Fazendo eco da última frase do livro de António Tomás, "O Fazedor de Utopias": afinal, do que serviu a guerra da Guiné, por longos e tortuosos 10 anos? Será que hoje, depois de tudo, existe um sentimento na Guiné de todo-pátria, ou agravaram-se as clivagens étnicas? Será que os países terceiros continuam o seu jogo sujo de deitar pólvora neste país-mártir? Sim, é de perguntar, qual tem sido o papel da Comunidade Internacional na Guiné-Bissau.
E nós, que ganhamos uma liberdade de mão beijada, que nem a queríamos, o que pensamos de tudo isso? Será que percebemos que a luta de Amílcar Cabral ultrapassou os campos de batalha e criou uma agenda de questões profundas? Será que percebemos, por exemplo, o alcance do pensamento que diz que a luta de emancipação dos povos é uma luta cultural?...Não me parece.
Uma coisa é certa: os campos ainda fumegam, as feridas ainda sangram e as mentes ainda deliram.
13 comentários:
Oh! O intectual de mei dia pa tardi.... só agora descobriste Horace Silver. Agora vamos ficar aqui de boca concrêntrica à espera das aulas do new jazz by Silver. ahahahahaha
Sim Rony, estou de acordo: há um momento da nossa partida como país independente que está literalmente debaixo do tapete. O facto de as lutas de libertação se terem efectuadas de construções ideológicas e só depois a mobilização popular parece-me um factor importante de se ter em conta. No caso de Cabo Verde quase que existiu uma "imposição" da independência, mesmo que por trás as intenções tenham sido as melhores.
De todo modo acho que temos que por esses dados em cima da mesa, sem muitos calores. O facto também é que é tudo tão recente, portanto tão carne viva.
Anónino de mei dia pa tardi, passou desta vez por distração. Não torna a passar. Vai cagar pra outro lugar.
"Ganhamos uma liberdade de mão beijada, que nem a queriamos ?" Frase intrigante. Primeiro quem é que não queria a liberdade ? Sim, a meia dúzia de caboverdeanos que viviam "muito bem" como portugueses se calhar não queriam.
Eventualmente que um referendo realizado no Plateau era 99% contra a independência de CAbo Verde. Mas esses "que não queriam" representavam Cabo Verde ?
Tens razão PSS, o pensamento é intrigante mas não é meu. António Tomás na sua obra reforça isso a toda a hora, não cabendo no escopo do livro a justificação desse pensamento. Mas se ele o fez, no âmbito de um investigação tão longa, parece que há dados para assim afirmar. Não sei se haverá dados suficientemente conclusivos para afirmar que a maioria do povo não queria a independência, ou preferia uma autonomia, ou se a resistência no momento da independência era só de grupos sem representação popular.
Mas tu (sim, sou o tal mei dia pa tardi), é que estás no "raquentadu".... sem falar das viagens fantasmagóricas que povoam a tua mente de intelectual à força. Não te esforces tanto, para dizer asneiras rapaz. Olha à tua volta...
Os moralismos são o maior desafio à liberdade. Não se tem que gostar de determinadas escolhas, mas essas escolhas devem ser dadas a oportunidade de...escolha.
César, Redy, Al Binda, anónimos e outros que aqui comentaram pensam só nissso: Se não fosse a idenpendência quanto muito vocês eram engraxadores de sapato na Praça "Alexandre Albuquerque". Isso era o máximo que poderiam aspirar serem no "Império Lusinato de Minho a Timor..." pronto va lá poderiam ser sempre um funcionário dos Correios, um funcionário do Banco Nacional Ultramarino ... mas tinha que ser com juizinho ahmmm ! Nada de vir falar em liberdade, e pôr em causa o statuo quo.
Pessoal, acho que não se está a pôr em causa a independência. Hoje somos livres, independentes e muito bem, obrigado. Estamos a discutir temas que estarão incrustados na nossa inconsciência e que talvez, como disse o Rony, possa explicar determinados comportamentos.
Madeirense, tá tudo OK. Ninguém se ofende aqui (pelo menos falo por mim). O que gosto é de confrontar opiniões. O termo é realmente paternalista porque é um termo que tem a ver com filiação. Os independentistas o que quiseram destruir durante toda a luta, que não se iniciou só em 1963, mas muito antes disso, era precisamente este sentimento de pai-filho. Isso não existe entre povos.
A visão de todos é aqui necessária. Aliás, eu acho que várias partes sofreram com o Fascismo, inclusive o próprio Portugal. Há um episódio sobre Salazar que não oiço muito por aí: a prisão do Tarrafal, onde ele mandava "comunistas" e os matava à fome e maus tratos. Ou seja, as nossas histórias tem muito sangue e sofrimento. Temos é que tirar as lições daí.
Tive já o prazer de ler a obra, e recomendo-a a todos os que tem comentado este post. Pois a análise feita pelo autor parece-me profunda e pertinente. Lembro duma passagem do livro onde o autor cogita em quais as estratégias a serem utilizadas pelos “freedom-fighters” para convencerem o povo da Guiné e de CV que a independência era necessária. Foi segundo o autor um desafio enorme, porque aos Guineenses bastava falar das colheitas que eram tomadas quase por inteiro pelos tugas. Era de alguma forma fácil revoltar o povo da Guiné contra a presença colonial. Mas como fazer isso em relação a CV? Como fazer isso em relação a um povo ASSIMILADO? Quais as estratégias a serem usadas num pais onde a própria elite é pró-colonial? A identidade cultural é 100 dúvida uma espécie de despertador, que leva cada povo a lutar pela sua independência. Mas como fazer isso num país de negros que não se sentem negros? Num pais de Africanos que até hoje negam suas raízes? È neste cenário que foi adoptada uma estratégia chave, ainda que no plano metafísico/filosófico: A (Re)Africanização dos espíritos.
Olha olha,o sr. Al Binda crítica uma "média estatística"...média estatística agora e gentes,com preconceito e tudo...ahahahahah...parabens por essa calinada sr. Al Binda
eu estou de acordo com o madeirense somos orfaoes? sim
As vezes duvido se temos irmaoes.
Eh super dificil ser"branco" na Africa e negro naEuropa.
cretcheu
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