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20.11.09

Sexta-Capital

A Semana saiu cedo esta semana. Cristina Duarte na manchete. Eu que sou fã incondicional da Ministra, até porque é uma bela mulher, vou ler direitinho a entrevista. Para mim é um dos poucos governantes que trabalham a sério e, capital, fala a sério, não escondendo rotos e valorizando devidamente o seu trabalho. Quem já teve o previlégio de trabalhar com esta senhora sabe que, defeitos lá tem como todos, ela é metódica, marrona, característica essencial para quem quer vencer desafios difíceis, escuta os que estão na ponta das inovações e pessoa de uma grande cultura. Quem disse que berço não conta?

A capital volta às suas actividades à medida que os doentes se recuperam e desvanece o, exagerado, estado de pánico. Assim, de novidade mesmo é o festival Faxi-Faxi que vai acontecer na Praia, que vai dar mais uma ajuda no audiovisual deste país. Tenho dito, tenham atenção no audiovisual, que vai dar que falar por cá, pelo menos assim espero. E que grande novidade é essa de Paulino Vieira na capital, acompanhado de, pasmem, Tcheka, Hernáni, Bau e Voginha. Mas isso é um festival!

Tremi de alegria pela exposição de Manuel Figueira que aconteceu em S.Vicente, por razão tripla: porque é o regresso de um dos maiores, senão o maior artista-plástico caboverdiano da actualidade a exposições em sua terra; porque ele, junta com a minha heroína Luísa Queirós, despoletou todo o meu sentido arte visual; porque a galeria é de um dos meus compas de infância e outro magnífico artista-plástico, Alex. É bom que grandes exposições como essas aconteçam, para que os que iniciam como nós, se ponham no devido lugar. Para os que acham que estão por aí a fazer arte e fazem cocó, permitam-me este arroto. Para quando Manuel Figueira, em pompa, de novo na capital?

Hoje ainda não tá no clima certo para a costumeira cerveja de sexta. A cidade ainda ressente-se. Tá completo mais um ritual, eterno, de iniciar e terminar semanas. Bom FDS.


Quinta-Essência

Vai passando o susto da Dengue e, afinal, não precisa de preocupações maiores, bora lá relaxar com isso de limpar. Continuo a ver nas mesmas varandas das mesmas casas pseudo-chiques, porque de chiques só tem a pretensão, a pendurar os seus saquinhos de lixo na cerca da casa ou tão discretamente enconstada ao portão. Lixo em si não dá Dengue, o que dá é a mentalidade de, o problema não é bem comigo, é mais com os outros, que dentro da minha casa tá limpa, fora de casa já é problemas dos outros. É assim a nossa maneira de ser, passa o susto, volta tudo ao normalinho. Já se esqueceram que no ano passado morreu mais gente de Paludismo que este ano morreu de Dengue? Já se esqueceram da Cólera? E o que mudou radicalmente nas nossas atitudes e acções? Nada! Uma certa estupidez faz parte da nossa quintessência.

As duas organizações do nosso coração, os dois partidos, preparam-se para se bloquear em mais uma questão importante para o país, como é o Orçamento do Estado. Já ninguém fala da Reforma da Justiça, que tantos sustos como a Dengue nos causou num passado bem próximo. Ou a Revisão da Constituição, que dizem que é a nossa lei fundamental, que já por aí tá explicado o nosso atraso, porque não há meio de se renovar. Entretanto a polícia matou um jovem, em "acção defensiva". Mas quem se rala com a morte de um jovem em Casa Lata?! Compreendam que a polícia poupou esforços numa perseguição desnecessária e meteu bala na nuca do jovem, fosse thug ou não, isso depois vamos saber. Mas tão a ver petições a exigir o fim da violência policial? Que nada!, morando em casa lata, é muito provável que seja um thug e, se calhar, como disse o Ministro Lívio Lopes, é uma acção normal de combate à delinquência juvenil. Pois, é dessas "normalidades" que vamos construindo um belo lugar para viver.

