22.9.14

Afronarrativas de péssimo gosto


Enquanto africano, é sempre muito constrangedor quando somos confrontados com a enorme ignorância em relação ao país-continente África. Principalmente quando estamos no exterior. Há um misto de ignorância, arrogância e cinismo, ou ainda uma peninha e solidariedade, verdadeiramente irritantes. O caso da Ébola é bem elucidativo dessa ignorância. Quem receia ir à França, porque em Portugal tem uma epidemia? Pois, viagens foram canceladas para todos os países africanos, Cabo Verde incluído, num total de 54, porque em 5, dos quais 3, tinham um problema sério de saúde pública. Num universo de 1 bilhão de pessoas, morreram 2 mil e foi anunciado o fim de África. Rapidamente se invadiu o Mali com tropas estrangeiras, ou retirou-se Kadhafi do poder, mas em relação ao Ébola assistimos uma pouca-vergonha inqualificável da comunidade internacional. Morreram 500 pessoas na louca travessia marítima e o mundo nem tremeu. O país-continente África continua a sofrer de narrativas muito mal construídas, ou no mínimo terrivelmente parciais. Um Al-Jazeera africano, faz-se necessário. Produtoras e distribuidoras de filmes, com alcance mundial também fazem-se necessárias. Concretizar redes de arte e cultura, tais como Afribuku, FICINE, ArchiAfrica, FESPACO ou Dakart é um imperativo. Criar uma voz, através da comunicação, da arte e da cultura é essencial, para tirar poderes corruptos africanos da sua zona de conforto e para sacudir as ideias feitas no resto do mundo sobre o país-continente África. Há milhões de activistas fazendo por isso. Quem viver verá. 

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