28.2.11

Anatomia dum processo

Processo: 2ª via de livrete de circulação (automóvel)

Etapa 1
Ir à Polícia de Trânsito. Escrever requerimento (do tipo "venho por este meio mui respeitosamente..."). O serviço não faz fotocópia; ir a um sítio e tirar a fotocópia do BI; preço: 5$. Mediante fotocópia BI e requerimento, é passado uma ordem de depósito bancário no valor de 300$, porque os serviços não aceitam nenhum meio de pagamento ao balcão, nem os terminais de pagamentos (POS)! Toca a ir a um banco, depositar 300$ e voltar à Polícia. Prazo de entrega: 2 dias úteis. 2 dias depois, tinham feito o documento errado; esperar 20mn para correcção. Ao menos foram sempre cordiais.

Etapa 2
Ir aos Registos e Notariado. Escrever requerimento  (do tipo "venho por este meio mui respeitosamente..."). Lembrar-se de mais uma fotocópia de BI; se não se lembrar, toca a procurar um sítio de fotocópias mais perto. 600$ a pagar, não há POS também (aliás, há mas está avariado). Ir buscar dinheiro; voltar; não há troco; aguardar até que apareça troco. Finalmente o troco aparece. 5 dias úteis para entrega do documento.

Etapa 3
Ir à Direcção Geral dos Transportes Terrestres. Repetir o processo: BI, requerimento  (do tipo "venho por este meio mui respeitosamente..."), pagar e esperar pelos dias úteis.

O que está de errado neste fluxo? Tudo! A começar por martirizar o utente, passando pelo desperdício de energia, causando uma sobrecarga administrativa, resultando em irritação e perda de tempo, custando caro, e tudo isso por um simples documento. Solução: implementar o estudo mandado fazer para montar a Casa do Cidadão. Como: tendo muita coragem política para quebrar as resistências.

Trabalhadores

A verdade mais difícil de aceitar é a sobre nós próprios. É difícil de aceitar que NÃO somos morabis; é difícil de aceitar que NÃO somos os melhores trabalhadores do mundo.

É lamentável o tratamento que recebemos no atendimento público (até de empresas privadas). É lamentável ver, in loco, a falta de profissionalismo dos vários serviços. Começa a ficar crónico a falta de pontualidade e a falta de compromisso. Ainda ninguém explicou aos trabalhadores cabo-verdianos que:

  • O Estado não é vaca leiteira eterna. Passou o tempo da assistência, das FAIMO, dos empregos da Função Pública vitalícios.
  • O mundo é injusto e não há maneira de o tornar justo. Temos que ralar para sobreviver. Mandem-me àquela parte, escandalizem-se, mas os nossos trabalhadores são lentos, pedinchões e sem noção que no mundo há milhões de trabalhadores (exploração à parte) que são muito mais produtivos que nós.
  • O utente ou cliente não pode, nem deve: apanhar com o mau humor do trabalhador; aceitar um mau serviços; consumir um mau produtos; ou levar desaforo pra casa.
  • Que a pobreza, o desemprego, a falta de oportunidades, é também uma consequência da nossa atitude em relação ao trabalho.

Não sei de quem deve partir a pedagogia do trabalho; se do Governo, através da educação básica; se das associações cívicas; se dos sindicatos, que podiam, para variar, ensinar aos trabalhadores que não há só direitos a beneficiar, mas também há deveres da sua parte; ou se é do cidadão-utente que deve brigar sempre, até que haja mudança de paradigmas.

Serviços

A verdade é que continuamos a ter péssimos serviços públicos. Que ninguém adoeça nesta terra, ou se por azar adoecer, que lhe valha umas cunhas nos hospitais. Que ninguém tenha que tirar uma simples declaração, ou então que tenha paciência para fazer a maratona dos serviços públicos.

Um dos paradigmas que a Casa do Cidadão tentava mudar era, os serviços públicos que estão orientados a processos, passar a orientá-los aos utentes. Exemplo: para tirar documento A é preciso cópia do documento B; cada um desses documentos tem um balcão diferente, em prédios diferentes e em zonas diferentes da cidade; o que muitas vezes acontece, se por azar uma pessoa vai a um sítio sem toda a informação, terá que regressar a um outro sitio, para uma fotocópia que se esqueceu, para um declaração que não sabia que tinha que tirar e por aí fora. É o chamado cidadão-estafeta. O cidadão faz o trabalho de transporte de informação, que devia ser os serviços a fazer. O princípio da Casa do Cidadão é: um utente vai a um único balcão e trata de todo e qualquer processo administrativo que tenha de tratar com o Estado. Um ideal, longe de se tornar realidade.