Lembrei-me que cada bairro podia ter uma associação...Que nada, esqueçam este delírio pateta, bora lá cuidar do sofá para sentar a nossa bundinha crioula malandra.

13.11.09

Sexta,Capital

Sociedades não se medem em termos absolutos, pela razão que há pessoas que são mais que uma unidade, são muitos em um. A dificuldade é que “muitos” não é um número e daí não se saber ao certo qual a diferença que uma pessoa, que é muitos em um, faz. Mas sente-se. O país está a meio-gás, não porque metade da população está de baixa, mas porque pessoas e projectos bem identificados estão de baixa. Não porque se abateram, mas porque fogem. Vão para onde supõem estar seguras e confortáveis. O país está a meio-gás porque tá furado aqui e ali.

Cancelam-se bienais, viagens, adiam-se projectos. Entretanto Raiz di Polon perfaz 19 anos, bonita idade, e oferecem um ensaio aberto hoje, em sua sede. Apareça quem quiser. Entretanto nós os de cá, que não fugimos, ou não temos onde fugir, ou não queremos fugir, aguentamos as pontas, suportando os mesmos asnos e contentando-se com as mesmas pessoas e natureza. De todo o modo fugir para onde? Para onde haja gripes A ou outras bizarrias feitas em laboratórios? Para palcos de guerra? Para países onde já não somos mais bem-vindos? Onde se cultiva a intolerância?

Ontem minha amiga dizia que, o mundo fatalmente entra em fases de estupidez generalizada, aumentando a tensão até limites do insuportável, rebentam-se guerras e conflitos, para depois retomar-se os caminhos da normalidade e razoabilidade. Pois parece-me que o mundo anda nesta fase da estupidez generalizada, com modelos económicos que já pareciam naturais a colapsarem, com mais e mais doenças a aparecer todos os anos, com as abismais diferenças entre países e pessoas, mas sobretudo com a falta de vontade de nos entendermos, cada um a querer fazer vingar a sua lógica, ou achando arrogantemente que a sua lógica é A lógica. Não há onde fugir. Lutemos. Vão à vossa sexta, bebam a cerveja de praxe, mas saibam que não é tempo de relaxar.

12.11.09

Quinta,Essência

Está tudo doido em torno, gente doente, com medo dessa doença nova odiosa, de outras que se vem juntando, de outras que já estavam e progridem, tais como os que matam de coração, de comilança, de gordura, de falta de higiene de vida. A cidade está sacudida. Costumávamos brincar que Deus é caboverdiano, face a perigos que nunca davam em nada, casas podres que não caiam, epidemias que espreitavam e não aconteciam, face a toda a casta de desleixo sem consequência. E agora, que epidemias acontecem, há mortes e centenas de doentes todos os dias, casas caem, a chuva, tradicionalmente amiga, leva na enxurrada uma vila inteira, turistas cancelam visitar aqui, empresas vão à falência, há mais famílias no desemprego, estrangeiros vêm nos ajudar, porque sós não aguentamos tanta fúria, será que Deus renunciou à sua nacionalidade caboverdiana? Deus cansa, né?

Mas apesar de, de facto, estar tudo doido, a maneira desse povo não mudou muito. Além de continuar a sujar, mijar na rua e gritar palavras de boca suja, o que continua mesmo permanente é esse estado de espírito, como se nada estivesse acontecendo e tudo fosse só mais alimento para piadas. A gente de S.Vicente diz que, agora na Praia, se não se morre de gang, morre-se de Dengue, na Praia dão alcunhas para o demónio, Sakudin, Feru-Gaita e nomes assim, na Boavista continuam a culpar os Badios de ir pra lá montar o inferno. Tudo é um pouco a brincar, do douto doutor ao povo ralé, todos brincam, até mesmo com o Diabo. É da nossa quintessência.

