31.3.11

Innovations


Ainda na linha do post anterior, sobre a ausência dos técnicos nacionais nos eventos sociais e culturais, uma palavra para esta maravilhosa exposição que juntou de forma hábil, a ciência e a arte. Fala-se de assuntos sérios, de forma clara e sistemática, com a autoridade que os seus autores têm das suas áreas profissionais, mas mostrado de uma forma artística, pedagógica e até lúdica. O visual tá lindíssimo e o tema...é mais do que actual, é agora!

Ainda vão a tempo, visitem. Se não perceberem nada à partida, não tenham medo de perguntar, que alguém vai explicar.

(Falta de) Expressão

A propósito de um salutar debate aqui com um visitante do blog, ocorre-me perguntar o seguinte:

Quantas dezenas, ou até centenas, de cidadãos que estão muito bem preparados neste país para ter posições fundamentadas, abertamente? Quantos profissionais podiam estar a denunciar, ou a contribuir, para corrigir n aberrações por este país fora? Quantos cidadãos podiam estar a participar dos debates e exposições feitas todas as semanas?

Aqui neste país só oiço falar de partidos e dos seus cabecilhas, se tem carrões, se não tem, se são maus ou bons. Raramente oiço discussões sérias sobre os problemas técnicos deste país. Os técnicos estão escondidos nos seus gabinetes; têm medo até de apanhar ar, por isso saem dos gabinetes climatizados e metem-se nos carros climatizados; hoje até já tem o quarto e a sala climatizados, para tornar o sofá e as dezenas de canais de televisão mais confortáveis. 

Já contei uma tantas realizações na cidade - ciclo de cinema, ciclo de debates, exposições, conferências - que vejo muito mais público estrangeiro que nacional. Estou preocupado.

30.3.11

De cortar os pulsos

Tem passado muitos cruzeiros na Praia. Centenas de turistas. Dão umas voltinhas no Plateau e por vezes vão ao  interior. Tem uns guias turísticos e esses!...Hoje ouvi um deles a dar uma explicação histórica que me arrepiou até os cabelos do...! Depois espreitei à janela para ver a cara do infame; quem eu vi (porque felizmente ou infelizmente, aqui na terra todos conhecem todos, por nome, nominho, passado, estudos, capacidade, estórias, lenga-lengas) deu-me vontade de me atirar dali daquela janela.

Tudo, tudo, absolutamente tudo nesta terra é feito com uma ponta de brincadeira (de mau gosto muitas vezes). Ou talvez seja uma forma de estar na vida válida e eu é que não sei.

Lógico

Em vários contractos é normal uma cláusula sobre o incumprimento: por cada dia de atraso na entrega , o fornecedor paga x; se a entrega não corresponder à encomenda, simplesmente o fornecedor não é pago. Parece-me lógico. Os contractos da Electra não prevêem cláusulas no caso de ELES (fornecedores) falharam, mas prevêem outras no caso de NÓS (clientes) falharmos. Ou seja, nós pagamos, mas ninguém nos paga os equipamentos queimados, as largas horas sem poder trabalhar e o incalculável aborrecimento.

Ilógico

O administrador da Electra continua a desculpar-se dos estupidamente longos períodos sem electricidade, cada dia numa zona, alegando manutenção de equipamentos e avarias. E continua tudo na mesma!!!

A melhor secção dos TACV (pelo menos na minha percepção) é a Manutenção; por uma razão simples: são vidas humanas lá em cima. As operadores de telecomunicações fazem manutenção diariamente em todos os seus equipamentos e sítios, mas, raramente, sentimos falta de serviços de telecomunicação. As indústrias (de bebidas, por exemplo) trabalham todo o santo dia, com manutenção e avarias, mas não param a produção. Só a Electra é que tem problemas especiais! Se fosse num país a sério, a administração dessa empresa caia, o ministro do sector caia e o Governo perdia as eleições. Se fosse num país a sério!

