29.9.08

Yin-Yang

Depois de um fim-de-semana no Tarrafal, estado de espírito: a uns degraus de Nirvana.

Tarrafal é um dos mais agradáveis cantinhos que conheço em CV. Não falo de Santa Maria, que é um praia grande e bela; nem de Santa Mónica que é, provavelmente o maior areal de CV; falo de um cantinho, lindo, com um mar incrivelmente limpo e belo, uma vila pitoresca e um povo amável. Além disso, Tarrafal é uma localidade que tem muita história e Cultura. Sentimos nas ruas paradas e nos edifícios antigos, a cair de roto, que a vila não é SÓ um vila; é um lugar que tem muito para contar.

Tarrafal, a julgar pelos edifícios opulentos, como a enorme residência do Presidente de Câmara (existe? morreu? está vivo? que é feito dele?), o edifício da Municipalidade, as casas particulares, a igreja, a linda praça, o mercado, o cais, o edifício que foi das Alfândegas, julgo eu, pela própria extensão da vila, já foi um lugar importante. Tarrafal já foi também um dos pontos mais terrivelmente célebres da administração fascista Salazar: era o lugar onde povos de Portugal, Angola, Moçambique, Guiné e de CV partilhavam a humilhação da cárcere.

Tarrafal já foi um importante centro agrícola. Que aconteceu ao Txon Bon? Praga? Desleixo?

Tarrafal é ENORME. Para além da famosa praia, o concelho extende-se por um área enorme. Há muitas localidades, cada uma com uma história para contar, Princisito que o diga.

Tarrafal já teve um dos melhores aldeamentos turísticos de CV, o complexo da Baía Verde, hoje em dia um lixo. O Hotel Tarrafal já foi lindo e exuberante. O Hotel Mar Azul já foi chique e hoje está em ruínas. Tatá já foi bem frequentado...Tudo "já foi". Uma espécie de praga, dessas que arrasaram o bananal de Santa Cruz, passou pela vila do Tarrafal. Não é que eu vejo desgraça em tudo; a desgraça salta-me aos olhos, talvez por saber que eu a denuncio.

Tarrafal na corrida dos municípios, encontra-se muito atrás. Que terá a vila de S.Domingos para prosperar muito mais que o de Tarrafal? Vão me dizer que a Praia Baixo tem mais condições que a Areia Grande de Tarrafal? Por que raio então terá Praia Baixo serviços organizados (restaurantes, parque automóvel, limpeza de praia, sombrinhas) e o Tarrafal não? A desculpa partidária não serve, porque são ambas da oposição. Será uma questão de liderança?

Mas o universo equilibra-se em tudo: a vila de Tarrafal está parada como tudo e isso significa um incrível descanso para um cidadão da turbulenta cidade da Praia. Yin-Yang, o bem e o mal, o equilíbrio das forças opostas.

26.9.08

Descoberta

Isto é que é descoberta com bianda: http://alibemtempu.blogspot.com/

Felicidade

Imagem: Paul Klee

Um visitante de Bianda fez-me uma pergunta, aparentemente inocente, mas deu-me que pensar, embora tenha respondido na hora, um pouco precipitadamente, devo reconhecer. A pergunta era: tu que vês desgraça por todo o lado, consegues ser feliz?

Boa pergunta, não concordam? Pensei nisso quando fui para casa, deitado, escutando a serenidade da noite. A própria serenidade da noite já é um indicador: durmo como um bébé; meu bairro não tem tiros, nem algazarras. Durmo como um bebé, porque também não tenho nenhuma angústia de maior a atormentar-me o espírito. Hoje vou ao Tarrafal, com toda a família, vamos curtir durante 2 dias, todos juntinhos numa casa, vamos à praia e rebolarei na areia com a minha maravilhosa filha. Rapaz, que podias pedir mais da vida?


Conciência Social. Big word! Não sei o que levará certas pessoas, às quais me incluo, a se preocuparem constantemente com a sociedade, com a humanidade e com o futuro do globo. Há pessoas que vão para a igreja e dão esmolas para os pobres; há pessoas que cuidam de cães sarnentos; há pessoas que fazem voluntariado; e há gente que não faz nada disso. Tudo tem a ver com a consciência de cada qual. Eu sinto que devo utilizar a minha capacidade em prol da minha sociedade. Soa a treta?! Mas é o que me motiva a escrever, fotografar, pintar e ir a reuniões de associações, depois de um dia de trabalho.