Ninguém nos paga a gasolina, o tempo e a paciência. Mas nós, cidadãos, pagamos muito. 

25.2.11

Ode à amizade

A todos os que, via Facebook, e-mail, telefone, cumprimentaram-me, mandaram beijinhos e abraços neste dia do meu aniversário, devolvo o carinho multiplicado por dois. Os que pessoalmente vão estar comigo hoje, celebrando, quero que saibam o como fazem-me sentir importante. Não há nada no mundo que se pareça com a amizade, nada! 

A amizade move o mundo. A falta dela torna os seres humanos bizarros. A capacidade de criá-la e multiplicá-la é uma arte que se aprende com a vida, nos pequenos gestos, no vinho que bebemos juntos e na partilha. Evidentemente que a família deve estar dentro da categoria de amigos, porque infelizmente existe a inimizade dentro de famílias, que é uma coisa monstruosa. Em todo o lugar, é sempre a amizade que dita o nosso sucesso na vida. 

Abraço aos amigos da infância, em S.Vicente. Abraço aos todos os amigos do trabalho (que todos juntos devem dar um milhar). Abraço aos íntimos, esses que realmente dão-me vontade de sorrir todos os dias. Abraços.

O ódio

Infelizmente também há o ódio. Estas palavrinhas vão para alguns comentários, evidentemente rejeitados, que revelam o quanto as pessoas enchem-se de veneno e a destilam. PSS, Sandra, é claro que os vossos comentários foram rejeitados, porque contêm palavras graves, que só são possíveis na Internet, onde sabem que a jurisprudência é incapaz. Assim fica fácil, por detrás de um computador, vomitam palavras. Quanto a argumentos, nada!

22.2.11

No Nation

Líbia sofre!...O Governo bombardeia a população com aviões!!? E o Sr Kadhafi diz que "não é Presidente, é o guia de revolução"! Qual revolução Sr.Presidente? Revolução na forma de extermínio da própria população? Revolução com duração de 42 anos? E a Comunidade Internacional vai assistir de camarote? Obama, e agora?...

Já é tempo de todos os ditadores do mundo se retirarem. O problema é que são muitos, loucos e armados.

21.2.11

One nation

Um comentador deixou-me um comentário, mas pediu que não publicasse, a levantar a questão do bairrismo, usando uma expressão que achei de todo infundado sobre a percepção da hegemonia da Praia e a outra percepção que S.Vicente está condenada à morte.

Há um facto incontornável: a ilha de Santiago tem a METADE de toda a população de Cabo Verde, logo é directo que tenha a metade de tudo. Outro facto histórico: aquando da independência, as ilhas tinham um desenvolvimento ABERRANTEMENTE desigual, porque o governo colonial, puro e simplesmente, não fazia mais investimentos, porque também todo o investimento do Estado se canalizava para a guerra, para a sua desgraça também. S.Vicente há muito que entrou em declínio económico; somente se vinha aguentando de alguma herança do seu passado industrial e comercial. A minha eterna pergunta às pessoas de S.Vicente (e olhem que sou de S.Vicente!) é: porque é que acham que o Estado devia se concentrar na manutenção da ilha de S.Vicente como principal centro, quando havia uma maioria da população a cuidar? Como seria isso possível??

A minha convicção pura sobre S.Vicente é que esta atravessa uma crise de lideranças locais. Vejam a situação perfeitamente surreal da Câmara Municipal de S.Vicente! Vejam todas as outras áreas, que tem gente brilhante de S.Vicente, e o que fazem para a sua própria ilha? Onésimo Silveira é um crápula a tentar aproveitar-se do sentimento anti-Praia, um sentimento esvaziado de conteúdo. S.Vicente continua a ser a MELHOR cidade de CV, em termos de infraestruturas urbanas. E porque não se contesta o desenvolvimento do Sal e da Boavista? 

Tenho ido com muita frequência a SV e conversado com muita gente. O que falta é um estalo qualquer. A cidade da Praia não é, nem podia ser, um estrave ao desenvolvimento do Mindelo. Falemos coisa com coisa!

