1.8.16

A cidade em busca de si

Poderia almoçar Maffe na segunda, Cozido à Portuguesa na terça, Paella na quarta, petiscar Alloco na quinta, que combina tão bem com cerveja, ou jantar Palak Panir na sexta. Na semana seguinte teria Xerém e Modje de S.Nicolau nos melhores restaurante da cidade. Poderia ainda imaginar uma infinidade de combinação de sabores, ou de sons e sabores, tais são as possibilidades novas escondidas nesta Cidade da Praia. Poderia ainda ter Kora com Funaná, Darbuka com Batuque e no pub da esquina DJs fariam misturas com os ritmos da Banderona. Poderia, se a cidade não tivesse medo de se abraçar.

De um momento para o outro sentar-se à porta da própria casa deixou de ter prazer. Não é mais recomendável, por razões disso e mais aquilo, com ou sem fundamento. Ir ali na tasca já não se faz sem um misto de desafio e medo. Nem passear-se livremente pelas ruas ou ir ver música em qualquer bar da cidade. Antigamente alguns bairros teriam má fama, hoje todos têm. Todos se queixam. Talvez todos só tenham medo do vazio. Acontece que a cidade é nova e repleta de tons, mistérios e milhares de caras novas. Ninguém sabe ao certo onde começa e acaba, quantos países cabem cá dentro, ou o que poderia resultar se os seus ingredientes fossem batidos de uma vez num shaker. Num piscar de olhos veio muita gente e veio junto uma data de coisa boa, pronta para ser descoberta, na condição que a cidade perdesse medo de si própria, que deixasse de surtar ao ver a própria sombra. Finalmente, perdendo-se o medo, os encontros são feitos de sorrisos, com condimentos e lindas estórias. 


Com a vinda do mundo para cá, junto vieram as mamãs, os chefs, os mestres e os portadores de tradições antigas. Em simultâneo, as mamãs e os mestres da terra já não se veem ou se fazem ouvir. A cidade cresceu cheia de complexos, a precisar de se encontrar. Então viverá feliz para sempre.