25.9.08

Crónica descontraída

Hoje fui correr de manhã. Quanto tempo não fazia isso?! Estava encantado com a manhanzinha. É impressionante como a classe média (eu) vai se distanciando da natureza. Talvez seja por isso que estamos a achar todos muito fixe o que se vai fazendo com a cidade.

Só quem anda a pé dá valor a um caminho pedestre confortável, aprazível e seguro. Só quem respira o ar puro, sabe a diferença disso com o ar condicionado. Só quem não vê muita televisão, se dá conta da infinita beleza do horizonte do mar. Só quem se exercita ao ar livre, sabe que ás vezes é bom deixar o ginásio. Só quem ama a vida, ama uma cidade bela e saudável. Praia não é o caso.

Já fazia alguns meses que não dava este passeio. Hoje, olhei intensamente para o mar, porque daqui alguns tempos vou ter que pedir ao porteiro do hotel angolano da Quebra Canela, que me deixe subir ao seu terraço para espreitar o mar. E levarei um potente: "Vai te catar!"

Crude

Acha graça: quando temos que justificar a subida de preços, tiramos da manga toda uma conversa esperta que CV está condicionado aos mercados internacionais, que a gasolina depende do preço do petróleo lá fora, que as taxas estão indexadas ao Euribor, que isso e que aquilo. E pronto, aumenta-se os preços. Mas, o inverso não acontece. Ouvi hoje que o preço do petróleo continua a descer...Crioulo é esperto!

Mindelo, Mindelo!

Hoje ouvi nas notícias das 8 que vai acontecer uma conferência internacional em Mindelo, sobre os temas do turismo, ecologia, imobiliária, etc. E ouvi a Presidente da CMSV a declarar que vai aproveitar para apresentar SV como uma ECOCIDADE. Epá, temos mais um grande título para nos entreter. Como gostamos!

Mas digo uma coisa à senhora Dama de Ferro da CMSV: não é com demolições de edifícios históricos que se tem uma cidade mais aprazível. Nem com obras na orla marítima, sem ouvir ninguém; nem com prédios absurdos de 5,6,7,8 e 9 andares no centro histórico da cidade; nem com obras absurdas nas encostas...Ecologia é a ciência do equilíbrio dos sistemas naturais, mas tem a ver também com o sentimento de "agradável ao espírito". Além do mais, a cidade do Mindelo precisa falar de uma data de coisas antes de chegar a esses nomes bonitos: a cidade precisa falar de economia geradora de emprego, porque não é linear que negócios turistícos-imobiliários gerem emprego sustentável; é preciso falar do ordenamento do território (sim, SV tem bairros clandestinos, degradados e desordenados); é preciso falar de espaços para a Cultura A SÉRIO; é preciso falar da droga e da prostituição. S.Vicente é uma ilha em sérios problemas sócio-económicos, mas vem as pessoas falar em nomes bonitos, como se toda a gente fosse tola!

Ah Mindelo!

24.9.08

Chanfrados

Imagem: Miró

Pela primeira vez neste espaço, rejeitei um comentário Um(a) fulano(a) resolveu que se metia na minha vida, se tenho filhos para cuidar, se não tenho mais nada para fazer, etc, pelo que tive que lhe mandar para as cucuias.

Vamos lá ver uma coisa: este espaço é meu. Acho que as pessoas se perdem desta noção. Aqui eu digo o que me der na veneta e ninguém tem nada a ver com isso. Não tenho obrigação nenhuma de agradar a ninguém, nem tenho de ser justo e acertivo no que digo. Aqui é o espaço da minha OPINIÃO. Por vezes serve até como caixote de lixo, quando estou mais chateado e preciso descarregar em algum lado a energia negativa.