One nation two

Como pode se queixar a ilha de S.Vicente, de falta de investimento do Estado? Como? SV reclamou um parque industrial e tem um, mas não há indústrias. SV reclamou indústrias, mas as poucas que se implantaram aí, fecharam as portas, porque os trabalhadores reclamavam de...trabalhar demais e porque havia demasiadas complicações administrativas. SV reclamou um aeroporto internacional e tem um, com raros vôos internacionais. SV tem uma lindíssima estrada que liga Calhau-Baía, mas não sinto nenhuma movimentação no sentido de arranjar empreendimentos para aí. No entanto, SV tem um absurda situação do Poder Local e as pessoas ficam impávidas e serenas!!!

Em SV vejo uma incrível energia para garantir que o Carnaval aconteça, com todos os requintes. As pessoas de SV, estejam onde estiveram, mobilizam-se e conseguem realmente que esse belíssimo acontecimento seja um esplendor. No entanto, o que a nossa geração tem que perceber é que, questões de cidadania e de desenvolvimento, não acontecem por benevolência do Estado. Se não estamos de acordo com determinadas situações, temos de ter energia, organização e espírito de sacrifício, para poder elencar as questões. Há interessados?

15.2.11

Feelin Jazz

Escutando: Duet, de Sylvain Luc e Biréli Lagrène.

Som de fina estampa, gipsy guitars, covers lindíssimos, como Time After Time. Referências do disco: Amazon.com

8.2.11

Comentadores frustrados, malcriados, covardes e sem nenhuma ideia a acrescentar, ficam de fora. Aqui só entra quem EU quero.

7.2.11

Salvas!

Hoje já posso mandar todas as bocas que tinha vontade de mandar e não as mandei para deixar quem estava efectivamente na luta política fazer o seu papel. As campanhas eleitorais são o que são e é semelhante em todo o mundo, com uma GRANDE excepção: no meu adorado país (hoje sinto o peito carregado de orgulho) o processo eleitoral é de alto nível! Digam o que disserem. Aqui, vamos às urnas tranquilamente, com a família; votamos tranquilamente, perante uma mesa organizada; voltamos para casa e aguardamos os resultados, no mesmo dia; os derrotados se retiram, frustrados evidentemente, mas com correcção, vão para casa e no dia seguinte a vida continua. Minha gente, em muita parte do mundo isso não é possível!

Salvas! 2

O meu apreço vai primeiro para os meus colegas do NOSI. Adoro-vos! O pessoal trabalha como loucos na época das eleições, para melhorar ainda mais o processo e garantir que tudo se desenrola o melhor possível. Há problemas? E onde não há?

É sobejamente conhecido a nossa falta de memória. Alguém acompanhou o processo eleitoral ao longo da nossa (breve) história política? Começa com a completa reorganização dos serviços de Identificação, que hoje é 10x mais apurado. Passa pelo recenseamento, que hoje é 10x mais transparente. Culmina com o apuramento dos resultados, que hoje é 10x mais rápido e fiável. Esses ganhos todos tem um potente sistema de informação (SI) por trás. Mas, é preciso perceber (odiei as ignorâncias em relação aos SI por parte de muito boa gente) que o NOSI é só o aparelho tecnológico do processo. A responsabilidade última da qualidade da informação é dos serviços, nomeadamente DGRNI e DGAPE. O NOSI é só um aparelho tecnológico do processo e só pode ser avaliado em termos de desenho de sistemas. Para isso existem profissionais qualificados, que se chamam Auditores. Deixemos de burrices; se desconfiamos dos SI, é legítimo pedir auditorias, mas mandar bocas infundadas não! Para além dos médicos, ninguém percebe de ciência médica, mas em relação às ciências de informação, todos são especialistas.

Salvas! 3

Todos que participaram, com o corpo e com a alma, debaixo de sol e de pressões, gerindo um complicada mistura de emoções, ou seja, os políticos, uma palavra de reconhecimento e as devidas críticas.

Infelizmente, em muitos países o exercício da participação política não é livre; aqui é! José Maria Neves e Carlos Veiga são candidatos de elevada preparação, embora o perigo de endeusamento. Críticas aos partidos. JMN viu como o partido se mobilizou de forma impressionante para lhe catapultar para uma vitória sem precedentes. Então que aprenda (e o partido também) a se libertar do excesso de protagonismo e dê espaço a valências importantes. O mesmo se diz em relação a CV, que suponho tenha sido penalizado pela falta de democracia interna. Realmente caiu mal a desistência de Jorge Santos em eleições internas e o afastamento virtual de muitas vozes, bem como a aposta perigosa em independentes que causam fraturas internas.