29.3.11

Arqueológico

A propósito, que é feito do espólio arqueológico, recolhido nas missões de arqueologia marinha, no mesmo episódio que tivemos a capacidade de vender um astrolábio raro? Será que esse espólio, para além de estar escondido da nossa vista, estará bem protegido contra "ratinhos"? A quem devemos atingir com um pau na cabeça?

Património Arquitectónico

Talvez dos aspectos da nossa Cultura mais desprezados. Assim de rompante lembro-me do cais S.Januário (descida do plateau em direcção à Achada), que foi literalmente truncado, para dar lugar...a uma estrada de asfalto. Para além de truncado (os enorme blocos de mármore continuam deitados descaradamente mesmo ali ao lado), a estrada de asfalto ficou numa cota mais elevada que o cais, o que o esconde completamente. Por estar assim escondidinho, é um dos cagadouros preferidos dos cagadores adeptos do ar livre. Bela metáfora: cagar no Património. Muito revelador da brutalidade de pensamento de muito decisores da nossa terra. Os exemplos abundam. E já agora que me lembrei do cais S.Januário, vai para a minha lista de crimes culturais (aqui ao lado). Enquanto se mantiver no poder esta geração bruta, a Cultura continuará a ser nas suas mentes um mero cortinado.

Por falar em Património, vale a pena conhecer Carlos Mendes e o seu patrimonium-cv.blogspot.com

21.3.11

Cultura da Cultura

Temos outra vez o Ministério da Cultura como entidade única. A questão é se teremos o Min.Cultura com postura nova. Não é por me sentir muito vinculado a este ministério em particular, mas o facto é que no sector da Cultura, se calhar precisamos de uma 2ª luta de independência, tais são os desafios enfrentados. Uma 2ª luta, puramente intelectual, justifica-se porque é necessário alterar radicalmente a nossa postura em relação à Cultura.

A pior herança que Mário Lúcio vai receber é a questão da Língua. Esse dossier ficou de tal modo espatifado que, por si só, é o ananás de casca mais grossa e espinhosa. Dado ao estado dos estragos, defendo mais medidas de curativo que medidas sonantes, até porque nessa matéria ficou demonstrado que, quanto mais sonante a medida, mais resistência ela gera. Exemplos de medidas curativo: obrigar a que toda a comunicação escrita em Caboverdiano, siga as regras do alfabeto aprovado; o caso dos outdoors, muitos do próprio Governo, é atroz; promover mais programas em Caboverdiano na comunicação social; evitar textos escritos longos em Caboverdiano, que cansam e desmotivam; promover a fala do Caboverdiano nas salas de aula, para facilitar inclusive o ensino do Português; valorizar o Português; criar um Instituto da Língua, com um programa definido e com cobrança de resultados.

Outro bico d'obra é o Património. É urgente travar a destruição do Património Arquitectónico. Nesse domínio é imperativo declarar guerra, até (e sobretudo) contra outras instituições do Estado. Os museus precisam de adrenalina, para acordarem do seu sono profundo. Não percebo como é que o Museu Etnográfico na Praia consegue ser tão sem graça. O Património Imaterial precisa ser exaustivamente inventariado, estudado e divulgado. Nesse capítulo, ligações são feitas com a Investigação, também função do Min.Cultura.

Já é tempo de ter uma política para a Arte. Dessa política fazem parte a educação, a regulação das profissões artísticas, o ensino superior, a regulação do mercado da arte, etc. Os artistas nunca vão sobreviver neste mundo especializado, sem políticas verdadeiras nos seus países. Outro aspecto de capital importância para a arte é a Diplomacia Cultural. Cabo Verde está fora de TODOS os circuitos mundiais da arte, até do próximo Dakar.

O financiamento da Cultura será outro dos temas importantes para ML. Para mim isso não significa aumento do orçamento do Min.Cultura, mas passaria antes por uma reengenharia financeira, ao nível de outros sectores, que beneficiasse a Cultura. Uma simples medida fiscal pode ajudar imenso.

