Por falar em língua materna, lembra-me Dulce Almada, uma das personalidades mais importantes de Cabo Verde, um pouco esquecida, nessas voltas que a história dá.
Dulce Almada é, depois de Amílcar Cabral, das maiores, senão a maior, figuras da luta da emancipação do povo de Cabo Verde. Propositadamente não digo "luta de libertação" porque a luta que Dulce Almada fez, junto com Amílcar Cabral, foi muito mais do foro intelectual do que militar. Esta mulher teve um passado fulgurante e no entanto para as novas gerações, incluindo a minha, é um nome vago.
Dulce Almada fez os seus estudos em Filologia Românica, mas cedo entrou na luta clandestina, fugindo constantemente da perseguição da PIDE, vivendo a duras expensas no exílio, vivendo em diversos países, desdobrando-se em mobilizações e palestras, tendo ainda tempo para gerar dois filhos, que também criou debaixo de sacrifício e de medo, e arranjando maneira, como dava, para encontrar o marido, Abílio Duarte, que também viveu duramente na clandestinidade, mobilizando e desencadeando ações para a luta. Dizem que Dulce Almada só não foi um alto dirigente do PAIGC porque era...mulher. E no Cabo Verde independente não assumiu nenhum alto cargo de direcção, que não sei se será por opção própria ou por machismo puro. No entanto ela dedicou-se muito à questão da língua materna caboverdiana, essa dama que ainda sofre dos mais altos preconceitos.
Dulce Almada foi a PRIMEIRA PESSOA, em 1962, que discursou perante a ONU, reivindicando a independência de Cabo Verde. A seguir Amílcar Cabral faria o seu discurso.
...Continuamos a ser um povo terrivelmente ignorante da sua história. Chego a pensar que essa ignorância é propositada, pelos que se sentem diminuídos pela própria história.
2 comentários:
Justa homenagem à Dulce Almada!
Sombrinha, heis a tua frase preconceituosa: "os badius nao devem impor a ninguem o dialecto deles". Pra começar "os badius" já me soa a falta de respeito a um concidadão (ou não consideras os badius teus concidadãos?). Depois, em Cabo Verde não há dialectos; há uma língua com variantes, como o português tem os seus variantes. E isso é da ciência linguística.
Eu também não concordo que se imponha um instrumento. Não se esqueçam que ALUPEC não é língua, é alfabeto. Concordaria que houvesse uma ampla discussão sobre essa questão técnica (alfabeto) antes de qualquer oficialização. Mas uma coisa é certa e não vale a pena "achismos": a nossa língua é una. É será que um gajo de Soncent precisa de um tradutor para um badiu?
Deixemos de lado os nossos amores e ódios e tentemos ser mais objectivos.
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