11.11.09

Quarta, Definições

mamata
(mamar + -ata)
  1. Empresa ou administração pública em que políticos e funcionários protegidos auferem lucros ilícitos.
  2. Exploração ou lucro que resulta de suborno ou tráfico de influências. = comilagem, ladroagem
  3. Pop. Negociata, roubo.
  4. Emprego lucrativo sem grande esforço. = conezia, mama, sinecura, teta, tribuneca, veniaga
  5. Ganho ou coisa pouco lícita. = expediente, marosca

marosca
(origem obscura)
Trapaça, arriosca.

arriosca
(origem controversa)
  1. Alguergue.
  2. Intriga.
  3. Logro.
  4. Falcatrua.
(Fonte: www.priberam.pt)

Palavras, até com uma dose de fofura, não faltam para denominar chico-espertice, negócios obscuros, transacções controversas, cálculos indevidos de remunerações próprias, beneficiação involuntária de próximos e parentes, macaquiça...

10.11.09

Terça, 1/3

Para os lados de Palmarejo, quem vem de Quebra-Canela, há batalhas aéreas de Marcianos pela madrugada, largam bombas que fazem buracos na estrada. Quem vem com o carro, livra um buraco e, tunfa!, apanha com outro mais ao lado. Uma irritação diária. Marcianos no ocorrido são de três espécies: o Calceteiro Preguiçoso, o Capataz Fanfarrão e o Engenheiro Irresponsável. Mas entretanto há outras teorias, que ocorreram no passado: a Câmara mandava calcetar e vinham Marcianos da Oposição pela madrugada e descalcetavam. Seria possível? Teoria de Conspiração ou não, o facto é que toda a manhã a cidade acordava esburacada. Sou mais pela primeira teoria dos três Marcianos.

Terça, 2/3

Que são buraquinhos na estrada face à falta de electricidade? Da estrada, podem tirar os paralelos todos, mas será pensável tirar a electricidade a uma pessoa um dia todo, todos os dias? Que Estado de Direito, se não posso processar ninguém pela comida que me estraga no frigorífico, com risco a cada vez de arrebentar o próprio frigorífico? As horas de trabalho que não faço em casa, como se existe homem com poder tanto que me diga que não posso trabalhar em casa? Quem processo por perda de conforto, perda de paciência, perda de paz interior? Mas quem se rala com o conforto e as horas de trabalho extra perdidos, quando morre gente de doença mais séria?

Terça, 3/3

Ouvi ontem o Ministro da Saúde em mini entrevista pela rádio. Era de dar dó! O homem tinha a voz sem o trovão habitual, parecia que vinha a nado por um oceano revolto. Fazia o pobre ideia que por águas crioulas, mansas e quentes por natureza, seria possível tamanha tempestade? Anunciou ajuda de muitos especialistas, da França à Indonésia, mas perguntado, uma pergunta deveras sacana numa hora dessas, sobre um novo hospital, deu guinadas na voz, disse que por agora o que importa mesmo é a Dengue, que sobre o novo hospital, depois da crise, havemos de falar disso, talvez. Espera! O Ministro disse “talvez”? Ah pois, disse. E é isso que acontece a Comandantes que não comandam as naves com mão firme: um dia ou outro a tempestade avassala.

9.11.09

Segunda, Não retoma nunca mais

Já viram birra de criança? Este quer um brinquedo, que também quer aquele, apesar de haver brinquedos de sobra, um puxa dum lado, outro puxa do outro, depois um mete a mão no outro, o outro desata aos berros, a mamã ouve a birra e deixa, a ver se num lance de democracia os meninos deslindam a contenda, mas não deslindam, principalmente se de machos se tratarem, porque parece que a qualidade masculina é dada a um certo embrutecimento, vendo que não adianta e só resulta em enguiço, a mamã intervêm e não raro ter que fazer entender a voz alta da autoridade.

Já me irrita o impasse da Revisão Constitucional, as manobras de uns e as intenções de outros. Esses meninos já mereciam uma palmada!

