Imagem: Miró
Hoje chove como há muito não chovia. Chove a potes. Chove sem parar, desde madrugada, e vai chuvar durante dia todo. Vai molhar!
Hoje o meu pensamento vai, em primeiro lugar, para a barragem do Poilão e os agricultores, que devem estar a transbordar de felicidade. A seguir, penso nos desgraçados que moram nas encostas e nas linhas d'água, que vão ter um dia de batalha, pelas casas, pelas coisas e pela vida. Depois penso nas enxurradas, que nos mostra como este povo é porco. No caudal vêm, literalmente, tudo: latas, garrafas, plástico, animais mortos, carcaças de carros e toda mais espécie de porcaria, que vai tudo descambar no mar, que também não terá uma vida fácil esses dias.
Penso também nesta cidade. Penso em minha casa moderna, que mesmo assim encharca-se todo. Penso nas estradas que se transformam em lagos, nas paredes mal consolidadas que desabam, nos curto-circuitos e demais problemas. Penso nas milhares de pessoas que não vão trabalhar, porque não conseguem atravessar a cheia(!!!)...Cá pra mim, devia haver uma escala para cidades: cidades, cidadinhas, cidadecas, etc. Penso no serviço de Protecção Civil, que fazem pompa o ano inteiro, mas quando é a valer, nem dão o ar da sua graça. Penso nos bombeiros, soldados para todas as lutas. Penso nos parvos dos dirigentes, no abrigo dos gabinetes.
Ouvi uma senhora na rua a dizer: "Ó Deus, chuva de problema!". Esta frase é bastante estranha na boca de um caboverdiano. Mas chuva é chuva, por mais que seja uma coisa rara em nuestro país, têm uma áurea, que toca a divinidade. Louvada ó chuva!