Mas, de todos os ananases do Min.Cultura, o pior é o próprio Ministério. Essa estrutura do Estado, de tanto acumular incompetência, criou uma casca de incompetência que só se removerá com uma autêntica revolução interna, com novas contratações, novas dinâmicas e reformatação dos quadro que já lá estão. Se esses quadros se mostrarem resistentes às reformatações ao mundo actual, casa com eles. Vamos ver se Mário Lúcio conseguirá, em momentos decisivos, despir o seu fato branco imaculado, para vestir um camuflado de guerra, porque é de guerra que esse ministério precisa.

O nosso Governo

Agora com ponto de interrogação: o nosso Governo?

Fica-me a dúvida se o novo Governo é formado a pensar nos desafios que Cabo Verde enfrenta ou se é um Governo distribuidor de tachos. Há um excessivo desdobramento de ministérios e uma grande confusão de funções.

O que me saltou à vista foi a Economia. Pela formação do Governo não se percebe da estratégia de JMN para esse sector. Parte do sector ficou no Ministério das Infra-Estruturas e Economia Marinha, parte ficou em Turismo, Indústria e Energia, e ainda parte está no Ministério da Juventude, Emprego (emprego é matéria da economia) e Desenvolvimento dos Recursos Humanos. Aliás, este mesmo padrão de desdobramento de ministérios também está na Educação, que agora se espalha por 3 ministérios: Ministério da Educação e Desportos, Ministério do Ensino Superior, Ciência e Inovação e Ministério da Juventude, Emprego e Desenvolvimento dos Recursos Humanos (que afinal é capacitação, ou seja, educação). Também os Negócios Estrangeiros sofreram essa multiplicação ministerial: agora temos Ministério das Relações Exteriores e Ministério das Comunidades. 

Outras questões: continuo a ter sérias dificuldades com um Ministério da Juventude, sabendo que temos um país onde a esmagadora maioria da população activa é jovem. logo a juventude é algo implícito a vários ministérios: chega de centros de juventude como política! Também não encaixo um Ministério do Desenvolvimento Social e da Família, ministério esse que cheira a tacho para Felisberto Vieira, numa de toma lá isto e fica quieto. Da mesma forma, o Ministérios dos Assuntos Parlamentares é redundante com o que já fazia o Ministério da Presidência do Concelho de Ministros (que se mantêm também!), numa de tacho a Rui Semedo.

Continuamos a conceber o Estado como cosa nostra, que é consequência da falta de vozes da sociedade civil. Em momentos desses, seria indispensável ouvir politólogos ou sociólogos, que não estivessem vinculado a partidos.

13.3.11

Catástrofe


A Mãe-Natureza é implacável. No Japão, já vão para 10.000 o número de mortos. Um momento de pesar para esse país. A propósito, andamos a brincar com a natureza deste planeta; as consequências são medonhamente desconhecidas. Procurem um documentário que se chama HOME; para além de estonteante visualmente, de muita pertinência no tema.

2.3.11

Boa nova!


Depois de ADRIANA CALCANHOTTO é a vez do cantor e instrumentista brasileiro JOÃO BOSCO actuar em Cabo Verde no âmbito da II ª edição do projecto BRASIL AO VIVO EM CABO VERDE. O artista fará dois espectáculos em Cabo Verde neste mês de Março. Os concertos, que serão promovidos pela empresa cabo-verdiana 3B Produções, estão agendados para os dias 17 (Mindelo) e 18 (Praia). Os bilhetes serão postos à venda a partir do dia 09/03 nos locais habituais.

[nota minha]
Um dos maiores músicos do MPB contemporâneo. Este senhor, super-talento, esteve na Praia nos anos 90 e na altura não pude ir ao concerto e já nem me lembro porquê. Fiquei doido de raiva de ter falhado a oportunidade. Desta vez não falho!