Outra nota: os blogs são uma consequência da maravilhosa revolução que nós temos o previlégio de viver: a revolução da informação. A Internet está a mudar a nossa forma de ver o mundo e de participar. Está a baralhar as relações de poder, quando dá ao cidadão a possibilidade de participar activamente com a sua opinião. Portanto ter um blog e alimentá-lo todo o dia é perceber isso, é saber aproveitar esta democracia, exercer a cidadania. Ou seja, para os comentários chanfrados digo uma coisa: façam alguma coisa para este mundo, façam circular as vossas IDEIAS (quem as tem, claro) e parem com essa mania de apontar o dedo às pessoas.
O que faço é POSITIVO e não o contrário.

Fiz-me entender ou preciso fazer um desenho?

22.9.08

Falando sério.

Imagem: Expresso das Ilhas

Edson, meu colega e amigo, fez comentários sobre a polémica da tropa na rua, que achei tão pertinentes, que lhe pedi se as podia publicar. Aqui vão:


"Cesar, concordo com a medida de colocar a PM nas ruas, como forma pontual de lidar com uma situação especifica. Contudo, nem oposiçao nem Governo foram ainda capazes de propor alternativas. O que o Governo propos foi: comissao nacional de controle à proliferaçao de armas ligeiras, para fazer estudo, plano de acção (nesta fase do campeonato??? eles sabem onde estao as armas, quem vende, quem compra e como entram), aumento de efectivos, formaçao de chefes de esquadra, iluminaçao publica?!?! Nao resolve.

O que precisamos é rever a legislaçao: constituiçao da republica, codigo penal, lei de responsabilizaçao de menores infractores, lei de porte de arma, cultura da noite, melhor articulaçao entre instituiçoes (PN, tribunais, procuradoria e nao entre a PN), introduzir a cultura de paz nas escolas e nos cverdianos lutar contra as desigualdades sociais e debelar a pobreza...e os pais? ninguem os responsabiliza?? Guardo outras opinioes para outro momento..."

Edson Medina Edson Medina é licenciado em Ciências Políticas e eu digo, sim senhor, é para isso que as pessoas devem se formar: para ter ideias construtivas sobre as suas áreas de actuação. Se a política fosse feita de ideias!...

19.9.08

A propósito de BLUE

Imagem: Miró

Com que então agora a Biblioteca Nacional - reparem bem na opulência do título: BIBLIOTECA NACIONAL - é posto de venda da CVMóvel? Quer dizer, tentaram profanar o Palácio da Cultura com um posto de pagamento da Electra e, depois de muitos protestos, desistiram da ideia, mas não desistiram da atitude de profanar tudo o que é lugar da Cultura. Que país! Depois querem que eu não seja "perturbadoramente negativo"???


Agora quero saber: quem foi o interessante que aprovou uma coisa dessas? Quem me perguntou a mim, cidadão, se acho isso interessante ou não? Qual é o objectivo? Ganhar umas massas para comprar detergente para lavar o chão da Biblioteca?

Sr.Ministro (já tinha prometido à minha pessoa que não falaria de si), Sr. Director do Património Cultural (existe?), Sr. Director da Biblioteca Nacional, os senhores estão cada vez mais "criativos".

Impotência


Ter a tropa nas ruas é ridículo!

Não é motivo de orgulho, não é bom indício, não é normal em Estado de Direito e nem resolve a porcaria do problema. Estaremos todos insanos?! Gaita para este país, pequeno que nem se vê no mapa mundo, com boas instituições, com boa gente, povo uno, país de sol e oceano a perder de vista com um problema desses, causado por um coisa só: má condução da política social. Encaremos os factos.

Vamos parar de dizer que este país é acima da média. Vamos parar de dizer que somos um destaque em África. Por falar em África, o cenário de tropas nas ruas não vos lembra nada? Ai de nós se começarmos a encaminhar para uma lógica de poder militar. Vamos parar de dizer que somos um país da morabeza. Vamos encarar os factos: socialmente estamos na M...E tropas nas ruas só confirma isso.

