes, num poeirento pequeno país, sem glória, sem catedral e sem luz. Ser do Benfica, clube português, é bem mais fácil. No fundo, para quê fazer a sua própria feijoada quando já há feijoada enlatada, pronta a consumir, com carne e tudo?

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