Segunda, Retoma II

Vamos à mobilização. Sim senhor, um primor ver gente chique, menos chique, nada chique, todos trajados de camponeses, de pá, enxada e vassoura na mão, limpando a empena das suas casas e arredores. Não tão bonito foi ver árvores cortadas!...Cortou-me o coração.

Aliás, por falar em árvores, em CV não é nem crime legal, nem delito moral, deitar abaixo as árvores. Uma árvore vai pró chão com a maior das facilidades, sem que ninguém sinta uma ponta de tremor de indignidade. Isto numa terra em que, sendo seca, uma árvore crescendo e mantendo-se viva, simboliza uma vitória. E num ápice vai abaixo! Tremenda estupidez e prova que as operações não estiveram sempre bem coordenadas no terreno.

Ainda há tempos, para as obras de asfaltagem de algumas vias da Praia, obras polémicas, porque bonitas mas não necessariamente inteligentes ou responsáveis, como vieram a provar as chuvas, mas dizia, por altura dessas obras, deitaram-se abaixo dezenas de árvores. Adivinhem para quê? Para permitir a operação das máquinas!...Um acto de bradar ou de enfiar na cadeia quem permitiu.

O que é bom para a literatura é que este povo não pára de fornecer situações parvas, cómicas, estúpidas e caricatas. Escrevam, que terão inspiração todos os dias.

Segunda, Retoma

Bem, retomamos o curso da normal da vida. Normal, maneira de falar, porque normal a vida não está. Apesar da manifestação inédita de cidadania na sexta, dos esforços consideráveis da Câmara e dos desdobramentos do Governo, a situação continua caótica e medonha. Pesquisadores e trabalhadores estrangeiros abandonam o país, quem pode manda os filhos para o estrangeiro, quem não pode defende como pode. Mosquito zero é uma utopia, esforços individuais não chegam. A crise da Dengue é um resumo, uma espécie de certificado, de todas as más políticas em curso.

A Dengue veio pôr tudo a nú. A começar por uma cidade desregrada, sendo metade dela de casas espontâneas, sem canalização de água e esgotos, sem rede "oficial" de electricidade, sem arruamentos, sem condutas de águas pluviais e residuais, sem um Plano Director, numa palavra, sem política. O Governo precisa de uma conversa a séria sobre a sua política do território e de habitação, que o programa "Casa para todos" é só mais um desses slogans mercadológicos. A Câmara precisa manter a mão firme sobre a população. Boa parte dessa crise advém da incúria e do desleixo.

Está provadíssimo, os serviços de Saúde não aguentam uma crise, seja ela de uma epidemia ou de uma catástrofe. Na lógica das medalhas, esses dias deviam ser emitidas centenas de medalhas para o pessoal enfermeiro e médico que não tem tido mãos a medir e horas de sono completas.

Está provado também. Essa onda de deixar todo o mundo entrar no país sem controlo, não resulta. Vamos pulverizar os estrangeiros, como eles nos pulverizam quando vamos à terra deles. Doenças também são globais, não apanágio só da pobre África. Os barcos também precisam de mais rigor com o que trazem dentro.

A situação continua alarmante. Embora se registe uma baixa ligeira de casos, 600 a 900 casos diários, para a nossa realidade não deixa de ser um sufoco. Todas as medidas de prevenção devem permanecer vivas. Todos devem permanecer alertas.

5.11.09

O responsável é...

NÓS TAMBÉM.

Primeiro, vamos tentar manter um pouco de calma. Antes de mais não é pandemia; é epidemia. Pandemia tem a ver com extensão geográfica (vários países, um continente, ou todo o globo) Depois, o estado de calamidade não é por causa das mortes, que não está morrendo gente calamitosamente; a calamidade tem a ver com a propagação assustadora da doença e o porvir: esta cidade tem todas as condições para a doença expandir-se e instalar-se. Mesmo que acabemos com todos os mosquitos (que tem um nome que lembra Egipto) os ovos vão garantir o seu retorno por vários meses.