Vamos parar de brincar de Governo. Vamos formular políticas estruturantes a sério: Educação efectiva, Educação para qualificar o homem para se tornar agente activo na economia e não um custo para a economia; Saúde preventiva, que diminui abismalmente os custos da Saúde; Política de Habitação, para que todos tenham um sentimento de conforto mínimo, de pertença e de confiança; Políticas de ocupação dos tempos livres, mas please, A SÉRIO!!...Mas, isto tudo é uma questão de posicionamento filosófico: será que devemos apostar todas as fichas no desenvolvimento do Homem, para que todo o resto (material) se desenvolva duravelmente; ou será que devemos desenvolver todo o resto (material), com a promessa que o Homem vai se beneficiar? A segunda opção, a que estamos a praticar neste momento em CV (atrair investimentos, desenvolver os negócios, para que as populações beneficiem no futuro), parece-me uma contradição. A prova está nestes terríveis efeitos: droga, prostituição, miséria, violência, ruína de valores,...insustentável estado de espírito.

Como gosto de dizer, Desenvolvimento se não for humano não interessa.

18.9.08

Raio de história de luso-cabo-descendentes!


Pessoal, Bianda não usa palavrões, mas por vezes não dá para conter: PORRA! Já não posso com esta estória de pessoas, nascidas em Portugal, que nem sabem se Cabo Verde fica a norte ou a sul e que são obrigadas a pensar que são caboverdianos, porque lá o pai, a mãe ou o avô é caboverdiano. Já não posso com essas escalas de primeiras, segundas, terceiras gerações; de nascidos, mas que não portugueses, mas com direito de residência, mas sem direio de cidadania, naturalizados, nacionalizados ou RAIOS QUE O PARTA! Imaginem se me dissessem: olha, tu esteja calado porque és ucraniano...porque o meu avô era efectivamente ucraniano.

E mais do que tudo, já não posso com Embaixadores fatiotas, que gastam o orçamento do Ministério dos Negócios Estrangeiros em ricas cuecas, que quando chega a hora de mandar umas valentes e lusas porras, vêm com essa conversa que “...as relações entre os nossos países são as excelentes”! Quando teremos colhões para exigir que as autoridades de cada país cuidem da sua população, como deve ser, independentemente se vêm de Senegal, Cabo Verde ou China? Veio nas notícias: “Polícia cerca bairro de caboverdianos em Lisboa”...Bairro de caboverdianos?!?
Não será antes: bairro de portugueses que, por acaso, são filhos de caboverdianos? Ou, bairro de caboverdianos, que há muito não são mais cabovedianos, de tanto trabalharem e contribuerem para o desenvolvimento de Portugal? Ou simplesmente, um bairro, que no caso tem muitos problemas.

Adoro esta frase, a propósito da emigração/imigração: “Nós precisavamos de braços; vieram homens”. Pois, senhores governantes, não se pode ter, ao mesmo tempo, uma população a trabalhar e tê-la fora do vosso território; é uma contradição da física. São pessoas que procuraram as vossas terras para trabalhar, como pessoas das vossas terras procuraram outras terras. Com o tempo, já são cidadãos, como vocês. Para além de trabalhadores, são pobres e bandidos? E eu com isso?

17.9.08

Violência confusa

“O Gabinete de Apoio à Violência Doméstica (GVVD) (não devia ser GAVD?), atendeu durante o período em apreço (um fim-de-semana), quarenta e quatro casos, sendo vinte e um por agressão física; doze por acidente de viação; dez por violência doméstica e um por abuso sexual. “ In Expresso das Ilhas, nº, nº354, 10/9/2008.

Vamos lá ver uma coisa: violência doméstica e agressão física são actos separados? Ou aqui se tratou só de violência doméstica sem agressão física, tipo os cônjuges a mandar à mãezinha um ao outro? Quantos aos acidentes de viação, gostaria que precisassem se os casais andam a agredir-se por atropelamento, ou se foi violência doméstica dentro do carro, mas aí, acho, já seria violência automóvel (?), ou se foram mulheres que sofreram acidentes de viação, que por serem mulheres, as maiores vítimas da violência doméstica, e por serem difamadas pelos homens de más condutoras, terão sido atendidas pelo GVVD (ou GAVD, já não sei)?

Os trâmites policiais são por vezes de ordem muito complexa para civis comuns, como nosotros.

16.9.08

BIC-A-BAC


A Brigada de Investigação Criminal (BIC), procedeu a apreensão de uma máquina de café, uma travessa de vidro e um telemóvel, enquanto que a BAC (Brigada Anti-Crime), procedeu à apreensão de uma arma de fogo de calibre 7,65 (Walther), uma panela, cinco talheres de cozinha, uma faca, um pilão de tempero, seis chávenas, cinco pires e um taco de padjinha.” In Expresso das Ilhas, nº, nº354, 10/9/2008.