Uma palavra especial aos meus colegas Edson Medina e Abraão Vicente. Ao primeiro admiro a postura e o inteligente percurso político que vem fazendo, sem a ansiedade do poder, opondo-se devidamente a várias posições do seu próprio partido, mas dando um combate sem precedentes no momento decisivo. Edson Medina é um político de craveira e convém que o partido esteja consciente disso. Ao Abraão, vai uma palavra de força. Fez uma entrada fulgurante para a política e é precisamente a forma como entrou que jogou contra ele. Abraão Vicente não é uma cidadão comum e não podemos dar ao luxo de dispensar nenhum cidadão com as suas competências. Para bem ou para mal, foi uma pessoa com uma elevada participação cívica nos últimos anos, denunciando aspectos importantes e, de alguma forma, sacudindo um pouco algum conformismo intelectual. Mas é meu dever de amigo também criticá-lo severamente pela escolha da sua postura em campanha; tinha a obrigação de trazer um outro discurso, afastado das piquinhices partidárias, com mais elegância e respeito pelos adversários. Interpreto esta sua fase como falta de experiência e espero ver um Abraão na política com uma outra postura, usando todas as suas armas intelectuais.

Salvas! 4

Cabo Verde é um país que me orgulho pertencer! Convenhamos, um país onde, nas recentes eleições autárquicas apontou numa direcção, o MPD, e noutras aponta noutra direcção, PAICV, revela discernimento e leitura dos desempenhos diferenciados dos dirigentes municipais e dos dirigentes nacionais. Ficou-me a impressão que os partidos fizeram uma campanha apostando fortemente no aspecto emocional das pessoas, dando-lhes magníficos espectáculos musicais e exuberantes produções visuais, enquanto que as pessoas estavam realmente já de cabeça feita quando às políticas reais. O povo apostou num Governo que se manteve coeso até ao fim e, efectivamente, tem obras (embora pessoalmente critique a filosofia das obras). Por outro lado, penalizou a Oposição que andou a brincar ao longo de 10 anos, prometendo um Governo Sombra e mais não conseguiu que implantar um discurso do bota-abaixo.

Espero que os políticos e os partidos tenham aprendido muito bem a lição. Um abraço ao meu povo!

4.2.11

Quando caem as árvores

Morreu Nácia Gomi aos 86 anos de idade...uma mulher comparável ao grande pé de poilão.

1.2.11

Mesti kába!

(Roubei o título a alguém)

Para a minha alegria, constato que a nossa democracia cresceu. Estou contente com a postura da CNE, doa a quem doer; o NOSI vai dar mais um show nos sistemas de informação; o pessoal dos Registos e Notariado tem trabalho como doidos para dar a todos um BI; as Câmaras organizaram os espaços de propaganda e a cidade agradece; a tal sociedade civil, embora que débil, fez alguma coisa, prova disso é que os blogs tem sim um voz. Fez-me bem ao ego ser assediado pelas duas maiores candidaturas, que mostra que reconhecem este espaço e o seu valor, mas perante a minha recusa em participar deste (mau) carnaval que tem sido a campanha eleitoral, vem de cima a deselegância. Daí a parte negativa. Para minha tristeza, a campanha tem mostrado o quanto ainda somos baixos, ridículos e imaturos politicamente. A campanha tem sido tudo, menos política. Política é coisa séria; é um debate ideológico; requer cultura. Requer sobretudo uma elevada postura ética, aliás a política não é mais do que um tratado de ética pública. Senão vejamos:

  • Personalidade que pensamos que se respeitavam, entram em tamanhas contradições, que não sei com que cara vão depois dar-nos lições de moral.
  • Os tempos de antena são palcos para manipulações de mau gosto.
  • Vejo manifestos que roçam a desonestidade intelectual.
  • Vejo plataformas que continuam a pecar pelo seu irrealismo. Concretamente, escandaliza-me que os "homens da cultura" sejam chamados a apoiar as candidaturas, quando as plataformas se referem à Cultura de forma ligeira e irresponsável.
  • Quem não está a fazer campanha é chamado de "covarde", como se toda a vida pública se resumisse a esses 15 dias.
  • Já há declarações de parte a parte de fraude e vandalismo, condicionando já o clima das eleições.
...Esta noção de "vale tudo" mesti kába!

See you the day next.