Para mim, esta crise deve ser tomada como consequência da incúria em termos de políticas públicas, e do desleixo e descaso, em termos do comportamento dos cidadãos. Deve ser um alerta também que, todo o cidadão é directamente implicado em TODOS os assuntos da cidade. Quem achar, seja ele estrangeiro, de outra ilha, ou de outro planeta, que os problemas da cidade/país não lhe diz respeito, tá aí uma doença que apanha todos, independentemente do seu apego pela cidade. Pois, quem habita este espaço deve cuidar dele e deve exigir medidas públicas consequentes. TORNEMO-NOS CIDADÃOS. Isso implica participação, dar a cara, tirar a bunda de casa.

À senhora que está no estrangeiro, está raladíssima e que acha que a cidade tresanda, devo dizer-lhe que a coisa não é assim negra e a cidade não esse balde de esterco que descreve. Vamos a ter um pouco de razoabilidade. Estamos sim a enfrentar uma crise; todos tem que estar assustados, porque estando assustados, todos vão cogitar tirar a bundinha de casa.

O culpado é...

NÓS!

Eu me declaro culpado. Tenho um reservatório de água em casa que, por certo, não está devidamente vedado. Como disse o médico José Maria Martins: "somos uma cidade de reservatórios de água". Toda a cidade é culpada. Ainda segundo o mesmo médico, nenhuma estratégia está clara, enquanto não abordarmos a questão da água. Todos os tanques, reservatórios, goteiras de ar condicionado, plantas, pardieiros e outros receptáculos e estagnadores de água, são culpados.

Se, casa por casa, não for feita uma desinfecção e vedação de receptáculos consequente, o problema subsistirá.

Falta a coragem ao Governo para declarar Estado de Emergência. Não leio mais as estatísticas. É só ver ao redor a quantidade de doentes que conheço. E das mortes que vão acontecendo.

O bafo negro da morte

Mais uma vítima. Mais uma na colecção negra da Dengue. Morreu a mãe de uma das nossas colegas. Todos se contêm de raiva e dor. No Café Margoso há uma série de perguntas que o Ministro da Saúde devia responder, ou então entregar-se.

4.11.09

Estado de Calamidade II

O Primeiro-Ministro decretou sexta-feira, 6 de Novembro, dia de tolerância contra a Dengue. Bonito isso Mister Premier. O povo levanta as mãos aos céus para agradecer a Deus que tenha posto a Vossa Excelência ao nosso serviço. Agora pergunto-lhe:

QUAL É A AGENDA PARA A SEXTA-FEIRA??

Não deveria ser montada uma célula de crise - Delegacia de Saúde, Protecção Civil, etc. - para orientar quem queira voluntariar-se?

Eu vou fazer o quê? Limpar a minha casa? Isso já faço todos os dias. Vou sair por aí de óleo queimado na mão à procura de poças d'água pela cidade? FAÇO O QUÊ?

Não deveria haver uma acção concertada, em que todas as instituições e empresas seriam convidadas (no caso do Estado, até obrigadas) e desenvolver uma acção concreta?

O que vai estar a Vossa Excelência nesse dia? De óleo queimado na mão?

Ouvi dizer hoje que, um Centro de Saúde fechou as portas às 15h, correndo com a multidão que estava ali. Não deveriam os Centros de Saúde estar em regime de emergência nacional?

Como vão me dizer que não há rupturas de produtos nas farmácias, quando NÃO OS ENCONTRAMOS NAS FARMÁCIAS?!!!

Já não chega deste discurso de "situação controlada"??? A situação NÃO ESTÁ CONTROLADA. Nem à porta do seu palácio, com as suas valas imundas, se a situação está controlada.

Sabe quantos colegas meus estão em casa doentes? 6 Mil é um número aproximado, por baixo, por cima, ou é irreal. Já ouvi 12.000.

Será verdade que a situação já tenha sido do conhecimento dos Serviços de Saúde há meses atrás, que especialistas estrangeiros tenham oferecido ajuda e nós recusamos??

...Sem esquecer o Paludismo.

