À margem do Kriol Jazz, discutiu-se as Indústrias Culturais em Cabo Verde, com o novo Ministro da Cultura, Mário Lúcio Sousa (MLS), palestrantes nacionais e ilustres convidados internacionais. É uma sensação de "mais do mesmo" mas é importante falar até que nos entre na pele. A boa notícia é: finalmente temos um Ministro da Cultura que trata a Cultura por tu e não comete a superficialidade de chamar a Cultura de "nosso diamante". O que foi dito no debate é que, precisamente, a nossa política cultural está ainda em estado de pedra bruta. Muitas aberrações vão acontecendo, por causa da falta total de visão de praticamente todos os Governos de Cabo Verde, mas que agora se põe com mais gravidade porque a nossa fraqueza nessa matéria está aos olhos do mundo.
Está tudo por fazer pelos lados do Min.Cultura e, continuo a dizer, o meu receio é não haver vontade política com força suficiente para alterar o estado das coisas. O maior drama começa com o corpo legal que regula a actividade cultural. O atraso neste particular é medonho: não existe um estatuto para o profissional da Cultura; não existe a regulamentação das leis de protecção à propriedade intelectual; a lei do mecenato também sofre, pelo menos, de actualização e divulgação, enfim...Depois passa por um quadro de pessoal insuficiente e completamente desactualizado do Ministério. Todos os programadores das estruturas do Estado (Palácio, Museus, Centros Culturais, Livrarias, Bibliotecas, etc.) tem que estar numa plataforma comum de trabalho, junto com o Ministério. Por sua vez, o Estado tem que estar em sintonia com os privados e a sociedade. E o somatório disso tudo tem que abrir-se ao mundo. Vendo bem as coisas,não é pouca gente que está a trabalhar todos os dias no sector, mas é verdade inultrapassável, o sector caiu obsoleto. Não tenho os números do OE para a Cultura presentes, mas se situaram nos 1%, isso dá 400.000K/ano. Em dez anos isso é 4 biliões de contos. Isso é dinheiro de quem produz, destinado a pagar quem não produz.
Que tal começar por estabelecer indicadores, metas e desafios para todo o mundo MLS? Todos mesmo! Do gestor ao artista.