Bom, em primeiro lugar, BIC e BAC são nomes que metem medo a qualquer pilantra. No entanto, fiquei por entender a natureza culinária da intervenção. Não sei se essas unidades previligiam mais a violência doméstica, onde os referidos objectos são potencialmente armas mortíferas, se no momento da intervenção os bandidos preparavam-se para fazer um chá, ou se esses bandidos são tão miseráveis que andam a sacar travessas de vidro aos outros . Mas, mais curioso ainda é a presença do pilão de tempero!...Para mim, a versão correcta da estória é: os temíveis operacionais da BIC e da BAC, desencadearam uma musculada intervenção policial, mas erraram de endereço e foram parar ao estaminé de uns curtidos, que preparavam a panela para a paparoca, tomavam um chá, enquanto fumavam um taco de padjinha, só que, por azar, tinham um Walther, calibre 7,65, objecto completamente inadmissível na posse de civis. Ora, tendo em conta o investimento logístico, humano e material da referida operação, não ficava bem terminá-la com um injustificável erro de endereço e lá prenderam os bacanos para ter o que dizer nos medias. Que acham?

Temos jornal

Imagem: Olaf Ladousse

Comprei o Expresso das Ilhas, li de uma ponta à outra e gostei! Este jornal deu um passo gigante em direcção a orgão de Comunicação, digno do nome: estrutura, conteúdo, equilíbrio e abandono daquela linguagem ridícula de faltar com o respeito ao Primeiro Ministro, ao Presidente da República, ou seja quem fosse. E grandes colunistas, pois claro. Mário Fonseca é um dos meus favoritos. No seu artigo “Falar bem”, deu umas belas e elegantes catanadas nos locutores da TV e homens públicos, que volta e meia maltratam a língua portuguesa. E variedade, muita variedade. Alguns dos posts a seguir são inpirados nessa variedade.

12.9.08

Arte na cidade!

Isto é que é boa notícia!! Na falta de disposição para escrever, vou dando as notícias. Já agora, uma satisfação aos que reclamam por posts: estou down!! Estou desanimado! O centro comercial da Quebra Canela vai ser mesmo construído, perante o silêncio de toda a gente, Praienses de gema ou não. O Cachito morreu mesmo e vai ser entregue a uns pacóvios para armar um comércio de detergente e lixívia. Não posso! Esta cidade está a acabar comigo espiritualmente. Por isso anda em retiro a ver o que penso, se mando à merda ou se me torno monge. Já rapei o cabelo. Nos próximos dias decido o que faço a seguir.

4.9.08

Digno de uma cidade

Vai acontecer hoje e amanhã (4 e 5 de Setembro) uma daquelas coisas que acontecem muito raríssimas vezes nesta cidade: espectáculo de qualidade. Um homem, uma mulher e um frigorífico, uma obra do teatro, escrita por Mário Lúcio (quantos dramaturgos caboverdianos é que conhecem?), que tem feito um trabalho notável para o teatro, não só pela escrita, mas também pela música.

A encenação é do maior encenador caboverdiano da actualidade (e digo isto com emoção, com parcialidade, injustamente, sem rigor e sem necessidade de me justificar): João Paulo Brito. Olha ó Dom Manuel Veiga: largue da mão esta estória de fazer peditório para trazer um barco a CV e pague a este grande valor da arte, para que ele não tenha necessidade de trabalhar num escritório, para que ele implemente teatro de qualidade cá no burgo. Fazendo isso o Sr já podia dormir o resto do seu mandato.

As interpretações (que seria do teatro sem actores? Digo, a-c-t-o-r-e-s! Não sei se me entendem?): Ela, Raquel Monteiro, é mãe de filho bébé, trabalhadora, esposa de executivo, uma mulher com idade respeitável, mas vê-la num palco a esbanjar talento faz-me acreditar que ainda há gente com alma no mundo. Ele, Valdir Brito, é um GRANDE talento; desses actores que encarnam um personagem, que ficamos a pensar que ele, na realidade, é assim mesmo. Enfim, dupla de peso. O facto desses 2 actores terem seguido um curso de 1 ano com João Paulo Brito terá algo a ver?