3.11.09

Estado de Calamidade

Morreu a minha vizinha, minha amiga, colega do liceu. É Dengue, dizem. Mas não se confirma e, evidente, convém não levantar pânicos. A confirmar será menos um ponto para o Governo. Se não se confirmar será menos um ponto para a Oposição. São estatísticas, nada mais do que isso. É grave a situação? Vão me dizer que não, estatisticamente. A situação está sobre controle? NÃO. As medidas são enérgicas? Diria que sim, tendo em vista os sinceros esforços das autoridades nas suas acções paliativas.

Mas morreu a minha amiga e sinto-me extremamente grave. Estou destroçado e nem sei a quem acusar, se Deus ou Diabo. Ou Homens. Como podemos ter tanto mosquito em terra árida? Perguntou uma pessoa. Pois, quem ouve isso pode pensar que temos pântanos. Não, não temos. Temos é lixo, esgotos, água estagnada, obras abandonadas e um carnaval de outras porcarias. E temos a incúria, o desleixo e o descaso, doenças graves.

Não liguem à porra da estatística, minha gente. Vamos parar. Temos uma situação de calamidade em mãos. Os hospitais estão lotados, fazem-se filas nas farmácias por remédios e repelente. Até bares vendem repelente, não seria já famoso o ditado que diz que, toda a crise tem oportunidades. Vamos parar e encarar a situação sem piadas parvas. Médicos, enfermeiros, sei que estão em apuros, mas voluntarizem-se. Políticos, parem com as vossas cantigas; saiam à rua, como quando choram por votos e sensibilizem o vosso eleitorado para o perigo que temos em frente.

Neusa, meu coração, meus olhos, meu suor, chorou por ti hoje. E pelo menino pequeno que fica sem ti. Este espaço está de luto e talvez fique permanentemente. Porque estamos todos a morrer um pouco, em dignidade.

A Indignação do Cidadão

Ah!, um pouco de indignação afinal existe. Indignam-se os leitores com os títulos “cidadão bosta”, “cidadãos saco de porrada” e outros mais. Sim, gostamos de dizer: “Eu não! Eu faço a minha parte e você, Moço Bianda, sabe do que se faz por este país dentro para estar com tais afirmações?”. Cidadão, fazer, todos fazemos a nossa parte. Bons, há muitos por este país adentro. Eu só conheço gente boa no que faz. Eu próprio faço parte de bons projectos que se fazem por cá. Mas não chega. Reclamo do mínimo (obrigatório) que fazemos; da zona de conforto que não saímos; do medo de gritar a pleno pulmões: “cidadãos bosta!”. Sim, somos o povo dos brandos costumes, mas não das práticas brandas, nobres ou coisa que se pareça. A nossa sociedade, ao lado do desenvolvimento, vai apresentando sinais preocupantes e essa “alienação intelectual” preocupa-me.

Pedem-me provas de bostice. Mais provas que a ausência? Quantas posições técnicas, mantendo uma linguagem humana, que conhecemos sobre a crise económica e as suas reais implicações nas nossas vidas? Quantas posições consistentes conhecemos sobre o Desemprego em Cabo Verde e de como vai se comportar no futuro? Quantas posições conhecemos sobre o fenómeno da Desigualdade Social, ainda que o país cresça a bons números? Quantas vezes um técnico, autoridade na sua área, vamos dizer, a Medicina Pública por exemplo, se indigna com a guerra de números dos políticos em torno de uma situação grave como a Dengue? Quantas vezes a Ordem dos Engenheiros se posicionou contra obras descabidas ou perigosas? Que é feito da Ordem do Arquitectos? Existe mais vergonha que a Ordem dos Advogados? Que é feito da Pró-Praia? As situações da Electra e dos TACV já são chagas que aceitamos sem reclamar. A indisciplina, o desrespeito às autoridades, a falta de civismo e essas coisas, já os aceitamos como o lixo que deixamos à porta de casa. Quantos cidadãos tem a coragem de dizer ao canalha que mija na rua: “seu porco!”.

Há um Índice de Cidadania? Qual é a nossa média?

2.11.09

O Cidadão Bosta

Carlos Veiga é o mais novo futuro inimigo da Cultura neste país. Li o seu discurso de encerramento da IX Convenção do MPD e, rigorosamente, a palavra "Cultura" não foi pronunciada uma única vez, nem que seja para significar outras coisas que não a própria Cultura em si, tais como: "cultura empresarial", "cultura de inovação"...NADA. Zero. O candidato a chefe de Governo deste país têm ideias (sem demonstrar como as vai realizar) de tudo - economia, segurança, justiça, saúde, educação - mas sobre a Cultura, nada. Ou ainda ninguém percebeu que a Cultura tem a ver com o Ensino, com a História, com a Investigação, com o Património, com a Arte, com as Manifestações, etc., ou então estamos mesmo mal de "pensadores".

Mas a culpa dessa situação toda são os homens e mulheres da nossa intelectualidade de bosta, que não honram os seus canudos, os seus percursos, os seus prémios e os seus privilégios. É de contar nos dedos de uma só mão, as grandes figuras deste país que levantam a voz contra a estupidez de ideias que por esses dias se vive. Todos, de professores universitários, a sociólogos, antropólogos, politólogos, economistas, juristas, artistas, escritores, filósofos...está absolutamente todo o mundo subjugado ao poder do discurso político-partidário. Não importa o que os políticos tirem da boca. Reacção, consistente, argumentada, sustentada, ZERO.

Neste país, quem vai passar à História são os políticos, por força da formalidade da história, e mais um ou outro, que teve a coragem de ter vida própria.

30.10.09

Os clubes

Álvaro Ludgero Andrade despertou-me este post.

Frequentemente vejo grupos de homens, em praças, pontas de esquina ou em bares, a discorrer sobre a época futebolística. É impressionante a quantidade de informação que determinados deles tem sobre toda a indústria futebolística. Sabem de todas as aquisições, as transferências, os valores, os salários. Têm uma opinião muito bem formada sobre o sector, onde no mundo há mais oportunidades de negócio, onde os jogadores são bons e baratos. Têm até opinião muito formada sobre a forma como os directores desportivos devem agir, o que a empresa deviam adquirir e o que não. O que mais me impressiona na discussão do futebol é a fluidez de argumentação, só possível quando as pessoas estão "por dentro" da coisa.

O nível de participação futebolística, o nível de leitura de "A Bola", deve ser esmagadoramente melhor que o nível de participação na cidadania, sobre a vida pública, curiosamente sobre questões que nos afecta directamente. Se calhar porque, como disse Álvaro, desde que nascemos nos ensinam a ser de clubes, mas não nos ensinam a ser cidadãos.

Pertinente a observação Álvaro. Obrigado.

23.10.09

Cidadãos Sacos de Porrada

Como explicar um povo que apanha todos os dias e não emite nem um som? Será algum trauma ligado aos nossos genes escravos? Será que a noção do protesto nos foi completamente apagada pelo fascismo? Será que os anos de partido único e os anos de abertura velada reforçaram a interdição de falar? Será que estamos a perpetuar um sentimento de que o protesto, ou melhor, o exigir ao Estado o que nos é de direito é um acto de perturbação?

Já vamos em anos seguidos com problemas sérios de electricidade e os dirigentes sentem-se ofendidos se dizemos que são incompetentes? Bato com o carro todo o santo dia num buraco na estrada e ainda sou multado por não pagar o imposto de circulação? Paga dezenas de contos todos os meses em impostos e isso não me dá o direito de exigir serviço? No restaurante somos mal servido, as lojas vendem produtos deteriorados, o serviços públicos funcionam como lhes dão na gana, não há serviços públicos de lazer, somos roubados, somos violentados, homens adultos tiram a pila de fora e fazem xixi na rua em frente à minha criança…

Que porra de cidadania é essa cidadãos? Desta vez não me dirijo aos políticos; desta vez dirijo-me a ti, cidadão.