A equipa (que seria do teatro sem os seus invisíveis?): Bety Fernandes, figurinos e direcção de movimentos...não me canso de espantar com a Bety dos Raiz di Polon; ela faz tudo, com infindável amor. Paulo Silva, desenho de luz. Manu Preto, cenografia. José Pedro Bettencourt. É assim: sabem desses indivíduos que fazem, literalmente, TUDO? Bettencourt é desses tipos; ele tem sido os andaimes, as redes de segurança, a chave-mestra, as vigas e a fundação desse grupinho que tem feito coisa boa no teatro na Praia. Dulce Sequeira, direcção de cena. Pessoal, no dia em que acharem que um palco está perfeito (tudo está no lugar, tudo corre na perfeição, ou não) lembrem-se que esta função (direcção de cena) é determinante. César Schofield Cardoso, euzinho, fiz a foto, o cartaz,o programa e estou mortificado por não ter participado do projecto desde o início, indo todos os dias aos ensaios.

Mindelact é o maior evento artístico do país (provem o contrário) e esta peça vai ficar a matar no encerramento da edição deste ano.

ADORO TEATRO!!!

MINDELACT

...Um dia vou escrever um livro só sobre o Mindelact. Fico sempre sem palavras quando quero me referir a este festival, que é o maior evento artístico do país. O Mindelact transformou definitivamente o teatro em CV e não só: por arrasto, quando desenvole uma arte, desenvolvem 2 ou 3. No caso do teatro e do cinema isso é particularmente verdade, porque são artes congregadoras. Para que existam é preciso ter Literatura, Interpretação, Expressão Corporal, Música, Artes-Plásticas, Artes Gráficas...enfim. Sem falar do desenvolvimento de áreas técnicas dum espectáculo: sonoplastia, iluminação, cenografia, etc.

Os grandes nomes do teatro CV da actualidade são todos frutos do Mindelact e da escola de teatro do CCP do Mindelo e do seu mentor e professor João Branco. Meus destaques: João Paulo Brito, um dos maiores actores CV, que iniciou carreira na encenação, que agora não sei se será melhor actor ou melhor encenador. Bom, para o desenvolvimento do teatro, eu prefiro que ele seja encenador, que é um perfil mais difícil de ser encontrado, com qualidade. Herlandson Duarte, Kutch, director e encenador do grupo Solaris. Este homem é uma força da natureza! Gostem ou não gostem.

Este ano estarei 2 diazinhos somente no festival. Raio de trabalho oblige. Mas já terei a benção dos deuses das do teatro e das artes. Terei o banho de vida e partilha, que é aquele ambiente (indiscritível) do festival.

Ganda cena!

1.9.08

Quero construir uma casinha


Perguntei ao meu amigo, técnico da Câmara Municipal da Praia, esta pergunta inocente: como faço para construir casa própria? Ele me respondeu com um seco e desolador: esquece (!) ou então procura quem tem terras e negoceia. Fez-me então um rápido mapa das terras da cidade da Praia e dos seus donos. Constatação: Praia pertence a 1/2 dúzia de chicos espertos. A própria municipalidade, se pensar em construir um grande projecto, tipo infra-estruturar uma área para receber casas que não sejam mansões, estará em apuros, porque...não tem terrenos(!) Foram vendidos a preço de banana. Foram dados. Foram trocados por favores, foram oferecidos...enfim.

Mas mesmo assim, ainda aparece um bocado de terra que ainda não pertence a ninguém, mas há sempre uns especialistas em comprar essas terras "esquecidas" por tuta e meia e vendê-las a 1000% (mil porcento) de lucro. Há gente que comprou, mais de uma vez, áreas enormes da cidade. Este assunto é uma confusão total. A municipalidade não faz a mínima ideia de quanto, como, quem, porquê e por onde anda as suas terras. Isto cá para mim é um falência de Estado. Uma falência de autoridade.

No dia em que declararmos que este país, este Estado, vai mal, em vez de enganarmos a nós próprios que estamos bem, que destacamos em África e tretas do género, nesse dia começaremos a falar e trabalhar com seriedade.